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Uma política da esperança

Bandeira do Brasil num contexto de esperança política

“Não conseguiremos vencer os nossos profundos desafios sem grandes sacrifícios. Mas eles só se realizarão se feitos em nome de um projeto político que beneficie a todos” – Este artigo de Bernardo Guadalupe, publicado na Gazeta do Povo, lança luz aos problemas políticos do Brasil. É possível uma política da esperança? Quais conceitos nos estão faltando? Muito o que está expresso casa com com as orientações da Doutrina Social da Igreja.

Vivemos, no Brasil, um momento grave. Os acontecimentos das últimas semanas deixaram claro que a nossa crise não é apenas econômica, mas diz respeito aos princípios e valores capazes de tornar nossa sociedade habitável. Se, nas últimas semanas, estivemos prestes a mergulhar no abismo do caos, isso não se deve apenas a questões financeiras, mas a uma crise de confiança, de esperança, de perspectivas.

Existe, em nosso país, uma forte tendência a uma política meramente pragmática. São poucos os que têm uma visão de longo prazo. O que importa são os acordos e realizações do momento. As ideias são perda de tempo, domínio dos loucos, ingênuos e sonhadores. Diziam os antigos que Tales de Mileto, o primeiro dos filósofos gregos, certa vez, ao olhar atentamente para o céu enquanto caminhava, sem cuidar de onde pisava, caiu em um buraco, tornando-se vítima de troça de uma escrava da Trácia. É assim que encaramos quem se propõe a pensar a política a partir de uma perspectiva mais profunda.

No entanto, a anedota continua: por compreender os fenômenos celestes, Tales conseguiu prever com antecedência uma grande safra e, assim, comprou todas as prensas de azeite da região. Quando chegou o momento da colheita, todos foram obrigados a alugar as prensas de Tales, que, cobrando um preço alto, tornou-se um homem rico. A lição dos antigos é também a de Elon Musk, que, em uma entrevista ao The Atlantic, revelou ter aprendido um dos segredos de seu sucesso com Aristóteles: a importância de se recuar aos primeiros princípios. De acordo com ele, esse seria o caminho para a inovação: olhar para os primeiros princípios, as verdades mais fundamentais de uma área, as coisas que realmente são indiscutivelmente corretas e, a partir delas, chegar a uma conclusão. Caso essa conclusão esteja em desacordo com o que as outras pessoas geralmente acreditam, existiria aí uma oportunidade de inovar.

Mas não é apenas no avanço tecnológico que é útil retornar aos princípios. Esse é também o caminho para a sanidade política. Se as ideias são estéreis sem ação, tampouco existe ação sem ideias. A pessoa que age sem se preocupar com o que pensa estará inevitavelmente agindo segundo os pensamentos de um outro: entre a manipulação e a reflexão, não existe um meio termo. Um caminho político, mesmo o mais prático, é sempre refém de uma filosofia. Isso se torna particularmente urgente em uma situação de crise.

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Por isso, de modo a participar do debate, proponho aqui uma política da esperança. As ideias que apresento não são novas, nem minhas, mas se reduzem a uma tentativa precária de recuar aos princípios. Trata-se de um esboço de princípios e atitudes a partir dos quais seria possível pensar em alguma renovação. Minha inspiração remota é o manifesto The Politics of Optimism, que Anthony Seldon publicou em 2012, no auge da crise do projeto da big society do então primeiro-ministro britânico, David Cameron. Entretanto, ao contrário de Seldon, falo em esperança, não em otimismo: é que o otimismo é uma crença, a crença de que as coisas ocorrerão da melhor maneira possível, enquanto a esperança é uma virtude, ou seja, a determinação deliberada em agir de modo que as coisas possam dar certo. Não temos hoje razão para sermos otimistas, mas é justamente por isso que devemos praticar a esperança. Não há outra saída: ceder ao pessimismo é proclamar uma profecia autorrealizável.

A política da esperança que apresento, a ser aperfeiçoada, parte de três princípios e se manifesta em quatro virtudes. Enquanto os princípios indicam o que devemos buscar, as virtudes mostram como devemos buscar. Começando pelos princípios, são eles: o bem comum, a dignidade do homem, o respeito pelo real.

O bem comum. Desde Maquiavel, a política vem sendo pensada como a arena da disputa pelo poder. Em uma perspectiva mais elaborada, ela seria o espaço no qual os diversos grupos poderiam negociar seus interesses de modo a alcançar algum compromisso. É certo que o conflito e a negociação são uma parte inescapável da política. Mas, quando ela se reduz a isso, vai aos poucos promovendo o sectarismo e levando a sociedade à desagregação. Não existe unidade sem projeto comum. Eis o que vemos tão claramente acontecer: o debate político torna-se polarização que, intensificada, anula a própria possibilidade do debate.

Este me parece ser um exemplo notável do que venho falando: a ação política é sempre refém de uma filosofia. Se entendemos a política como mera negociação de interesses, é isso que ela se tornará. E no Brasil de hoje, cada repartição pública existe apenas para garantir e perpetuar seus interesses (mesmo que legítimos); cada juiz pensa apenas nas condições de sua classe; cada deputado, ainda que honesto, tem em mente apenas o bem das pessoas que o elegeram.

Para sairmos do atoleiro, é preciso recuperar a antiga linguagem do bem comum. Não conseguiremos vencer os nossos profundos desafios sem grandes sacrifícios. Mas eles só se realizarão se feitos em nome de um projeto político que beneficie a todos.

A dignidade humana. Em que consiste esse bem comum? Seu fundamento é a dignidade humana, que não nos exige menos que a possibilidade para todos de uma vida digna de ser vivida ou, em outras palavras, na promoção de uma vida plenamente humana. Mas em que consiste essa vida digna? Nossa política liberal, buscando proteger a liberdade individual da imposição de alguma visão metafísica, limitou-se a se preocupar apenas com o que é mensurável. Uma boa sociedade seria aquela que garantisse alguma afluência material a todos. Para isso, em nome da eficiência, o governo deveria resolver seus desafios como um matemático soluciona uma equação: levantam-se os dados, estabelecem-se metas traduzidas em números, parte-se para a ação. A política transforma-se em economia, os políticos se tornam administradores e os cidadãos, consumidores.

Mas a crise econômica mundial de 2008 e a crise política que atravessa os diversos países, dos Estados Unidos à Hungria, tem mostrado os equívocos da tecnocracia. Fala-se em crise do liberalismo, menos de 30 anos depois de Fukuyama ter proclamado o fim da história a partir de sua vitória definitiva.

A insuficiência da tecnocracia deveria ter sido óbvia desde o princípio: o ser humano é mais que um corpo que sente fome e sede. Ele também tem fome e sede de justiça, de beleza e de verdade. Deseja ser o autor de sua própria história e quer que sua vida tenha algum sentido maior que a mera satisfação momentânea. O homem, dizia Aristóteles, é um animal político, ou seja, um ser que vive em comunidade, junto dos outros homens. Não é um ciclope, isolado em uma caverna a ordenhar o seu rebanho, nem um deus na plenitude de sua autossuficiência.

Não podemos alcançar uma vida feliz a não ser em comunidade. Mas essa comunidade deve nos proporcionar algo além da subsistência material: os altos índices de solidão, a incerteza do indivíduo não pode contar com mais ninguém, a pervasiva falta de sentido que nos assola testemunham isso. O mistério do homem não foi escrito em linguagem matemática.

O respeito pelo real. Nossa civilização nos afastou quase totalmente da natureza: as luzes da cidade nos tornam incapazes de ver as estrelas do céu, os animais não domesticados são apenas uma curiosidade no zoológico, as florestas distantes existem apenas na televisão. Em um mundo construído pelo homem, é fácil duvidar de uma realidade maior que nós mesmos. Passamos a viver com a impressão de que estamos em alguma versão da Matrix, que o mundo é uma simulação virtual, como suspeita o filósofo Nick Bostrom, ou ainda, como acreditava o personagem de Dostoievski no conto O Sonho de um Homem Ridículo, que tudo é uma ilusão e que apenas nós (ou melhor, a pessoa que tem essa crença) existimos.

O antropocentrismo é um dos mais perigosos mitos da modernidade. Quando ignoramos as regras do mundo, corremos o risco da extinção. Estamos nos aproximando cada vez mais de uma catástrofe ambiental, o que, mais uma vez, testemunha o poder das ideias: pensar o homem sem o mundo é arriscar um mundo sem o homem.

Mas não se trata apenas de risco ambiental: quando perdemos a reverência pelo real e nos tornamos a medida de todas as coisas, destruímos nossa inteligência, feita para captar a ordem do mundo, e corrompemos nossa linguagem, que existe para expressá-la. Passamos a compreender apenas aquilo que desejamos compreender. A linguagem torna-se uma mera expressão do desejo e um veículo para a persuasão. Aos poucos, deixa de construir pontes entre as pessoas, de ter um significado comum. Não há mais verdade, apenas fake news; não há mais comunicação, apenas marketing. O debate político torna-se inviável e se transforma em uma disputa na qual o vencedor é aquele que grita mais alto.

Dizia-me um amigo, inspirado em Confúcio, que sua única bandeira era a correção dos nomes, ou seja, restaurar a relação da linguagem com a realidade para que ela pudesse novamente ter um sentido compartilhado. Isso é de fato urgente. Também é preciso, como defendeu Anthony Seldon, baseado no livro Truth, Beauty and Goodness Reframed, de Howard Gardner, professor de Psicologia de Harvard, recuperar o bem, o belo e o verdadeiro como bases necessárias para o governo e a sociedade no século 21. Em outras palavras, colocar novamente o real, em toda a sua dificuldade e esplendor, como fundamento da política.

É certo que nossa inteligência humana não é capaz de captar a plenitude da verdade. Nunca chegaremos a uma teoria final da realidade, nem em um sistema político perfeito. Respeitar o real não é pretender dominá-lo, mas reconhecer que, apesar de nossas limitações, conseguimos captar alguma verdade, discernir algum bem, contemplar algum belo. Em outras palavras, é tê-lo como horizonte de nossas reflexões e ações, sempre sujeitas à revisão.

Os três princípios são complementares: a sanidade da vida política depende da recuperação do bem comum. Ele se define pela dignidade humana que, por sua vez, só é compreendida a partir do respeito pelo real. Mas isso não basta: para que os princípios sejam aplicados, devem ser buscados da maneira correta. Uma política do bem comum é impossível sem uma política das virtudes.

Elas são quatro: a confiança, a associação, o dom e a prudência. São virtudes políticas, ou seja, dizem respeito ao modo como os seres humanos devem agir, por uma escolha consciente, na sociedade.

A base de todas essas virtudes é a esperança. Fala-se hoje em mentalidade de abundância por contraposição a uma mentalidade de escassez ou ainda, como a psicóloga Carol Dweck, em um mindset de crescimento por oposição a um mindset fixo. A virtude da esperança parte daí: ela se recusa a ver o mundo como um espaço fechado, no qual uns ganham e outros perdem, sem a possibilidade de soluções novas diante de impasses que pareciam insolúveis. Então, ela nos leva a agir segundo a melhor versão de nós mesmos tendo em vista nossas metas mais elevadas, ou seja, aquelas que nos levam a superar o autointeresse em nome do bem de todos.

Pensar apenas nos próprios interesses ou, quando muito, nos interesses do próprio grupo é uma forma de sucumbir à desesperança, pois parte da crença de que o bem comum é inalcançável. Na verdade, as coisas parecem se dar da maneira oposta: é apenas quando o bem da comunidade está assegurado que podemos alcançar nossos interesses particulares. Não vivemos isolados dos outros. Podemos, em meio ao caos e à penúria, assegurar uma certa abundância material, mas não podemos deixar de viver, em um cenário desses, em meio à insegurança e ao isolamento.

Da mesma maneira, a virtude da esperança nos leva a se aproximar do outro esperando dele o seu melhor. Contra uma política da polarização, que o encara como um inimigo, ignorante e corrompido, ela nos leva a vê-lo como alguém digno de ser ouvido, por mais diferente de nós que seja, com quem podemos aprender alguma coisa. Afinal, a realidade é complexa demais para ser abarcada por uma única mente humana: para sermos os donos da verdade, teríamos de ser como deuses.

De fato, o modo como tratamos as outras pessoas determina o modo como seremos tratados por elas. Se estamos determinados a descobrir em nosso próximo, nossos concidadãos e nossos oponentes políticos o que neles há de melhor, existe uma chance de que eles também tentem fazer o mesmo.

A confiança. Na Odisseia de Homero, vemos que, após ter escapado da caverna do ciclope, por ter se decidido, devido à sua ambição, a se aventurar em um lugar tão perigoso, Odisseu perde a confiança de sua tripulação. Essa é a ruína de todos. Por causa do clima de desconfiança que perpassa a viagem de retorno à ilha de Ítaca, eles perdem grandes oportunidades: em um dado momento, chegam mesmo a enxergar as casas na ilha; mas, contra as ordens de Odisseu de não abrir um embrulho dado a ele por Éolo, o senhor dos ventos, suspeitando que ali havia ouro escondido, seus companheiros roubam o embrulho e, ao abri-lo, libertam uma tempestade que os leva para longe. É só dez anos depois que Odisseu consegue, após muitas dificuldades e sozinho, retornar à sua pátria querida.

A confiança não é só necessária a uma tripulação em retorno. É a base da vida em sociedade. É confiando que o outro agirá corretamente que me sinto à vontade de agir corretamente. É acreditando que o outro buscará o bem comum que não me sinto tolo ao buscar o bem comum. Quando a confiança declina, aumenta a violência; a corrupção se torna fácil; a burocracia, visando controlar os abusos, cresce desordenadamente. Viver em uma sociedade na qual falta a confiança é como andar em um carro com o freio de mão puxado.

Esse é precisamente o cenário que temos no Brasil atual. É certo que as taxas de confiança social têm baixado em todo o mundo, mas o caso brasileiro é mais grave: segundo as pesquisas, nosso país apresenta o mais baixo índice da América Latina. E não se trata apenas de desconfiança em nossos políticos e instituições: não confiamos nem mesmo em nossos vizinhos. Nossa crise é de natureza moral e espiritual.

Diante disso, existe uma única saída: praticar a confiança como virtude. Sem ser ingênuo, sem ignorar os riscos, devemos escolher confiar. Não apenas nos tornarmos pessoas confiáveis, mas, na medida do possível, confiar nos outros e exigir que políticos e burocratas, servidores públicos e cidadãos comportem-se de modo confiável na arena pública. Não há como exigirmos menos, nem dos outros, nem de nós mesmos.

A associação. Nossa política atual se resume a uma escolha impossível: à esquerda, devemos escolher o Estado e, à direita, o mercado. Em ambos os casos perdemos: um indivíduo isolado é impotente diante dos dois gigantes. Nosso sistema eleitoral, colocado nessa perspectiva, revela-se fraco: o que pode um voto contra a máquina estatal ou o financiamento das grandes corporações? Nossa democracia oscila entre a burocracia e o dinheiro.

O que fazer, então? Retomar a virtude da associação: um indivíduo isolado pode pouco, mas um grupo forte e determinado pode fazer pressão. Como mostrou Robert Putnam, em suas pesquisas sobre o capital social, os lugares onde há mais democracia são aqueles nos quais há uma sociedade civil forte: associações de bairro, corporações de ofício, sindicatos, igrejas, escolas etc.

É na organização autônoma da sociedade que a vida política primeiro se faz. Quem confia é capaz de se associar e fortalecer a sua democracia.

O dom. Que é isso que chamo, quando falava da virtude da esperança, de nossa melhor parte? É aquela descoberta por Aristóteles, quando dizia que a bem-aventurança só é alcançável em uma vida virtuosa em comunidade: a constatação de que só somos plenamente felizes quando superamos nosso egoísmo e vivemos em doação.

Eis um outro mito moderno: o homem é um ser irremediavelmente egoísta, que em tudo busca o próprio interesse. Não é isso que os estudos antropológicos de Marcel Mauss nos mostraram: a origem da economia não está na troca, nem na pilhagem, mas na doação da produção excedente. Tampouco é o que vemos em nossa experiência cotidiana: a não ser em situações de extrema degradação, a prática desinteressada do bem não é algo incomum, seja no cuidado dos pais pelos filhos, dos professores por seus alunos, nos vizinhos que não se importam em fazer uma pequena gentileza, no desconhecido que oferece ajuda a um necessitado.

É certo que o dom sempre coexistiu com a guerra, o altruísmo com o egoísmo. Não somos anjos, mas também não somos bestas selvagens. E, quando prestamos atenção, percebemos que os momentos mais felizes são aqueles em que buscamos um bem maior que a nossa vida pequena.

A virtude do dom parte da constatação de que encontramos nossa felicidade plena quando nos doamos. É a partir dela que toda ação política deve proceder. Não devemos avançar no terreno escorregadio da vida pública para buscar o proveito próprio: ainda que o alcancemos, ele nos corromperá. E de que vale ganhar o mundo e perder a própria alma? Devemos viver a política tendo em vista o bem, pois doar-se aos outros é parte profunda da essência humana e fundamento de toda sociedade possível.

A prudência. Por fim, uma política da esperança exige a primazia da phrónesis. Quando falo em prudência, não falo de uma atitude cautelosa, mas da phrónesis no sentido aristotélico: sabedoria prática, a capacidade de fazer a coisa certa na hora certa. Existe um abismo profundo entre as regras gerais e as situações particulares. É pela prudência que somos capazes de transpô-lo, traduzindo os princípios em ação.

Sem a prudência, vivemos o império da lei. Sem o bom senso e as sanções sociais informais, tudo precisa ser legislado. Configuram-se situações paradoxais: se tudo é alvo da lei, tudo o que não é contra ela é permitido. Por outro lado, até as mínimas ofensas passam a ser criminalizadas. A política cede lugar à burocracia e a boa vontade é substituída pela regulamentação. É o que vemos em nosso país: deputados tentam se promover a partir da quantidade de leis que aprovaram, por mais inúteis que sejam. Diante de sua quantidade incontável, ninguém mais sabe o que fazer. Todos nos tornamos culpados, em algum momento, de alguma coisa.

De fato, no Brasil de hoje, são raros os casos de prudência política. O que encontramos, às vezes, é o seu simulacro: a astúcia, o jeitinho apresentado como realismo, como sabedoria de vida. Mas, no longo prazo, seus limites se revelam: buscando o ganho eleitoral imediato, os políticos acabam por se ver diante de uma situação incontrolável da qual ninguém parece escapar. Em um momento, Eduardo Cunha, a suprema manifestação da astúcia política, é o rei do Brasil. No outro, mais um prisioneiro destinado a passar o inverno em Curitiba.

Não é fácil adquirir a prudência. Ela pressupõe tudo o que foi dito até agora: a fidelidade aos princípios e a vivência das virtudes. A prudência só é possível para aquele que entende que não criou o mundo. Só é verdadeira para quem busca o bem comum, ou seja, a vida digna para todos os seres humanos. Ela se forma a partir da virtude da esperança, da determinação de buscar o melhor, a partir de uma mentalidade de crescimento e abundância. Pressupõe, para ser eficaz, a confiança; para se tornar profunda, necessita operar a partir da verdade do dom.

Eis, em linhas gerais, uma proposta de uma política da esperança. Não se trata de uma panaceia para todos os nossos males, mas a tentativa de fazer recuar a discussão para os primeiros princípios. Não apresento aqui propostas concretas, a serem aplicadas pelo próximo governo, mas uma busca por uma certa clareza de ideias, o que me parece ser agora mais urgente do que nunca.


Bernardo Guadalupe é professor da UFPR e membro do comitê de pesquisa do Instituto Atuação.

Fonte: Gazeta do Povo

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