Introdução
As eleições de 2022 se aproximam e, mais uma vez, os católicos começam a se perguntar: “em quem votar?” “Qual é a melhor opção?” “Há um candidato católico?” Todas essas questões são importantes para que se tome a melhor decisão, porém, o cenário político brasileiro traz algumas conclusões alarmantes para todos aqueles que desejam que o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo seja, de fato, defendido e propagado. A disputa eleitoral entre esquerda e direita é insuficiente para dar todas as respostas e, nesse artigo, o objetivo será mostrar as deficiências em cada candidatura e, mais do que isso, conclamar os católicos a se aprofundarem no estudo da Doutrina Social da Igreja.
O artigo não tem como objetivo esgotar a análise de todos os candidatos, uma vez que isso seria mais complexo; no entanto, quer colocar à luz os pontos mais complicados em relação aos candidatos e a Doutrina Católica, fazendo com que os católicos tenham condições de observar que, no atual cenário, nenhum candidato tem os requisitos necessários para defender o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. No final, ficará claro aos católicos a importância de estudar a respeito da Doutrina Social de Nosso Senhor Jesus Cristo para melhor compreensão da organização social.
Análise de alguns pontos dos candidatos
A disputa eleitoral de 2022 está centralizada, no atual cenário político, em quatro grandes candidaturas: Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Messias Bolsonaro, Sério Fernando Moro e Ciro Gomes. Esses quatro possuem, nas pesquisas eleitorais, cerca de 80% das preferências eleitorais. Por essa razão, é importante que as suas plataformas de governo sejam analisadas com um pouco mais de cuidado, utilizando-se como parâmetro a Lei Natural, a Lei Divina e a Lei Eterna. Dessa forma, será possível compreender quais são os seus projetos nacionais e a origem de suas ideias.
Em primeiro lugar, começo a análise do candidato que, hoje, está liderando as pesquisas eleitorais: Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), um partido de esquerda e que é apoiador do comunismo. Nesse aspecto, vemos um grave problema em relação à Sã Doutrina. O comunismo é uma ideologia fundamentalmente ateia e, como tal, desconsidera Deus. Como consequência, a história da humanidade é vista da perspectiva materialista, fazendo com que a alma humana não tenha espaço. Outro problema grave é que o comunismo visa trazer o “céu na terra”, o que é completamente contrário àquilo que Nosso Senhor nos disse. “Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (I Jo XVI, XXXIII).
Como se não bastasse a postura materialista e imanentista da política, o comunismo tem como objetivo acabar com a possibilidade de uma economia de mercado, fazendo com que o Estado tenha a concentração de poder. Nesse sentido, vemos que o princípio de subsidiariedade, uma das bases da Doutrina Social da Igreja, é renegado, e, com isso, não há espaço para o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como desdobramento lógico, pode-se notar que não há espaço para a Dignidade Humana, visto que a virtude não é exercida na sociedade, uma vez que o Estado impede que as relações orgânicas aconteçam.
Em seus desenvolvimentos históricos, o comunismo perseguiu os católicos. Isso pode ser notado na China, onde os católicos precisam se esconder para poder ir à missa e receber os sacramentos. No México, durante a Guerra Cristera, os comunistas perseguiram os padres e buscaram acabar com as missas públicas, usando de assassinatos e ameaças. Na cortina de ferro, a Santa Madre Igreja sofreu grandes perseguições, fazendo com que houvesse grandes dificuldades para o atendimento dos fiéis. Por todos esses exemplos históricos, o Papa Pio XI, na encíclica “Divini Redemptoris” condena o comunismo e afirma que os católicos que votam em partidos comunistas ou que estão filiados a eles estão, ipso facto, excomungados. Nesse sentido, um católico não pode votar ou participar desses partidos.
Para poder corroborar o argumento a respeito do comunismo, vale ressaltar que, ao longo da história, eles incentivaram o aborto, o casamento homossexual, as práticas contrárias à pureza, como vistas no Festival de Woodstock, em 1969 e, também, a liberalização da maconha. Tudo isso faz com que um católico não possa considerar seu voto em Luiz Inácio Lula da Silva. Caso o faça, estará excomungado da Santa Igreja Católica. Como tentativa de ludibriar os católicos, a esquerda elaborou a chamada Teologia da Libertação, porém ela é condenada em seus princípios e na finalidade que almeja.
Se a esquerda é condenada pela Santa Igreja Católica, quer dizer que ela apoia o conservadorismo da direita? É necessário colocar aqui um ponto final em toda a discussão: o católico não pode ser direitista, ao menos não essa direita que está em voga em todo o mundo ocidental. Ela, assim como a esquerda, faz parte de um movimento revolucionário, originado na Revolução Francesa (1789-1799). Nesse sentido, é importante analisar suas bases e, com isso, fazer a comparação com a Sã Doutrina Católica.
A direita política, hoje, tem em Jair Messias Bolsonaro o seu candidato. Recentemente, ele se filiou ao Partido Liberal (PL) de Valdemar Costa Neto, um dos grandes protagonistas do Mensalão, em 2005. Nesse sentido, podemos ver as sábias palavras de Salomão :“Quem visita os sábios será sábio; quem se faz amigo dos insensatos perde-se” (Pr XIII, XX). Segue-se com os Salmos o seguinte:
Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite. Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera. Os ímpios não são assim! Mas são como a palha que o vento leva. Por isso não suportarão o juízo, nem permanecerão os pecadores na assembleia dos justos. Porque o Senhor vela pelo caminho dos justos, ao passo que o dos ímpios leva à perdição (Salmo I, I-VI).
Esse tipo de aliança já nos mostra o comprometimento do candidato com a verdade e, consequentemente, o católico deve-se se portar de maneira clara e condenar esse tipo de aproximação, uma vez que as más companhias podem suscitar as baixas paixões no homem. São Francisco de Sales afirma que as pessoas devem evitar certos ambientes, e isso é correto, pois não se pode concordar com os ímpios.
No entanto, esse é apenas um dos diversos aspectos que mostram a inconformidade da direita política com o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os chamados “conservadores”, hoje, são aqueles que defendem as liberdades individuais como se fossem marcos sagrados e invioláveis. Assim sendo, é necessário trazer um pouco de luz ao tema. Em primeiro lugar, os conservadores defendem a liberdade religiosa, ou seja, a igualdade de culto em todas as religiões. Isso é um absurdo, uma vez que Nosso Senhor Jesus Cristo fundou uma Igreja que possui direitos invioláveis. O Papa Pio XI, na encíclica Quas Primas, afirmou que Cristo deve ser Rei em todas as nações. Ora, como Ele reinará se o Estado não o confessa como Rei? Por isso, é necessário que o estado seja confessional. Em segundo lugar, os ditos conservadores querem a liberdade de ensino, afirmando que a Santa Igreja Católica não deve ser preferida no sistema educacional e que o Estado deve colocar a Fé nas escolas públicas. Ora, isso está em desacordo como que o Papa Leão XIII coloca na Libertas Praestantissimum, encíclica que enumera os diversos erros do liberalismo.
Como se não bastasse esses erros na concepção de Estado e política, os conservadores adotam uma postura eminentemente liberal na economia. Eles afirmam que os indivíduos podem fazer qualquer tipo de contrato, desde que as vontades individuais sejam respeitadas. Quer dizer, então, que o conservador pode criar uma indústria pornográfica, uma vez que viu, nesse produto, um potencial de mercado? Nesse sentido, é evidente que, em um Estado Católico, essa indústria não seria concebida e, consequentemente, deveria ser coibida. Além disso, os conservadores afirmam que os negócios devem seguir uma as chamadas “leis de mercado” e que a mão invisível de Adam Smith é a melhor forma de organizar as relações econômicas. Consequentemente, a economia deixa de estar ordenada por uma finalidade transcendental e passa a ser utilitarista. Assim sendo, se uma empresa quiser manter os seus negócios abertos em um Domingo, mesmo que não sejam atividades essenciais, é possível. Pode-se concluir que essa direita conservadora é utilitarista e economicista. Tudo isso é condenado na Rerum Novarum de Leão XIII:
Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do Cristão. O trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razão e da filosofia cristã, longe de ser um objeto de vergonha, honra o homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e desumano é usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços. O cristianismo, além disso, prescreve que se tenham em consideração os interesses espirituais do operário e o bem da sua alma. Aos patrões compete velar para que a isto seja dada plena satisfação, para que o operário não seja entregue à sedução e às solicitações corruptoras, que nada venha enfraquecer o espírito de família nem os hábitos de economia. Proíbe também aos patrões que imponham aos seus subordinados um trabalho superior às suas forças ou em desarmonia com a sua idade ou o seu sexo.
Mas, entre os deveres principais do patrão, é necessário colocar, em primeiro lugar, o de dar a cada um o salário que convém. Certamente, para fixar a justa medida do salário, há numerosos pontos de vista a considerar. Duma maneira geral, recordem-se o rico e o patrão de que explorar a pobreza e a miséria e especular com a indigência, são coisas igualmente reprovadas pelas leis divinas e humanas; que cometeria um crime de clamar vingança ao céu quem defraudasse a qualquer no preço dos seus labores: «Eis que o salário, que tendes extorquido por fraude aos vossos operários, clama contra vós: e o seu clamor subiu até aos ouvidos do Deus dos Exércitos». Enfim, os ricos devem precaver-se religiosamente de todo o acto violento, toda a fraude, toda a manobra usurária que seja de natureza a atentar contra a economia do pobre, e isto mais ainda, porque este é menos apto para defender-se, e porque os seus haveres, por serem de mínima importância, revestem um carácter mais sagrado. A obediência a estas leis — perguntamos nós — não bastaria, só de per si, para fazer cessar todo o antagonismo e suprimir-lhe as causas?
O que fica evidente é que, com uma postura de destruir um sistema de proteção social, os conservadores acabam fazendo com que boa parte dos trabalhadores tenham dificuldades de conseguir os salários adequados para uma posição digna de vida. Assim sendo, observa-se pessoas em três ou quatro empregos, com jornadas exaustivas e, consequentemente, debilitadora do espírito das pessoas. É isso que acontece com o programa conservador-liberal de Jair Messias Bolsonaro. Por essa razão, um católico não pode concordar com a chamada “mão invisível”.
Já consideramos o aspecto econômico e político dos ditos “conservadores”. Agora, passamos a consideração de seu aspecto da moralidade social. Em primeiro lugar, o conservador não tem o compromisso em coibir os chamados remédios abortivos como pílula do dia seguinte, anticoncepcionais e Dispositivos Intrauterinos (DIU). Além disso, o casamento civil, para o conservador, tem a mesma validade do que o religioso. Isso pode ser notado no grande entusiasmo com o qual os conservadores aprovaram a retirada do monopólio do casamento da Santa Igreja Católica. Ora, esses fatos são suficientes para mostrar que esse conservadorismo da direita é, na verdade, um conservadorismo deísta que não quer saber da Encarnação do Verbo. Assim sendo, todos eles apregoam a separação da Igreja e do Estado.
Por fim, é necessário que o católico compreenda que o conservadorismo de Jair Messias Bolsonaro é aquele defendido pela Maçonaria. Um conservadorismo utilitarista, que deseja manter algumas tradições que funcionam, simplesmente pelo fato de que elas trazem estabilidade política e social. No entanto, esses conservadores não estão interessados na defesa da verdade, da verdadeira religião e dos direitos invioláveis da Santa Madre Igreja. Assim sendo, nota-se que a escolha por eles não pode ser um bem, no máximo pode se considerar para evitar, talvez, um mal maior.
O próximo candidato à ser analisado é o ex-juiz e, agora, político Sérgio Fernando Moro (Podemos). Para começar, é necessário compreender a plataforma partidária na qual ele assenta seu pleito ao Palácio do Planalto. O Podemos é comandado pela Renata Abreu, mas o nome de maior peso é de Álvaro Dias. E quem é ele? Um senador de longa data do estado do Paraná e pertencente à Maçonaria. A aliança com a maçonaria e o apoio aos candidatos suportados por ele está condenada na encíclica Hummanun Genus, do Papa Leão XIII. Segue um excerto da encíclica para mostrar o peso e a gravidade da matéria:
Nós rogamos e imploramos a vós, veneráveis irmãos, a juntar os vossos esforços com os Nossos, e esforçadamente lutar pela extirpação desta praga maligna, que está se esgueirando através das veias do corpo da política. Vós deveis defender a glória de Deus e a salvação do vosso próximo; e com o objetivo de vosso combate à vossa frente, nem coragem nem força irão faltar. Será por vossa prudência que julgareis por quais modos vós podeis melhor sobrepujar as dificuldades e obstáculos com os quais vos encontrardes. Mas, como pertence à autoridade de nosso ofício que Nós mesmos apontemos algumas maneiras apropriadas de procedimento, nós desejamos que o vosso primeiro ato seja arrancar a máscara da Maçonaria, e deixar que ela seja vista como realmente é; e por sermões e cartas pastorais instruir o povo quanto aos artifícios usado pelas sociedades deste tipo para seduzir os homens e persuadi-los a entrar em suas fileiras, e quanto à perversidade de suas ações e à maldade de seus atos. Como Nossos predecessores por muitas vezes repetiram, que nenhum homem pense que ele possa por qualquer razão que seja ajuntar-se à seita maçônica, se ele dá valor ao seu nome Católico e à sua salvação eterna como ele deveria valorizá-los. Que nenhum seja enganado por uma pretensão de honestidade. Pode parecer a alguns que os Maçons não exigem nada que seja abertamente contrário à religião e à moral; mas, como todo princípio e objetivo da seita está naquilo que é vicioso e criminoso, ajuntar-se com estes homens ou em algum modo ajudá-los não pode ser legítimo (Hummanun Genus 31).
O excerto em negrito mostra, com grande eloquência, que os católicos não podem se deixar levar por cavalos de batalha como, por exemplo, o combate à corrupção. É evidente que a corrupção é um mal que impede que uma nação tenha Nosso Senhor Jesus Cristo como Rei, porém os métodos e as pessoas que desejam o combate à corrupção possuem uma agenda claramente contrária a Sã Doutrina católica. Por essa razão, é importante que as coisas sejam colocadas na perspectiva da salvação das almas e não em uma base utilitarista.
Outro ponto importante a respeito de Sérgio Moro é a sua visão a respeito da soberania nacional. A proposta dele é o combate à corrupção por meio de um Tribunal Internacional, com interferência de tribunais internacionais. Assim sendo, o Brasil se colocaria à mercê de organismos internacionais, fazendo com que a agenda globalista fosse implementada no Brasil. Nesse sentido, é inegável que tal proposição não se coaduna com a Doutrina Católica, uma vez que tais organismos são regidos por uma visão de justiça que não é a da virtude cardeal. Por essa razão, é necessário compreender que a única forma de se estabelecer a justiça é pela consideração da virtude católica e o desprezo de filosofias alheias.
No plano cultural, Sérgio Moro já foi patrocinado por Jorge Paulo Lemann em uma palestra nos Estados Unidos, em 2017. Naquela oportunidade, o objetivo era falar a respeito da corrupção e da democracia. Nesse sentido, o vínculo com um dos maiores patrocinadores da Agenda 2030 da ONU, no Brasil, faz com que Sérgio Moro adote uma agenda abertamente anticatólica. O Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 5 traz o seguinte texto:
Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de revisão (Subitem 5.6).
O que a Organização das Nações Unidas entende por “direitos reprodutivos”? Basta ver o apoio que a ONU oferece a Planned Parenthood, basicamente uma fábrica de abortos em série que é financiada por George Soros. Assim sendo, o que Sérgio Moro está respaldando é o assassinato de bebês nos ventres das mães, e isso é algo intolerável. Ademais, para corroborar o argumento de que ele relativiza a vida, tem-se a sua tese de doutorado que analisa o caso Roe vs Wade, nos Estados Unidos da América. No documento, Moro afirma que a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos chegou a uma solução “intermediária” para o aborto:
Não é objetivo deste trabalho a crítica aprofundada sobre a decisão, embora diga-se em favor que ela, de certa forma, representa uma solução intermediária para a questão do aborto, satisfazendo em parte as duas correntes absolutamente opostas sobre o tema.
Ora, é impossível manter uma situação intermediária a respeito do aborto, uma vez que não há possibilidade de relativizar a vida. Assim sendo, nota-se o voluntarismo exacerbado de Moro em relação à justiça, evidenciando a sua posição nominalista em relação à filosofia e ao direito. Assim sendo, nada mais contrário do que a Doutrina Católica que afirma a Dignidade da Pessoa Humana e a Vida como valores inegociáveis. Isso tudo faz com que Sérgio Moro não possa ser apoiado pelos católicos, ainda que ele tenha um discurso de “limpeza da política”. Os fins não justificam os meios, ex-juiz.
O último candidato a ser analisado é Ciro Gomes (PDT-CE). Para quem não sabe, o candidato é membro de um partido esquerdista e que está vinculado ao Partido Comunista Chinês. Em 2017, os partidos debateram a respeito das eleições de 2018 e eles firmaram uma parceria institucional. O Partido Comunista Chinês (PCC) foi o responsável pela morte de mais de 100 milhões de chineses, desde 1949, quando ocorreu a Revolução Chinesa, liderada por Mao Tse-Tung. Ora, o valor da vida para esse partido, ao que parece, não é importante.
Apesar de ter acenos recentes aos cristãos, Ciro Gomes já teceu críticas violentas contra a Santa Madre Igreja. Em 2017, por exemplo, em um fórum em Londres, Ciro Gomes disse o seguinte:
Não, não quero estatização nenhuma. Eu quero o controle social. E o fim da ilusão moralista católica. O fim da ilusão. A humanidade precisa de controle. Não adianta alguém imaginar que um anjo vingador vai descer do Céu, estalar o chicote e resolver o problema nacional brasileiro. Não vai.
Como se vê, Ciro Gomes ataca a posição da Santa Madre Igreja e desconhece o papel fundamental da Barca de Pedro na Terra de Santa Cruz. Os ataques de Ciro Gomes à Igreja continuam, em entrevista à BCC, em 2017:
Temos uma igreja católica que é extremamente solidária com os pobres, mas extremamente criptoconservadora nesses termos de costumes. O chefe de Estado tem que entender isso, tem que compreender e respeitar isso. Mas, evidentemente, ninguém vai contar com minha opinião para estigmatizar seja quem for diferente, seja por qual razão.
A posição de Ciro Gomes em relação ao aborto é, também, conhecida. Em 2010, ele disse o seguinte:
A questão é posta em si em termos calhordas, desonestos. Ninguém é a favor do aborto. Isso é um assunto da intimidade da mulher, da família, de seu conjunto de valores morais, éticos, religiosos e uma ação de saúde. Essa é a única discussão possível. O presidente da República tem zero poder nesse assunto. Só quem pode regulamentar esse assunto é monopolisticamente o Congresso.
Fica evidente que ele não quer se comprometer, porém não se posiciona de maneira clara. No entanto, quando ele diz que o presidente não tem poder nesse assunto, está querendo dizer que, se ele tiver que sancionar o aborto, assim ele o fará, deixando claro a sua posição de apoio, transvestida de legalidade democrática. É, portanto, totalmente em desacordo com a Doutrina Católica. Por essa razão, o católico que o apoia incorrerá, certamente, em imprudência.
Outro ponto fundamental a respeito da posição de Ciro Gomes é que ele deseja a implementação de um nacional-desenvolvimentismo autárquico, ou seja, o Estado controlando todos os principais meios de desenvolvimento econômico. Nesse sentido, o princípio de subsidiariedade é ferido e, também, não há espaço para a criação e fomento de corpos intermediários, propagado por Leão XIII na Rerum Novarum. No ponto 2 da carta, lê-se o seguinte: “O século passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para eles uma proteção”. Como se pode observar, o controle econômico por meio do Estado faz com que a organicidade das relações sociais seja perdidas.
Por fim, é fundamental compreender que Ciro Gomes representa uma face do projeto de hegemonia chinesa no Brasil e, consequentemente, o apoio a esse candidato não pode ser escusado de inocência. Assim sendo, o católico deve manter uma posição de distância ao PDT.
O que podemos tirar dessa análise?
A análise não exaustiva de todos os candidatos à Presidência da República traz uma constatação importante. Tanto a direita como a esquerda são inimigas da Doutrina Social da Igreja, uma vez que ambas são decorrentes de revoluções religiosas, filosóficas e políticas. Assim sendo, o católico que anseia pelo Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo fica em uma situação, em todos os casos, de desconforto, uma vez que é sempre o mal menor que está em consideração. No entanto, é necessário que o católico trabalhe para obter a santidade e isso exige esforço e dedicação.
A vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo trouxe a redenção para a alma e para a carne, uma vez que, pela união hipostática, Nosso Senhor Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, como colocado no Credo Niceno-Constantinopolitano. O que isso tem a ver com a política? Tudo, uma vez que o homem, pelo fato de ser um animal político, precisa do convívio social para a obtenção dos bens necessários para sua sobrevivência e para que ele possa alcançar a santidade. Por isso, a política deve estar ordenada ao fim último do homem, que é a contemplação de Deus; em termos teológicos, a Visão Beatífica.
O grande Santo Tomás de Aquino argumenta que a pólis deve estar ordenada de tal maneira, que o homem não precise negociar ou fazer malabarismos para poder buscar aquilo que realmente importa. Sendo assim, o Estado deve ser católico, favorecer a Santa Madre Igreja, ajuda-la no desenvolvimento de sua missão apostólica, não ser neutro em matéria de religião, garantir que a Lei Natural seja defendida, bem como a Lei Divina. Uma vez que isso tudo esteja posto, segundo Santo Tomás de Aquino, a pólis será reflexo da Jerusalém Celeste e, pela participação, o homem terá sua ordenação completa a Deus.
A cidade de Deus, nesse modelo, informará a condução de como deve ser os homens, fazendo com que as pessoas tenham condições de garantir as condições necessárias para chegar a salvação. Santo Agostinho, o grande Doutor da Graça, disse em seu brilhante Cidade de Deus que os homens precisam se aproximar da Jerusalém Celeste ainda nesse mundo, sem fugir para o seu egoísmo, pois isso seria a consolidação da Cidade dos Homens.
Ora, se é verdade que todos os candidatos são contrários a Sã Doutrina, mesmo que a chamada “Onda Conservadora” continue a avançar, tal onda será incapaz de controlar a revolução, uma vez que o protestantismo e liberalismo, duas das correntes dessa “onda”, são frutos da rebeldia contra a Santa Madre Igreja. Mesmo que os conservadores consigam barrar alguns pontos como, por exemplo, o aborto, eles não enfatizam a castidade e a indissolubilidade do matrimônio. Assim sendo, a marcha revolucionária só diminui de intensidade, mas continua no mesmo rumo que é a descristianização de toda a sociedade.
O início do combate
O que fazer nesse cenário? Como os católicos devem agir? Em primeiro lugar, é fundamental que os católicos tenham o compromisso sério com a vida espiritual. Não tem sentido militar pelo Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo sem uma busca pelas virtudes, pela vida de oração e frequência aos sacramentos. Aqui está a base na qual se assentará a Realeza de Cristo. Depois, é fundamental que o católico mantenha uma vida de estudos séria e ordenada, principalmente em quatro campos fundamentais: filosofia, teologia, sociologia e história.
Nesse sentido, é salutar a iniciativa dos centros católicos como o Instituto Santo Atanásio, em sua mais recente campanha “Cristandade e Política”, lançando cinco livros a respeito do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Um católico deve estar preparado para debater sobre monarquia, democracia, liberalismo e progressismo de maneira sólida e robusta, fazendo com que os inimigos de Cristo sejam expostos de maneira clara e, mais do que isso, sendo instrumento de conversão para as pessoas. Além disso, uma campanha como essa é capaz de trazer luz a diversos questionamentos sobre a marcha da revolução e a destruição da Cristandade.
Recentemente, o Centro Dom Bosco lançou uma campanha editorial chamada “Tradicionalismo Político”, fazendo com que um dos juristas mais importantes do Brasil fosse revisado. A figura de José Pedro Galvão de Souza, um dos responsáveis pela fundação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é importante para a retomada do Tradicionalismo Ibérico, corrente de pensamento que norteou a construção política da Terra de Santa Cruz por quase quatro séculos. De matriz tomista, o jurista busca compreender como que a Lei Natural pode ser explicada, esclarecida e ampliada com a Revelação Divina. Assim sendo, o país volta a contar com importantes obras para o debate público e para mostrar as origens do país.
Dentro desse contexto de estudo político-filosófico, os intelectuais católicos devem estar respaldados pelo Santo Magistério e, por isso, a consulta aos documentos da Santa Sé é de fundamental importância. Infelizmente, depois do Concílio Vaticano II, os católicos deixaram de lado boa parte dos documentos antigos e, em muitos casos, apregoaram uma “primavera na Igreja”. Consequentemente, esqueceu-se de toda a Tradição Católica e dos grandes debates já travados. Outros tentam fazer uma análise de continuidade da Tradição, porém sem os instrumentos necessários e, mais do que isso, desconsideram os problemas reais que, hoje, o Magistério enfrenta.
Por essa razão, o Centro Dom Bosco elaborou uma coletânea de documentos anteriores a 1960 para fazer com que o estudo do Santo Magistério seja feito de maneira sistemática e, consequentemente, possa jogar luz aos problemas de nosso tempo, bem como oferecer os remédios necessários. Assim sendo, o católico terá as condições de se posicionar em conformidade com a Tradição e não romper com a Santa Madre Igreja.
Uma vez que o católico dedique tempo para o estudo, obtendo obras importantes para a análise, será o momento de começar a organização social e, com isso, começará, de fato, a atuar para a restauração da Cristandade. Aqui, podemos observar a pedagogia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em um primeiro momento, as pessoas vão buscar a Sabedoria para, depois, espalha-lA por todo o mundo. Somente assim é que os católicos conseguirão debelar todos os erros e fazer com que a Santa Madre Igreja volte a reger as nações.
Termino esse artigo com uma citação fundamental da Immortale Dei, do Papa Leão XIII, que é a amálgama de como deve ser a relação entre o Estado e a Igreja:
Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados. Então o sacerdócio e o império estavam ligados em si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer (Immortale Dei 28).
Urge aos católicos atuarem, firmemente, para que a Santa Madre Igreja e os direitos de Nosso Senhor Jesus Cristo sejam defendidos em toda a Terra.