Como entender um bispo católico que pune um padre que denuncia corruptores de menores em vez de ficar do lado dele e tomar a peito, junto ao bravo sacerdote, essa briga pela inocência e pela integridade do ensino escolar?
Não posso deixar de tornar pública aqui, a bem da justiça e em favor da Igreja, da inocência dos costumes e da salvação das almas, a minha consternação e indignação diante da atitude do ordinário de Divinópolis-MG, Dom José Carlos de Souza Campos, pela sua injustificável e incompreensível repreensão pública ao sacerdote diocesano Padre Chrystian Shankar, instado pelo seu superior a retratar-se publicamente por sua denúncia sobre um caso de escandalosa corrupção moral de menores que o padre expôs em uma homilia proferida na Santa Missa do último dia 21 de junho, no Santuário São Frei Galvão.
Na pregação em questão, o referido sacerdote denunciou, com a adequada parrésia e um justo zelo pastoral, uma escola divinopolitana que tem se prestado a ensinar aos seus alunos a condenável ideologia do “poliamor”, que incentiva comportamentos sexuais degradantes e violentamente contrários a tudo o que orienta a moralidade cristã.
O padre procurou expor com objetividade, mediante o relato do testemunho de uma mãe indignada e a leitura do próprio “material didático” usado na escola, o conteúdo imoral de estímulo explícito ao sexo adúltero, promíscuo e poligâmico (desde que “consensual”), algo absolutamente inapropriado em qualquer instituição de ensino que se queira minimamente respeitável.
Após o trecho da homilia referente ao caso viralizar nas redes sociais e repercutir na imprensa, o bispo diocesano de Divinópolis emitiu ontem, dia 25, uma frustrante nota de “esclarecimento e encaminhamentos” na qual repreende não os corruptores de menores envolvidos, mas sim o Padre Shankar, pelo modo “irreverente e pouco respeitoso com que falou dos profissionais da educação e da psicologia, mesmo que tenham suas pedagogias e abordagens próprias para seus trabalhos específicos”, diz a nota.
Em primeiro lugar, as poucas palavras contundentes usadas pelo Padre Shankar para se referir aos verdadeiros responsáveis pelo escândalo são perfeitamente proporcionais à absurdidade da ocorrência, e provavelmente estejam até muito aquém daquilo que precisaria ser dito de tamanha incúria e esculhambação deseducacional!
Precisamos perguntar ao bispo: Acaso o senhor crê que merecem “reverência”, Dom José Carlos, os doutrinadores que abusam do seu poder de influência sobre um público cativo juvenil para incitá-lo a uma conduta orgiástica!? Devemos, então, reverenciar essa malta de manipuladores ideológicos?
Acaso não seria a sua obrigação, como sucessor dos apóstolos de Cristo, condenar com igual ou maior veemência essas ditas “pedagogias e abordagens próprias” cuja gravidade o senhor parece inexplicavelmente querer minimizar na sua nota!?
Ressalte-se que o Padre Shankar não cita nominalmente os “profissionais da educação” envolvidos, e tampouco menciona os nomes dos jovens e familiares atingidos ou sequer da escola, do bairro ou zona urbana onde está localizada.
Ademais, é totalmente inverídico que o sacerdote tenha cometido generalizações de juízo em alguma altura da sua admoestação, pois em nenhum momento o espectador honesto entende que ele esteja se referindo ao ocorrido como se fosse prática comum a todos os professores e psicólogos.
Na retratação já feita pelo padre, por obediência ao seu bispo, ele não deixou de enfatizar que não fez generalizações, que não havia necessidade real de se retratar, que muitos bons professores e psicólogos o apoiaram explicitamente e que há uma orquestração de certos “sofistas” das classes envolvidas que, por interesses ideológicos, procuram desviar o foco do problema denunciado e fingir que foi feito um ultraje às suas classe laborais.
O sacerdote foi, na verdade, bastante cuidadoso e até brando no seu modo de expor as minúcias do fato. Fosse o recém-celebrado São João Batista ou o próprio Senhor Jesus Cristo quem estivesse no púlpito, os responsáveis teriam sido chamados, talvez, de “raça de víboras”, “sepulcros caiados” ou “filhos do Diabo” (João 8, 44), o que se diria deles com muita justiça, por sinal.
Entendemos que, diante de um caso de corrupção juvenil tão sério, o próprio bispo deveria ter cobrado explicações da escola, da psicóloga e dos professores envolvidos, bem como instado os pais a fazerem o mesmo!
Mais do que isso, caso permanecessem os pais inertes e a escola obstinada no seu erro, seria o papel do pastor católico envolver-se diretamente no caso, urgindo às autoridades seculares para tomarem as medidas cabíveis e convocando a diocese inteira para protestar e rezar em frente à escola!
O Código de Direito Canônico prescreve, entre as funções dos bispos, “propor e explicar aos fiéis as verdades que se devem crer e aplicar aos costumes… a fim de que toda a doutrina cristã seja ministrada a todos” (Cân. 386, § 1). Recorda-lhes, ainda, que devem “defender com firmeza a integridade e unidade da fé” (idem, §2) e que é sua “obrigação” empenhar-se em “promover, com todos os meios, a santidade dos fiéis” (Cân. 387).
Como o senhor explica, então, essa represália a um sacerdote por fazer o que seria a própria obrigação do senhor, Dom José Carlos!?
Peçamos em nossas orações para que o Espírito Santo, em sua inexaurível caridade, converta os muitos ímpios que estão pervertendo mentes nas áreas da educação e da psicologia, para que console e fortaleça os bons padres que, mesmo com todas as perseguições, se dispõem ao bom combate, e para que nos dê o remédio para estes tempos em que há tantos “pastores” de atitude frouxa e acomodatícia, tantos que trazem o cajado nas mãos, mas abrem as portas do redil aos lobos carniceiros enquanto enxovalham os poucos cães de guarda que ainda ousam alertar o rebanho.
Miserere nobis, Domine.