Conteúdo do Artigo

Últimos Artigos

Morre dom José Luís Azcona, bispo emérito do Marajó
A situação da Igreja Católica na Itália: Um quadro sombrio com um raio de esperança
Padre Chad Ripperger e os ataques histéricos e desonestos de Mike Lewis
É o Catolicismo Tradicional o grande problema?
"Pai, por que me abandonaste?" (I)

Categorias

Colunas

Aulas/Vídeos Recentes

Uma olímpica grosseria

Abertura blasfêmica dos jogos olímpicos de Paris - 2024
Por Flavio Infante

Teodósio tinha razão quando promulgou, com o édito de Tessalônica (380), o fim das Olimpíadas juntamente com todas as outras manifestações públicas do paganismo. Era necessário que o Império, já oficialmente cristão, deixasse de prestar honras ao Pantheon, a esse Olimpo composto por uma multidão promíscua de falsos deuses, para consagrar doravante todos os acontecimentos temporais ao Deus Unitrino. E embora, ao longo dos séculos, as monarquias católicas conhecessem o fragor dos torneios e competições, como atesta a abundante matéria artúrica, é evidente que o espírito que animava estas disputas já não coincidia com o antigo.

A multiplicidade anárquica dos tempos pagãos, esse angustiante caminho que tateia pelo desfiladeiro vital sem notícia segura acerca do destino augural para nossa estirpe, essa atomização de tradições reciprocamente excludentes, foi resolvida mediante um redditus ad unum com a recobrada vigência da tradição primordial, agora especificada pela mensagem de Cristo. A adoração de Deus como Uno (só os demônios são muitos, legião) proporcionaria, lenta mas inexoravelmente, uma unidade real de aspirações e uma cabal universalidade de olhares àquela porção do gênero humano que durante os próximos mil e poucos anos foi a única a conceber a condição de unidade dos filhos de Adão e procurou estender o anúncio evangélico ao maior número. Era um fazer de muitos uma única alma, como na sincronia perfeita do canto gregoriano. A inédita criação de um Sacro Império sem o odioso fardo do imperialismo, antes concebido como uma confederação de reinos, e a concretização não menos inédita do “direito dos povos” são uma prova irrefutável disso. Se para o velho Pitágoras o múltiplo se derivava do Uno, a civilização cristã soube que mesmo o múltiplo trazia o selo profundo da unidade para a qual deveria ser reconduzida continuamente. Não é demais recordar aqui que “católico” é vocábulo grego equivalente a “universal”.

Banner - Fatima: Uma Aparição Politicamente Incorreta

Coube aos tempos modernos a discutível honra de reviver as Olimpíadas. E embora o desígnio do Barão de Coubertin se reduzisse talvez à mera oferta de um fórum para o alívio ginástico dos povos em épocas de crescente mecanização dos hábitos por força do industrialismo (já estamos em 1896), presumiríamos melhor que cada cuba cheira ao vinho que contém, e que a derrocada histórica inaugurada pelo protestantismo, mais essa soltura de pragas que chamamos de “filosofia moderna”, com o Iluminismo e o seu corolário sangrento na Revolução, tudo iria contribuir para enfraquecer aquela consciência de universalidade que só o Cristianismo pode favorecer, o que ao final obrigaria adotar um simbolismo próprio a esta nova desintegração que supera em muito a de Babel. Embora não seja factível renovar o culto aos deuses olímpicos, recriar as Olimpíadas significa – além de reivindicar implicitamente um mundo isento da irrupção do Evangelho, prévio a ele – cultuar uma multidão informe por princípio, quer se trate das forças cegas da natureza ou do próprio eu e e seus desvarios. É como a inauguração de uma praça pública num ambiente infestado de criminalidade desenfreada: o que se poderia esperar de tal iniciativa senão o seu fracasso total à custa dos criminosos, prontos a apropriar-se do comum tal como fazem com o particular? Porque o relançamento dos Jogos Olímpicos não ocorreu sequer no quadro de um neopaganismo improvável, senão no quadro de algo pior, que é a apostasia das nações, a dissidência massiva da Verdade salvífica e a rápida difusão de um novíssimo e anômalo agente/paciente histórico como é o ateu batizado dos nossos últimos dias.

O moderno culto do corpo, pronto para dividir a unidade do composto humano, encontrará nestes jogos cíclicos uma oportunidade para alimentar-se. E embora seja menos vil e prejudicial que o freudismo, que aprofunda a desintegração reduzindo o homem já não ao seu único corpo, mas só a uma porção dele, não deixa de convergir com ele e de trazer consigo o germe das suas desastrosas consequências. Não há mais nada a esperar senão uma aceleração gravitacional da infâmia em sucessivas cascatas concêntricas, como se viu na recente cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos na França do degenerado de Macron.

Ali, para todas as latitudes do mundo, nas barbas da humanidade televisiva, debaixo dos próprios narizes da dialoguista Hierarquia eclesiástica, estes malditos inventaram a sua paródia blasfema da Última Ceia de Da Vinci com um elenco de travestis aglomerados em torno de uma mulher obesa (mais tarde se descobriu que era judia e lésbica) fazendo o papel de Jesus, e um desagradável fauno todo azul, barbudo e nu, oferecido como comida no centro da mesa. A corrupção da inocência encontrou seu hediondo capítulo com a inclusão de um menino ou uma menina – rebuscada a ambiguidade de sua aparência – entre o elenco de pervertidos. Não faltou a entronização de um bezerro de ouro no cenário principal nem a exaltação do homicídio seletivo, típico do pathos revolucionário, com a representação de uma Maria Antonieta já decapitada carregando a sua própria cabeça entre as mãos enquanto ensaiava um parlamento macabro. Como lemos em Isaías, sua própria falta de vergonha os acusa e, como Sodoma, jactam-se dos seus nefandos crimes.

Altear - Contabilidade Consultiva

É claro, portanto, que as expressões papais de apreço por estes Jogos não gozam de qualquer reciprocidade. Pelo contrário, são vistas, como ven ocorrendo com as habituais ternuras para com o mundo moderno, como tantas outras mostras de fraqueza que convidam a intensificação do escárnio anti-teísta. Como o demonstra Romano Amerio num capítulo (“Somatolatria e Penitência”) do seu iluminado ensaio Iota Unum, a deriva complacente da Igreja em relação a estes campeonatos não só não contribui para melhorar a disposição dos líderes mundiais em relação ao Cristianismo, senão que inclusive parece atrair infortúnio. Foi o que aconteceu depois do discurso de Paulo VI por ocasião dos XX Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, onde o Papa elogiou a juventude que encarnava “a antiga forma do humanismo clássico, insuperável em elegância e energia, juventude embriagada pelo seu próprio jogo no deleite de uma atividade que culmina em si mesma“, para que muito em breve a sua bênção heteróclita se transformasse nos eventos atrozes que enlutaram aqueles jogos com a tomada de reféns e posterior assassinato de uma parte da delegação israelita.

Já vimos, pois, como retribuíram a Francisco (e se não a ele, ao menos a todos em que cremos em Jesus Cristo) por causa de suas efusivas felicitações para com poderes que, na sua opinião, deveriam servir para “derrubar preconceitos e promover a estima onde há desprezo e desconfiança, e amizade onde há ódio”. Foi um insulto olímpico ao humanismo integral e ao papado desvalorizado em mera liderança terrena, ao mesmo tempo que uma evidência de que aos inimigos do nome cristão lhes importam mais a religião e os seus símbolos do que aos prelados desta Igreja pastosa. Aí temos, para comprovar mais uma vez, a recriação, no espetáculo de bordel parisiense, de um dos cavalos do Apocalipse (o quarto, cujo cavaleiro é a morte?), seguido hipnoticamente pelas delegações de todos os países do mundo: as elites satanistas parecem ter atingido um marco de cinismo na exposição pública dos seus propósitos, de modo a tornar anacrônica e banal a noção de “teorias da conspiração”. Não há mais nada a teorizar face a uma demonstração franca e flagrante de força.

Deixa muito tecido a ser cortado este sinistro acontecimento que abriga os mais terríveis presságios e permite medir cada ator público em seu verdadeiro semblante. Não falemos de espantalhos como o presidente argentino, que até cinco minutos atrás se ufanava de empreender a “batalha cultural” contra a esquerda rosa e o wokismo e não conseguiu abrir sua boca depois de ter presenciado essas abominações em pessoa, no camarote de honra. Até uma ativista de esquerda como a espanhola Paula Fraga demonstra um tom de denúncia mais vibrante que o dele e de toda a Conferência Episcopal Francesa: “uma drag carregando a tocha olímpica. Uma paródia inoportuna ao Cristianismo. Um festival woke como abertura dos Jogos Olímpicos. E como pano de fundo em Paris, roubos e estupros coletivos. A apresentação de uma Europa decadente, insegura e com valores desprezíveis. Gritamos ao mundo: “podem vir destruir-nos”.

Fonte: Adelante la Fe

Sobre Flavio Infante

Católico, argentino e pai de quatro filhos. Dedicado à existência rural, publicou artigos em diversos meios digitais, na revista Cabildo e no seu próprio blog, In Exspectatione.

Compartilhar

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Seja Membro Patrocinador

Cursos Exclusivos | Acesso a Artigos Restritos |
eBook/Leitura (Em breve) | Desconto na Loja

Assinatura Anual:
R$ 119,90
(R$ 10,00 por mês)

Assinatura Semestral:
R$ 89,90
(R$ 15,00 por mês)

Picture of Santo Atanasio

Santo Atanasio

Instituto Santo Atanásio (Curitiba - PR). Associação de leigos católicos que tem por objetivo promover a Fé e a Cultura Católica na sociedade.
Todos os posts do autor
Progressismo é revolucionário
Etapas, feições e consequências do progressismo ideológico
O progressismo está, de fato, em crise pelo menos desde a queda do muro de Berlim e o fim da URSS, mas...
Iluministas do iluminismo
Les Lumières Comedy Club
Parece-me que entre eu e meus amigos, e provavelmente também entre todos os católico de hoje, há uma...
Igreja do Rosário em Curitiba
A Igreja e a Escravidão
Ao longo do tempo, muitas correntes de pensamento buscaram denegrir a imagem da Santa Igreja Católica...
Plinio Corrêa de Oliveira
Estudo: O resgate da Tradição e o papel de Plinio Corrêa de Oliveira na constituição da direita religiosa internacional
Na mitologia revolucionária, o processo histórico avança constantemente “para a frente”,...
Dom Angélico Sandalo, Arcebispo aposentado, abraça Lula na "celebração" que virou palanque eleitoral. Crédito da foto: Paulo Pinto
As "barganhas" com o PT que a CNBB omite
A CNBB e alguns dos seus tentáculos midiáticos vermelhos, do alto da sua autoridade moral de caudatários...

Comentários

Deixe um comentário

Search

Últimos ISA Cursos

I Seminário de Psicologia Tomista do Instituto Santo Atanásio
Curso - A Mística do Templo na Espiritualidade Beneditina
Curso Mistagogia Cristã - Instituto Santo Atanásio - ISA MEMBROS
ISA-Notícias-&-Lives-2024
ISA-Palestras-2024
Carrinho de compras