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OS QUARENTA MÁRTIRES DE SEBASTE: Mortos por descumprimento ao “Great Reset” de seu tempo

Os Quarenta Mártires de Sebaste
Por Robert Morrison

“Sob Licínio, quarenta soldados da guarnição de Sebaste (Armênia) foram levados a um lago congelado por se recusarem a fazer sacrifícios aos ídolos. Todos perseveraram exceto um, cuja coragem falhou, tendo perecido em um banho de água morna preparado para ele. Mas um sentinela, inspirado pela graça, tomou seu lugar, e morreu com eles, permanecendo ainda quarenta mártires. Eles padeceram em 320 d.C.” ( Missal Romano )

No dia 10 de março temos a festa dos Quarenta Mártires de Sebaste, que morreram no século IV durante o reinado do Imperador Licínio. A história desses mártires ensina lições atemporais para todos os cristãos, porém, em tempos como os nossos, adquire uma relevância especial, visto que a guerra espiritual se tornou abertamente mais hostil. Dom Gueranger escreve a seguinte introdução em seu The Liturgical Year, fazendo uma ligação desta festa dos mártires com as nossas penitências quaresmais:

Nós sabemos do mistério do número quarenta. Este 10 de março o apresenta diante de nós. Quarenta novos intercessores! Quarenta que nos encorajam a entrar bravamente em nossa trilha de penitência! No lago congelado, o  campo de batalha deles, esses mártires lembraram uns aos outros que Jesus havia jejuado por quarenta dias, e que eles mesmos estavam em quarenta! Comparemos, por nossa vez, seus sofrimentos com os exercícios quaresmais que a Igreja nos impõe; e nos humilhamos vendo nossa covardia; ou, se começarmos com fervor, nos lembremos de que a maior coisa é ser fiel até o fim, trazendo para a solenidade pascal a coroa de nossa perseverança… A vida dos santos será de grande ajuda para nós, pois eles nos ensinarão como devemos encarar o pecado, como evitá-lo, e como estamos estritamente obrigados a fazer penitência após cometê-lo.

Antes de descrever especificamente o martírio dos quarenta, Dom Guéranger recorda-nos que a Igreja nos apresenta o exemplo desses mártires para que possamos aplicá-los às nossas próprias vidas, para que assumamos corajosamente os nossos deveres cristãos e, enfim, salvemos nossas almas. Uma vez preparado o cenário para as lições que a Igreja quer que aprendamos, ele parte da Liturgia da Igreja para poder então detalhar o martírio dos quarenta:

Durante o reinado do Imperador Licínio e sob a presidência de Agricolaus, a cidade de Sebaste, na Armênia, foi homenageada por ser palco do martírio de quarenta soldados, cuja fé em Senhor Jesus Cristo e a paciência para suportar torturas foram tão gloriosas. Após serem frequentemente confinados em um calabouço horrível, sendo algemados com correntes e tendo seus rostos golpeados com pedras, foram condenados a passar uma noite no inverno mais amargo ao ar livre, em um lago congelado, para que pudessem morrer congelados. Estando lá, uniram-se nesta oração: “Quarenta de nós entramos na batalha; deixe-nos, ó Senhor, receber quarenta coroas, e não permita que nosso número seja quebrado. Este número é sagrado, pois Tu jejuaste por quarenta dias, e a lei divina foi dada ao mundo depois que este mesmo número de dias foi observado. Elias também buscou a Deus através de um jejum de quarenta dias, e teve permissão para vê-Lo”. Assim eles oravam.

Portanto, esses homens oravam juntos para que todos pudessem perseverar e ganhar as quarenta coroas. Eles não mais se incomodavam com o que o mundo pensava deles, uma vez que sua única preocupação era honrar a Deus e salvar suas almas. Como vemos frequentemente na vida dos santos, sua busca obstinada por Deus causou o exemplo necessário para salvar uma alma que de outra forma poderia se perder:

Todos os guardas, exceto um, estavam dormindo. Ele ouviu aquela oração e os viu cercados de luz, com anjos descendo do céu, como mensageiros enviados por um Rei, os quais entregaram coroas para trinta e nove dos soldados. Então, ele disse a si mesmo: “Há quarenta homens; onde está a quadragésima coroa?” Enquanto assim questionava, um deles perdeu a coragem; não aguentou mais o frio e se atirou em um banho morno que lhe fora posto próximo. Seus santos companheiros ficaram extremamente tristes, mas Deus não permitiria que suas orações fossem nulas. O sentinela, espantado com o que havia presenciado, saiu imediatamente e acordou os outros guardas; depois, tirando as vestes, clamou em alta voz que era cristão e se associou aos mártires.

Um homem perdeu sua coroa, e o outro a ganhou. Da perspectiva da eternidade, essa troca crucial significou tudo. A maioria de nós pode se ver nesses personagens – que caminho escolheríamos?

Dom Guéranger termina sua exposição com a história do mártir mais jovem e sua mãe:

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Assim que os guardas do governador perceberam que o sentinela também tinha se declarado cristão, aproximaram-se dos mártires e quebraram-lhes as pernas com paus. Todos morreram sob essa tortura, exceto Melithon, que era o mais jovem dos quarenta. Sua mãe, que estava presente, vendo que ainda estava vivo mesmo após suas pernas terem sido quebradas, o encorajou deste modo: “Meu filho, tenha mais um pouco de paciência. Eis que Cristo está à porta, ajudando-te”. E assim que ela viu os outros corpos sendo colocados em carroças, para que fossem jogados na pilha, e seu filho sendo deixado para trás (pois aqueles homens ímpios esperavam que, caso o menino sobrevivesse, ele pudesse ser persuadido a adorar os ídolos), ela o ergueu nos braços e, juntando todas as suas forças, correu atrás das carroças em que os corpos dos mártires estavam sendo carregados.

Parece ser incrível demais para acreditar, e mesmo assim esta mãe estava simplesmente aplicando as verdades da Fé àquelas circunstâncias terríveis. E as verdades que aprendemos do nosso catecismo em ambientes confortáveis ​​não se tornam menos verdadeiras quando devemos aplicá-las em situações angustiantes.

Para bem ou para o mal, podemos ver em nosso tempo atual os ecos dos personagens, das tentações e dos instrumentos presentes nos martírios dos quarenta:

O Sacrifício aos Ídolos. É quase certo que esses homens prefeririam nunca terem sido pressionados a ter que fazer sacrifício a ídolos. Contudo, quando foram confrontados com a escolha de ofender a Deus ou sofrer, eles sabiam que deveriam escolher o caminho que os levaria ao martírio. Em nossos dias, os globalistas, nossos amigos e familiares e até nossos falsos pastores podem nos pressionar a fazer sacrifícios aos ídolos do mundo. Conforme já aprendemos por dolorosa experiência, os arquitetos do Great Reset não conseguirão ter sucesso exceto se estivermos dispostos a fazer sacrifício aos ídolos, de modo a acompanhar suas iniciativas diabólicas. Até que Deus intervenha, as pressões para que ofereçamos um pouco de incenso ao Great Reset só irão aumentar.

A Lagoa Congelada. Dom Gueranger refere-se ao lago congelado como o “campo de batalha” dos quarenta soldados. Se esses soldados tivessem considerado seus deveres militares enquanto primordiais, nunca teriam entrado no verdadeiro campo de batalha: o lago congelado por onde finalmente ganhariam a coroa da eterna glória, servindo de exemplo para os cristãos ao longo dos séculos. Parece que corremos um risco ainda maior de confundir os verdadeiros campos de batalha nesses nossos tempos. Para onde quer que olhemos, vemos bons cristãos que erroneamente acreditam que suas lealdades mundanas os excluem de serem chamados a fazer sacrifícios. Todo o Great Reset já teria sido impedido se os cristãos reconhecessem que estamos no meio de uma das batalhas espirituais mais importantes da história da salvação.

O Trinta e Nove. “Os santos mártires, sofrendo generosamente os males presentes e regozijando-se na esperança da recompensa, disseram uns aos outros: ‘Não é de nossa vestimenta, mas do velho homem que nos despojamos. O inverno é frio; mas o paraíso é doce. O gelo é uma tortura; mas o repouso é agradável. Companheiros-soldados! Não recuemos. Soframos um pouco, para que possamos obter as coroas da vitória de Cristo, nosso Senhor, o Salvador de nossas almas’. Queremos agradar a Deus e ir para o céu. Aqueles que zelam pelos entes queridos têm o mesmo desejo para eles. Portanto, somos chamados a ajudar uns aos outros a perseverar na honra devida a Deus e salvar nossas almas, principalmente quando somos tentados a desistir da luta. O que pensaríamos de um homem que tentasse persuadir seus companheiros soldados a fugir para o banho morno? A nossa maior caridade para com o próximo é, muitas vezes, apoiá-lo na decisão de sofrer por amor a Deus. ‘Companheiros soldados! Não recuemos. Soframos um pouco, para que possamos obter as coroas da vitória de Cristo, nosso Senhor, o Salvador de nossas almas!’”

O Banho Morno. “O soldado que amava esta vida correu para o banho amaldiçoado e lá encontrou a morte…” Quase todo mundo nos encoraja a relaxar nos banhos tépidos que hoje nos cercam: claro, poderíamos nos dedicar inteiramente a servir a Deus neste momento crucial da história da salvação, mas (tentam nos convencer) também é bom manter nossas opções abertas ao mundo, caso as coisas não sejam tão ruins quanto pareçam. E por isso corremos sempre o risco de escolher uma vida morna para poder desfrutar das coisas do mundo, sem com isso rejeitar a Deus por completo. Porém, como vemos no soldado que “correu para o banho amaldiçoado”, o próximo banho morno que escolhermos pode ser aquele que nos fará perder tudo.

O guarda. “O carcereiro dos quarenta mártires ficou atônito ao contemplar as coroas. Desprezando esta vida presente, e ambicioso para desfrutar Tua glória, ó Senhor, que lhe havia sido mostrada em visão, ele juntou-se aos mártires neste hino: ‘Bendito és Tu, ó Deus de nossos pais!’” O guarda desprezou esta vida presente para ganhar a glória eterna. Embora possa Deus não nos conceder visões da glória que ganharíamos ao escolhê-Lo sobre os bens deste mundo, temos absoluta certeza de que devemos sempre seguir o abençoado exemplo do guarda. Se não estamos dispostos a sacrificar tudo para ganhar a salvação eterna, qual é o propósito de nossas vidas?

Nossas Armas. “Valentes soldados de Cristo, que se encontram na quantidade do misterioso número neste início do nosso jejum de quarenta dias, recebam a homenagem da nossa devoção. A vossa memória é venerada em toda a Igreja e grande é a vossa glória no Céu. Embora engajados no serviço de um príncipe terreno, vocês foram soldados do Rei eterno: a Ele é que vocês foram fiéis, e d’Ele que receberam a coroa da glória eterna. Nós também somos Seus soldados; estamos lutando pelo Reino dos Céus. Nossos inimigos são muitos e poderosos; mas, convosco, podemos vencê-los, se, convosco, usarmos as armas que Deus colocou em nossas mãos. A Fé na palavra de Deus, a esperança em Sua assistência, a humildade e a prudência, com essas armas temos certeza da vitória. Rogai por nós, ó santos mártires, para que evitemos selar compromisso com nossos inimigos; pois nossa derrota é certa se tentarmos servir a dois senhores”. Hoje, muitos católicos reconheceram que nossos inimigos são poderosos demais para serem vencidos por armas naturais, então Dom Guéranger nos recorda das armas sobrenaturais de que mais do que nunca precisamos: Fé na palavra de Deus, esperança em Sua assistência, humildade e prudência. “Com estas armas temos a certeza da vitória”, sem elas perderemos tudo.

A Mãe de Meliton. “A mãe, cujo espírito de fortaleza a tornou querida de Deus, levando sobre os ombros o fruto amado de seu ventre, leva-o aos mártires para que, junto com eles, seja uma vítima martirizada… Esta mãe, querida por Cristo, clamou a seu filho: ‘Ó meu filho; corra rapidamente ao caminho que conduz à vida eterna. Eu não posso tolerar que fiques de fora de ir a Deus, que nos recompensa.’” Essa santa mãe sabia que Deus havia criado ela e seu filho para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo nesta vida, para depois poder ser feliz com Ele por toda a eternidade. Teria a mãe amado o filho se o tivesse “resgatado” do martírio certo, para depois poder perder a alma numa vida de tentações?

A maioria de nós não deve esperar que nossas mães nos carreguem literalmente para a salvação eterna, mas a Santíssima Virgem Maria, que fielmente permaneceu sob a cruz de Cristo, Seu Filho, nos será essa mãe se permitirmos. Ela pode lembrar-nos que o exemplo dos Quarenta Mártires de Sebaste não é simplesmente um bom caminho entre muitos, senão que neste caminho observamos as disposições fundamentais que devemos compartilhar se queremos honrar a Deus e salvar nossas almas. Especialmente nesta Quaresma de 2022, devemos implorar suas intercessões e assistências, para que possamos nos juntar aos quarenta mártires com a conquista da coroa da eterna glória– “o inverno está frio; mas o paraíso é doce.”  Imaculado Coração de Maria, rogai por nós!

Fonte: The Remnant

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