Algumas reflexões, certamente apressadas, sobre o novo Papa.
1. Senso comum católicos: nós não somos a religião do Papa, mas a religião de Cristo. Não seguimos ao Papa como se segue a um caudilho – seríamos um grupo de fanáticos -, nem como a um inspirador – seríamos um grupo de ideólogos.
2. Como Prevost é quase um desconhecido para todos, comecemos pelas percepções positivas do que vimos: escolheu um nome sugestivo: não é um nome de um Papa pós-conciliar nem é uma originalidade como fez Bergoglio. Leão é um nome tradicional, muito tradicional, entre os nomes pontifícios.
3. Saiu à loggia vestido de Papa. Acabou-se o pobrismo francisquista e o circo bergogliano. Mais ainda: é um detalhe, mas significativo: usa camisa com abotoaduras! É virar a página do que foi vivenciado. Sei que são detalhes, mas significativos, em linha com que escrevíamos sobre os funerais papais.
4. Em seu discurso falou de Jesus Cristo, de sua Ressurreição e rezou a Ave-Maria. Para os tempos que transcorrem, creio que isso é bom. Rezar a Nossa Senhora não soa muito ecumênico…
5. Passemos ao que nos começa a fazer ruído: fez menção à “igreja sinodal” e ao “todos, todos”. Pode ser uma concessão; pode ser um programa. Veremos. Segundo o site College of Cardinals, Prevost foi um dos grandes promotores da sinodalidade.
6. Muitos sites amigos estão gritando ao céu porque, como prefeito do dicastério dos bispos, não fez um bom trabalho. Recordemos, por exemplo, o caso Strickland ou o caso Rey. E é verdade. Não desempenhou um bom papel mas, na minha opinião, se limitou a assinar o que lhe ordenava Francisco. Não lhe tiro a responsabilidade, mas tampouco o faço o único.
7. Ninguém sabe qual é sua postura em relação à missa tradicional. E isso, a nós, é muito importante.
8. Na minha opinião, trata-se de um candidato moderado inclinado à esquerda. O que terá ocorrido no conclave? Estimo que os votos de Parolin foram transferidos a ele depois que estancou, somando-se aos votos progressistas. A dúvida está na questão de ter ou não necessitado dos votos conservadores. Se assim foi, algo receberíamos em troca; ao menos, a não-perseguição.
9. Termino com uma lembrança pessoal: fim da tarde de um dia de começos de fevereiro de 2023, estava eu no Pontifício Instituto Agostiniano, o Patristicum, falando com um professor ancião, agostiniano, de muita sabedoria e não precisamente um conservador. Eu estava muito irritado com o que Francisco estava fazendo, e me disse mais ou menos o seguinte: “Olha a quem colocou na congregação dos bispos. A Prevost, um dos nossos; foi nosso prior geral”. E lhe perguntei: “Isso é ruim?”. Não, é um dom Ninguém. É nada. Alguém sem nenhum talento especial“. O comentário não é bom nem mau; mais ou menos como a maior parte dos Papa da história. Tem de bom que Prevost, para este frade agostiniano, é nada: nem progressista, nem tradicionalista; é o que deva ser no momento apropriado. E por isso foi eleito: um mix entre primeiro mundo e terceiro; hábil para as línguas e para os manejos políticos. Conseguiu. Veremos o que fará agora.
Fonte: El Wanderer