Em alguns lugares, o Sagrado Coração de Jesus não é bem honrado nem bastante amado. Rezai muito para que os diretores das almas sejam esclarecidos neste ponto… Quando eles vêm fazer os Exercícios em nossa Casa de Paris, digo-lhes: meus bons amigos, não fazeis nada de bom pelas almas, porque não sois do vosso século. Viveis sempre no passado, falais sempre de Belém, de Nazaré, do Calvário: tudo isto é muito antigo!… Então me olham estupefatos e eu me explico: Sim! Dizem que o passado conduz ao presente, mas acontece muitas vezes extraviar-se no caminho. Nosso Senhor não está mais no presépio nem na cruz. Por que não O mostrais às almas lá onde Ele está? No Tabernáculo, com seu Coração cheio de vida, inflamado de amor? Sim, na terra, tudo quanto é grande e bom só será feito por meio do Coração de Jesus.
E por que esta ação do Coração de Jesus é tão necessária em nossos tempos? Dir-vos-ei meu pensamento: é porque a grande enfermidade do mundo é a indiferença religiosa. Depois do Protestantismo, os corações se deixaram invadir pela aridez em relação a Deus. Não mais O amam.
Considerai bem: agora, em Paris, ninguém mais nos insulta, ao contrário, até todos procuram saudar-nos. Mas os que passam a nosso lado não são mais do que mortos ambulantes, que não têm senão corações passados, ossificados: já não vivem. Pregamos as grandes verdades; não se convertem, porém. Pregamos os tremendos castigos da eternidade, e não se comovem. Estão muito doentes!
Que remédio poderá curá-los? Um só: o amor de Deus. E onde buscar este amor? Oh! Na sua fonte: no Coração de Jesus. É preciso atirar as almas na fornalha do Sagrado Coração e ensinar-lhes a amar este Coração divino.
Perguntar-me-eis talvez: – como fazer? A resposta é fácil: o amor não se dá senão por meio do amor. Dizei-lhes: Jesus ali está e vos ama. – Como?! Ele me ama a mim tão indiferente, tão miserável! – Sim; Ele vos ama. Demonstrai-lhes e repeti-lhes até irritá-los. Se se irritarem, melhor do que nada: é sinal de que a vida começa a voltar.
Perguntar-me-eis talvez: – De que modo se ama? A tal pergunta não se dá resposta. Jesus não nos disse: amar-me-eis desta ou daquela maneira, mas simplesmente: Amai-me – e basta. O amor não conhece nem limites nem métodos: morreria sufocado. Se amais, o amor vos ensinará o que deveis fazer (…)
Oh! Dizem-vos demais: honrai a cruz, carregai a cruz!… A cruz… sim, mas depois do amor, simplesmente como sua consequência.
Jesus me amou! Eis o fundamento da vossa oração: tirai daí todas consequências possíveis… Ao fazer oração, começai por colocar-vos no Coração de Nosso Senhor. Alguém me dirá: – Prostrai-vos aos pés de Nosso Senhor. – Obrigado. Há um lugar melhor: Quando Jesus mostrou seu Coração a São João, este se contentou em permanecer aos seus pés? Ah! Ele não pensou em fazer atos de humildade naquele momento! Ora, como ele, também eu quero colocar-me sobre o Coração de Jesus. Se me repelir, paciência! Mas enquanto não me disser coisa alguma, nele permanecerei.
Muitas vezes, em questões de vida espiritual, comete-se um grande erro: antepor o negativo ao positivo. Entretanto, é preciso fazer ao contrário. Santo Inácio bem o compreendera. Observai que em sua oração ele diz: – Senhor, dai-me vosso amor e vossa graça. Outros teriam dito: – Dai-me a humildade”, ou então: – “Dai-me a paciência”. Mas Santo Inácio diz imediatamente: – “Vosso amor, ó Senhor!” Ah! Quando ele tiver o amor, terá o Senhor todo inteiro e com Esse todas as virtudes. Eis o que significa pôr o positivo antes do negativo. Depois, fazei quantos atos de humildade quiserdes.
Referência: Vida de São Pedro Julião Eymard (1811-1868): O Apóstolo da Eucaristia. Itapevi-SP: Nebli, 2017.