O homem anseia a felicidade. Esse é um dado da realidade que pode ser comprovado com a simples apreensão das coisas. No entanto, um dos problemas mais graves dentro dessa busca é que o homem nunca se realiza enquanto estiver nesse mundo. A modernidade, no afã de tentar buscar uma solução para esse problema, passou a criar diversas concepções filosófica para afastar o homem da Verdade. Como consequência, o homem foi capaz de realizar os mais atrozes e, ao mesmo tempo, rebaixar-se aos animais, vivendo para os prazeres ilícitos. Sendo assim, é fundamental que se busque a retomada dos princípios e fundamentos que sustentam a vida humana.
O grande Santo Inácio de Loyola disse “o ser humano tem no Criador sua referência fundamental e constitutiva. Nesse sentido, vê-se que o homem, por ser criado por Deus, deve ordenar-se a Ele em todos os seus pressupostos. Assim sendo, todas as vezes que o homem buscar se realizar sem colocar Deus no centro ontológico de sua vida, acabará por não conseguir lograr êxito ao seu fim. Outro aspecto fundamental dessa análise é saber que Deus criou o homem com uma constituição ordenada, bem definida e com finalidade. Caso haja uma má compreensão da composição, tende-se a gerar problemas antropológicos mais graves.
O parágrafo anterior pode ser complementado com a brilhante citação de Santo Agostinho “Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti”. Assim sendo, o Doutor da Graça nos aponta o caminho para a verdadeira felicidade. O Criador desejou, desde o princípio, a comunhão com o homem, porém, com o pecado original, houve uma profunda desordem na humanidade e, por conta desse ato, o mal entrou no mundo. Para que fosse possível o reestabelecimento da ordem, Nosso Senhor Jesus Cristo, veio ao mundo e morreu pela humanidade. “Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação” (II Cor V, XIX).
O pagamento daquilo que era justo fez com que o homem fosse livrado do Pecado Original e, como Deus é bom e infinitamente misericordioso, houve a concessão da participação em sua vida divina que é conhecida como Graça.
Assim sendo, à medida que o homem se aproxima de Deus, maior é a graça recebida e a adesão à Verdade. Sem dúvida, a participação na vida divina é a realização do ser humano, mas para isso, no entanto, é necessário que o homem reconheça em Cristo toda a realeza. Ora, se Cristo é Rei, como bem acentuava o Papa Pio XI, na encíclica Quas Primas, é fundamental que estejamos sob essa coroação. “Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo. Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve”. (Mt XI, XXVII-XXX)
Mas como que o homem deve se colocar sob o jugo de Nosso Senhor Jesus Cristo? A resposta para isso é fazer a vontade dEle, Senhor dos Senhores e Rei dos Reis. Para isso, o homem precisa seguir a doutrina que Ele estabeleceu por meio de sua Santa Madre Igreja. Sem isso, fica impossível fazer a vontade de Deus e, consequentemente, atingir a beatitude. Essa constatação já nos coloca com um primeiro fundamento filosófico bem claro: o princípio da não contradição. Ora, se Nosso Senhor Jesus Cristo é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, Ele não pode se enganar e, tampouco, nos enganar. Nesse sentido, vê-se que a Verdade é exigente e não aceita caminhos que não sejam os verdadeiros.
A alma humana, criada por Deus, contém duas potências: a vontade e a inteligência. Essa está a serviço do conhecimento e da sabedoria, aquela tem como objeto próprio o Bem. No fundo, todas essas potências são como instrumentos com que Deus criou o homem para que fosse possível chegar a conhecer a natureza e, uma vez colocada a Revelação, fosse capaz de leva-lo até o seio trinitário. Essa operação inteira é realizada por meio da inteligência humana aumentada pela virtude teologal da Fé. Assim sendo, é dever do homem estudar a Santa Religião Católica e aderir como um filho.
O que vemos no mundo, atualmente, é a completa destruição de todo esse caminho de felicidade proposto por Deus. Em primeiro lugar, vemos uma destruição do conceito de Verdade. Em segundo, a infeliz opção de renegar a utilização da inteligência para observar o que é evidente. Chesterton dizia que chegaria um dia que seria necessário explicar que a grama é verde. Por fim, a vontade tornou-se preponderante em todos os aspectos e, somada à animalização, por meio de diversas ideologias, dentre elas o movimento LGBT, fez com que a vontade ficasse solta para não mais perseguir o bem, mas para buscar a desgraça vestida de virtude.
A atuação na política, portanto, em hipótese nenhuma deverá ser descolada da Religião, uma vez que é por meio da Santa Madre Igreja que se tem acesso à Verdade. Ao dizer isso, não se pode concordar com aqueles que propagam a laicização e a defesa de uma constituição (iníqua, por sinal), como fundamento de suas propostas políticas. Aderir ao pragmatismo por dizer que é necessário a conciliação é deixar de lado todo o combate espiritual e aproximar-se do pecado. Os católicos não podem, em hipótese nenhuma, apoiar algo que seja intrinsecamente contra a Lei Natural e a Lei Divina. Infelizmente, muitos aderem ao humanismo integral de Jacques Maritain para defender a posição do Estado Liberal.
Qual deve ser, então, a postura dos católicos no governo da pólis? Em primeiro lugar, dar o exemplo de fé e santidade. Não estar em pecado mortal é condição sine qua non para a atuação pública. São Paulo exorta o seguinte “Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à Lei de Deus, e nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele.” (Rm VIII, VII-IX). Alguém imaginaria um chefe de Estado como Gabriel Garcia Moreno não desejar, ardentemente, estar na graça de Deus? Esse é o princípio de todo o governo: o temor ao Senhor.
Em segundo lugar, um político católico não pode ter medo de se posicionar afirmando que somente a Santa Madre Igreja é a Igreja de Cristo. São Cipriano de Cartago, em 258, afirmou isso quando defendia que a Igreja era uma unidade, seguindo uma só fé, um só batismo e um só pastor. O poder de ligar e desligar não foi dado a todos, mas a São Pedro, chefe dos Apóstolos. Sendo assim, o único ecumenismo possível é aquele no qual o objetivo é retirar o pecador do erro, fora disso, não se tem mais ecumenismo e, sim, comprometimento da busca pela Verdade.
Em terceiro lugar, o político católico deve combater todos os inimigos da Santa Madre Igreja. Atualmente, os grandes inimigos são: protestantismo, espiritismo, maçonaria, liberalismo, americanismo, comunismo, fascismo, nazismo e darwinismo. Para cada um desses inimigos ou heresias, os papas escreveram encíclicas importantíssimas, seguindo aquilo que o Concílio Vaticano I deixou como condições para que uma carta se torne documento Ex Cathedra. Se um político católico não combater esses inimigos, aliando-se ou eximindo-se da batalha, o juízo será duro. O martírio é o mais belo sinal de santidade que pode ser dado e, portanto, não se deve excluir essa forma de entrega a Nosso Senhor.
Por fim, o político católico deve defender a Doutrina Social da Igreja, principalmente favorecendo a Santa Igreja Católica e dando todos os privilégios necessários para que Ela continue fazendo a missão redentora. Nesse sentido, é triste saber que muitos políticos católicos não defenderam a abertura das igrejas em tempos de pandemia, o que se pode notar é uma falta completa da visão sacramental da Igreja de Cristo. Além disso, é imprescindível que o político católico seja intransigente com as pautas contrárias à Sã Doutrina. Sem esses componentes, o catolicismo pode se tornar uma bandeira política e instrumento de cooptação de pessoas.
A atual situação cultural e política é lastimável. A revolução destruiu a capacidade cognitiva do homem e, depois, a moralidade. A consequência básica disso foi a destruição da Cristandade e, também, a possibilidade de crescimento dos seus inimigos. Como se não bastasse isso, o inimigo se infiltrou nas fileiras católicas, fazendo com que os ideais mundanos e seculares se infiltrassem. Por fim, os próprios católicos, hoje, reduzem a fé a uma experiência privada e não como o fundamento de construção de civilização. Com isso, pautas claramente contrárias a fé são defendidas por aqueles que se julgam católicos. É na práxis e não na fala que se fundamenta a realidade.