Nos estudos do Instituto Shibumi, a nossa preocupação era descobrir por que ficamos tanto tempo afastado do catolicismo, gastando muita energia em coisas sem importância. Nosso objetivo não era apenas descobrir as ideias que permeiam o “inconsciente coletivo”, mas também perceber como a ideia influencia concretamente a vida das pessoas, ou seja, como se concretizam em comportamentos automáticos e irrefletidos para geração de hábitos sociais.
Sei que utilizei o termo “inconsciente coletivo”, mas não o aplico no sentido próprio de Jung, o qual se sustenta em um platonismo gnóstico infantil, mas mais, conforme expliquei, no sentido de espírito do tempo, ou seja, as ideias culturais que influenciam o comportamento das pessoas, mas cujo princípio a maioria delas desconhecem.
Pois bem. Aplicarei o método shibumi para contribuir com o diálogo a respeito da Campanha da Fraternidade 2021, cujo tema é o ecumenismo. No título, o termo ecumenismo está entre aspas, porque me refiro ao falso ecumenismo, onde as religiões são colocadas em pé de igualdade e a “convivência” (um espírito pacifista, isto é, uma falsa paz) é considerada mais importante que a fé católica, em detrimento do verdadeiro, onde a busca da conversão do próximo à fé católica (a verdadeira) é o fim a ser buscado.
A questão é simples de formular: Por que quanto mais a Igreja insiste no caminho dito ecumênico, mais perde fiéis, seja implicitamente (a pessoa considera-se católica, mas se diz não praticante), seja por apostasia explícita (virou protestante)?
No Brasil, tanto o Censo quanto pesquisas têm mostrado que à medida que o número de católicos tem diminuído, o de protestantes, sobretudo os evangélicos, tem aumentado. Nos EUA, por outro lado, embora o nominalmente o número de católicos tem aumentado, não se trata de um crescimento confiável. Conforme bem analisa Michael Voris em um capítulo do seu livro Resistência, as estatísticas enganam, pois a tendência demográfica é de colapsar em uma geração (pois em sua maioria são católicos tíbios que desconhecem a própria fé).
No Concílio Vaticano II, foi dado um enfoque especial à estratégia pastoral do ecumenismo. Então novamente a pergunta: por que este caminho ecumênico está enfraquecendo socialmente, em vez de fortalecer, o catolicismo?
Mesmo os teólogos de facebook conseguem responder isso com facilidade. Como o que se viu após o Concílio foi a aplicação de um falso ecumenismo, criou-se um espírito de indiferentismo religioso e, junto com isso, o relativismo da fé. Ora, se uma mera convivência social passa a ser mais importante do que a verdade sobre a salvação da alma, ou se projetos políticos passam a ser mais importantes do que a defesa da verdadeira doutrina, o católico em contato com o mundo mudaniza-se ou protestantiza-se em vez de catolizar-se. E se permanecer católico, será apenas nominalmente, pois seu espírito será de protestantismo, isto é, deseducado para relativizar e sentimentalizar a fé.
Diante desta explicação, é possível dar nota 10 para o teólogo facebookiano. Todavia, o método shibumi não está interessado apenas nesta explicação mais geral. Com efeito, o falso ecumenismo transmite um ensinamento nocivo para a fé, incutindo no fiel um espírito de indiferentismo religioso e, consequentemente, de relativismo da própria fé. Todavia, como isso afeta concretamente a vida de uma pessoa? É isso que tentarei desenhar e explicar a partir de agora.
Em Noivos & Esposos, Monsenhor Álvaro Negromonte ensina as qualidades prioritárias que devem ser consideradas na escolha de uma pessoa para namorar e casar (sim, pois o namoro serve de preparo ao casamento, não para enrolação ou distração afetiva). Eis a ordem das qualidades, da mais importante à menos:
1) Religião;
2) Morais;
3) Intelectuais;
4) Físicas;
5) Econômicas.
A mais importante de todas é a religião seguida da moralidade. De fato, pois de nada adianta se declarar uma religião se não segue os preceitos morais da mesma. Com a religião sendo o mais importante, mas sem negligência do valor moral, assegura-se a solidez da devoção e a reta intenção da religiosidade do “cremoso(a)”. Outro detalhe interessante: a qualidade intelectual é superior à física na escolha amorosa. Corretíssimo! Afinal, o espiritual é superior ao material. Por fim, a qualidade econômica é a menos importante dentre as listadas, mas vai explicar isso aos interesseiros(as)…
Enfim, não é o objetivo deste artigo discutir estes critérios (eles estão muito bem explanados no livro), mas apenas mostrar que a harmonia religiosa é a qualidade mais importante a ser observada em um discernimento amoroso que visa o casamento. Por quê? Ora, o Amor que se tem por Deus reflete, inevitavelmente, o amor que se tem pelo próximo. Quanto mais se ama a Deus, mais disposto a amar o cônjuge. Além disso, a fidelidade a Deus mais facilmente garantirá a fidelidade matrimonial. As coisas são assim, porque Deus é a fonte do amor e, portanto, o amor a Deus antecede e garante o amor do casal. Em última instância, o marido e a esposa amam-se, porque, antes, amam a Deus.
E qual é o meio de amar a Deus? A religião! Portanto, tal critério é o mais importante e deveria ser inegociável, haja vista que o amor a Deus é o aspecto mais importante de toda a vida.
Entretanto, o que faz o falso ecumenismo? A lógica deste “ecumenismo” implementa o indiferentismo religioso no coração das pessoas. Deste modo, a qualidade religiosa na escolha amorosa passa a ser secundário, e, consequentemente, os católicos passam a casar com protestantes, pagãos ou mesmo ateus.
O meu guru, o Padre Geraldo Pires de Sousa, em seu livro “Perante a Moça” destina um capítulo onde dá 10 razões mais 2 considerações fortes para PROVAR que não é nem um pouco recomendável que um católico case com uma protestante. Para o fim deste artigo, citarei um dos argumentos, o qual diz respeito aos filhos.
Há um detalhe na vida conjugal que passa despercebido ao homem moderno. As crianças aprendem o amor ao observar o amor que o pai nutre pela mãe e vice-versa. Geralmente filhos oriundos de famílias desestruturadas são problemáticos, porque em sua educação faltou modelo de amor. E tal modelo não se encontra tão facilmente nas novelas, filmes, desenhos e séries de nossos dias.
O amor do pai pela mãe e vice-versa, por sua vez, como já disse, depende do amor que ambos têm por Deus. Ora, um católico ama a Deus de um modo diferente de um protestante, suas religiosidades são diferentes, pois suas doutrinas espirituais diferem e não são harmonizáveis. E mesmo que pratiquem uma tolerância de “um não se meter na religiosidade do outro”, será inevitável aos filhos não estranharem a diferença religiosa de seu pai e de sua mãe. E isso criará uma tensão durante o desenvolvimento espiritual da criança.
Diante desta tensão, os filhos buscarão resolver interiormente esses problemas de duas formas: 1) pelo ceticismo, acreditando que a religião é uma bobagem; 2) pelo relativismo, acreditando que todas as religiões são boas.
Ambas as soluções são falsas, pois é uma tentativa de distorcer a realidade para amenizar um problema emocional, fruto de uma contradição que é insuperável. Seja pela via do ceticismo, seja pela via do indiferentismo religioso, o filho não será um católico convicto. No primeiro caso, será um cético ateu; no segundo, um protestante ou um espiritualista genérico (pagão).
E para não deixar dúvida de que, através do casamento misto, é o catolicismo que sai perdendo (pois o filho negociará a verdade para resolver um problema que é de cunho sentimental), o Padre Geraldo Pires de Sousa apresenta as estatísticas da Alemanha:
Moço consciencioso impressiona-se com os dados fornecidos por trágica experiência neste assunto de apostasia nos casamentos mistos. Assim, por exemplo, em sete cidades da Alemanha perdeu a Igreja, devido a tais casamentos, nada menos que… 92.244 Católicos, no espaço de nove anos. Já em 1926, só num ano, procederam igualmente 65.167 católicos. Ora, sem dúvida, é isso enorme crueldade para com os filhos que, se nascessem de um casamento puramente católico, poderiam possuir a verdadeira fé e nela perseverar. Expô-los a tanto infortúnio só por um capricho de amor?! Que dizes a isto, leitor?
Voltemos ao método shibumi. Como então o falso ecumenismo, a exemplo daquele que está no texto-base da Campanha da Fraternidade de 2021 , afeta uma pessoa concreta?
Resposta: levando-a ao desamor, pois o Amor a Deus pela religiosidade católica é relativizado, passando a encarar a religião não como uma matéria de verdade e de salvação da alma, mas como um aspecto social de cunho privado: o importante é se sentir bem.
Uma vez aceitando este pressuposto (se consciente ou inconscientemente é indiferente para a propagação do fenômeno), na hora de casar, inverterá a ordem das qualidades, deixando o aspecto da religião em segundo plano. Aumentarão o número de casamento mistos. Casamentos estes que por si mesmos já aumentam em muito os problemas conjugais.
Mas suponhamos o menos pior dos casos, em que os esposos, apesar da religião diferente, possuam certas virtudes morais e o casamento consiga se manter. Mesmo assim, os filhos que virão formarão a geração seguinte, e esta será menos católica, pois estará, no mínimo, acostumada a relativizar a fé para encontrar falsas soluções para problemas sentimentais e morais.
Portanto, passando pela família, o falso ecumenismo leva ao desamor e à diminuição do catolicismo. Assim, quanto mais a pastoral, a exemplo desta Campanha da Fraternidade de 2021, falar “ecumenismo, ecumenismo, ecumenismo” (o falso), mais o catolicismo irá definhar.
Nem todo mundo que diz “ecumenismo”, “ecumenismo” entrará no Reino dos Céus, mas somente aquele que guardar a verdadeira fé, cumprindo a vontade do Pai. Muitos “ecumenistas” dirão no dia do Juízo: Mas nós não defendemos a “campanha da fraternidade ecumênica”? Nós não pregamos a “justiça social”, o progresso contra o anacronismo da tradição? Por causa da igreja, não buscamos a “paz e a tolerância social”? E então receberão como resposta de Deus: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. (Cf. Mt 7, 21-23).
Menos “ecumenismo”, mais defesa da fé, contra a teologia moderna. É nisso que eu acredito.
Por fim, sendo a família a célula da sociedade, a recuperação do catolicismo passa pelo acolhimento da verdadeira doutrina, o que significa não mais negociar a própria fé para visar ganhos que só aparentemente são bons, já que a longo prazo inevitavelmente serão catastróficos para a fé. Afinal, não podemos esquecer que o primeiro e mais importante mandamento é Amar a Deus sobre todas as coisas.