Não devemos acreditar que, para lidar intimamente com Deus e expressar o nosso amor por Ele, seja sempre necessário fazê-lo com palavras. Com efeito – e isto acontece espontaneamente com o progresso da vida espiritual – a alma muitas vezes prefere calar-se para fixar o olhar imperturbável no Senhor, para ouvir o Mestre interior, para amá-lo em silêncio.
A manifestação do seu amor torna-se assim menos impetuosa e menos viva, mas ganha em profundidade o que perde em emoção e exterioridade. A alma expressa o seu amor mais tranquilamente, mas o movimento da sua vontade em direção a Deus é muito mais decisivo e sério. Deixando de lado o raciocínio, deixando de lado as palavras, concentra-se inteiramente num olhar sintético e amoroso sobre Deus, um olhar que, muito melhor do que o raciocínio e os colóquios animados, lhe permite penetrar nas profundezas dos mistérios divinos.
Antes de chegar a este ponto, a alma leu, meditou, analisou; agora, em vez disso, quase saboreando o fruto das suas investigações, firma-se a contemplar Deus no silêncio e no amor. O seu colóquio se torna então um colóquio silencioso e contemplativo, segundo a noção tradicional de “contemplação” entendida como “simplex intuitus veritatis”, isto é, como um simples olhar que penetra a verdade. Mas, repitamos, não é um olhar especulativo, mas um olhar amoroso que mantém a alma em contato íntimo com Deus, num verdadeiro comércio de amizade com Ele: quanto mais a alma o contempla, mais se enamora por Ele e mais sente a necessidade de concentrar o seu amor numa generosidade total; da outra parte, também aqui o Senhor responde à busca e ao amor da alma deixando-se encontrar e sentir, iluminando-a com a sua luz e atraindo-a mais fortemente para si com a sua graça.
Nem sempre a alma poderá perseverar por muito tempo neste olhar contemplativo, neste colóquio silencioso; de vez em quando ela precisará retornar à reflexão, à expressão verbal de seus afetos. De fato, principalmente quando ela ainda não está acostumada a esta forma de oração, será melhor que ela o faça com certa frequência para evitar de cair na vagueza e na distração. Contudo, deve saber que ganha mais nesta pausa silenciosa aos pés do Senhor do que em mil raciocínios e discursos.
Fonte: Il Cammino dei Tre Sentieri