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[Filotéia] Avareza – São Francisco de Sales

São Francisco de Sales e religiosas

Transcrição dos capítulos do livro Filotéia de São Francisco de Sales – livro que contém conselhos práticos para devoção católica para o leigo em seu dia a dia – que trata sobre o pecado capital da Avareza.

Deve-se tratar dos negócios com muito cuidado, mas sem inquietação nem ansiedade

Grande diferença há entre os cuidados dos negócios e a inquietação, entre a diligência e a ansiedade. Os anjos procuram a nossa salvação com o maior cuidado que podem, porque isto é segundo a sua caridade e não é incompatível com a sua tranqüilidade e paz celestial; mas, como a ansiedade e a inquietação são inteiramente contrárias à sua bem-aventurança, nunca as têm por nossa salvação, por maior que seja o seu zelo.

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Dedica-te, Filotéia, aos negócios que estão ao teu encargo, pois Deus, que os confiou a ti, quer que cuides neles com a diligência necessária; mas, se é possível, nunca te entregues ao ardor excessivo e ansiedade; toda inquietação perturba a razão e nos impede de fazer bem aquilo mesmo por que nos inquietamos.

Repreendendo Nosso Senhor a Santa Marta, lhe disse: Marta, Marta, tu andas muito inquieta e te embaraças com o cuidar em muitas coisas. Toma sentido nestas palavras, Filotéia. Se ela tivesse tido um cuidado razoável, não se teria perturbado; mas ela muito se inquietava e perturbava e foi esta a razão por que Nosso Senhor a repreendeu. Os rios que coleiam suave e tranqüilamente através dos campos levam grandes botes com ricas mercadorias, e as chuvas brandas e moderadas dão fecundidade à terra; ao passo que os rios e torrentes, que se precipitam em borbulhões, arruínam e desolam tudo, sendo inúteis ao comércio, e as chuvas tempestuosas assolam os campos e os prados. Na verdade, obra alguma feita com precipitação saiu jamais bem feita.

Cumpre apressar-se de vagar, conforme diz o antigo provérbio. E Salomão escreveu: Quem corre depressa arrisca-se a cair a cada passo; e sempre fazemos a tempo o que tínhamos que fazer, se o fizermos bem. Os zangões fazem muito barulho e são mais apressados que as abelhas, mas só fabricam a cera e não o mel ; assim, quem em seus trabalhos faz muito ruído e se inquieta demasiado pouco consegue e isso mesmo mal feito.

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As moscas nos importunam por sua multidão e não por sua força; e os grandes trabalhos não nos perturbam tanto como os pequenos em grande número. Enceta, pois, os trabalhos com o espírito tranqüilo, como vão vindo, e despacha-os segundo a ordem em que se apresentam; se quiseres fazer, pois, tudo ao mesmo tempo e em confusão, farás demasiados esforços, que te consumirão, e de ordinário nenhum outro efeito obterás que um abatimento completo, em que sucumbirás.

Em todos os teus negócios, confia unicamente na Providência divina, que só lhes pode dar um bom êxito; age, no entanto, de teu lado, com uma aplicação razoável e prudência, para trabalhares sob a sua direção. Depois disso, crê-me que, se confias em Deus, o resultado será sempre favorável a ti, seja que o pareça ou não ao juízo de tua prudência.

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Na conservação e aquisição dos bens terrestres, imita as crianças que, segurando-se com uma mão na mão de seu pai, com a outra se divertem em colher frutos e flôres; quero dizer que te deves conservar continuamente debaixo da dependência e proteção de teu Pai celeste, considerando que ele te segura pela mão, como diz a Sagrada Escritura, para te conduzir felizmente ao termo de tua vida e volvendo de tempos em tempos os olhos para ele, a ver se tuas ocupações lhe são agradáveis; toma principalmente cuidado que a cobiça de ajuntar maiores bens não te faça largar a sua mão e negligenciar a sua proteção, porque, se ele te abandonar, não poderás mais dar um passo sequer que não caias com o nariz no chão.

Assim, Filotéia, nas ocupações ordinárias que exigem muita atenção, pensa mais em Deus que em teus negócios e, se forem de tal importância que ocupem toda a tua atenção, nunca deixes de levantar de vez em quando os olhos para Deus, como os navegantes que, para dirigirem o navio, mais olham para o céu que para o mar. Fazendo assim, Deus trabalhará contigo, em ti e por ti e teu trabalho te trará toda a consolação que dele esperas.

O espírito de pobreza unido à posse de riquezas

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Malditos, pois, são os ricos de espírito, porque deles é a miséria do inferno. Rico de espírito é todo aquele que tem o espírito em suas riquezas ou a idéia das riquezas em seu espírito; pobre de espírito é todo aquele que nenhuma riqueza tem em seu espírito nem tem o seu espírito nas riquezas. Os alciões fabricam seus ninhos dum modo admirável; a sua forma é semelhante a uma maçã, apenas com uma pequena abertura em cima; colocam-nos à beira do mar e tão firmes e impenetráveis são que, subindo as vagas à praia, nenhuma gota d’água pode entrar, porque se conservam boiando e flutuando com as ondas; permanecem no meio do mar, sobre o mar e senhores do mar. Eis aí a imagem do teu coração, Filotéia, que deve estar sempre aberto para o céu e ser impenetrável ao amor dos bens deste mundo. Se és rica, conserva teu coração desapegado de tuas riquezas, elevando-te sempre acima delas, de sorte que, no meio das riquezas, estejas nas riquezas e sejas senhora das riquezas. Não, não permitas que esse espírito celeste se encha dos bens terrestres; mas esforça-te por estar superior a todos os seus atrativos e a te elevares sempre mais para o céu.

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Grande diferença há entre ter o veneno e ser envenenado. Quase todos os farmacêuticos possuem muitos venenos para diversos usos de seu ofício, mas não se pode dizer que estejam envnenados porque têm o veneno em suas farmácias. Assim também podes possuir riquezas sem que o seu veneno natural penetre até tua alma, contanto que as tenhas só em tua casa ou em tua bolsa, e não no coração. Ser rico de fato e pobre no afeto é a grande ventura dos cristãos, porque ao mesmo tempo têm as comodidades das riquezas para esta vida e os merecimentos da pobreza para a outra. Ah! Filotéia, ninguém confessa que é avarento, todos aborrecem esta vileza do coração. Escusam-se pelo número crescido dos filhos, alegando regras de prudência, que exigem um fundo firme e suficiente. Nunca se têm bens demais e sempre se acham novas necessidades para ajuntar ainda mais. O mais avarento nunca crê em sua consciência que o é. A avareza é uma febre esquisita, que tanto mais se mostra imperceptível quanto mais violenta e ardente se torna. Moisés viu uma sarça ardendo em um fogo do céu, sem se consumir; o fogo da avareza, ao contrário, devora e consome o avarento, sem o queimar; ao menos, ele não lhe sente os ardores e a alteração violenta que lhe causa parece-lhe uma sede natural e suave.

Se desejas com ardor e inquietação e por muito tempo os bens que não possuis, crê-me que és avarenta, embora digas que o não queres possuir injustamente; do mesmo modo que um doente que deseja beber um pouco d’água com ardor, inquietação e por muito tempo, está mostrando com isso que tem febre, embora só que ira beber água.

Não sei, Filotéia, se é um desejo justo o de adquirir justamente o que outros justamente possuem; parece-me que, agindo deste modo, procuramos a nossa comodidade à custa do incômodo ele outrem. Quem possui um bem com pleno direito, não terá mais razão de o conservar justamente do que nós de o desejar justamente? Por que motivo, pois, estendemos nós o nosso desejo sobre a sua comodidade, para o privar dela? Mesmo que este desejo fosse justo, caridoso não seria de modo algum, nem nós quereríamos que outros o tivessem a nosso respeito. Este foi o pecado de Acab, que quis obter por meios justos a vinha de Nabot, o qual a queria conservar com o maior direito. Este rei a desejou por muito tempo e com muito ardor e inquietação e com isso ofendeu a Deus.

Quando o próximo começar a desejar desfazer-se de um bem, então é tempo, Filotéia, de começar a desejar obtê-lo; o seu desejo fará o teu justo e caridoso. Sim, nada tenho que dizer em contrário, se te esforças por aumentar os teus bens com uma tal caridade e justiça.

Se amas os bens que possuis, se eles ocupam teu pensamento com ansiedade, se teu espírito a nada sempre aí de envolta, se teu coração se apega a eles, se sentes um medo muito vivo e inquieto de perdê-los, crê-me que ainda estás com febre e o fogo da avareza ainda não está extinto em ti; pois as pessoas que estão com febre bebem com uma certa avidez, pressa e sofreguidão a água que se lhes dá, o que não é natural nem ordinário nas pessoas sãs; e não é possível agradar-se muito de uma coisa sem se apegar a ela. Se na perda dum bem sentes o coração aflito e desolado, crê-me, Filotéia, que lhe tens um afeto demasiado, pois nada patenteia tão claramente o apego que se tinha a uma coisa perdida, como entristecer-se pela perda.

Nunca fomentes um desejo completo e voluntário por uma coisa que não possuis; não prendas o coração em bem algum teu; não te entristeças nunca das perdas que sobrevierem; então, sim, terás um motivo razoável de pensar que, sendo rica, de fato és, entretanto; pobre de espírito e, por conseguinte, do número dos escolhidos, porque o reino dos céus te pertence.

Modo de praticar a pobreza real, permanecendo na posse das riquezas

O célebre pintor Parrásio desenhou um retrato do povo ateniense, que foi tido em conta de muito engenhoso; porque, para pintá-lo com todos os traços do seu caráter leviano, variável e inconstante, ele representou em diversas figuras do mesmo quadro os caracteres opostos da virtude e do vício, da cólera e da brandura, da clemência e da severidade, do orgulho e da humildade, da coragem e da covardia, da civilidade e da rusticidade. Dum modo semelhante, Filotéia, eu queria que teu coração unisse a riqueza com a pobreza, um grande cuidado com um grande desprezo dos bens temporais.

Esforça-te ainda mais que os filhos do mundo por conservar e aumentar os teus bens; pois, não é verdade que aqueles a quem um príncipe incumbiu de cuidar de seus parques, os cultivarão e procurarão tudo o que os possa embelezar, com muito maior diligência do que se fossem seus próprios? E por que isso? É porque os consideram como propriedade de seu príncipe, de seu rei, a quem querem agradar. Filotéia, os bens que temos não nos pertencem e Deus, que os confiou à nossa administração, quer que os façamos frutuosos; é, portanto, prestar um serviço agradável a Deus cuidar deles com diligência; mas este cuidado há de ser muito mais acurado e maior que o das pessoas do mundo, porque elas trabalham por amor delas mesmas e nós devemos trabalhar por amor de Deus. Ora, como o amor de si mesmo é um amor inquieto, turbulento e violento, o cuidado que dele procede é cheio de perturbação, pesar e inquietação; mas o cuidado que procede do amor de Deus, que enche o coração de doçura, tranqüilidade e paz, é necessàriamente suave, tranqüilo e pacífico, mesmo quanto aos bens temporais. Tenhamos sempre um espírito calmo e uma tranquilidade de vida inalterável, em conservando e aumentando os bens deste mundo segundo as verdadeiras necessidades e ocasiões justas que nos ocorrem; porque, enfim, Deus quer que nos sirvamos destas coisas por seu amor.

Mas presta muita atenção que o amor-próprio não te engane; ele imita às vêzes tão bem o amor de Deus que se diria ser este; e, para evitar o engano e o perigo anexo de transformar o cuidado legítimo numa verdadeira avareza, é preciso que, além do que deixei dito no capítulo precedente, pratiques muitas vezes a pobreza de um modo real e efetivo no meio de tantas riquezas!

Reserva freqüentemente uma parte de teus bens para empregá-la em favor dos pobres. Dar um tanto do que se possui é empobrecer um outro tanto, e quanto mais se dá tanto mais se empobrece. É verdade que Deus te recompensará liberalmente nesta e na outra vida; pois nada faz prosperar tanto os bens temporais como a esmola cristã; mas, enquanto esperas a recompensa, participarás sem dúvida dos merecimentos da pobreza. Ah! que santa e rica pobreza a que nos granjeia a escola cristã!

Ama os pobres e a pobreza, que este amor te fará verdadeiramente pobre, porque, como diz a Escritura: Nós nos tornamos semelhantes aos que amamos. O amor iguala as pessoas que se amam. Quem adoece, diz S. Paulo, com quem eu não enferme? E bem podia ele dizer: Quem é pobre, que eu não o seja com ele? O amor o fazia semelhante ao que amava. Se, pois, amas aos pobres, participarás de sua pobreza e lhes serás semelhante.

Mas, se amas os pobres, deves ter gosto de te achares entre eles, de os ver em tua casa, de os visitar em suas casas, de falar com eles, de os ter perto de ti, na igreja, nas ruas e em outras partes. Sê pobre ao falar com eles, conformando-te à sua linguagem, como um igual com o seu igual: mas sê rica em lhes estender a mão, fazendo-os participar do que Deus te concedeu mais do que a eles.

Queres fazer ainda mais, Filotéia? Não te contentes, então, em ser pobre com os pobres, mas sê ainda mais pobre do que eles. E como assim? hás de perguntar-me. Já me vou explicar: não duvidas de certo que o servo é inferior a seu dono; entrega-te, pois, ao serviço dos pobres; assiste-os junto ao leito e com tuas próprias mãos, se estão doentes; prepara-lhes a comida à tua própria custa; sê a sua roupeira e engomadeira. Ó Filotéia, servir assim aos pobres é reinar mais gloriosamente que os reis.

Quanto a este ponto, nunca me sacio de admirar o zelo de S. Luís, um dos maiores reis que o sol jamais viu; e um grande rei, digo, em todo o gênero de grandezas. Servia frequentemente à mesa dos pobres que alimentava e quase todos os dias mandava assentarem-se dois ou três à sua própria; muitas vezes comia o que os pobres deixavam, com um amor incrível por eles e por sua condição. Visitava a miúdo os hospitais e servia de preferência aos enfermos que tinham uma doença mais asquerosa, como os leprosos, os ulcerosos e os que eram comidos de um cancro; e era de joelhos e com a fronte descoberta que lhes prestava estes serviços, respeitando neles a pessoa de Nosso Senhor e amando-os com um amor tão terno como uma mãe a seus filhos. Santa lsabel, filha do rei da Hungria, misturava-se muitas vezes entre os pobres e, para divertir-se com as damas do seu palácio, vestia-se, às vezes, como uma pobre mendiga, dizendo-lhes: Se eu fosse pobre, vestir-me-ia assim. Ó meu Deus, Filotéia, este príncipe e esta princesa eram, na verdade, pobres em suas riquezas e ricos em sua pobreza! Bem-aventurados aqueles que são assim pobres, porque o reino dos céus lhes pertence. Tive fome e me destes de comer, dir-lhes-á o Rei dos pobres e dos reis no dia tremendo do juízo final. Estava nu e me vestistes; possuí o reino que vos está preparado desde o começo do mundo.

Não há ninguém que em certas ocasiões não sinta falta de algumas comodidades da vida. Sucede às vezes, que fora das cidades falte o necessário para receber a visita imprevista dum amigo; não se tem a tempo os vestidos necessários para aparecer com honra, segundo as regras da sociedade, numa reunião, as melhores provisões de vinho e trigo já são gastas e só resta o que havia de pior, sem que se possa suprir.

Numa viagem tudo há de faltar: quarto, cama, alimentos, serviços. Numa palavra, por mais rico que se seja, sempre acontece que se sinta necessidade de alguma coisa e nesses momentos se é verdadeiramente pobre. Aceita, pois, Filotéia, de bom grado, essas ocasiões e suporta os seus incômodos com alegria.

Se te sobrevier algum desses infortúnios e acidentes grandes ou pequenos de que a vida está cheia, como seja uma tempestade, um incêndio, uma inundação, alguma seca, um ladrão, uma demanda, então é o tempo azado de praticares a pobreza, recebendo com calma esta perda de bens e conformando-te a ela com toda a firmeza da paciência cristã.

Esaú apresentou-se a seu pai com os braços cabeludos e Jacob fez o mesmo. Mas, porque os cabelos que cobriam os braços de Jacob não estavam presos na sua pele, mas somente nas suas luvas, podiam-se arrancar sem o machucar e ferir; mas os cabelos e os braços de Esaú, como tinham crescido aí naturalmente e estavam presos, não se podiam arrancar sem uma grande dor e resistência. Eis aí um quadro fiel do apego de alguns às riquezas e do desapego de outros.

Quando nosso coração se prende aos bens, se a tempestade ou o ladrão ou o demandista nos arranca alguma parte deles, que de prantos que de aflições, quanta impaciência! Mas, quando lhes damos o cuidado que Deus quer que tenhamos e não o coração, se os perdemos, por acaso, de modo algum perderemos a razão e a tranquilidade.

Os servos fiéis de Deus não se apegam mais a seus bens que a suas roupas, que podem vestir e despir, quando quiserem; mas os maus cristãos conservam-nos presos a si como os animais o seu pêlo.

As riquezas de espírito no estado de pobreza

Se és de fato pobre, Filotéia, esforça-te, então, por sê-lo também de espírito; faze da necessidade uma virtude e negocia com esta pedra preciosa da pobreza segundo o seu alto valor. O mundo não o conhece e não sabe estimar o seu valor; entretanto, tem um brilho admirável e é dum grande preço.

Tem um pouco de paciência; em tua pobreza estás em muito boa companhia. Nosso Senhor, a SS. Virgem, sua Mãe, os apóstolos, tantos santos e santas foram pobres e, podendo ter riquezas, as desprezaram. Quantas pessoas que podiam ocupar no mundo um lugar saliente, apesar de todas as contradições dos homens, foram procurar com avidez nos conventos ou nos hospitais a santa pobreza! Muito se esforçaram por achá-la e bem sabes quanto o custou a Santo Aleixo, a Santa Paula, a S. Paulino, a Santa Ângela e tantos outros. E a ti, Filotéia, ela se apresenta espontaneamente; nem é preciso que a procures e te esforces por achá-la; abraçá-la; abraça-a, pois, como a querida amiga de Jesus Cristo, que nasceu, viveu e morreu na maior pobreza.

Tua pobreza, Filotéia, tem duas grandes vantagens, que te granjearão uma quantidade imensa de merecimentos. A primeira é que, não provindo de tua escolha, foi unicamente a vontade de Deus que assim determinou, sem que tua vontade tenha tido ingerência alguma. Ora, tudo o que nos vem únicamente por disposição da divina Providência nos torna sempre muito mais agradáveis a Deus, contanto que o recebamos de boa mente e com um verdadeiro amor à sua santa vontade. Em geral, em toda parte onde há menos da nossa vontade, há mais da de Deus. A conformação pura e simples com a sua vontade dá a paciência uma grande pureza.

A segunda vantagem é que esta pobreza é verdadeira e realmente pobre. Quero dizer com isso que uma pobreza estimada, louvada, prezada, socorrida e assistida só faz as vezes da riqueza ou ao menos não torna alguém tão pobre como poderia ser; mas uma pobreza desprezada, rejeitada, censurada e abandonada é uma pobreza verdadeira e real. Tal é em geral a pobreza das pessoas que vivem no mundo; como não são pobres por própria escolha, mas por necessidade, não se faz caso delas e por isso a sua pobreza é mais pobre que a dos religiosos, conquanto esta tenha uma excelência e merecimentos particulares, em vista ela escolha feita e do voto pelo qual se adstringem a ela.

Não te queixes, pois, Filotéia, de tua pobreza, porque só nos queixamos do que nos desagrada. E, se a pobreza te desagrada, não és pobre, mas rica de espírito e de afeto. Não te preocupes que te faltem os socorros necessários; é exatamente nisso que consiste a perfeição da pobreza. Querer ser pobre e não querer suportar os incômodos da pobreza é uma grande ambição; sim, é querer as honras da pobreza e a comodidade da riqueza.

Não te envergonhes de ser pobre nem de pedir esmolas por amor de Deus; recebe com humildade o que te derem e sofre com mansidão o que te recusarem. Lembra-te muitas vezes da viagem de Nossa Senhora ao Egito, levando o Menino Jesus, e de tudo o que sofreu, tantos desprezos e misérias. Se viveres assim, serás riquíssima em tua pobreza.

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