No alto de nossas ocupações, e quase como uma penitência de Advento, nós nos propusemos a assistir “Os dois Papas”, filme recém lançado na plataforma Netflix e patrocinada pelo próprio Vaticano, onde, em grande parte, foi rodado.
Façamos então um resumo sobre este filme.
A finalidade, além de mostrar parte da vida e obra do atual pontífice, Francisco (Jonathan Price, incrivelmente parecido), é de desprestigiar, por contraposição, a pessoa de Bento XVI (Anthony Hopkins).
O filme começa mostrando a vitória do conclave que levou a Ratzinger ao pontificado frente aos votos do cardeal Martini e do cardeal Bergoglio, apresentados como sendo da ala progressista da Igreja (verossímil). Diante disso, Bergoglio decide renunciar a seu cardenalato e, para isso, dirige-se ao Vaticano onde se encontra com Bento XVI e, juntos, meditam sobre a vigência da doutrina da Igreja.
Bergoglio explica a Bento XVI que a Igreja deve mudar, como a mesma já havia mudado ao longo de sua vida. “Mudar não é ceder”, disse Bergoglio quando Bento XVI lhe disse: “Ceder é mudar”.
Depois de narrar a vida do jesuíta, seus anos de sacerdote, sua vocação, etc., Bento XVI confessa-lhe que faz tempo que deseja renunciar ao pontificado, mas que o que detia era o temor de que ele mesmo, Bergoglio, fosse nomeado Papa, tendo em vista a eleição de 2005.
Bergoglio narra também seus pesares, especialmente os que o atormentavam por não ter sido compreendido na sua ação a respeito do foi o processo militar na Argentina quando era superior provincial dos Jesuítas. Obviamente que, em toda esta narração, adere-se ao mito da “ditadura má/padres terceiromundistas e guerrilhas, bons”, bem como ao mítico número de “30.000 desaparecidos”.
Ambos se tornam amigos e inclusive Bergoglio termina se confessando ao Papa Bento XVI, o qual, além de dizer que “já não ouve a Deus”, termina pedindo perdão pelos casos de abusos sexuais, pontualmente pelo caso de Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo (claríssima calúnia: todo mundo sabe que foi justamente Ratzinger quem, tão logo erguido ao pontificado, se dedicou pessoalmente em desmontar a mentira deste psicopata).
Basicamente, o filme é uma enorme propaganda para o pontífice reinante e uma desavergonhada acusação de “rigidez”, “pouca abertura” e “conservadorismo” de Ratzinger. No meio de tudo isso, os dois Papas falaram sobre os Beatles, o progresso e o tango.
Conclusão: por um lado, alguns saem com a ideia de que Bento XVI não só foi um encobridor dos caso de abusos sexuais na Igreja, mas que também era um homem que não concordava com esses tempos de “primavera eclesial”; por outro, que Francisco não só foi a melhor opção no último conclave, mas que foi o candidato apoiado pelo hoje Papa emérito.
Ou seja, como dizem os ingleses, story, no history. E propaganda.
Padre Javier Olivera Ravasi, SE
Fonte: Que no te la cuenten