Se você é um católico tradicional, os inimigos da Tradição detestam o que você e sua família mais amam. E eles deixaram claro que não haverá trégua para nós.
No último verão, pouco antes do Deus das Surpresas ordenar que fosse revelado que os dados de localização dos usuários do Grindr são acessíveis ao público, o Papa Francisco emitiu um documento que não chegou a surpreender os católicos tradicionais que não estavam com a cabeça enterrada na areia: o Motu Proprio Traditionis Custodes.
Eu ouvi e li um monte de ideias do tipo: “Agora é a hora de mostrarmos aos nossos bispos como nós somos obedientes. Todos nós precisamos escrever cartas para eles agradecendo-lhes por nos permitirem o acesso à Missa antiga nos últimos anos.”
Fiquei impressionado, no entanto, quando um comentador comparou isso a uma atitude de submissão a um pai abusivo. Quem se submeteria aos abusos de um pai cruel, especialmente se seus irmãos e irmãs também estivessem sofrendo? E se os seus filhos fossem agredidos por um pai desse tipo? Você curvaria e tentaria rastejar perante um homem assim?
Fomos espancados pelo nosso próprio pai em nome da misericórdia – e marginalizados em nome da unidade. Abusando do seu cargo, ele violou os nossos direitos à Missa antiga, aquela que nossos antepassados sangraram e morreram para transmitir a nós.
Como um amigo recentemente comentou comigo e minha esposa, “a liturgia tradicional é nosso direito de nascença.” Recuso-me a implorar e rastejar pelo que pertence aos meus irmãos e a mim por herança, assim como não agradeço aos curadores de um museu de arte por se absterem de pintar grafites em todas as esculturas renascentistas.
E apesar de todos os católicos tradicionais que enviaram cartas lambendo as botas dos seus pastores (talvez fazendo-lhes também um donativo extra, “apenas para mostrar o quanto somos dedicados e gratos“) –, é preciso admitir que isso não funcionou.
Em 18 de dezembro, o prefeito da Congregação para o Culto Divino, arcebispo Arthur Roche, publicou sua própria reiteração indicando que as surras continuarão até que nos comportemos como eles querem. O novo documento restringiu ainda mais a celebração de Sacramentos no rito antigo, vetando ordenações, batizados e confirmações.
O Salmista tem algumas palavras que bem representam os fiéis tradicionais durante estes tempos sombrios:
“E eles me retribuíram com o mal pelo bem que fiz, e com ódio pelo meu amor.” (Salmo 108)
“Bendito seja o Senhor meu Deus, que adestra as minhas mãos para a luta, e os meus dedos treina para a guerra… Atingi-os com um raio e dispersai-os; lançai vossas flechas, e afugentai-os. (Salmo 143)
“Julgai, ó Senhor, aqueles que me enganaram: derrubai os que lutam contra mim. Trazei a espada, e fechai a boca daqueles que me perseguem.” (Salmo 34)
Em vez de tentar apaziguar os nossos inimigos, os católicos tradicionais precisam reconhecer que estão em guerra com eles. Temos todas as razões do mundo para isso.
Minha família descobriu a Missa tradicional em nossa diocese há 12 anos. Desde então, nós sacrificalmente devotamos o nosso amor a ela, ano após ano. Contribuímos para fazer o novo altar-mor e o retábulo, assumimos funções voluntárias na paróquia com outras famílias, começamos a acordar cedo todos os domingos para levar nossos filhos para servirem à Missa Solene (eles mesmos nos repreendem se demoramos um pouco mais para sair de casa nas manhãs de domingo, temendo que não chegarão à sacristia a tempo).
Minha esposa e eu sempre tivemos o cuidado de não criticar o Santo Padre diante dos nossos filhos – sempre quisemos inculcar neles uma salutar devoção à cátedra do Pontífice Romano, ainda que tenhamos uma justa compreensão dos seus limites (e dos pecados do ocupante).
Dois dias depois que a Traditionis Custodes foi publicada, minha família e eu frequentámos uma paróquia de Missa tridentina em um dos nossos habituais locais de férias de verão. O padre de lá fez comentários públicos sobre o Motu Proprio. Na viagem de volta ao nosso condomínio de aluguel, finalmente explicamos aos nossos filhos que o Papa Francisco não gosta da Missa tradicional e tem tentando acabar com ela. Meus filhos, em sua inocência, ficaram espantados.
Creio que meus filhos entendem que vêm fazendo algo bom e nobre toda semana enquanto abotoam suas batinas, mas ouvir sobre o Motu Proprio foi como descobrir que o seu pai espiritual não estava feliz com eles.
Existem momentos em que a ira é justa. Se essa situação não fizesse o meu sangue ferver, eu seria qualquer coisa, menos um homem.
Se você é um católico tradicional, os inimigos da Tradição detestam o que você e sua família mais amam. E eles deixaram claro que não haverá trégua para nós.
Por isso devemos rejeitar como equívoca qualquer ideia de começar a assistir às celebrações “reverentes” da Missa nova supondo que, com isso, eles irão nos recompensar assim que lhes mostremos que sabemos agir com diplomacia.
Se você está disposto ao combate, permaneça com esse espírito. Se não está, é melhor começar a ficar.
O fato de o Papa Francisco e os salteadores do Windswept House odiarem o que fazemos só deve nos encorajar ainda mais a perseverar.
E, a menos que o seu bispo seja um daqueles bons que ignoram as diretrizes do Motu Proprio e sua atualização maligna, deixe-o saber que você está a um passo de só destinar donativos para a diocese com condicionamento de fins, de fazer contribuições destinadas exclusivamente à compra, por exemplo, de um novo limpador de neve, ou para o custeio de reparos maiores no templo. E quando doar algum valor, envie junto um bilhete para que ele tenha ciência de que você está furioso por ter a sua paróquia e comunidade tradicional destruídas.
Uma parte específica da resposta de Roche no Dubia revela muito sobre a motivação deles: permite-se que uma igreja paroquial abrigue o rito tradicional “quando não for possível encontrar uma igreja” só para ele. Mas, estabelecem eles, a “celebração não deve ser incluída na programação das Missas paroquiais, uma vez que é assistida apenas pelos fiéis que são membros do referido grupo“.
Esclarece, ainda, que tais provisões são para “lembrar [os fiéis] que esta é uma concessão para o seu bem… e não uma oportunidade para promover o rito anterior.”
Ou seja, eles têm medo de nós. Temem o nosso crescimento.
Isso significa, obviamente, que devemos continuar promovendo o rito tridentino mais do que nunca. Convide os membros da sua família para assisti-lo, e seus sobrinhos e netos para servirem nele. Tire fotos e use todas as mídias sociais que temos à nossa disposição.
Os modernistas estão em estado de alerta, e todas as circunstâncias do momento estão do nosso lado. Nossos inimigos sabem que não conseguem promover a Missa deles do jeito que nós podemos promover a nossa. Eles sabem que os seus dias estão contados. As exéquias no seu Novus Ordo podem muito bem servir como exéquias para o Novus Ordo em si.
A nota explicativa de Roche revela o que nós implicitamente já sabíamos: a beleza é como uma kryptonita para esses filisteus. Temos os altares-mores, as fileiras de acólitos em suas belas batinas e sobrepelizes, as magníficas vestes sacerdotais feitas com amor. Temos O Magnum Mysterium de Tomás Luis de Victoria e patenas de ouro.
Quando somos intimidados pela costumeira carranca do Papa Francisco, respondemos com a briosa expressão do rosto sardento do meu filho mais velho ao ser finalmente promovido a turiferário.
A nossa é a Igreja antiga e duradoura. A deles está em declínio. Por isso vamos inundá-los com beleza e verdade. Ou eles se converterão ou perderão a sua relevância.
Mas nunca, nunca pense que você vai agradar a Deus mostrando-lhes o quanto você está disposto a choramingar humildemente enquanto eles batem em você. A Santa Missa dá glória a Jesus Cristo, que foi crucificado por nossos pecados. Nós não O imitamos sendo cúmplices da destruição da Missa. Em vez disso, devemos expulsar os cambistas do templo e derrubar suas mesas (S. João 2, 15).
Foi assim que os nossos antepassados aguentaram os abusos da década de 1970 e nos transmitiram a Missa tradicional. Eles não se deitaram e rastejaram, mas lutaram como homens de Deus.
Em 12 de abril de 1977, fiéis tradicionais parisienses se cansaram de adorar a Deus no salão comunitário que os burocratas da nova Igreja lhes deixaram para a celebração da sua Missa proibida. Eles então fizeram o que qualquer católico decente e temente a Deus deveria fazer: entraram com padres na igreja de São Nicolau, ocuparam-na e ficaram lá. Todo fiel tradicional vivo deveria conhecer de cor o diálogo que se deu entre o então pároco de São Nicolau du Chardonnet e um dos sacerdotes ocupantes:
“Com que direito você entra aqui?”, perguntou um dos clérigos paroquiais.
“Nós viemos“, respondeu o Padre Ducaud-Bourget… “In Nomine Domini.” [1]
Quando a polícia foi chamada pelos padres conciliares para expulsar os invasores, os policiais mostraram que entendiam mais de liturgia do que a Congregação para o Culto Divino nos dias de hoje. A polícia simplesmente não fez nada, porque, como disseram aos sacerdotes do Novus Ordo a respeito daqueles fiéis trad, “eles estão rezando a Missa e orando, e é isso o que se faz numa igreja!“
Eles também mostraram que estavam vivendo numa França mais católica e menos autoritária quando um grupo de clérigos progressistas foi a uma delegacia de polícia para reclamar da “usurpação”. Quando pediram para conversar com o oficial encarregado, eles foram informados que ele não estava disponível, pois estava assistindo a Missa latina na São Nicolau.
Se você é um católico tradicional e acha que esses primeiros trads foram longe demais, considere por um momento o quanto do seu dinheiro suado, do seu tempo e do seu amor você dedicou à sua própria comunidade tradicional. Então, considere o fato de que foi graças a toda essa justa “desobediência” que os nossos antepassados que lutaram puderam conservar e transmitir a Missa tradicional que hoje você assiste.
Eles lutaram e foram justificados pelos papas depois de Paulo VI. Eles lutaram tanto que os papas foram forçados a aquiescer com eles e lhes dar de volta a Missa. É somente por causa da luta deles que você hoje tem acesso à Missa tridentina! Se você rastejar agora, nossos filhos serão privados do que é deles por direito: o antigo Rito Romano de todos os santos e doutores.
Pense na luta de nossos pais. Pense em seus filhos. E lute como um homem.
Deus Vult!
Fonte: One Peter Five
[1] Michael Davies, The Remnant Newspaper, 30 de abril de 1977.