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O centurião “homossexual” – Domingo da Palavra de Deus.

Jesus cura o servo do centurião
Por Padre Javier Olivera Ravasi

Hoje, dia 26 de janeiro, foi instituído por Roma, há pouco tempo, como o Domingo dedicado à Palavra de Deus, com a finalidade de fomentar a leitura das Sagradas Escrituras.

E isso é algo bom…

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Porque, ao que parece, lemos pouco. Mal e pouco.

Alguns chegam a dizer que, nós católicos, só temos contato com as Escrituras durante a Missa dominical. Então, se calculamos que só 4,5% das pessoas de nosso país [Argentina] assiste à Missa aos domingos (e consideramos, sendo otimistas, que 1% presta atenção ao que se lê), temos como resultado que apenas alguns têm idéias do que se trata a Bíblia.

Assim estamos.

Então eu poderia hoje exortá-los e dar um belo sermão sobre a importância das leituras das Escritura, começando por dizer que, se abríssemos a Bíblia tantas vezes quanto consultamos nossos celulares, em menos de um ano poderíamos lê-la completamente.

Etc., etc., etc., e tudo acabaria bem.

Mas não. Quero aproveitar para explicar como, quando não lemos a Bíblia, in medio Ecclesiae, ou seja, na Igreja, ou seja, conforme o ensinamento bimilenário da Igreja (que não tem nada a ver com levar o texto a um templo), outro a lerá por nós e, por fim, receberemos uma mensagem tergiversada.

Para isso vamos usar o texto do Evangelho do dia de hoje, segundo a Missa que celebramos conforme “a forma extraordinária”.

1. A Interpretação católica

Vimos o texto do Evangelho de São Mateus, o texto do Centurião que pede ao Senhor para curar seu criado. Se estivermos dentro do 1% dos que prestam atenção à Palavra de Deus e se temos ainda temos uma cosmovisão católica, seguramente recordaremos de duas coisas:

a) Que Jesus louvou a Fé de um militar. E não só louvou, mas também disse que não encontrou “fé maior em todo Israel” que a sua. Ou seja: louvou a um “autoritário”, a um “repressor”, diriam os progressistas, que mal lhes pese…

b) Que o Verbo Eterno do Pai, a Palavra de Deus feito carne, por sua própria vontade, pode operar milagres até mesmo à distância, dependendo da Fé que tenhamos. Tão importante foi o milagre do centurião que suas palavras, quase idênticas, chegaram a nós pela Santa Missa no momento de elevar o Corpo do Senhor (“Não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”).

O fato que acabamos de ler encontra-se no Evangelho de São Mateus, mas também é relatado em São Lucas, ainda que de modo diferente.

Em São Lucas, diz-nos que o “rapaz” era “um servo” do centurião e que este não foi pessoalmente, mas enviou alguns judeus primeiro e alguns amigos depois, dizendo que o servo estava quase morrendo…

Também se encontra um episódio parecido em São João (Jo 4,46) que alguns confundem com este, mas que também se trata de outro milagre onde Cristo cura o filho de um funcionário da corte, também em Cafarnaum.

E mesmo que à primeira vista poderia parecer que eram episódios diferentes, os Santos Padres (São João Crisóstomo, Santo Agostinho e mesmo Santo Tomás) dizem que se tratou de um mesmo episódio narrado de maneira diferente (alguns dizem que mandou uma embaixada para pedir esse favor a Jesus, por exemplo, algo que talvez seja o mais provável).

Ou que primeiro mandou uma embaixada e logo depois foi ele próprio, ou que simplesmente mandou uma embaixada com sua mensagem.

Seja como for, até aqui, uma interpretação católica com as dúvidas esclarecidas.

2) A interpretação progressista: o centurião homossexual

Uma interpretação contrária aos ensinamentos da Igreja, e que vem pupulando a algum tempo entre vários biblistas de viés progressista, é o que diz que o Centurião era, na realidade, um homossexual empedernido que ainda não havia saído do armário.

É narrada segundo o que alguns vêm repetindo (dentre outros, o biblista santiagueño Ariel Álvarez Valdés) na Revista “Cristerio”.

Resumo:

– O “rapaz” ou “servo” do Centurião, na realidade, não era um criado qualquer, mas um jovem homossexual, par do militar.

Por isso não quer que se vá até sua casa, por vergonha, para que não o descubram.

– Cristo nunca condenou o homossexualismo.

Vejamos como culmina então este artigo:

“Não o repreende (ao centurão) por causa de sua forma de vida, nem o rechaça, nem o condena… Simplesmente não a julgou (a homossexualidade). Não entrou em questões de sexualidade, seguramente por considerá-las de índole privada… Proibiu rir das minorias sexuais… Ensinou (que): ‘Todo aquele que disser a seu irmão ‘raca’ será condenado pelo Sinédrio’ (Mt 5,22). As Bíblias costumam traduzir esta palavra por ‘insensato, néscio’… O que Jesus disse… foi: ‘Todo o que diga a seu irmão ‘maricão’ será condenado pelo Sinédrio…'”

(E termina)

“Jesus tinha claro que, entre o religioso e o humano, só o humano é intocável e fundamental. Às vezes, para salvar os direitos da religião, enfraquecemos os direitos humanos”.

Bom, vimos aqui então a interpretação destes “porno-teólogos”, como foram chamados por Cornelio Fabro; os que, ou em defesa própria ou em defesa de uma agenda mundial, tentam ler a Bíblia como os protestantes, ou seja, fora da Tradição da Igreja.

Conclusão

Quando o demônio quis tentar o Senhor, não o fez de modo bruto. Fez uso, nem mais nem menos, das Sagradas Escrituras, por isso que alguns, em um misto de piada e seriedade, dizem que o patrono dos biblistas é o próprio demônio…

Não; não é assim; o patrono é São Jerônimo, grande tradutor da Bíblia.

O que, sim, devemos tomar como conclusão é que devemos ler mais as Escrituras, com um bom comentário católico (o de Straubinger é excelente), pois são Elas que nos trazem sossego para a alma, tranquilidade no obrar, matéria para meditar.

Lendo a Bíblia “in medio Ecclesiae”, ou seja, conforme a Tradição e o Magistério bimilenar da Igreja, é quando então se faz presente aquilo que São Paulo nos disse:

“a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante do que espada de dois gumes, que penetra até às fronteiras da alma e do espírito, até as juntas e medulas, e examina os sentimentos e pensamentos do coração” (Hb 4,12).

Peçamos a Maria Santíssima, que examinava as Escrituras, que nos conceda esta graça de voltarmos a seu Filho, que é Palavra de Vida.

Ave Maria Puríssima.

P. Javier Olivera Ravasi, SE
26 de janeiro de 2020

Fonte: Que no te la cuenten

Sobre Padre Javier Olivera Ravasi

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