São João Crisóstomo, um arcebispo de Constantinopla do século IV, pregou extensamente sobre o matrimônio e a vida familiar. Durante sua vida como sacerdote e bispo, pôde apreciar as alegrias e as dificuldades que diariamente experimentavam as famílias de diversas condições. Refletindo em suas observações e valendo-se de seu grande amor e conhecimento da Sagrada Escritura, obteve alguns princípios fundamentais para o matrimônio. Em seguida apresentaremos alguns de seus ensinamentos, a fim de que possamos fazer com que nossos lares se tornem mini-igrejas.
Amor conjugal: um dom valiosíssimo
Para São João Crisóstomo, tudo começa com o plano de Deus para a salvação do homem. Tinha grande estima pelo matrimônio, porque o considerava como uma situação na qual a maioria das pessoas aceitam a chamada à santidade, fazendo de uma maneira que também leve seu cônjuge e seus filhos à santidade. Assim, o ponto central desse plano é o dom do amor conjugal, um dom “que nenhuma posse é capaz de igualar; porque não há nada em absoluto que seja mais valioso do que ser amado por uma esposa e amá-la” (Homilia XLIV sobre Atos). O amor conjugal, segundo João, não é só um sentimento romântico; senão que está cheio da graça sacramental, que eleva o caso para além das limitações de seus raciocínios humanos, imperfeitos e egoístas.
Para o santo, este tipo de amor ilimitado é possível porque Jesus prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei ali no meio deles” (Mateus 18,20). “E não só Jesus está presente no matrimônio – escreveu João – como também muitos anjos, arcanjos e outras potências divinas”.
A presença de Cristo em um matrimônio traz consigo numerosas bênçãos. Assim como Jesus elogiou à mulher que o ungiu com um perfume caro, também elogiará a nossos matrimônios se o marido der o mais valioso de seu ser a sua esposa e vice-versa; assim como Cristo elogiou ao centurião, também elogiará nossa fé se recorrermos a Ele para saber o que fazer em nosso matrimônio. E assim como ensinou e animou a seus discípulos quando percorriam o território de Israel, sempre buscará uma forma para nos ensinar e nos animar como pessoas e como famílias.
O amor e a presença de Jesus no lar cristão são os dons mais valiosos que podemos dar a nossa esposa ou marido, por isso convidamos que os matrimônios reafirmem juntos em oração, cada dia, que Jesus está presente em seu lar e que dirija sua vida conjugal e familiar ao céu.
Receber a Jesus em seu lar
São João Crisóstomo ensinava que as pessoas casadas, por levar uma vida tão cheia de compromissos e responsabilidades cotidianas, tinham que buscar com mais afinco ao Senhor que os monges que vivem isolados em seus mosteiros. Eles não necessitam “do consolo e da ajuda das Sagrada Escrituras tanto quanto aquelas pessoas casadas que vivem na turbulência de uma existência cheia de distrações”, porque “estão na linha de frente da batalha” (Homilia III sobre Lázaro).
Para contrabalancear estas distrações, São João animava as pessoas casadas a “rezarem juntas em cada e ir à Igreja” e lhes dizia: “Eu gostaria que vocês rezassem sempre; e se não sempre, pelo menos muito frequentemente, e se não muito frequentemente, pelo menos de vez em quando, pela manhã ou pela tarde” (Homilia XXII sobre Hebreus).
Vivemos em um mundo que gira a uma velocidade vertiginosa. Nos lotamos de tantas atividades, que às vezes nos esquecemos do Senhor. Há incontáveis imagens e ideias que nos assaltam pela televisão e pela internet, desde anúncio de comida rápida até grandes liquidações nas lojas, e todas elas nos impulsionam a ir comprar e comprar. É claro que estas coisas em si mesmas não têm nada de incorreto, mas é preciso mantê-las em sua devida perspectiva. Quando nos deixamos arrastar pelo frenesi mercantilista e não guardamos tempo para a família e nem para nossa relação com Jesus, Crisóstomo diria que nossa vida tem sido mimada.
O Santo queria ver equilíbrio e ordem na vida espiritual, e sublinhava o valor dos horários e do exame de consciência diário, semanal e mensal, principalmente para avaliar o equilíbrio. Para João, o equilíbrio significava que cada família, cada mini-igreja, tinha que proteger “a atmosfera centrada em Cristo”, para que não se “desmoronar”, e a oração é a melhor forma de proteger essa atmosfera.
Demonstra teu amor
São João Crisóstomo, que era um homem muito prático, não se contentava apenas em dizer a seus seguidores que deviam amar como Jesus os amava; preocupava-se de que eles soubessem manifestar esse amor de uma maneira prática. Para João, o amor desinteressado demonstra-se no desejo de ser “perfeito”, quando se sabe claramente que seu conjugue não é perfeito. Este esforçar-se para alcançar a perfeição, junto com uma dose sã de realismo, é o que impede o matrimônio de cair nas armadilhas do ressentimento e das expectativas exageradas.
Para reforçar seu ponto, Crisóstomo animava os casais a expressarem o amor mútuo diariamente: “Nunca chames a tua esposa simplesmente por seu nome; chame-a com palavras carinhosas, com respeito e com muito amor… Sempre comece dizendo quanto a amas… Diga que a amas mais do que a tua própria vida” (Homilia XX sobre Efésios).
João dizia que os esposos deviam estar dispostos a morrer um pelo outro, “e até se fosse preciso… deixar-se cortar em dez mil pedaços”. Para ele não se tratava só da morte física, mas também da “morte” que às vezes implica o viver juntos. João sabia que as palavras muito incisivas podem causar muito dano, quando o marido ou a esposa diz algo que não deveria dizer; mas, por outro lado, às vezes o silêncio fere mais profundamente do que as palavras. Em todos estes casos de “morte”, João animava os casais a se perdoarem mutuamente e esquecer as ofensas; assim como Jesus perdoa a cada um de nós. E se for preciso resolver algo, fazer com um desejo de unidade, sempre deixando que o amor cubra nossos defeitos e pecados (1 Pedro 4,8).
Alguns casais esquecem que o que mantém vivo o matrimônio é o amor, não a rotina, nem as atividades, nem os afazeres, e caem facilmente na armadilha de dar por certo que o outro sempre vai estar ali para ele ou para ela. Por isso, Crisóstomo animava a sua congregação a expressar mostras de amor, verbais e não verbais, e lhes pedia que analisassem periodicamente como estavam indo, para que a rotina não substituísse o carinho. Por esta razão, também falava sobre o valor da intimidade sexual no matrimônio.
A chave da harmonia
Outra coisa de que falava o santo era da importância de guardar a harmonia do lar. Em seu entendimento, a harmonia significava ter sempre centrada a atenção no que era o melhor para toda a família, não somente para uma pessoa. Isso significava remediar junto as dificuldades da vida, resolvendo as diferentes sem comentários hostis, sem rancor nem cólera: “quando prevalece a harmonia, os filhos saem bem criados, o lar se mantém ordenado, e os vizinhos, os amigos e os parentes elogiam o resultado”.
Mas, como é que as pessoas casadas podem viver em harmonia em um mundo que os empurra em tantas direções opostas? Como podemos trazer Jesus a nossos lares quando já estamos sem forças? Crisóstomo deu duas respostas chaves a estas perguntas: As pessoas casadas devem rezar e ler a Escritura todo o dia, evitar o pecado grave. Se um matrimônio se esforçar em ter êxito nestas duas coisas, receberão consolo e encontrarão a harmonia.
“Se ordenarmos a vida desta maneira e estudarmos assiduamente as Escrituras – ensinava João – encontraremos as lições necessárias para nos guiarmos em tudo o que necessitamos” (Homilia XX Sobre Efésios). Que tipo de lições? Por um lado, aprenderemos a amar incondicionalmente, a perdoar e a tratar a um e a outro com paciência e carinho. Por outro lado, aprenderemos a nos proteger para não nos deixar dominar pelo apego ao dinheiro ou ao reconhecimento, nem manipularmos um ao outro e rejeitar qualquer tendência a nos inflar de orgulho ou arrogância.
Quando um casal começa a rezar e ler a Escritura juntos, e procura manter-se próximo de Jesus, começam a acontecer coisas boas: Descobrem que o esforço que foi feito para serem mais considerados e harmoniosos dão resultados muito melhores do que antes. São João Crisóstomo ensinou que o próprio Jesus, os anjos e os arcanjos vêm morar em um matrimônio que está fundado em Cristo; que todos eles estão presentes no matrimônio que se esforça para ser uma mini-igreja, e todos eles iluminam o lar com uma luz bela e brilhante.
Faço o ridículo?
Quando João Crisóstomo falava deste conceito enaltecido de matrimônio, houve muitos que se opuseram a ele: “Sou consciente de que muitas pessoas consideram ridículo que eu dê tais conselhos – disse e esclareceu -. Se alguém viver como eu digo e fizer com que sua casa seja uma mini-igreja, sua perfeição rivalizará com a dos monges mais santos”.
E tu, o que dizes? Nunca é muito tarde para começar. Pense em como podes trazer Cristo para teu lar, talvez rezando o Rosário em família ou dedicando um momento para ler a Escritura antes do jantar.
Faça o firme propósito de toda a família ir à Missa cada domingo. Reúna-te com toda a família para tratar de fazer um acordo para aumentar a harmonia e a alegria do lar. E, sobretudo, não te desanimes se não sair tudo certa na primeira vez; cada passo que deres será muito importante para que teu lar se transforme em uma autêntica mini-igreja.
Fonte: Formación Católica