Votar em Parolin ou Tolentino hoje, com todo o respeito pelas suas pessoas, significa arriscar entregar a Igreja a um pontificado que poderia até ser refinado, mas impotente e perigoso; talvez inspirativo em palavras, mas divisivo em ações; talvez diplomático ou poético, mas desconectado das realidades pastorais e geopolíticas que nosso tempo exige.
O Cardeal José Tolentino de Mendonça, que indubitavelmente brilha por sua cultura humanista e espírito poético, apresenta um perfil fascinante para muitos – não só progressistas, mas também figuras mais moderadas. Depois de doze anos de um pontificado “energético” — para dizer eufemisticamente — e altamente centralizador, como Cardeal Beniamino Stella assinalou, é prudente considerar se é sábio eleger outro papa muito similar a Bergoglio, mas com a possibilidade de um longo reinado.
A vocação de Tolentino é predominantemente cultural em vez de pastoral, teológica ou política, o que pode não atender plenamente às necessidades concretas de uma Igreja global – ferida e muitas vezes desorientada. Essas necessidades são reconhecidas de forma generalizada pelos cardeais, independentemente de sua orientação eclesiológica.
A juventude em si não é um obstáculo. Pelo contrário, um papa relativamente jovem, com maturidade eclesial, experiência concreta e habilidades de mediação, poderia ser um dom providencial para consertar as várias divisões causadas nos últimos anos. O problema de Tolentino não é tanto sua idade, mas a sua falta de experiência concreta e a sua inabilidade para combater a polarização intra-eclesial do nosso tempo. Ele é um homem de bibliotecas e conferências, não do “hospital de campanha,” como Bergoglio costumava dizer.
Numa época em que o povo cristão precisa de clareza, orientação segura e determinação pastoral, um pontificado tão proximamente ligado às dimensões estéticas, literárias e interpretativas tem o risco de deixar a Igreja à deriva nas narrativas, em vez de oferecer diretrizes efetivas. A fé não é meramente expressão, mas também adesão, obediência e práxis clara.
Tolentino nunca liderou uma diocese, nunca formou um presbitério ou teve responsabilidade direta pelo cuidado cotidiano do povo de Deus. Nesta limitação, Tolentino e Parolin são equivalentes. Seu caminho formativo pode parecer nobre, mas se desdobrou em contextos acadêmicos e curiais, sem conhecimento concreto das dificuldades paroquiais, dos conflitos litúrgicos e morais, da formação do clero ou do confronto operacional com a secularização.
Após um pontificado que teve uma dinâmica curial fortemente personalizada, existe um risco de transição para outra forma de centralização.
A esperança é que até mesmo os cardeais mais progressistas reconheçam que Tolentino não é uma boa escolha para a Igreja, mesmo a partir de suas perspectivas. Embora sua figura pareça conciliar abertura e espiritualidade, Tolentino é de fato apoiado por uma facção bem definida dentro da Igreja — aquela que advoga pela mudança doutrinária em vez de sinodalidade ou reformas pastorais.
Sua eleição, portanto, em vez de promover a unidade, exacerbaria as tensões entre as demandas reformistas e as vozes leais à Tradição – talvez até mais do que Francisco conseguiu em seus doze anos de reinado. Em um conclave já marcado pela fragilidade e suspeita, sua candidatura apresenta o risco de dividir em vez de unir.
É realmente isso que os cardeais querem? Hoje, a Igreja precisa urgentemente de unidade, de escuta atenta e de caridade – não só para com o mundo, mas principalmente para com os seus próprios bispos, sacerdotes e o povo de Deus dentro dela, que há muito tempo se sentem ignorados. Sem unidade, a Igreja sofrerá imensamente em todos os aspectos, inclusive economicamente.
Essa preocupação financeira está sendo estudada pelos eleitores, e é compreensível que o seja. A divisão doutrinal e disciplinar já ocasiona um declínio acentuado na confiança econômica da Igreja. Grandes dioceses estão em dificuldades, as doações estão diminuindo, e os benfeitores estão cada vez mais hesitantes em apoiar uma instituição percebida como incerta e contraditória – somente outra voz na multidão.
O pontificado de Francisco levou a uma fragmentação visível: dioceses divididas, episcopados confusos, liturgias discordantes, clero desorientado, e leigos abandonados e desiludidos. A Igreja não pode permitir outro pontificado marcado pela divisão. Dado o seu perfil intelectual e cultural, é improvável que Tolentino sirva como uma figura de ampla unidade. Ele é amplamente percebido como “um homem de um lado”, o que o coloca em risco de exacerbar a polarização em vez de resolvê-la.
Também o Cardeal Francês Jean-Marc Aveline poderia se revelar um péssimo meio-termo se nem Parolin nem Tolentino conseguirem ganhar força nos primeiros dois ou três dias de votação. Seu estilo pastoral inclusivo — agradável aos eleitores mais progressistas que procuram uma continuidade com Francisco mais suave — carece da autoridade doutrinal que a Cátedra de Pedro exige em tempos de confusão.
Hoje, a Igreja precisa não só de diálogo, mas também de clareza, identidade e firmeza na fé. As razões pelas quais Aveline pode ser cogitado são claras: o Arcebispo de Marselha é um homem gentil, aberto ao diálogo inter-religioso, profundamente ligado ao Mediterrâneo e comprometido com temas de inclusão e fraternidade universal. No entanto, dadas as graves necessidades da Igreja de hoje, sua eleição poderia representar um passo incerto, talvez até arriscado, no processo de cura e reconciliação tão fervorosamente desejado pelo povo de Deus.
Aveline também é conhecido por ser um dos poucos bispos publicamente identificados pelo Papa Francisco como um sucessor ideal. Esta conexão direta, num momento em que a Igreja precisa urgentemente de pacificação e reconcilição, traz o risco de ser percebida como uma continuidade rígida e partidária.
Neste sentido, mesmo a eleição de Aveline como Papa não teria sucesso em gerar — ou mesmo meramente facilitar — o tão necessário conserto do tecido eclesial. A Igreja não pode permitir mais divisões; precisa de um líder que fale a todos, incluindo aqueles que se sentiram marginalizados nos últimos anos.
Refinado na comunicação e atento ao diálogo com o Islã, o Cardeal Aveline nunca demonstrou uma sólida profundidade teológica ou um claro apego à Tradição viva da Igreja. Numa era caracterizada pela confusão sobre questões morais, antropológicas e litúrgicas, a vagueza doutrinária não pode ser uma qualidade desejável àquele que se senta no Trono de Pedro. O Papa deve ser um princípio de unidade — não só afetivo, mas também eficaz e doutrinal.
Além disso, o Cardeal Aveline está profundamente enraizado na França multicultural e pós-cristã. Todavia, não adquiriu experiência direta nos contextos internacionais que são cruciais para a Igreja universal hoje: Oriente Médio, África, Ásia e América Latina. Numa altura em que a geopolítica eclesial é essencial — relações com a China, Ucrânia, Islã e minorias cristãs perseguidas — o próximo Papa precisa ser alguém que viveu pessoalmente as tensões do mundo, e não apenas um estudioso mais ou menos teórico do pluralismo religioso.
Muitos admiram Aveline por sua cordialidade e estilo inclusivo. Porém, dentro disso reside um risco potencial: uma abordagem pastoral sem doutrina, firmeza ou identidade, assemelhando-se mais ao humanitarismo espiritual do que à verdadeira paternidade eclesial. A crise que enfrentamos não é só social, mas sobretudo teológica. Palavras claras são necessárias, e não somente as bem-vindas. É necessário um líder — não só um mediador.
Mais do que nunca, o Papa precisa ser o Bispo da Igreja no mundo. Sob Francisco, o mundo frequentemente percebeu a Igreja mais como uma ONG humanitária do que como o sacramento visível de salvação. Hoje, a Igreja enfrenta guerras, crises globais e confrontos civilizacionais.
Ela não necessita de um homem de administração, como Parolin; nem de um homem da academia, como Tolentino; nem de alguém que veja a condição dos católicos como uma “minoria” sob uma luz positiva, como Aveline. Em vez disso, necessita de um homem que conheça a cruz e a esperança vivida em lugares onde a fé está sob cerco – alguém que possa falar com igual clareza tanto em Jerusalém como em Pequim, tanto em Abu Dhabi como em Moscou.
O próximo Papa deve unir fé e realismo, doutrina e discernimento, experiência pastoral e sabedoria geopolítica. Não um ideólogo, mas uma testemunha. Hoje, a Igreja não precisa só de um rosto amável, mas de um pilar — um farol para a noite — um sucessor de Pedro que pode falar com autoridade tanto aos governantes quanto aos pastores, tanto aos pobres quanto aos instruídos.
Claro, eu não acho que os cardeais irão ler minhas reflexões (eles têm coisas mais importantes para pensar), mas como um filho da Igreja, eu rezo e imploro aos Príncipes da Noiva de Cristo: as apostas são incrivelmente arriscadas. Votar hoje em Parolin ou Tolentino, com todo o respeito pelas suas pessoas, significa arriscar entregar a Igreja a um pontificado que pode ser refinado, mas impotente e perigoso; talvez inspirador em palavras, mas divisivo em ações; talvez diplomático ou poético, mas desconectado das realidades pastorais e geopolíticas que o nosso tempo exige.
A responsabilidade dos cardeais diante de Deus e da história é imensa. O futuro da Igreja não necessita de “sonhos” ou apaziguamentos mundanos — necessita de um guia.
Fonte: The Remnant