No dia 18 de setembro, o Pe. José Eduardo e a influencer Jéssyca Jacóbus realizaram uma live para tratar de problemas da chamada “bolha católica”.
Em que pese o atraso em reagirmos a esta live somente agora, entendemos necessário tecer alguns comentários, tendo em vista a grande repercussão que teve e o temas trabalhados, alguns deles já exaustivamente comentados neste blog.
Os “Metainfluencers”
Primeiramente, convém comentarmos sobre a tal “bolha católica”. Tem sido uma práxis de páginas como O Catequista, Preta de Rodinhas, Jules Freitag, Garibaldo Cansado, entre outras, o ataque a inimigos etéreos como “os influencers“, a “bolha”, como se elas fossem um grupo completamente apartado desse universo, isto é, como se não fossem elas próprias influencers criticando outros influencers, mas uma casta elitizada que olha tudo de cima pra baixo e critica a bolha/influencers por “ditarem regras”, venderem cursos, etc. Em suma, se vêem notadamente como “metainfluencers“.
Tal postura, no entanto, é realmente ridícula. Todas essas páginas, sem exceção, buscam exercer influência na internet/vender curso, não sendo uma casta realmente diversa daqueles que elas criticam. Ademais, essas páginas exacerbam a culpa da bolha/influencers e diminuem a responsabilidade pessoal de cada por seguir maus conselhos. Quem escuta conselhos ruins deve se responsabilizar pelo que escuta.
É necessário, portanto, ter uma visão ponderada sobre o tema. Não existem “os influencers“, como um grupo de malvadões que comandam a internet, tampouco a “bolha católica”, como um grupo uníssono de católicos com as mesmas ideias e opiniões. Mesmo entre católicos conservadores existe uma larga diferenciação. Nisto vemos as muitas diferenças entre católicos tradicionais, tradismáticos, obreiros, etc. O que existe, na verdade, são pessoas que trabalham na internet e que dão suas opiniões, boas ou não, podendo pertencer a algum grupo específico de católicos ou não. E existem pessoas que aderem a elas ou não. Tudo normal debaixo do Sol.
No caso da live, a “bolha católica” atacada parece ser, novamente, as mulheres tradicionais. Como alertamos muitas vezes neste blog, há, atualmente, uma onda virulenta de ataques ao catolicismo tradicional. Esse movimento tem sido encabeçado, principalmente, por moças que abraçaram o feminismo católico.
Nota-se, nesse contexto, que Jéssyca Jácobus segue o típico padrão comportamental de uma feminista católica que já reportamos muitas vezes: contestação de padrões de modéstia, do uso do véu, da mulher do lar, etc. Pois, bem. Já sabemos onde isso tudo vai parar. Conhecemos bem o roteiro dessas moças.
Nesta live, em especial, Jéssica busca uma validação do seu feminismo com o Pe. José Eduardo. O padre é bem visto no meio católico conservador, mas, como um sacerdote “tradismático”, não é nada tradicional. Em recente polêmica com o Centro Dom Bosco, o sacerdote fez depreciações objetivas ao Catecismo de Trento, conforme demonstramos no artigo “Sobre a polêmica do Catecismo Romano do Centro Dom Bosco“. Agora ele se senta com Jéssica para desqualificar a feminilidade tal como difundida nos meios tradicionais.
Pois bem. Não tocaremos em todos os temas da live, mas majoritariamente aqueles que já foram comentados neste blog. Assim, faremos uma análise do que disseram o padre e Jéssica a respeito da (i) paternidade responsável; (ii) parto natural; (iii) modéstia; (iv) uso do véu; e (v) trabalho externo da mulher casada.
Paternidade Responsável
Pe. José Eduardo inicia sua fala (1’34”) dizendo, como este blog, que a pandemia foi um verdadeiro divisor de águas entre os católicos. Contudo, diz que, na pandemia, muitas excentricidades entre católicos foram trazidas à luz. Cita como exemplo a posição dos que dizem que o método billings é camisinha católica. Então diz: “Isto aqui é contra a doutrina da Igreja. É contra a doutrina moral católica. Por que? Porque a Igreja Católica ensina a paternidade responsável” (6’14”).
É curioso ver como o padre presume bondade/licitude de coisas que não são naturalmente boas ou lícitas. Este modo de pensar, infelizmente, será reproduzido pelo padre diversas vezes na live.
Primeiramente, o padre trata o método billings como sinônimo de paternidade responsável. Esta afirmação, no entanto, é notadamente equivocada. Não se presume a licitude do método billings e nem de qualquer outro método natural sem a existência de motivos graves que autorizem o seu uso. Conforme ensinou o Papa Pio XII em Mensagem às parteiras de Roma em 1951:
“O simples fato de que os cônjuges não firam a natureza do ato e estejam prontos a aceitar e educar os filhos que, apesar de suas precauções, viesse à luz não bastaria, por si só, para garantir a retidão da intenção e a rigorosa moralidade dos próprios motivos.
A razão é que o Matrimônio obriga a um estado de vida que, do mesmo modo que confere direitos, também impõe o cumprimento de uma obra positiva que tem em vista o próprio estado. […] O indivíduo e a sociedade, o povo e o Estado, a própria Igreja, dependem para sua existência, na ordem estabelecida por Deus, do matrimônio fecundo. Portanto, abraçar o estado matrimonial, usar continuamente da faculdade que lhe é própria e somente nela é lícita, por outro lado, subtrair-se sempre e deliberadamente, sem um grave motivo, ao seu dever primário, seria pecar contra o próprio sentido da vida conjugal. […] A vontade de evitar habitualmente a fecundidade da união, embora se continue satisfazendo plenamente a sensualidade, não pode derivar senão de uma falsa apreciação da vida e de motivos estranhos às retas normas éticas.” (Mensagem às parteiras de Roma, 29 de outubro de 1951)
Em segundo lugar, o padre não menciona que os métodos naturais não são sequer a opção mais perfeita e virtuosa para o espaçamento de filhos. Opção moralmente superior (e, claro, mais difícil) é a continência do casal, isto é, a abstenção completa de relações sexuais enquanto o motivo grave existir.
A continência é superior aos métodos naturais em múltiplos pontos:
1) Quanto à virtude da castidade. A continência consensual presume-se lícita ao casal independente de motivos graves, mesmo que dure a vida inteira (casamento josefino). Já o uso dos métodos naturais não se presume lícito, sendo necessário existir motivos graves.
2) Quanto à virtude da prudência. O casal continente compreende que, se é realmente impossível ter filhos em determinado momento, então a forma 100% segura e responsável de não tê-los é se abstendo de relações sexuais. Já o “casal PFN”, isto é, aderente do planejamento familiar natural, pode ser surpreendido com um filho que vem “na hora errada”.
3) Quanto à virtude da religião. A continência favorece mais a vida de oração, como ensina São Paulo (1 Co 7,5). Os esposos sempre foram incentivados pela Igreja a abster-se do ato conjugal de tempos em tempos para praticar melhor a virtude da religião, como demonstramos aqui, não havendo maiores dúvidas quanto a este ponto.
Obs: Assim notamos o problema de páginas como a do “Garibaldo Cansado”, que gastam tempo debochando de católicos “providencialistas” enquanto fazem a ferrenha defesa dos métodos naturais. Ora, os métodos naturais admitem “margem para Deus trabalhar”, pois, como diz o teólogo moral Arthur Vermeersch a respeito deles, “enquanto o uso [do matrimônio] se fizer normalmente, conserva sua direção para o seu fim primário – a geração” (Matrimônio Cristão, p. 60), ou seja, não afastam por completo o “providencialismo”. Se um casal PFN tiver filhos num momento difícil, é porque, ulteriormente, fizeram o ato necessário para tê-los.
Uma atitude mais prudente, responsável e coerente, portanto, contra o “providencialismo” seria a adoção da continência completa, não dos métodos naturais. Afinal, o primeiro erradica qualquer possibilidade de providencialismo, o segundo não.
Continuemos.
Em segundo lugar, é simplesmente um fato que muitos casais utilizam os métodos naturais com uma metalidade contraceptiva e falam dele praticamente como um substituto dos contraceptivos. Nesta mentalidade, encontram-se inclusive muitos “teólogos do corpo” famosos como Christopher West, Jason Evert, Greg Popcak, etc., que em seus livros falam do “planejamento familiar natural” (PFN) como um verdadeiro substituto dos contraceptivos, sempre em termos de “eficácia” para não se ter filhos.
Vemos no livro “Se você realmente me amasse” (Jason Evert):
“Contraceptivos não são necessários para o planejar o tamanho familiar. Em Calcutá, o PFN provou ser uma alternativa que funciona efetivamente. O British Medical Journal relatou: Verdadeiramente, um estudo de 19.843 mulheres pobres na Índia (praticando o PFN para evitar a gravidez) obteve uma taxa de gravidez próxima de zero.” (p. 225)
Já em “Boas Novas sobre sexo e casamento” (Christopher West), temos:
“[…] Se você considerar apenas o grupo de pessoas que foram educadas adequadamente nos métodos modernos do PFN e que estão motivadas a seguir as regras, a taxa de eficácia aumenta para 99%.” (p. 208)
Notemos como Evert e West buscam convencer o leitor a trocar os contraceptivos químicos ou artificiais pelo PFN, porque o último seria tão ou mais “eficaz”. Contudo, “se a PFN não é contracepção”, então toda essa conversa em termos de “eficácia” é realmente suspeita. Com diz o Pe. Michael Malone no livro “The Case Concerning Catholic Contraception“:
“Atualmente, o PFN é apregoado como uma forma lícita de controle de natalidade (seja chamado de “controle de natalidade” ou “regulação de natalidade” ou “conscientização sobre fertilidade”), às custas do ensino sobre a necessidade de “razões sérias” para usá-lo, e sem mencionar a virtude de produzir uma família grande. Quando seus promotores apontam que o PFN é “tão eficaz” quanto várias formas de contracepção “se você seguir as regras”, eles empregam a mesma linguagem e implicam o mesmo tipo de pensamento que vemos naqueles que defendem o uso de contracepção. Quando é proclamado que o PFN é “99% eficaz”, não há outra maneira de entender “eficaz” exceto como “bem-sucedido na prevenção da concepção”. É realmente incorreto chamar isso de “mentalidade contraceptiva”? Se esse rótulo se encaixa em qualquer um, na maioria ou em todos os usuários do PFN é um ponto discutível. Ao discutir o rótulo, negamos o fato de que nós, católicos, compramos o mito cultural atual de que o “planejamento” familiar é melhor do que o “acontecimento” familiar. Em alguns aspectos, debater o PFN é uma questão secundária. O ponto real da conversa — quer usemos o termo “contracepção artificial”, “mentalidade contraceptiva” ou “controle de natalidade” — é este: o controle de natalidade não é, nem nunca foi, um valor católico. Sem confrontar a mentalidade de “controle de natalidade” que está por trás disso, continuamos presos lutando contra os “sintomas” em vez da “causa”. O PFN é apenas uma questão porque o “controle de natalidade” entrou nas discussões sobre o casamento como um valor católico autêntico. O fenômeno “casos extremos fazem lei ruim” está aqui em abundância: o que deveria ser uma situação excepcional se tornou um “modo de vida” — como evidenciado pelo fato de que dioceses e paróquias estão exigindo aulas de PFN para casais que pretendem se casar na Igreja.”
Há um notório problema de ênfase dos promotores da PFN. De fato, nos livros de Evert, West, etc., não vemos uma exposição clara dos motivos graves (médicos, eugênicos, econômicos ou sociais) que autorizam o uso dos métodos naturais. Apenas constatamos a comparação com os contraceptivos em termos de eficácia e o incentivo a utilizá-lo como um estilo de vida. Não está errado, portanto, quem enxergue nisso uma profunda mentalidade contraceptiva, apesar do verniz católico.
O controle de natalidade, ao contrário do que querem fazer crer muitos promotores da PFN, não é um estilo de vida, mas uma medida excepcional, como salienta o Pe. George Kelly em seu livro “Manual do Matrimônio Católico“:
“O controle de natalidade, portanto, deve ser uma medida excepcional no casamento, nunca a regra.” (p. 43)
E Dom Rafael Llano Cifuentes em “Noivado e Casamento“:
“A Igreja não propõe nem recomenda o uso dos métodos naturais, simplesmente permite utilizá-los quando existam motivos que justifiquem.” (p. 203)
Portanto, não é um erro crasso dizer que o método billings é camisinha católica, já que o uso de nenhum método natural tem sua bondade presumida. Não basta o ato conjugal desimpedido, é necessária a reta intenção. Em outras palavras, a bondade do uso do método natural precisa sempre ser demonstrada. A própria Jéssyca, há 1 ano, admitia que o método billings era camisinha católica, como se observa nos seus Destaques de Instagram ainda hoje:
Parto Natural
Em seguida, Pe. José Eduardo começa a tratar do problema do parto natural em contraposição à cesárea.
“Agora tem a moda do parto natural. Algumas pessoas estão dogmatizando este assunto. Eu entendo que realmente exista uma forçação de barra para empurrar a mulher para a cesárea e que, muitas vezes, é sonegado à mulher o direito de pensar em ter um parto natural. Mas qual é o problema? O problema é que você não está obrigado pela doutrina da Igreja a ter parto natural.” (10’49”)
Novamente, o padre presume a bondade/licitude de coisas que não são naturalmente lícitas, dando uma falsa sensação de que católicos podem escolher intercambiavelmente entre uma coisa e outra.
É preciso lembrar que o parto por cesárea é, antes de tudo, uma intervenção cirúrgica e, moralmente falando, toda cirurgia deve ser motivada por alguma razão séria, pois se trata de um meio extraordinário para a preservação da própria vida ou saúde.
O católico não está obrigado aos meios extraordinários, mas apenas aos ordinários, como afirma o teólogo Heribert Jone em seu “Moral Teology“:
“Para a preservação da vida e da saúde, deve-se empregar pelo menos os meios ordinários.” (n. 210)
No contexto do parto, a Teologia Moral Católica assenta que não é lícito o emprego de técnicas que não sejam totalmente inofensivas para a mãe e o bebê. Por isso não é lícito o emprego de anestésicos e de cortes na parturiente sem justa causa. Conforme demonstram os estudos, eles não são totalmente inofensivos.
A respeito, diz o teólogo moral Antonio Peinador Navarro em “Moral Profesional“:
“Se o parto for normal, com o consequente desconforto, suportável para toda mãe normal, em princípio deve-se dizer que o uso de analgésicos destinados a reduzir ou suprimir a dor não é lícito, pelos perigos que representa para a mãe e para o feto.
Além disso, todos os especialistas concordam que a dor do parto, que é a pena do pecado, é o grande meio que a natureza utiliza para fortalecer, de forma admirável, os laços afetivos entre mãe e filho. Além dos inconvenientes físicos não desprezíveis que costuma acarretar o uso de remédios artificiais para conseguir um parto sem dor, há esta outra dessensibilização ou desafetação ou desmaternização da parturiente, que nunca se considerará tão envolvida no trabalho da maternidade como quando, durante o clímax dela, é uma parte ativa plenamente consciente.
(…)
Consequentemente, nos partos distócicos estão de acordo os teólogos acerca da licitude da anestesia. Enquanto aos partos normais ou eutócicos, dizemos que, em princípio, devemos nos manifestar pela ilicitude do uso de qualquer técnica que não seja totalmente inofensiva para a mãe e para a criança.” (p. 329-330)
Notemos que, para um parto cesariano acontecer, é necessário empregar: (i) anestésicos na mulher e (ii) um corte invasivo no abdômen. Nenhum dos dois é completamente inofensivo para ela e para a criança. Por isso, a cesariana só é recomendável para partos distócicos ou com causa médica proporcional.
Assim, não pode ser simplesmente presumida a moralidade do parto cesariano como presumiu o Pe. José Eduardo. O parto normal é biologicamente adequado para a mulher, já a cesárea não é e precisa de causa justa. Não são escolhas intercambiáveis.
Justificar, aliás, uma cesárea não é nada fácil. A Dra. Melania Maria Ramos Amorim, obstetra, por exemplo, indicou nada mais nada menos que 271 razões fictícias e sem respaldo científico que justificam a cesárea
Abaixo segue ainda um quadro da própria obstetra sobre as causas cientificamente provadas que justificam a recomendação da cesárea:
O currículo lates da Dra. Melania pode ser encontrado aqui.
Modéstia
A partir dos 16’00”, Pe. José Eduardo e Jéssyca começam a falar de modéstia. Rapidamente, a calça se torna objeto da conversa:
Pe. José Eduardo: “A gente precisa entender que os usos e costumes vão mudando ao longo do tempo. O católico precisa ser modesto dentro da referência cultural que ele tem. Um exemplo. Há oitenta anos atrás, socialmente, era proibido que a mulher usasse calça. Calças eram vestimentas exclusivas de homens. Ao longo do tempo isso foi mudando e as mulheres passaram a usar calça também. Ora, se eu pego uma Carta Pastoral escrita há 80 anos atrás, quando usar calça comprida para mulher era considerado um escândalo, ainda mais quando a mulher viesse à Igreja para comungar, etc., e quero aplicar esse mesmo princípio hoje como vinculante, eu estou cometendo um anacronismo que só vai fazer o católico se tornar exótico, estranho. […] O jeito de ser mulher, o jeito de ser homem muda. Então, por exemplo, uma mulher há 50, 80 anos atrás, ela não precisava fazer certas coisas que a mulher de hoje precisa fazer. Ela ficava em casa basicamente e a vida dela se desenvolvia ali, ela não pegava transporte público, ela não precisava passar por lugares um pouco inóspitos, havia uma série de diferenças. Então eu não posso pegar aqueles usos e impô-los. Se você quiser usar, querida, usa. Se você quiser pegar a cortina da sua casa, fazer um vestido e sair com ele na rua, direto teu. Não tem problema nenhum. Só não vem impor isso como um mandamento divino para as outras mulheres.” (16’29”)
Pe. José Eduardo traz uma série de pontos que merecem comentários. Vamos expô-los um por um.
1) É verdade que o católico deve ser modesto dentro da sua referência cultural, mas, hoje, não temos uma. Durante milênios era simplesmente natural cada povo ter uma vestimenta típica e realmente modesta, porém, atualmente, isso não existe mais. Conforme demonstramos no artigo “O Novo Curso de Bernardo Küster e o Catolicismo Tradicional“, mediante exposição de trechos palestra do Pe. Luiz Fernando Pasquotto (IBP) sobre a pós-modernidade, os autênticos costumes dos povos foram destruídos pelo liberalismo e substituídos pelo arbítrio individual:
“Ao contrário de um pós-moderno, eu me visto para indicar o que eu sou. Eu não sou o resultado final a partir do que eu escolhi para me vestir.
A moda é uma característica da pós-modernidade. Você que escolha a roupa para ser de um certo jeito. Em outro dia você será de outro jeito, a partir do modelo de roupa que você vestir naquele dia.
Um dos problemas da modéstia, hoje em dia, é que não existe um costume da roupa de cada lugar. Cada um escolhe a roupa que quer. Se a pessoa não tem princípios, é um desastre.
Podem perceber. A gente tem que ficar o tempo inteiro refletindo se a roupa que a gente está usando é razoável ou não. Onde se tinha costume consagrado no lugar, ninguém pensava nisso aí. É aquela roupa e pronto. Não tem erro.
Uma das coisas que facilitou enormemente a imodéstia foi deixar ao critério de cada um como é que se deve vestir. Não estou dizendo que você deve ser totalitarista e impor uma roupa, mas era um costume baseado nas características daquele povo. Ele tinha se dado aquela roupa e ficava de modo estável. A modernidade fez questão de destruir isso daí e agora só tem os destroços.” [33’07”]
Conferência “Modernidade, pós-modernidade e a família” – III Jornada de Casais da Capela N. Sra. das Dores, IBP.
Portanto, não existe uma “referência cultural” de modéstia nos dias de hoje. Pe. José Eduardo, sem querer, comete um anacronismo aplicando princípios sociais que não existem mais. Para concordar com o padre seria necessário ceder que as roupas atualmente utilizadas pelas mulheres são modestas, mas este é justamente o ponto que precisa ser provado.
2) Aplicar, hoje, uma Carta Pastoral de 80 anos atrás, quando o uso de calças era escandaloso, não é necessariamente um anacronismo. Provavelmente, ao falar da Carta Pastoral, o padre se referia à “Notificação às mulheres que usam roupas de homens” do Cardeal Siri, escrita em 1960. O padre, todavia, falha em ver que o costume das mulheres usar calças, embora possa não ser mais um escândalo como antes, pode ser um hábito corrompido. Se for este o caso, não há anacronismo em se buscar modelos antigos mais sãos.
Uma moda corrompida é facilmente atestável por qualquer um que conheça os retos princípios da modéstia no vestir. A respeito, vejamos o exemplo de Santo Afonso de Ligório, que em sua Teologia Moral comentou a respeito das mulheres que, por costume, andavam com os seios parcialmente desnudos:
“Digo, porém, 3º que, se desnudamento do peito não fosse tão imoderado, e se em algum lugar vigorasse o costume de as mulheres andarem assim, decerto deveria ser reprovado, mas não condenado completamente como pecado mortal.” (Teologia Moral, tomo II, cap. 2, 55)
Santo Afonso, embora não acusasse com firmeza tal hábito como pecado mortal, reprovava o costume. Se não era pecado grave uma pessoa seguir o costume, era, no entanto, condenável promovê-lo. Nisto vemos que o costume atual não torna automaticamente o costume anterior anacrônico, se este for mais são que aquele.
Dito isso, reflitamos. Uma sociedade que não distingue adequadamente as roupas masculinas das femininas e que substitui trajes modestos por outros mais sensuais, certamente, possui um costume corrompido. Não há problema algum de católicos, neste caso, batalharem contra esse costume para elevar o padrão da modéstia.
Atualmente, a diferença entre a calça masculina e a feminina está unicamente no tipo de modelagem. Calças femininas modelam mais o corpo que as masculinas. Ou seja, o aspecto feminino da calça é medido pela sensualidade.
Este é um gargalo que os defensores da calça feminina simplesmente não conseguem passar. Não conseguem provar que o uso de calças por mulheres é um costume são. Geralmente, para defender-se, adotam o discurso de que basta usar “calças mais folgadas” ou com “um número maior”. Contudo, o máximo que conseguem com isso é transformar mulheres femininas em skatistas.
Não seria mais fácil adotarem uma roupa decisivamente feminina e acabar com a confusão?
Por fim, para demonstrar que a aplicação da Notificação do Cardeal Siri nos dias atuais é anacrônica, é necessário provar que os efeitos psicológicos das calças nas mulheres não existem mais. Segundo o Cardeal, as calças causaram nas mulheres três efeitos:
a) Mudança psicológica nas mulheres. Mulheres ao se vestirem como homens são incentivadas a agirem como um ou a competirem com eles, tornando-se menos femininas.
b) Mudanças nas relações com o marido. Mulheres que se vestem causas tendem a ser mais feministas. Como explica Dom Pius Mary Noonan em seu livro “Fig Leaves Are Not Enough“:
“De fato, se ela se veste como homem e quer competir com o homem, então o homem principal em sua vida (seu marido) não pode deixar de sentir — mesmo que ele não expresse isso para si mesmo dessa forma — que ele não está fazendo seu trabalho bem o suficiente, e consequentemente isso pode viciar o relacionamento entre os sexos que Deus viu como uma complementaridade e não uma competição. O cardeal Siri chega a dizer que “uma mulher vestindo roupas masculinas sempre mais ou menos indica que ela está reagindo à sua feminilidade como se fosse inferior (à masculinidade) quando na verdade é apenas diversa”. Essa mentalidade insidiosa tem graves efeitos adversos na mulher, mas também no homem. Os homens, por natureza, são feitos para liderar, e então se a esposa de um homem deixa claro que ela quer liderar, o homem, especialmente se ele for menos talentoso que sua esposa, se vê emasculado.”
c) Mudanças nas relações com os filhos. Mulheres psicologicamente mudadas pelo uso de roupas masculinas e pela competição com homens são mais propensas a não quererem filhos e não cumprirem seu papel materno de forma adequada. Cardeal Siri, neste ponto, foi realmente profético:
“O que estas mulheres serão capazes de dar a suas crianças, tendo usado calças durante tanto tempo e com sua alta-estima determinada mais por sua competição com os homens do que por seu papel como mulher?
Perguntamo-nos porque, desde que o homem existe – ou melhor, desde que ele se tornou civilizado: por quê tem sido o homem, em todos os tempos e lugares, irresistivelmente levado a fazer a diferenciada divisão entre as funções dos dois sexos? Não temos aqui um testemunho exato para o reconhecimento, por toda a humanidade, de uma verdade e de uma lei acima do homem?
Para resumir, quando uma mulher veste roupas de homem, deve ser considerado um fator, a longo prazo, da desintegração da ordem humana.“
Ora, é possível alguém com honestidade intelectual dizer que esses efeitos deletérios da calça na mulher cessaram? Não, não é possível. Eles continuam em pleno vigor. Portanto, não há aplicação anacrônica da Carta Pastoral.
Dom Pius Noonan acrescenta ainda em Figs outras desvantagens das calças quanto à deseducação que promovem quanto à modéstia no vestir e nos movimentos corporais. Algumas etiquetas como não ficar de pernas abertas na presença de um homem ou não ajustar a roupa íntima em público foram paulatinamente perdidos com o advento da calça.
“Amanda, eu entendo e também ouvi de várias mulheres que elas simplesmente não têm noção de como suas roupas e comportamentos afetam os homens. Existem certas posições e ações que são toleráveis em um homem, mas que uma dama deve evitar em público. Por exemplo, embora seja perfeitamente permitido quando estiver sozinha ou com sua irmã deitar no chão, você não deve fazer isso quando houver outras pessoas, especialmente homens, por perto. Nem uma dama estica os braços ou abre as pernas na presença de um homem. Usar um vestido modesto, quase automaticamente e por si só, lhe dará o instinto de evitar essas coisas, mas quando você está usando calças ou mesmo shorts, não é assim. Da mesma forma, você não deve ajustar suas roupas íntimas na presença de outras pessoas ou tocar as partes íntimas do seu corpo. Essas são coisas que todos costumavam aprender, mas aqui e ali agora se nota uma falta de educação nessas questões, mesmo em adultos.”
Outra desvantagem da calça é que ela não é um meio efetivo de combater a ideologia de gênero. A respeito, o psicólogo católico Gerard van den Aardweg observou, em seu livro “The Battle for Normality: A Guide for (Silf-) Therapy for Homosexuality“, que em culturas que possuem uma clara distinção entre homens e mulheres, a homossexualidade é rara, senão inexistente. O conselho que o psicólogo dá para mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo é justamente a adoção de hábitos femininos no vestir:
“Algumas mulheres lésbicas podem fazer bem em emendar sua aversão teimosa a usar um vestido bonito ou outro traje típico de mulher. Use maquiagem, pare de parecer um garoto na adolescência e talvez descubra que então você terá que lutar contra um sentimento emergente de “ser feminina não é nada para mim”. Tente consertar uma interpretação possivelmente arraigada do papel do “cara durão” com relação à sua maneira de falar e entonação (ouça a si mesma em uma fita), gesto e andar.
(…)
Uma vez que ela descubra a conexão com sua rejeição “baseada em princípios” de hábitos “femininos”, uma mulher lésbica deve romper com uma aversão a cozinhar, por exemplo, ou talvez a servir seus convidados, ou, em outro caso, a se dedicar aos chamados detalhes “sem importância” do trabalho doméstico, a ser terna e maternal com crianças pequenas, especialmente bebês. (Ao contrário do que é frequentemente sustentado com base espúria em pseudoestudos, algumas mulheres lésbicas são inibidas em seus sentimentos maternos e tratam as crianças como jovens líderes aventureiras, em vez de mães.) Abandonar-se ao “papel” feminino é uma vitória sobre seu ego infantil e, ao mesmo tempo, uma revelação emocional: um começo da experiência da feminilidade.” (p.137-138)
Notemos que o psicólogo não indica calças para mulheres lésbicas, mas vestidos. Não há muito o que duvidar aqui: o vestido é o ornato feminino por excelência. Por isso ele é recomendado para qualquer uma que queria resgatar ou iniciar uma experiência de feminilidade.
Uma última desvantagem da calça é que ela não demonstra adequadamente o estado de vida da mulher, conforme ensina o Pe. Chad Ripperger aqui:
“As calças são vistas como uma declaração contra a feminilidade adequada ou uma falta de distinção entre homens e mulheres.
No entanto, é mais perfeito para as mulheres usarem um vestido ou uma saia e, portanto, é mais decoroso.
E com isso quero dizer que se encaixa mais perfeitamente nela como mulher. É mais feminino. Tem uma aparência mais feminina. E, portanto, é mais modesto porque é mais decoroso, se encaixa em quem ela é mais perfeitamente do que as calças.
Calças são vestimentas de um trabalhador, e as mulheres não receberam a tarefa de trabalhar. A única razão pela qual as mulheres têm que trabalhar é por causa de alguma necessidade grave. O trabalho foi dado ao marido e é por isso que ele usa calças na família.“
Católicas que criam uma verdadeira batalha pelas calças não estão contribuindo para o resgate da feminilidade na sociedade. Simples assim.
Continuemos.
Em seguida, Jéssyca e Pe. José Eduardo continuam comentando sobre as diferenças do uso da calça antigamente e atualmente:
Jéssyca Jácobus: Quando as mulheres começaram a usar calça, poderia ser uma certa rebelião feminista. Mas hoje não é. Hoje, nenhuma mulher coloca uma calça para parecer um homem ou querer ser como um homem. Assim como, hoje, nenhuma mulher coloca unha vermelha para parecer uma prostituta. A moda muda, a cultura muda. Isso não é “a” verdade. É uma confusão mesmo. Eu já vi gente dizer “Eu não uso unha vermelha. Nossa Senhora não usaria”. Minha, então vai se vestir igual Nossa Senhora. Não faz sentido. Tem umas comparações que são bestas, né?
Jéssyca busca abafar a influência feminista no uso de calças hoje dizendo que as mulheres não usam calças atualmente por serem feministas. Engana-se, contudo. As mulheres de hoje são feministas. Extremamente feministas. O feminismo já virou um modo de pensar e de agir das mulheres. O simples fato de não perceberem isso não significa que não sejam influenciadas.
Em seguida, Jéssyca adota um pensamento cartesiano “Penso, logo existo” ou “Se não uso calça para querer ser um homem, então não pareço um”. Não precisamos dizer que não basta a intenção de uma mulher em não parecer um homem, é realmente preciso não parecer um. Isso se faz adotando roupas realmente distintas dos homens, algo que a calça não é.
Pe. José Eduardo: “A pessoa vai se vestir que nem Nossa Senhora de Fátima, com um manto assim no meio da rua. Você está doida, né? Manda para um psiquiatra, porque não tem jeito. […] Eu não estou dizendo que todo tipo de calça é moralmente correta de ser usada por mulheres e por homens. Tem certo discurso que parece que ele é unilateral. Só a mulher precisa pensar no pudor, os homens não. Todo mundo tem que pensar no pudor, todo mundo. Se uma mulher veste uma calça muito bem feita e costurada, às vezes, é até mais decente que uma saia.”
Pe. José Eduardo complementa o comentário de Jéssyca acerca de mulheres que buscam se espelhar em Nossa Senhora na vestimenta debochando e tirando sarro. É um deboche que bate, claro, em um espantalho. Nenhuma mulher que se espelha na modéstia de Nossa Senhora pretende vestir-se como ela em seus dias, mas apenas inspirar-se no seu exemplo.
Neste ponto, convém mencionarmos o livro “Marylike Modesty Handbook of the Purity Crusade of Mary Imaculate” do Pe. Bernard A. Kunkel, fundador da Cruzada Mariana para a modéstia. Na obra, o padre esclarece o que seria ter Nossa Senhora como modelo de modéstia:
“A Cruzada Mariana apresenta Maria como o perfeito modelo de todos os cristãos e baseia-se no Magistério da Igreja, nos Santos, em algumas revelações privadas mas sobretudo nos Papas, que são a Autoridade Suprema na Igreja. Daí o duplo lema: “Tudo o que Maria Santíssima aprova. Tudo o que a Igreja aprova“.
[…]
Maria não pede a nenhuma mulher que use os estilos de traje em voga em Seus dias, mas “O que Maria Aprova” para nossos dias. A modéstia não diretamente relacionada com o topo, estilo, ou corte do vestido, mas com a correta cobertura para o corpo.”
Portanto, está claro o espantalho que Jéssyca e Pe. José Eduardo criaram. No entanto, ainda que não achemos que as mulheres devam se vestir como Nossa Senhora em sua época, o padre caçoa de mulheres que cobrem a cabeça mesmo na rua. Ora, este hábito é vivido ainda hoje por mulheres muçulmanas, hindus, judias, ortodoxas, cristãs orientais, como se segue nas imagens abaixo:
O que deve ser feito com elas, Padre? Internar num hospital psiquiátrico?
É muito triste observar que mulheres não-católicas conseguem provar a plena viabilidade dos padrões marianos em nossos dias enquanto católicas ocidentais, ao invés de tentarem recuperar uma cultura sadia para as mulheres, perdem tempo fazendo guerra contra o véu e contra os vestidos.
Parafraseando Nosso Senhor: “Se elas se calarem, as pedras clamarão“.
Sigamos com a live.
Jéssyca Jácobus: Pergunta [do chat]: Pode ir de top ou de legging a missa? Gente, é óbvio que não. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Pe. José Eduardo: O bom senso mandou lembrança, tá bom?
Ué? Mas qual a diferença essencial entre uma legging e uma calça jeans? Os mesmos princípios da calça podem ser aplicados para a legging. Se uma mulher adotar uma legging mais folgada ou com um número maior, não atenderia aos padrões de skatista do padre e de Jéssyca? Ambos pedem “bom senso”, mas não explicam porque uma pessoa que adota esse modo de pensar deles estaria errada nessa circunstância.
Véu
Sobre o véu, Jéssyca e Pe. José Eduardo comentam o seguinte:
Jéssyca Jácobus: Alguém falou ali [no chat] do véu, padre. Toda vez que eu falo de roupa e que não há uma obrigação do véu, vem alguém vem com um artigo de um inciso do Magistério, não sei o que. O véu é obrigatório?
Pe. José Eduardo: Olha, o véu não é obrigatório. A Igreja não diz isso. A Igreja Católica, atualmente, não diz que existe uma obrigatoriedade do véu. Porém, ela também não proíbe o uso do véu. Isso é matéria de livre adoção. Eu acho bonito mulher que usa véu, acho piedoso. Mas isso é de cada uma. Eu não posso chegar na minha paróquia e dizer “Agora, toda mulher tem que usar véu!”.
Jéssyca Jácobus: É que tudo é uma questão de não ser uma prática vazia, né? Que o uso do véu represente realmente o transbordar de uma vida interior profunda, de uma devoção, de uma humildade diante do Senhor e porque eu vou colocar o véu, porque eu sou a patrulha do véu, superior às outras.
Sobre a obrigação do uso do véu, já abordamos o tema no artigo “O uso piedoso do véu não é mais obrigatório?“. O padre faz uma ilação canônica indevida.
Já Jéssyca fala um non sense. O uso piedoso do véu independe das condições interiores da mulher. Tanto que é uma obrigação. Portanto, não importa se a mulher é orgulhosa ou não, o véu deve ser utilizado em respeito ao templo sagrado, a Jesus Sacramentado e ao marido. São realidades objetivas que transcendem o autocentrismo feminino.
Continuemos.
Pe. José Eduardo: E depois você vê, né? Nas igrejas protestantes isso virou até caricaturesco. Nas igrejas pentecostais tipo reteté, aquelas mulheres com véu, aquela coisa toda horrorosa. Então é preciso tomar cuidado. Mesmo as mulheres antigas quando usavam véu ele não era sempre o mesmo tipo, variava de cor. Via-se coisas muito delicadas, que não eram tão chamativas assim.
Pe. José Eduardo parece simplesmente não fazer ideia do contexto histórico do véu. Está literalmente chutando. O modo como o véu é usado não é arbitrário, mas segue o costume de cada país. Como observa a autora católica Anna Elissa no livro “Mantilla: the Veil of the Bride of Christ“:
“Na Coreia do Sul, as mulheres geralmente usam apenas mantilhas brancas, independentemente de serem solteiras ou casadas. Em outros países, muitas mulheres ainda seguem fielmente a regra tradicional de cor, como mencionado antes. Mas muitas também ajustam as cores de seus véus de acordo com o calendário litúrgico: branco ou outras cores brilhantes durante todo o ano, exceto durante o Advento e a Quaresma, quando véus pretos ou outros véus escuros são usados.”
Então o que o padre está reclamando é de um não-problema. Não há problema dos véus serem iguais, se este for o costume local. Também não há problema deles serem diferentes, se esse for o hábito.
É curioso observar como padre emprega discursos diferentes em relação à calça e ao véu. Para a calça, ele adota o argumento da rendição ao costume local. Para o véu, ele pede o individualismo extremo.
Trabalho Externo da Mulher
Por fim, Pe. José Eduardo e Jéssyca passam a tratar do trabalho externo da mulher.
Pe. José Eduardo: Há um tema que atravessa toda essa discussão que é o tema da mulher que se formou para ter uma profissão. E existe como que uma condenação àquelas que se ocupam com sua profissão. Elas têm que ser obrigatoriamente do lar. E o que acontece? Por exemplo, a minha mãe foi formada para ser do lar. Então ela é uma cozinheira fantástica, ela sabe fazer tudo, ela é uma profissional do lar. Só que nem todas as mulheres têm a mesma formação e capacidade. Eu conheço mulheres que sabem lavar, passar, cozinhar, administrar uma casa, só que elas não dão conta de fazer tudo sozinhas. Eu não posso dizer que ela é pior porque ela não é uma dona de casa tão eficiente como foi sua mãe e sua avó. Então, esses dias eu estava conversando com uma mulher que é médica, que tem filho e que deixou a medicina para cuidar do filho. Ela ficou profundamente deprimida. Ela não foi formada para estar o tempo todo dentro de casa. Eu falei pra ela: “Por que você não atende algumas consultas? Não precisa você zerar. De repente, você consegue fazer uma ocupação, dois dias da semana, diminui um pouco”. Parece que eu acendi um Sol na cabeça dela. Ela estava se culpando, porque achava que não [podia]. Achava que tinha que ficar trancada dentro de casa. E não é assim. Às vezes, ela pode ter ajuda de uma diarista, de uma babá, de alguém que esteja ali dando suporte.
Jéssyca Jácobus: Eu acho que vem de novo daquela história dos extremos. Por exemplo, eu não aprendi a fritar um ovo, padre. Quando eu casei, a gente comprou a máquina de lavar roupa. Eu tive que ler o manual, porque eu nunca tinha lavado roupa na vida. Eu era filha única e minha mãe me criou dentro daquele discurso “A minha filha não precisa fazer nada. Minha filha vai estudar, vai ser uma grande profissional. Ela não precisa aprender nada, vai ter uma empregada” Só que assim, me faltou aprender a ser dona de casa também, entende? E agora parece que, tá, eu não aprendi a ser dona de casa, mas uma grande profissional, e que agora eu tenho que largar toda a profissão e só ser dona de casa. É a coisa dos extremos, do 8 ou 80. É algo que tem se pregado muito. Direto eu recebo de mulheres… Claro, com a questão da abertura para a vida, de fato, mulheres que vão tendo mais filhos acabam tendo que se dedicar mais à casa e aos filhos, à educação. Às vezes, é difícil manter uma profissão, né? […] Mas não é também obrigatório abandonar a profissão, até porque muitas de nós dedicaram a vida inteira a construir essa profissão, a aprender. É realmente uma questão de equilíbrio.
O que observamos logo de cara é que Jéssyca foi vítima do pensamento feminista automatizado da mãe. Como expusemos neste artigo, as mulheres atuais já pensam e agem como feministas mesmo achando que não são. A mãe de Jéssyca a privou de diversas experiências de feminilidade importantes, como a arte de cozinhar, o asseio da casa, etc., para que ela tivesse uma carreira, isto é, uma vida de homem.
Jéssyca, portanto, é a maior prova de que o Cardeal Siri tinha razão. Mulheres criadas para serem homens, tanto nos hábitos quanto na aparência, prejudicam suas relações com os filhos.
A médica citada pelo padre também teve os mesmos problemas de educação feminista que Jéssyca. Ela não aprendeu a ser mulher e, quando teve filho, deprimiu.
Não está óbvio o problema?
O carreirismo não é um desenvolvimento normal da feminilidade.
Para que Jéssyca fosse preparada para uma carreira de sucesso, ela precisou ser privada, durante uma vida inteira, de experiências valiosas de feminilidade. É exatamente isso que o carreirismo faz: tira toda a feminilidade da mulher.
Porém, Pe. José Eduardo e Jéssyca buscam contornar com todas as forças essa verdade com o discurso do “equilíbrio”.
Jéssyca, ao invés de ver a verdade de que o estilo de vida da mulher moderna é extremamente desordenado, prefere acreditar que o tempo empregado para se ter uma carreira é razão suficiente para não abandoná-la depois do matrimônio, ou seja, retroalimentando o problema.
É o ápice da cegueira intelectual. É o hamster da racionalização.
Pe. José Eduardo ainda endossa essa solução.
Aqui vemos a diferença do Pe. José Eduardo para padres com melhor formação, como o Pe. Chad Ripperger. Enquanto Pe. José Eduardo faz média com o feminismo de Jéssyca, uma moça que talvez não tenha tanta consciência da origem dos próprios pensamentos, o sacerdote americano é cirúrgico no diagnóstico do problema aqui:
“Se você olhar para o movimento feminista, tudo o que ele é, é a maldição de Eva com anabolizantes.
A maldição de Eva é essencialmente esta: quando Eva comeu o fruto, ela saiu de baixo da estrutura de autoridade de Deus e Adão e quis autossuficiência.
O movimento feminista não ganhou muita força neste país até a Segunda Guerra Mundial. As mulheres entraram na força de trabalho e ganharam um certo tipo de independência financeira e gostaram. Foi a chamada de “A Maior Geração”. Essas mulheres que ensinaram suas filhas, as Boomers, que você deve ter sua própria carreira e que não deve ser tão dependente do seu marido, etc., falhando em perceber que uma esposa tem o direito de ser sustentada por seu marido. Não é tanto uma questão de dependência, mas de direito. E a razão pela qual ela tem esse direito é por causa de seus deveres domésticos e da obrigação dela de cuidar dos filhos. Isso foi completamente perdido. O marido realmente tem o direito de que a esposa fique em casa e cuide dos deveres domésticos e dos filhos.”
Pe. Chad Ripperger posiciona a questão de forma correta. Depois de casada, a mulher não tem direito a uma “carreira”, mas ao sustento do marido. O marido, por sustentar esposa e filhos, tem direito que ela seja permaneça do lar. Por isso o Catecismo de Trento, tão depreciado pelo Pe. José Eduardo, ensina que a mulher não deve sair de casa sem a permissão do marido. Não porque o Catecismo quisesse impor um estilo de vida “muçulmano” à mulher, como alegou certa vez o padre, mas porque a natureza do matrimônio pede essa divisão de tarefas e de direitos.
O problema de mulheres depressivas cuidando de filhos não é tanto sentirem falta de uma outra vocação além de serem mães, mas, sim, porque são educadas numa cultura que odeia a feminilidade e sabota de todos os jeitos as mulheres de serem mulheres.
Conclusão
Do exposto, espera-se ter ficado claro os erros do Pe. José Eduardo e de Jéssyca na live. Jéssyca parece ser uma moça que encontrou a verdade de vários assuntos que comentamos, mas agora, como boa influencer, está decidida em reconciliar-se com seu passado feminista. Já o Pe. José Eduardo se presta ao papel de lacrar com o feminismo de Jéssyca fazendo falsas equivalências que chegam a doer.
Infelizmente, o vídeo teve grande repercussão entre as moças. Como fazemos um combate incisivo ao feminismo católico, esperamos que este breve artigo possa, de algum modo, compensar o mal feito.