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Por que a católica moderna odeia o véu?

No último dia 15.08.2024, a colunista católica Jules Freitag, de quem já tratamos brevemente aqui, publicou novos stories divulgando um desabafo de uma seguidora sua a respeito do véu:

A seguidora de Jules alega que sente vontade de frequentar a Missa Tridentina, mas que não suporta a “radtradice” de uma ver cartaz na entrada da Igreja sobre como os fiéis devem se vestir e o oferecimento de véu para as moças usarem.

Jules então complementa: “A Igreja Católica não obriga ninguém a usar véu. A Igreja Católica não obriga ninguém a usar saia midi. Sabem onde é que existe a obrigação de usar véu e usar saia abaixo de joelho? Na Contregação Cristã do Brasil. Repitam comigo: ser católico não é fazer cosplay da Congregação Cristã do Brasil.”

Primeiramente, lidemos com o desabafo de sua seguidora, depois com Jules.

“Vaidade das vaidades”

Quantas toneladas de vaidade uma mulher precisa ter para deixar de receber os benefícios espirituais da Missa Tridentina, simplesmente porque não quer usar véu por 1 horinha, uma prática, no mínimo, prescrita pelas Sagradas Escrituras, ordenada pelos Papas e assumida por todas as católicas do mundo por 2 mil anos até a década de 70?

Por que para essas moças se adequar ao costume local por 1h é quase a morte? Se fosse um costume contrário à lei da Igreja ou mau, poderia-se entender. Mas trata-se de um costume imemorial e saudável para a dignidade da liturgia. A ojeriza a se adequar a ele por breves minutos revela a completa falta de humildade e o espírito de insubordinação dessas moças.

A moça ainda acha um absurdo um padre colocar um dress code em sua igreja. Ora, mas dress code é solicitado inclusive pelas autoridades civis em repartições públicas como indicamos aqui. Por que então a moça se revolta quando um padre, que detém maior autoridade que os poderes civis, estipula parâmetros de modéstia para entrar no templo?

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Jules e sua batalha contra o véu

Jules complementa o comentário da seguidora com falsidades. Alega primeiramente que a Igreja não exige o uso do véu. Contudo, demonstramos no artigo “O uso piedoso do véu não é mais obrigatório?” que esta afirmação é falsa.

Todavia, ainda que não fosse mais obrigatório, o uso do véu teria força vinculante nos lugares onde ele é costumeiramente utilizado, pois, segundo o cân. 28 do Código de Direito Canônico:

Cân. 28 — Salvo o disposto no cân. 5, o costume quer contra a lei quer para além dela, revoga-se por costume contrário ou por lei; porém, a não ser que deles faça menção expressa, a lei não revoga os costumes centenários ou imemoriais, nem a lei universal os costumes particulares.

Com efeito, ainda que o uso obrigatório do véu fosse contra legem (contra a lei da Igreja), como não houve sua expressa revogação ou publicada nova norma tornando-o opcional e sendo ele um costume imemorial e centenário, o seu uso continua vigente e vinculante nos lugares em que é costumeiro.

Portanto, prova-se mais uma vez que, ainda que o uso do véu não fosse obrigatório na maioria das paróquias, ele o seria em ambientes que costumeiramente se guarda essa disciplina.

Pergunta-se, ademais: Seria pecado não usar véu nesses ambientes?

A resposta é depende. Se uma moça não cobre os cabelos por puro desaviso, não peca. Contudo, se rejeita cobri-los por desprezo ao costume local ou para espalhar uma moda contrária, peca. Neste sentido, ensina Antonio Royo Marín a respeito de vícios contra a modéstia no vestir:

Vícios opostos. Embora contra esta, como contra as demais virtudes, seja possível pecar por excesso ou por falta, há muitas maneiras de incorrer em um ou outro extremo. Eis aqui as principais desordens que Santo Tomás aponta em um artigo escrito há sete séculos, e que é hoje de palpitante atualidade (II-II, 169, 1).

1ª Quando no modo de vestir se contrariam os salutares costumes de um povo. E cita as seguintes palavras de Santo Agostinho: “Uma convenção estabelecida em uma cidade ou em um povoado, seja pelo uso ou pela lei, não pode ser pisoteada pelo capricho de um cidadão ou de um estrangeiro.” Meditem-no as autoridades encarregadas de velar pela moralidade pública diante da invasão desavergonhada de tantos “turistas” estrangeiros.” (Teologia Moral para Leigos, n. 512.2)

Jules, por fim, diz: “Sabem onde é que existe a obrigação de usar véu e usar saia abaixo de joelho? Na Congregação Cristã do Brasil. Repitam comigo: ser católico não é fazer cosplay da Congregação Cristã do Brasil.”

Corrijamos Jules. A obrigação de usar véu foi originalmente ordenada por São Paulo, um católico. Depois reiterada por São Lino Papa, um católico. Após ensinada pelos Santos Padres e os Escolásticos, todos católicos. Por fim, o Papa Bento XV, um católico, prescreveu o uso do véu no CDC 1917. Portanto, o uso bimilenar do véu prova que ele nunca será uma imitação ou um “cosplay” da Congregação Cristã, fundada apenas no século XX. O deboche de Jules é uma depreciação objetiva e mentirosa de um costume totalmente católico.

Jules também erra sobre os vestidos que cobrem o joelho. Entende ela que só existe a obrigação de cobri-lo na Congregação Cristã do Brasil. Não, Senhora. A Igreja também prescreve a mesmíssima coisa.

Papa Pio XI em 1930:

“Recordamos que um vestido não pode chamar-se decente se tem um decote maior que dois dedos abaixo da concavidade do colo, se não cobre os braços pelo menos até o cotovelo, e escassamente alcança um pouco abaixo do joelho. Ademais, os vestidos de material transparente são inapropriados.” (12 de janeiro de 1930)

Museu do Vaticano:

“Homens: calças pelo menos na altura do joelho. No verão é possível usar calças curtas mas os joelhos devem estar cobertos.

Mulheres: é proibido aparecer com as mangas descobertas. No verão a solução pode ser trazer um cardigan ou uma ombreira para usar dentro dos Museus. Calças ou saias devem cobrir até o joelho. É absolutamente proibido usar top que deixe a barriga aberta”

Código de Vestimenta da Basílica de São Pedro:

Código de vestimenta para a missa

Durante a missa na Basílica de São Pedro, homens e mulheres são obrigados a cobrir seus joelhos e ombros. Os homens podem usar calças e camisas, enquanto as mulheres podem usar saias longas ou vestidos, devendo ambos cobrir os joelhos. As mulheres podem usar chapéus para a missa, entretanto, os homens devem tirar os chapéus antes de entrar na Igreja.

A Basílica de São Pedro inclusive já adotou cartazes ilustrativos sobre como as pessoas devem se vestir:

Código de vestimenta na Basílica de São Pedro

Notemos que essas orientações são dadas não por causa de algum costume local, mas porque os espaços são sagrados e merecem respeito.

Basta. O exposto é suficiente para demonstrar o ridículo que Jules e de sua seguidora estão passando. Essas moças estão chamando a Igreja Católica de cosplay de CCB, isto é, de seita herética, por causa de hábitos e costumes perfeitamente normais em um católico.

O fato de estarem agindo assim só indica o quão apartadas estão de amizades e comunidades eclesiais minimamente saudáveis e conectadas com a Tradição perene da Igreja.

As causas do ódio ao véu

Já expusemos devidamente o erro de Jules e de sua seguidora. Mas a pergunta que nos sobra é: por que a católica moderna é tão avessa ao uso do véu?

Consideramos algumas causas prováveis do fenômeno. Ei-las:

1. Feminismo. A mentalidade igualitária do feminismo que hoje sufoca o mundo não deixou ilesa as católicas, mesmo as que se dizem conservadoras. Conforme temos exposto neste blog, são inúmeras as católicas conservadoras que demonstram ter uma mentalidade tipicamente feminista sobre as coisas. O uso do véu lembra a católica que o mundo não é igualitário e o mero símbolo que o véu traz de uma autoridade acima da cabeça da mulher a incomoda profundamente, pois a principal característica da mulher moderna é a insubordinação e a falta de docilidade. Mulheres, ademais, são ensinadas desde criança a serem iguais aos homens em tudo, isto é, no modo de vida e na maneira de vestir. A simples sugestão de que devem se vestir diferente é, para elas, altamente ofensiva. O que explica a seguidora de Jules se ofender com o simples oferecimento do véu. Católicas feministas um pouco mais formadas podem até aceitar as razões do uso do véu, mas nunca usarão. Impera em suas mentes o princípio “a mulher deve se vestir como ela quiser”.

2. Liberalismo. A ideia de que o homem é liberto de normas e de Deus inundou a mente das católicas. Ainda que elas não rejeitem Deus e a Igreja, muitas terão um liberalismo mitigado expresso com uma profunda desconfiança das regras, dos padrões e dos princípios. Chamarão tais coisas de “rigorismos” e “moralismos” excessivos, mas nunca apresentarão os critérios que consideram normais e corretos. Muitas chegam ao cúmulo da contradição, que só poderíamos representar por meio da seguinte sátira:

23h59: Modéstia é se conformar com o costume local. Por isso é válido usar biquíni na praia e legging na academia.

00h00: Não vou usar “paninho” na cabeça. Não sou obrigada. Dane-se a Missa Tridentina, dane-se o costume.

3. Vaidade. O uso do véu transporta para a mulher uma aparência de pureza e, principalmente, de inocência. A mulher moderna repudia a inocência feminina, pois aprecia a rudez masculina. Ela precisa ser a “mulher forte”, a mulher “sabe tudo”. Num mundo feminista, a inocência, neste caso, é uma fraqueza, uma humilhação. Portanto, para uma católica moderna, é melhor nunca ver um rito venerável como a Missa Tridentina do que passar a impressão de que é frágil.

4. Moda. Muitas católicas rejeitam o véu porque o consideram, assim como Jules, “brega”, “cafona”, “fora de moda”, coisa da Congregação Cristã. Possuem medo de parecerem ridículas. Assim, rejeitam o véu por acharem que ficarão bregas ou porque sua beleza ficará escondida dos outros. Devemos, no entanto dizer, que tudo isso é pura vaidade. Não lhes passa pela cabeça que cobrir a cabeça nunca foi uma questão de moda, mas de respeito para com o marido e de devoção para com Nosso Senhor. E que é perfeitamente louvável usarmos alguma roupa que desgostamos, se o fizermos por penitência ou por reverência a Deus, como ensina Santo Tomás:

“Não peca sempre quem usa de roupas mais vis que a dos demais. Assim, se o fizer por jactância ou soberba, julgando–se superior aos outros, cai no vicio da superstição. Se, porém, proceder desse modo para mortificar a carne ou por espírito de humildade, praticará a virtude da temperança. Por onde, diz Agostinho: Quem usa das coisas mais estritamente que o permitem os costumes daqueles com quem convive, ou é temperante ou e supersticioso. – Mas sobretudo cabe usar de roupas mais vis aqueles que exortam os outros, pela palavra e pelo exemplo, à penitência. Por isso, uma Glosa ao Evangelho diz: Quem prega a penitência traga um hábito de penitente.” (S. Th. II-II, q. 169, a.1, ad 2)

Portanto, uma mulher que acha brega o véu, mas o usa por reverência a Nosso Senhor, pratica verdadeiramente a humildade e tem muito mérito perante Deus.

5. Consciência laxa. Por ser filha do liberalismo, a mulher moderna tende a ser laxa nos hábitos. Quando já se está acostumada a vestir biquínis ou leggings para mostrar o corpo, tirar fotos na academia e mostrar no Instagram, esconder a si mesma num véu é quase uma repreensão. De fato, o uso do véu é muito duro para quem tem consciência laxa, principalmente acerca da modéstia.

6. Igualitarismo no Novus Ordo. Nas paróquias do Rito de Paulo VI, exceto a celebração da Eucaristia e a pregação do Sermão, nenhuma outra função é exclusiva de homens ou de mulheres conforme a conveniência de cada sexo. Todos fazem tudo. É muito mais difícil demonstrar que mulheres não são iguais a homens, porque, de certa forma, o rito imita o modo de vida da mulher moderna. No Rito Tradicional, ao contrário, meninos servem o altar e mulheres usam o véu. Não há espaço para ideologia de gênero.

7. Paróquias ruins. Quase nenhuma paróquia hoje em dia ensina sobre a importância das devoções tradicionais da Igreja. Talvez, a devoção mais negligenciada na formação paroquial seja a do véu. Moças que nunca tiveram o exemplo de suas paróquias têm imensas dificuldades de acolher o uso do véu. Muitas delas se sentem envergonhadas de usarem o véu sozinhas. Contudo, é preciso dizer que se não começarem a praticar o bem nunca será feito. Os tempos modernos, infelizmente, requerem de nós um espírito audaz e sacrificial até mesmo para fazer o bem.

8. Animosidade desordenada contra grupos tradicionais. Há moças que não usam véu por animosidade descontrolada contra grupos tradicionais. Tais moças odeiam tradicionalistas a tal ponto que não suportam sequer a ideia de se assemelharem a uma mulher vinculada a eles. Não são capazes de fazer a distinção de que o véu é um patrimônio católico, não desde grupo ou daquele. Ademais, a incapacidade de ver inclusive as virtudes dos seus desafetos as impedem de olhar a importância do uso do véu com a devida racionalidade.

Remédios

Para todos os problemas citados acima o remédio é o uso do véu e o estudo da sua devoção. Não há nada mais poderoso contra o feminismo e a vaidade do que o véu. Nada mais eficaz contra a laxidão, o liberalismo, a animosidade desordenada contra tradicionais do que o uso e o estudo do véu.

O estudo do véu releva as verdades sobre o matrimônio, sobre a ordem da criação, a nossa devoção para com Deus e sobre a virtude da temperança.

Uma católica de boa consciência nunca irá depreciar o véu piedoso ou tratá-lo como algo não católico. Rezemos para que as moças que assim agem compreendam o mal que dizem e fazem e se juntem a nós pela restauração dessa salutar e poderosa devoção.

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