Embora o período da Campanha da Fraternidade de 2024 já tenha passado, daremos continuação à série de refutação ao Terço da Amizade Social, tratando desta vez dos mistérios luminosos. Como fizemos no artigo anterior (mistérios gozosos), analisaremos as notinhas “fraternais” que foram colocadas para envenenar a piedosa recitação do Santo Terço.
1º Mistério Luminoso (Batismo de Jesus no Jordão)
A Campanha da Fraternidade deste ano nos faz pensar que a vocação da humanidade, tão amada pela Trindade, é ser uma grande família, na qual somos irmãos uns dos outros, convocados a viver no amor; e que, por meio desse amor, podemos transformar o mundo, criando a fraternidade [1]. Pela graça do Batismo, nascemos para a vida nova. Esse dom da filiação divina é uma aliança com Deus que nos leva ao compromisso de amar as pessoas como filhos e filhas do Pai Eterno [2], como nossos irmãos e irmãs na luta pela dignidade de todos [3].
[1] Novamente a insistência humanista e naturalista de não distinguir entre o amor humano e a caridade. Só na caridade é que podemos não “criar uma fraternidade”, mas ser uma fraternidade, pois todos seremos irmãos não por causa da humanidade (o que não é possível), mas por causa de sermos filhos adotivos de Deus na (e o que só é possível) Igreja Católica.
[2] Para residirmos na Igreja Católica, é necessário a manutenção da integridade da fé. Pois, com efeito, os hereges protestantes também têm o batismo, mas, não obstante este caráter sacramental, não mantêm a integridade da fé e são como membros amputados do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. São nossos irmãos “dissidentes”, afastados da fé e da caridade. Nosso modo de amá-los é, antes de mais nada, trazê-los de volta à Igreja Católica. Fingir que eles estão na Igreja e que fazem parte de nossa mesma “família” é mentir e faltar com a caridade.
[3] A Campanha da Fraternidade tem o vício de compartilhar a ideologia maçônica da “dignidade humana”, tratando tal dignidade como um “imperativo categórico”, como um axioma incontestável. Mas a tal “igualdade de dignidade” só existe num aspecto da realidade, que é o compartilhamento na natureza humana. Pelo fato de sermos todos humanos, fazemos parte da humanidade. Porém, quanto à humanidade, há critérios e réguas de avaliação, por assim dizer. Na custódia da “dignidade humana”, existe a lei natural e divina que balizam esta dignidade. Com efeito, o homem por definição porta a humanidade (natureza humana), mas não necessariamente porta a “dignidade humana”, pois, tendo o livre-arbítrio, pode atuar contra a lei natural e divina e, deste modo, ser um humano indigno. A dignidade humana existe na obediência à lei natura e divina, e, em última instância, isso só é possível na Igreja Católica. Fora da Igreja, o homem ainda pode se virar, em tese, com a lei natural, mas sabemos que sem a graça é impossível que seja honesto quanto à própria natureza (tópico já tratado na refutação anterior). E tanto a natureza humana não é sinônimo de dignidade humana, que nem todos os homens são dignos do céu, ou seja, são indigno no aspecto mais importante: alcançar o fim último do homem que é contemplar Deus face a face.
Para um católico, falar de “luta pela dignidade de todos” só pode significar uma coisa: Que todos tenham os meios adequados para atingir seu fim último, que é contemplar Deus face a face, o que envolve, inicialmente, a conversão à fé íntegra, a qual está sob a custódia da Igreja Católica. Fora da Igreja Católica não há salvação. E, portanto, lutar pela dignidade de todos é lutar para que todos tenham, antes de tudo, os meios propícios para salvar suas almas.
Contudo, inspirado pelo humanismo maçônico, o que fazem os modernistas? Eles postulam aquela “igualdade” da revolução francesa (que é diferente da virtude da equanimidade católica), chamando-a, mais modernamente, de dignidade. A partir desta distorção, considerando o homem por si e sem julgar a qualidade de suas ações, postulam aqueles tais de “direitos humanos” que, dado tal distorção da dignidade, chegam ao ponto de ter compaixão iníqua pelo bandido e desprezo pelas vítimas. É como se São Padre Pio tivesse a mesma dignidade de um Josef Stalin porque ambos tiveram a mesma natureza. Ora, colocando um Santo ao lado de um ditador genocida, bem vemos que compartilhar a mesma natureza não significa “igualdade”, nem “igualdade de dignidade” e nem “mesmos direitos”.
O foco na dignidade humana é, em última instância, a estratégia revolucionária para que Deus seja tirado do centro (e daí o desprezo moderno quanto à obediência da lei natural e divina) para colocar o homem (daí a soberba humana de achar que sua própria “dignidade” é geradora e criadora de “direitos”). Para o católico, a dignidade consiste em obedecer a lei natural e divina, de modo que, se as leis humanas estão contra elas, estamos diante da injustiça e da indignidade. A ideia maçônica, ao contrário, quer que a dignidade humana seja a fonte das leis, de modo que uma lei, só pelo fato de ser humana, deve ser obedecida.
Não é à toa que o humanismo será a religião do Anticristo. O foco na “dignidade” em desprezo às leis natural e divina tiram Deus do centro, colocando o homem, ao mesmo que dão um verniz de virtude. Pareceria que quem é contra a “dignidade humana” (confundido com natureza humana, pois, como já foi dito, a dignidade mede a qualidade da natureza) é mau; quem é a favor, bom. A discussão, porém, está deslocada. O centro é Deus. E o ponto é: Quem é a favor de Deus e cumpre seus mandamentos é bom; quem não, é mau.
2º Mistério Luminoso (Bodas de Caná)
A Campanha da Fraternidade deste ano nos faz pensar que, na festa da vida, somos chamados a transformar as relações com atitudes mais humanizadoras [4]. O bonito episódio do Evangelho das Bodas de Caná que contemplamos neste Mistério nos faz pensar que em Nossa Senhora, que é sensível às nossas necessidades [5]. Há, no entanto, um pedido da Mãe de Jesus: “Fazei tudo o que Ele vos disser!”. E o que nos fala o Senhor? Que somos todos irmãos! [6] Por isso, deixemos as nossas “talhas de água” bem cheias e, em espírito fraternal [7], despertemos para a alegria de servir a Deus e aos irmãos, testemunhando a beleza do diálogo [8], construindo pontes [9] e vivendo a comunhão na diversidade [10].
[4] Festa da vida? Na espiritualidade católica, há o paradoxo de, mesmo estando vivo, estar morto. Com efeito, está vivo quem respira o ar atmosférico, mas está morto quem não respira mediante o sopro do Espírito Santo. Quando cometemos o pecado mortal, perdemos a caridade e, incapazes de praticar qualquer ato de mérito sobrenatural, estamos mortos para o céu. Se não confessarmos o pecado, o destino será o suplício eterno. Se confessarmos, mediante o sacramento, o Espírito Santo volta a nos fornecer o ar sobrenatural para vivermos.
Ademais, o casamento, ou melhor, o matrimônio, não é uma “festa da vida”, senão um meio sacramental que visa a festa na outra vida. Envolve sofrimento e abnegação, à imitação de Cristo na cruz, em vistas a auxiliar a salvação da alma do cônjuge e dos filhos que Deus enviar (por isso a mentalidade anticonceptiva é condenada pela Igreja).
[5] O termos mais correto – em desagrado aos hereges – é que Nossa Senhora é nossa intercessora. Veja, interceder é mais do que “ser sensível às nossas necessidades”. Interceder significa que ela não só vê o que precisamos, como age para que consigamos aquilo que precisamos. Mas atenção! É ainda necessário perguntar: “Mas precisamos para o quê?”. E a resposta não é outra: O que precisamos para a salvação de nossa alma!
[6] Esta frase é simplesmente canalha. Primeiro chama a atenção para uma verdade: Devemos fazer tudo o que Jesus nos disser! De fato, Deus quer a cooperação humana. Porém, acrescentam uma temeridade ambígua: Que Jesus diz que “somos todos irmãos!”. Claro que esta frase não está errada, pois do contrário Nosso Senhor não a teria proferido a modo de ensinamento, contudo, há o contexto para isso: porque ao contrário dos fariseus (os hereges), um só é nosso Pai, aquele que está nos céus, e um só é nosso Mestre, o Cristo. O que volta ao que dissemos anteriormente: Só são nossos irmãos os batizados que mantêm a integridade da fé católica com palavra, obra e pensamento.
[7] Por que essa compulsão para pagar pedágio à religião do Anticristo? Nós católicos não atuamos tanto em espírito fraterno quanto com caridade! Como vou atuar em espírito fraterno com quem não é meu irmão (como é o caso dos pagãos e dos infiéis) ou, como um filho que escolheu estar longe da casa paterna, com quem odeia o próprio Pai (como é o caso dos hereges)? É ilógico. Por outro lado, é possível, mesmo com os pagãos, infiéis ou hereges, agir com caridade.
[8] Nem todo diálogo é belo. E nem sempre é o método conveniente para a evangelização. A absolutização do diálogo como método pastoral reside na ditadura do relativismo dos pastoralistas modernos.
[9] A construção de pontes só faz sentido quando esta ponte liga a pessoa que está no mundo à Igreja, que é a porta do céu nesta vida. Só se constrói ponte quando se trata de trabalhar em favor da conversão de alguém. Os hereges, em sua maioria modernistas, não são capazes de construir pontes, pois suas próprias almas são muros contra a fé católica! Quando falam em construir pontes, pregam simbolicamente aquela tolerância liberal maçônica, que é aquela indiferença quanto à Verdade e à virtude, a tal mal-dita “dignidade”.
Mas sabemos, por fé, que a casa só pode ser edificada sobre a rocha sólida. Assim, de que adianta construir pontes sobre a areia, se quando vierem as chuvas e ventos, toda construção virá abaixo?
[10] Só é possível comunhão na diversidada sob o abrigo da fé católica. Pois é quando usamos nossos talentos, que de fato são diversos, em benefício da salvação das almas. Fora disso, é diversidade relativista e mundana abrigada sob a Sinagoga de Satanás: muito grito, muita acusação, muita histeria, mas nenhuma conversão à verdade.
3º Mistério Luminoso (Jesus anunciando a conversão e o Reino de Deus)
A Campanha da Fraternidade deste ano nos faz pensar que, em uma sociedade globalizada, desinteressada pelo outro, pelo cuidado com os mais frágeis e vulneráveis, em uma sociedade que permite a exclusão, o distanciamento para com o próximo é inevitável [11]. Assim, atrasamos a realização do Reino de Deus [12]. Crer no Evangelho, coverter-se e buscar o bem comum são atitude fundamentais do Reino de Deus [13]. É preciso ver com os olhos da fé as iniciativas de comunhão que nos chamam a estender a mão aos feridos deste mundo [14]. Desse modo, seremos solidários com a missão de Jesus, sinais e instrumentos do amor de Deus e trabalhadores do seu Reino [15].
[11] O cerne do problema não é “uma sociedade globalizada”. A indiferença, a exclusão injusta e o desprezo com o próximo são efeitos de uma causa, que não é a “sociedade globalizada”, mas o desamor a Deus.
[12] O Reino de Deus não é deste mundo, por isso não faz sentido falar em “atrasar a realização do Reino de Deus”, pois este Reino está na eternidade! Isso só revela o imanentismo próprio da heresia modernista.
[13] Não são atitudes fundamentais do Reino de Deus, mas atitudes fundamentais para – pelos méritos de Jesus Cristo – chegarmos ao Reino de Deus após esta vida terrena.
[14] Mas não por este mundo, mas sim visando o mundo vindouro!
[15] Ok, mas isso só é possível estando em estado de graça e operando mediante a virtude sobrenatural da caridade.
4º Mistério Luminoso (A Transfiguração de Jesus)
A Campanha da Fraternidade deste ano nos faz pensar que é preciso transfigurar nossos corações para uma forma de vida com o sabor do Evangelho [16]. O coração sincero, transparente, carregado de amor nos fará perceber os clamores dos menos favorecidos [17]. Assim, enfrentaremos toda e qualquer dificuldade, empreendendo nossas forças no sonho da paz mundial [18]. Transfigurados à imagem de nosso Irmão Primogênito, Jesus, seremos testemunhas de sua mensagem libertadora [19] e trilharemos um caminho luminoso, no qual resplandecerá a verdade [20]. Sejamos luzeiros do bem e da justiça, seguindo Jesus, nossa Luz [21].
[16] Isso só faz sentido se significar conversão à fé católica. Com efeito, sabor do Evangelho significa a sabedoria do Evangelho. E esta sabedoria não é outra coisa senão querer viver em estado de graça, livre do pecado.
[17] A conversão fará ver, pela graça, a Vontade de Deus, fazendo nossa vontade se inclinar para ouvir o clamor do próximo, o que pode incluir os menos favorecidos materialmente (daí as obras de misericórdia materiais), mas não exclui a caridade para qualquer outra pessoa (além das obras de misericórdia materiais, há as obras de misericórdia espirituais).
[18] Se juntarmos com o que foi “rezado” no mistério anterior, podemos concluir que Reino de Deus = sonho de paz mundial? Mas a paz que Jesus dá não é a mesma paz que dá o mundo. De fato, a paz de Jesus nos impele ao sacrifício pelo Reino de Deus (no sentido verdadeiro do termo, ou seja, para salvar nossa alma). Já a paz do mundo, que é falsa, quer que tenhamos segurança nas coisas materiais (o que inclui a política, como é o caso da Teologia da Libertação que crê que a “paz” se obtêm votando no PT e exterminando a direita). Assim, a paz de Cristo implica a paciência para com os sofrimentos deste mundo em desprezo às coisas do mundo, enquanto que a falsa paz do mundo significa a ilusão de querer controlar as coisas e os rumos do mundo em amor as coisas do mundo.
[19] A mensagem libertadora de Jesus é o combate contra o pecado. Antes de Cristo, éramos escravos do pecado. Depois de Cristo, mediante a graça divina, podemos vencer o pecado e alcançar o céu. A libertação cristã não é outra que a libertação do pecado. Mas como fazer um teólogo da libertação aprender isso, se têm o hábito de querer socializar tudo, até mesmo o pecado?
[20] Como diz o Galvão Bueno: “A física não permite”. O símbolo da verdade é a luz justamente porque ILUMINA O CAMINHO. Ao contrário do que pensam os construtivistas, não é a trilha de um caminho “luminoso” que faz vir à tona a verdade. É primeiro conhecer, e depois agir. E não, como é a prática revolucionária, primeiro agir para depois dar a conhecer.
[21] Portanto, sejamos católicos e não deixemos de semear as sementes para que o máximo de almas possíveis se converta à Igreja Católica.
5º Mistério Luminoso (Instituição da Eucaristia)
A Campanha da Fraternidade deste ano nos faz pensar que, cada vez que nossas Comunidades Eclesiais Missionárias se reúnem e realizam o gesto da Ceia do Senhor, torna-se presente o acontecimento pascal [22]. Somos inseridos na vida e na missão do Senhor, que nos quer lavando os pés uns dos outros [23]; articulando campanhas solidárias diante dos graves problemas sociais; partilhando dores e angústias, alegrias e esperanças; saciando os famintos deste mundo e vivendo a graça da fraternidade [24]. Que este Mistério da fé e do amor, necessidade vital que celebramos, seja força a fim de que as profundezas de nosso ser sejam evangelizadas [25]. Desse modo, seremos pessoas eucarísticas [26] e mais fraternas, e o mundo inteiro será, como nós e conosco, mais fraterno e solidário [27].
[22] Tudo isso para não dizer que na MISSA ocorre o SACRIFÍCIO incruento do Senhor? “Gesto da Ceia do Senhor”? Que linguagem é essa? A missa só em caráter secundário é uma ceia. “Acontecimento Pascal”? É a renovação do SACRIFÍCIO do próprio Deus!
[23] Lavar os pés significa serviço e humildade. Quanto a isso é ponto pacífico. Agora, donde tiramos a força para o serviço humilde? DA MISSA! Pois assim como o alimento material nos dá energia para as obras naturais; assim o pão celestial, a Eucaristia, que é o próprio Jesus Cristo, nos dá a energia para as obras sobrenaturais. E isso por causa da renovação do sacrifício que foi operado na própria missa! Por isso, sem mencionar o caráter sacrificial da missa, é inútil descrever o caráter de ceia. O que fazem nesta oração é uma ilogicidade teológica.
[24] Graça da fraternidade? Está mais para filantropia do que para caridade.
[25] Está parecendo aquele meme de um cachorro à frente do computador, com as patas no teclado, digitando: “I don’t know what I’m doing”.
[26] O meme continua.
[27] Se todo mundo fosse à Missa e, estando em estado de graça, comungasse da Eucaristia e, comungando, se esforçasse para crescer em santidade, certamente o mundo seria mais PIEDOSO e JUSTO, mesmo porque, para um católico, não há verdadeira piedade e nem verdadeira justiça sem caridade. Agora, querer que o mundo seja simplesmente mais “fraterno e solidário”, basta ingressar em qualquer ideologia política de cunho maçônico e servir (sujando os pés) ao Anticristo. Se bem que, eles já fizeram isso…