Há uma onda entre algumas páginas católicas de “desconstruir” certos receios comuns no meio cristão acerca de festas como o Carnaval, Dia das Bruxas ou diversões como praias, shows, entre outros, sob o pretexto de “combater os escrúpulos” de muita gente. E fazem isso minimizando a malícia geral desses eventos e apostando numa postura laxa. Dizem, por exemplo, acerca do Carnaval, que “Não se deve moralizá-lo”, que “Não se deve fechar um parecer sobre ele” ou ainda que “É a festa do povo brasileiro”, etc.
Contudo, primeiramente, não é preciso ser laxista ou minimizar o mal de certas coisas para combater os escrúpulos. Vide, por exemplo, o Pe. Leonardo Wagner, que promove um excelente curso sobre como vencer os escrúpulos sem tender ao laxismo.
Em segundo lugar, a abordagem de minimizar ou matizar o mal da coisa é inadequada. Quando um evento ou determinada diversão é, enquanto fenômeno geral, escandaloso, é simplesmente um pecado contra a prudência, isto é, por falta de circunspecção (virtude que nos faz considerar as circunstâncias especiais), inteligência do presente (virtude que nos faz discernir se algo é bom ou mal, conveniente ou inconveniente), docilidade (virtude que nos faz acatar o conselho dos mais sábios e prudentes) e de cautela, “desmoralizá-lo” em razão de circunstâncias raríssimas e específicas em que ele é bom. Em outras palavras, é errado promover a bondade de uma festa como o Carnaval quando, enquanto fenômeno geral, ele é péssimo e mau. O efeito disso nas pessoas não será o bom discernimento, mas o laxismo mesmo.
Por isso notáveis teólogos e santos, apesar de reconhecerem que as festas e espetáculos públicos não são um mal si, não poupam palavras em dizer que a forma moderna deles é, em regra, condenável. Ou seja, eles “moralizavam” as festas atuais, como o Carnaval, tal como fazem hoje muitos padres e leigos prudentes:
“Os espetáculos, em geral, não são maus em si, e até mesmo poderia ser altamente educativos para o povo… Mas, por desgraça, são hoje um dos principais focos de corrupção das almas e incitamento das paixões do povo.” (Royo Marin, Teologia Moral para Leigos, v. I, p. 649)
“Os espetáculos […] em si são algo indiferente, que também podem ser convertidos para um bom fim e para o apostolado. Contudo, muitas vezes, são gravemente pecaminosos por causa das coisas obscenas, das roupas imodestas, da atuação desprezível dos artistas, dos diálogos, dos jogos de palavras gravemente desonestos que estão misturados.” (Marcellinus Zalba, Theologia Moralis Compendium, v. II, p. 122)
“Por este amigo, a quem o Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender que é Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria”. (Santo Afonso de Ligório, Meditações, v. I, p. 272)
Ademais, a percepção geral dos católicos, principalmente a dos grandes teólogos e santos, de que certas festividades são escandalosas certamente parte do melhor sensus fidei do povo cristão, que reconhece como que por instinto aquilo que é bom ou mau sobre a fé e a moral. Portanto, é sempre muito temerário opinar contrariamente a esse senso comum.
Por fim, percebe-se que a tendência dos apostolados laxistas é de sempre orientar seus conselhos no sentido de diminuir o evidente perigo da excessiva solicitude pelas coisas mundanas (espetáculos, diversões, negócios, etc) e das ocasiões perigosas/próximas de pecado. Arrisco dizer que não são verdadeiros apostolados, pois mais desorientam que orientam. Que mudem de postura e se tornem vias sadias para a conversão das pessoas.