Estou certo de que já todos os nossos leitores já ouviram o preocupante rumor de Rorate Caeli (que no passado se provou estar muito bem informado sobre este tópico), a saber, que as autoridades romanas estão preparando mais uma dose de Acompanhamento™ para os bispos em relação ao governo dos seus fiéis que amam o Rito Romano Tradicional [Missa Tridentina]. E não se engane – são os bispos e a sua autoridade que serão atacados e minados se estiver realmente em curso um agravamento de Traditionis Custodes, visto que um certo tipo de ideólogo fica cada vez mais frustrado com a caridade paternal de Suas Excelências. Ao orarmos ao Senhor para evitar tal calamidade, lembremo-nos também de orar especialmente pelos nossos bispos, que em breve poderão ser obrigados a tratar os seus fiéis com uma mesquinhez que não é da sua autoria.
Por coincidência e não por intenção, tenho certeza, o homem que muitos pensam ter sido a mente por trás do ataque anterior, o professor italiano de liturgia Andrea Grillo, acaba de dar uma entrevista ao site Messa in Latino, que foi traduzida para o inglês pela excelente jornalista Diane Montagna, radicada em Roma, e publicado no Rorate Caeli. Faço uma pausa para mencionar que discordo da manchete formulada por Rorate, que chama a entrevista de “surpreendente”. O professor Grillo nunca permitiu que a lei da caridade moderasse seu desdém por todos, e não há nada de novo ou de surpreendente nisso. (Ver a foto do perfil em seu blog para mais detalhes: não a insiro aqui, pois os algoritmos que governam as plataformas de mídia social desaprovam o comportamento que apresenta, correndo o risco de excluir links para artigos que contenham tais imagens).
Também faço uma pausa para observar que o próprio Prof. Grillo negou estar de alguma forma envolvido na publicação de Traditionis custodes; se for esse o caso, as semelhanças que tem com os seus escritos sobre o assunto são tão notáveis, que ele deveria processar o Discatério por plágio. Por outro lado, a academia italiana é uma casa construída sobre a inveja, e seria um suicídio profissional para qualquer acadêmico italiano, e sobretudo para alguém que trabalha para a Igreja, admitir que o seu trabalho teve algum tipo de impacto no mundo real.
Desde a publicação da entrevista de ontem, recebi mais de uma exortação para escrever uma resposta, mas só posso responder que não vejo razão para isso. Acredito que a maioria das pessoas sentirá repulsa pela frenética falta de empatia que ferve em cada palavra sua; aqueles que não sentem tanta repulsa provavelmente não serão persuadidos a nenhuma direção por qualquer coisa que eu decida escrever.
A internet deu-nos numerosos termos úteis para descrever os seus vários epifenômenos, um dos quais é “gish-galop – uma técnica retórica em que uma pessoa… tenta dominar o seu oponente, fornecendo um número excessivo de argumentos sem qualquer consideração por sua(s) precisão ou força”. (Wikipedia) Proponho que em nosso discurso intra-eclesiástico renomeemos isso como “o grillo-galope” em homenagem a esta entrevista e ao trabalho do professor em geral. Um termo similarmente útil e relacionado é a Lei de Brandolini, mais colorida e divertidamente conhecida como “princípio da assimetria b—s—”, que afirma que é preciso muito mais tempo e esforço para refutar um argumento ilusório ou absurdo do que para apresentá-lo; e neste caso, significa um tempo que simplesmente não tenho.
Felizmente, outra pessoa dedicou seu tempo. Em março, o Sr. Kevin Tierney publicou um artigo no seu excelente Substack sobre a recepção (ou a falta dela) da reforma litúrgica pós-conciliar. Solicitei a sua permissão para repostá-lo assim que o li. Novamente com sua permissão, reproduzo aqui algumas de suas observações sobre a entrevista de Grillo feita in foro privato. (Você também pode encontrar Kevin no Twitter em https://x.com/CatholicSmark e espero estar inspirado para oferecer-lhe algum incentivo para continuar seu excelente trabalho.) Adicionei citações da entrevista em itálico.
“Tal como acontece com muitos outros, o professor Grillo merece agradecimentos pela sua honestidade. Ele é louco, mas é honesto. E o Papa tem um louco como cortesão.
Não é só que ele odeie a missa em latim com uma paixão difícil de decifrar. Ele vê o encolhimento da Igreja como algo a ser celebrado, e não lamentado, como uma transição necessária para a pureza. ( …“a ‘escassez de seminaristas’ e a ‘fuga de jovens’ não é apenas um fato negativo: é o sinal de um sofrimento necessário para toda a Igreja”)
Quando a maioria das pessoas vê outras pessoas que não violaram nenhuma doutrina, mas são católicas de uma forma diferente, elas encolhem os ombros. Mesmo que não gostem, não perdem o sono por causa disso.
O professor Grillo não dorme há anos. Ele fica perpetuamente acordado por causa disso, e parece ter infligido uma insônia similar ao Papa. Os tradicionalistas são uma seita irrelevante, nada comparado com a Igreja em geral. (“O que são [as] 18.000 pessoas [em Chartres este ano] em comparação com a grande multidão da Igreja Católica? Pouco mais que uma seita que experimenta a infidelidade como salvação…”)
Mas ao mesmo tempo somos um perigo tão mortal para a Igreja, que devemos ser reprimidos à força. Até mesmo um católico que experiencia a espiritualidade diferentemente de Grillo é um perigo para toda a Igreja. ( “Rezar ‘una cum Papa’ não se alcança com mera tagarelice, mas partilhando com a Igreja, e sobretudo com o Papa, o único Ordo em vigência. Caso contrário, tagarela-se, mas se vive em oposição à tradição”).
Quando lhe é apontado que este tipo de teologia não pode permitir coisas como liturgias orientais ou movimentos diversos dentro da Igreja, ele não se esquiva disso, mas dobra a aposta. O objetivo final é que todos os católicos adorem e compreendam a Fé exatamente da mesma forma como qualquer um que ocupe atualmente a Sé de Roma. Se não fizermos isso, não estaremos rezando em comunhão com o Papa.
Mais importante ainda, ele desenvolve uma tensão não entre tradicionalistas e autoridades da Igreja, mas entre católicos ordinários e revolucionários com motivação ideológica. O professor Grillo quer uma Igreja de revolução perpétua, que esteja sempre atacando os alicerces do passado, preparando-se para um futuro glorioso. (“A tradição não é o passado, mas o futuro”). Mesmo a maioria daqueles que não são tradicionalistas eventualmente ficam cansados do constante desenraizamento.
Que isso seja uma atividade acadêmica divorciada das interações com as pessoas comuns, não é surpreendente. Somente um acadêmico ou alguém de alta autoridade pensa desse jeito.”
Fonte: New Liturgical Moviment