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Sobre a polêmica do Catecismo Romano do Centro Dom Bosco

Catecismo de Trento - Centro Dom Bosco

Recentemente o Centro Dom Bosco divulgou o lançamento uma nova edição do Catecismo Romano ou Catecismo de Trento. A grande novidade da edição é que a cor do livro é amarela e o título dele ser “Catecismo da Igreja Católica”, quase idênticos ao Catecismo de São João Paulo II.

Críticas ao lançamento do Catecismo Romano

O lançamento se tornou polêmico, porque induziria os fiéis a comprarem o Catecismo Romano pensando ser o Catecismo de São João Paulo II.

Rafael de Brito pistola

O youtuber católico Rafael de Brito em um vídeo dirigido ao Centro Dom Bosco criticou duramente a nova edição:

Transcrição:

“Vocês colocarem o Catecismo com a cor amarela, não escrito “Catecismo Romano”, “Catecismo de Trento” ou “Catecismo de São Pio X”, mas “Catecismo da Igreja Católica” no vosso site, para o povo simples vocês não acham que não traz confusão? É claro que traz confusão, porque o Catecismo de Trento é tradicionalmente chamado de Catecismo Romano. […] “Ah! Mas a cor não importa!”. Importa sim! Sobretudo o título importa, porque vocês não fazem referência ao Catecismo de São João Paulo II. E aqui nesta postagem você deixam a entender que o Catecismo da Igreja Católica traz algumas abordagens problemáticas.” [37’00”]

Padre José Eduardo ironiza os catolibãs

O Pe. José Eduardo fez o seguinte comentário em suas redes sociais:

Aos leigos católicos empoderados e talibãs da tradição, super apologetas do “Catecismo Romano” (pois este é o verdadeiro nome do Catecismo tridentino ou “Catecismo para os párocos”, apesar de eles não serem nem tridentinos nem párocos), uma pequena observação:

“De outra parte, como devemos alcançar de Deus todos os bens por meio de santas orações, os párocos devem ensinar aos fieis que se abstenham de vez em quando das relações conjugais, por amor das orações e súplicas que fazem a Deus. Tal aconteça, principalmente, pelo menos três dias antes de receberem a Sagrada Eucaristia” (CATECISMO ROMANO, Parte II, VIII, n. 34).

Ora, como fazem os beatíssimos tridentinos para receberem a comunhão diária? Será que São Pio X errou quando estendeu essa possibilidade aos fieis ou ele queria que nenhuma família católica tivesse mais filhos ou, para tê-los, deixasse de comungar? Será que os atos conjugais, santificados pelo sacramento do matrimônio, impedem uma comunhão piedosa? 

Aliás, há outro ponto muito bonitinho na mesma seção, dessa vez, sobre os deveres da esposa:

“De boa vontade, vivam dentro de casa. Não saiam senão por necessidade e nunca se atrevam a fazê-lo, sem a permissão do marido” (Ibidem, n. 27).

E aí, meninas? Topam essa? Querem viver tais quais mulheres muçulmanas? Será que só porque algo é antigo é bom? Não há necessidade de bom senso? Será que os apologetas não desprezam demasiadamente a teologia?

O Catecismo tridentino não tem nada de mal, muito pelo contrário. Porém, catecismo sem teologia sem prudência pastoral sem discernimento = gente doida falando asneira.   #BoaTarde

O que pensar disso tudo?

Quanto às críticas de Rafael Brito. 

A cor do Catecismo realmente não importa. A cor amarela é oficialmente a cor da bandeira do Vaticano e, a princípio, não há qualquer problema de editar catecismos amarelos.

A crítica quanto ao título é, de fato, mais pertinente. Conforme pontuou aqui o Eduardo do canal “Três Vias”, não faz sentido trocar o nome de um Catecismo já popularmente conhecido como Catecismo Romano para “Catecismo da Igreja Católica”.

Segundo Eduardo, caso o título tenha sido mudado por uma estratégia de marketing, seria um erro, porque se privilegia o marketing ao invés da originalidade do título.

A crítica é razoável. 

Por outro lado, não é exatamente um erro chamar o Catecismo Romano de Catecismo da Igreja Católica, porque ele de fato o é. Os Catecismos novos não anulam os anteriores. Ademais, se a finalidade do Centro Dom Bosco era tornar o Catecismo de Trento mais popular por essa estratégia, então a finalidade foi alcançada. O bem foi feito.

Não há escândalo algum nisso.

Quando a imagem de “Pachamama” foi chamada de Nossa Senhora, muitos católicos entenderam como uma inculturação legítima. Pois bem, nomeia-se agora o Catecismo Romano de Catecismo da Igreja Católica e isto vira motivo para batalha?

Tenhamos senso das proporções.

Por fim, quanto às observações de Rafael Brito de que o Centro Dom Bosco possui reservas ao Catecismo de São João Paulo II, deve-se lembrar que o CDB nunca escondeu isso. Cremos, com São João Paulo II, que o Catecismo de 1992 é “seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica, e de modo muito particular para a elaboração dos catecismos locais“, conforme a Constituição Apostólica Fidei Depositum. Contudo, deve-se observar que o Catecismo de São João Paulo II é um dos mais contestados da História da Igreja ao contrário do Catecismo Romano. Além disso, é um Catecismo que sofreu mais alterações doutrinárias do que o Catecismo de Trento (Ex: doutrina sobre a pena de morte e a dignidade do ser humano). Portanto, não é irrazoável que o Centro Dom Bosco prefira para obras de apostolado o Catecismo de Trento, já devidamente provado pelo tempo.

Quanto às críticas do Pe. José Eduardo

Faremos comentários em partes da crítica do Pe. José Eduardo:

Aos leigos católicos empoderados e talibãs da tradição, super apologetas do “Catecismo Romano” (pois este é o verdadeiro nome do Catecismo tridentino ou “Catecismo para os párocos”, apesar de eles não serem nem tridentinos nem párocos), uma pequena observação:

O Centro Dom Bosco está lançando o Catecismo Romano como uma editora, não como leigos. Ainda assim, não há problema em leigos serem “super apologetas” do Catecismo Romano, porque diversos Papas e santos também o foram.

É proibido leigo defender e ler o Catecismo Romano? Em nenhum momento a Igreja ensinou isso.

“De outra parte, como devemos alcançar de Deus todos os bens por meio de santas orações, os párocos devem ensinar aos fieis que se abstenham de vez em quando das relações conjugais, por amor das orações e súplicas que fazem a Deus. Tal aconteça, principalmente, pelo menos três dias antes de receberem a Sagrada Eucaristia” (CATECISMO ROMANO, Parte II, VIII, n. 34).

Ora, como fazem os beatíssimos tridentinos para receberem a comunhão diária? Será que São Pio X errou quando estendeu essa possibilidade aos fieis ou ele queria que nenhuma família católica tivesse mais filhos ou, para tê-los, deixasse de comungar? Será que os atos conjugais, santificados pelo sacramento do matrimônio, impedem uma comunhão piedosa?

O comentário é aberrante, exagerado. Em nenhum momento o Catecismo Romano pretendia atrapalhar os esposos de abrir-se à vida ou impedi-los de comungar diaria e piedosamente, mas promover “de vez em quando” a recomendação de São Paulo:

Não privem um ao outro de terem relações, a menos que ambos concordem em abster-se da intimidade sexual por certo tempo, a fim de se dedicarem de modo mais pleno à oração.” (1Co 7,5)

Certamente o ato conjugal antes da Comunhão não impede uma comunhão piedosa, mas é mais verdade que a abstinência dele antes de comungar é mais santificadora. Nesse sentido, nota-se as palavras de Pio XII:

“Alguns afirmam, de fato, que a graça, comunicada ex opere operato pelo sacramento do matrimônio, santifica o uso do casamento a ponto de o tornar instrumento mais eficaz que a mesma virgindade para unir as almas a Deus, porque o casamento cristão é um sacramento, mas não o é a virgindade. Nós declaramos porém essa doutrina falsa e nociva. Sem dúvida, o sacramento concede aos esposos a graça de cumprirem santamente o dever conjugal e reforça os laços do afeto recíproco que os une; mas não foi instituído para fazer do uso do matrimônio o meio mais apto, em si, para unir com o próprio Deus a alma dos esposos pelos laços da caridade.” (Sacra Virginitas, 36)

Antonio Royo Marín em “Teologia Moral para Leigos” também faz seguinte observação:

“Não há nenhuma proibição para o ato conjugal por razões de tipo religioso (v.g., na quaresma, advento, dia festivo, dia de comunhão, etc.). Porém, os cônjuges podem, se quiserem, abster-se por mortificação em algum desses tempos, mesmo sem nenhuma obrigação. Por razões de decência, é conveniente abster-se pouco antes de se aproximarem da Sagrada Comunhão ou pouco depois de tê-la assistido.” (n. 619)

No mesmo sentido, Heribert Jone em “Moral Theology“:

 As relações conjugais são lícitas em qualquer momento, embora durante os períodos de penitência seja aconselhável a temperança. Também é lícito ir à Sagrada Comunhão na noite anterior, embora aqueles que raramente se comunicam façam bem em se abster neste momento; quando solicitado pela outra parte, porém, é dever saldar a dívida conjugal. As esposas devem tomar cuidado para não cumprirem suas obrigações de má vontade. (n. 752)

O Pe. José Eduardo é Doutor em Teologia Moral, mas esqueceu que a abstinência do uso do matrimônio por razões religiosas é altamente santificadora principalmente em tempos de penitência e antes da comunhão?

Acerca  da comunhão diária, embora ela seja possível, ela pode não ser útil para aqueles que receberão o sacramento sem grande devoção, como ensina Santo Tomás:

A respeito do uso deste sacramento, duas coisas podemos considerar. Uma, relativa ao próprio sacramento, cuja virtude é salutar aos homens. Por isso é útil o recebermos cotidianamente, para cotidianamente lhe colhermos o fruto. Por onde diz Ambrósio: Se todas as vezes que o sangue de Cristo é derramado, pela remissão dos pecados o é, devo sempre recebê-lo, que sempre peco; devo sempre ter o remédio. — A outra luz, podemos considerá-la relativamente a quem o recebe, que deve se achegar a este sacramento com grande devoção e grande reverência. Portanto, quem cotidianamente se julgar preparado para tal, é aconselhável que cotidianamente o receba. Por isso Agostinho, depois de ter dito — recebe o que todos os dias te é útil — acrescenta: Vive de modo que mereças recebê-lo cotidianamente. Mas como muitas vezes, em casos frequentes, muitos impedimentos ocorrem contra essa devoção, por indisposição do corpo ou da alma, não é útil a todos achegar-se a este sacramento cotidianamente, mas só as vezes em que um se julgue preparado. Por isso um autor diz: Receber cotidianamente a comunhão eucarística, não o louvo nem o censuro. (S. Th. III, q.80, a.10)

Portanto, o padre parece não ter claro que as recomendações do Catecismo favoreciam até mais a santificação dos esposos do que agora, vez que a recomendação de abstinência do uso do matrimônio antes de comungar está completamente ausente do Catecismo de São João Paulo II.

3. “De boa vontade, vivam dentro de casa. Não saiam senão por necessidade e nunca se atrevam a fazê-lo, sem a permissão do marido” (Ibidem, n. 27).

E aí, meninas? Topam essa? Querem viver tais quais mulheres muçulmanas? Será que só porque algo é antigo é bom? Não há necessidade de bom senso? Será que os apologetas não desprezam demasiadamente a teologia?” 

Infelizmente, o comentário do padre é extremamente infeliz. Nenhuma cristã, mesmo a do século XVI, que obedeceu o Catecismo Romano, estava sendo instigada a viver como muçulmana. Os princípios que permeiam o n. 27 eram o da hierarquia familiar e da importância da mulher dentro do lar. Pio XI, na Encíclica Casti Connubii, ensina que viver estes princípios não coloca as mulheres entre as pessoas de direitos menores (minorias), como demonstramos na postagem “O Trabalho da Mulher Casada e a Direita Feminista“. A alegação de que isso seria de alguma forma “islamismo” é uma depreciação objetiva do Catecismo de Trento.

O Catecismo Romano também neste ponto é mais valioso, porque descreve com exatidão os deveres dos esposos como a submissão da esposa ao marido e a necessidade do marido ser o provedor do lar, ensino ausente no Catecismo de São João Paulo II, mas necessário para os dias atuais corrompidos pelo feminismo.

O Catecismo Romano é um tesouro, um verdadeiro colosso da Tradição Católica. Já foi devidamente testado pelo tempo, aprovado pelos santos e não deve nada a ninguém.

Recomendamos assim fortemente a Catecismo da Igreja Católica promulgado pelo Concílio de Trento.

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