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Sommelier de Missa

Pe. José Eduardo, sacerdote que já discorremos em algumas oportunidades neste blog, no último dia 01 de fevereiro, publicou uma provocativa postagem em suas redes sociais criticando aquilo que ele chama de “sommeliers de Missa”:

Padre José Eduardo - Post Católico Sommelier de Missa
O século XXI vomitou um tipo insólito de católico: os sommeliers de Missa. Sem raízes, sem compromisso, vagam feito almas penadas, de paróquia em paróquia, farejando liturgias para depois destilarem seu veneno. Ora as amaldiçoam, ora as exaltam, conforme o sabor do dia ou o capricho de seu ego. Não pertencem a lugar nenhum, não contribuem com nada; servem-se de tudo, mas não servem a ninguém. Tão apegados à tradição, esquecem que a Igreja é territorial, com paróquias e dioceses bem delimitadas; tão “medievais”, não têm feudo, são nômades de sacrário, ovelhas desgarradas, desprovidas sem pastor, como Israel perdido no deserto, sem terra, longe de Canaã. Seus frutos? Superficialidade, elitismo e a ilusão de uma santidade que não se planta nem floresce. Que Deus os desperte, antes que se percam de vez, e os faça entender que a Igreja não é uma feira de vaidades, mas a casa de Cristo, onde o amor, e não o conforto, é a moeda de troca.

Gostaríamos de fazer um breve comentário à postagem do padre.

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Há narnianos que acham que estamos numa espécie de Suíça litúrgica e que dá para alguém ser católico em qualquer lugar, na paróquia mais próxima de casa. Mas qualquer fiel realista verá que a situação é realmente triste, para não dizer verdadeiramente desesperadora, quando se trata de encontrar missas piedosas, bons pastores e paróquias que não sejam uma espécie de clube social, mas um porto seguro para a salvação das almas. Poderíamos citar como vivas provas desse cenário aterrador missas da Renovação Carismática, movimento do qual o Pe. José Eduardo é forte apoiador, conforme já expusemos aqui e aqui.

Essa tragédia eclesial causou o que Martin Mosebach em “The Heresy of Formlessness” chama de “perda da inocência litúrgica”. Comenta o autor que o católico do século XXI foi obrigado a virar uma espécie de especialista litúrgico para poder se contrapor à devastação da liturgia promovida desde o século XX.

“Talvez o maior dano causado pela reforma da Missa do Papa Paulo VI (e pelo processo em andamento que a ultrapassou), o maior déficit espiritual, seja este: agora somos positivamente obrigados a falar sobre a liturgia . Mesmo aqueles que querem preservar a liturgia ou rezar no espírito da liturgia, e mesmo aqueles que fazem grandes sacrifícios para permanecer fiéis a ela – todos perderam algo inestimável, a saber, a inocência que a aceita como algo dado por Deus , algo que desce ao homem como um presente do céu. Aqueles de nós que somos defensores da grande e sagrada liturgia, a liturgia romana clássica, todos nos tornamos – seja de uma forma pequena ou grande – especialistas litúrgicos. Para combater os argumentos da reforma, que foi preenchida com erudição técnica, arqueológica e histórica, tivemos que nos aprofundar em questões de adoração e liturgia – algo que é totalmente estranho ao homem religioso [ou seja, o homem cuja religião é tão natural para ele a ponto de ser não intencional e reflexivo].

E, continua o autor, só por causa desse católico que hoje temos algumas missas onde o fiel pode, finalmente, se entregar e se deixar guiar pela liturgia na adoração a Deus ao invés de ser um vigilante crítico de teatro.

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“E se, de vez em quando, tivermos o privilégio de celebrar uma Santa Missa que nos permita esquecer, por um momento, a enorme catástrofe histórica e religiosa que prejudicou profundamente a ponte entre o homem e Deus, não podemos esquecer todos os esforços que tiveram que ser feitos para que esta Missa pudesse acontecer, quantas cartas tiveram que ser escritas, quantos sacrifícios tornaram possível este Santo Sacrifício, para que (entre outras coisas) pudéssemos rezar por um bispo que não quer nossas orações e que prefere não ter seu nome mencionado no Cânon.”

Contudo, ainda que estivéssemos numa Suíça ou Noruega litúrgica, ser um “sommelier” de missa não é exatamente errado quando o fiel apenas procura um lugar para adorar melhor a Deus. Nesse sentido, São Leonardo de Porto Maurício, em “Excelências da Santa Missa“, incentiva os fiéis a buscarem as missas mais piedosas:

“Considera, pois, o erro daqueles que preferem as missas mais curtas e com menos devoção, ou, o que é pior, dos que a elas assistem com pouca ou nenhuma devoção, e que não fazem o menor esforço para ir ao sacerdote mais fervoroso e devoto quando mandam celebrar uma missa. Porque se é verdade que todas as Missas são iguais no que diz respeito ao Sacramento, como ensina São Tomás, não o são, porém, quanto aos efeitos que causam. Assim, não devemos duvidar de que quanto maior é a piedade do celebrante, quanto mais proveitosa e abundante é a aplicação que se faz dos frutos do Sacrifício; não fazer diferença entre um padre mais fervoroso e outro menos seria o mesmo que, para pescar, lançar mão indiferentemente de uma rede de malhas pequenas ou grandes.”

Dom J. B. Chautard em “A Alma de Todo Apostolado” ensina que quanto mais santo é o sacerdote melhores serão os fiéis:

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A sacerdote santo, houve quem dissesse, corresponde povo fervoroso; a sacerdote fervoroso, povo piedoso; a sacerdote piedoso, povo honesto; a sacerdote honesto, povo ímpio. Sempre um grau de vida a menos naqueles que são gerados.

Seria talvez exagero admitir esta proposição; julgamos, porém, que as seguintes palavras de Santo Afonso exprimem suficientemente qual a causa a que se devem atribuir as responsabilidades de nossa atual situação:

“Os bons costumes e a salvação dos povos dependem dos bons pastores. Se à frente de uma paróquia estiver um bom pároco, depressa nela se verá florescente, sacramentos frequentados, a oração mental praticada. Daí o provérbio: Qualis pastor talis paróchia, segundo esta palavra do Eclesiástico (10, 2): Qualis est rector civitatis, tales et inhabitantes in ea.” “

A razão de se buscar missas mais piedosas e sacerdotes mais santos é muito óbvia: a santidade deles influi diretamente da prosperidade dos fiéis (pessoas se convertem, vocações prosperam e problemas são resolvidos). Se uma mãe deseja a conversão do seu filho, se um esposo deseja o fim da crise de seu casamento ou se uma moça deseja encontrar um bom marido, nada melhor do que pedir essas coisas a Deus numa missa piedosa e com um pároco realmente preocupado com as almas, pois eles atraem as graças de Deus para os fiéis. Não há segredos ou fórmulas mágicas. A prosperidade espiritual segue uma lei geral: Ubi est ordo, Deus ibi est (onde há ordem, Deus aí está). Onde a liturgia é respeitada, onde o sacerdote e os leigos sabem deveres, onde a oração é incentivada, onde os mandamentos são seguidos, Deus abençoa infalivelmente. Onde isso não acontece, Deus não abençoa. Simples assim. Esta verdade é explicitamente ensinada nas Sagradas Escrituras:

Se seguirdes minhas leis e guardardes os meus preceitos e os praticardes, eu vos darei a chuva nos seus tempos. A terra dará o seu produto e as árvores da terra se carregarão de frutos. A debulha do trigo se estenderá até a colheita da uva, e a colheita da uva até a sementei­ra; comereis o vosso pão à saciedade, e ha­bitareis em segurança na vossa terra. Darei paz à vossa terra e vosso sono não será perturbado. Afastarei da terra os ani­mais nocivos, e a espada não passará pela vossa terra. Quando perseguirdes os vossos inimigos, cairão sob vossa espada. Cinco dentre vós perseguirão um cento, e cem dos vossos perseguirão dez mil, e os vossos inimigos cairão sob vossa espada. Eu me voltarei para vós, e vos farei crescer; eu vos multiplicarei e ratificarei a minha aliança convosco. […] Masse não me escutardes e não guardardes os meus mandamentos, se desprezardes os meus preceitos e vossa alma aborrecer as minhas leis, de sorte que não pratiqueis todos os meus mandamentos e violeis minha aliança, eis como vos hei de tratar: enviarei terríveis flagelos sobre vós: a tísica e a febre que enfraquecerão vossa vista e vos farão desfalecer. Debalde semeareis a vossa semente, porque vossos inimigos a comerão. Voltarei minha face contra vós e sereis vencidos pelos vossos inimigos: eles vos dominarão, e fugireis sem que ninguém vos persiga. Se nem ainda assim me ouvirdes, castigarei sete vezes mais pelos vossos pecados. Quebrarei o orgulho de vosso poder, tornarei o vosso céu como ferro e a vossa terra como bronze. Inutilmente se gastará a vossa força, pois vossa terra não dará os seus produtos, e as árvores da terra não produzirão os seus frutos.” (Lv 26, 3-9; 14-20)

Deus é enérgico. Para os desobedientes, sequer adiantará “gastar a vossa força, pois a vossa terra não dará frutos”. Em outras palavras, inutilmente trabalhará um fiel em uma paróquia infértil. Inutilmente buscará vida espiritual autêntica nela. Deus não fará surgir frutos. Por isso é ingênua a proposta de muitos conservadores que os leigos participem ativamente, dando catequese, por exemplo, ou ajudando a limpar a igreja, de uma paróquia moderna cheia de abusos litúrgicos. Se o padre não for piedoso e não quiser implantar piedade em sua paróquia, a começar pela missa, todo trabalho será em vão.

Mas OK, se alguém preferir não ser um “sommelier” de Missa, como pede o Pe. José Eduardo, então que faça como os paroquianos de Nárnia: que não ligue para a santidade do lugar, que tente ser católico em qualquer igreja de esquina e assim atrase uns 20 anos a resolução dos seus problemas (se um dia eles forem resolvidos).

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