A relação entre o Estado e a Igreja é hoje uma das questões mais importantes, uma vez que a democracia e o pensamento moderno estão em crise. A grande dificuldade para o bem comum, o principal objetivo da política a ser alcançado, é que hoje em dia há um relativismo religioso, político, moral e social. Por esta razão, é necessário compreender quais são os objetos próprios do Estado e da Igreja. Neste artigo, o principal objetivo é descrever como deve ser ordenada a política para o Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Papa Leão XIII, na sua encíclica Immortale Dei, analisa a relação do Estado e da Igreja com uma analogia com o homem. Ele diz que o Estado deve ser responsável por garantir que as coisas temporais sejam ordenadas para que a sociedade possa ter os meios materiais para viver e, sobretudo, ter tempo para o que importa: a salvação da alma. A Igreja deve assegurar os bens espirituais, ou seja, os sacramentos, a oração, o ensino da moral e da fé. Neste sentido, o estado é o corpo e a Igreja é a alma, e a alma deve governar o corpo.
A Santa Igreja Católica foi responsável pela construção da Civilização Ocidental e, por essa razão, a política foi ordenada para que nações, reis e povos respeitassem a Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isto é importante de dizer, uma vez que o principal objetivo das pessoas é a salvação, e os meios temporais não podem ser obstáculos para que as pessoas não cheguem ao Céu.
Houve um tempo em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa altura, a eficácia da sabedoria cristã e da sua virtude divina tinha penetrado nas leis, nas instituições, e na moral do povo, infiltrando-se em todas as classes e relações da sociedade. A religião fundada por Jesus Cristo foi firmemente colocada no seu devido lugar de honra e floresceu em todo o lado graças à benevolente adesão dos governantes e à legítima tutela dos magistrados. O sacerdócio e o império viviam juntos em concordância mútua e em consórcio amigável de vontades. Organizado desta forma, o Estado produziu bens para além da esperança[1].
O texto do Papa Leão XIII é claro e deve deixar evidente que o Estado, em tudo, deve ser submisso à Igreja, porque os bens materiais são inferiores aos bens espirituais. Além disso, o Papa João XXIII, na sua encíclica Mater et Magistra não deixa dúvidas de que a Igreja Católica é a única que pode ensinar às pessoas o caminho certo para a salvação, pois foi criada por Deus: “E eu, por minha vez, digo-vos que sois Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela. A vós darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que perderdes na terra será solto no céu”. (Mateus 16:18-19)
É também importante dizer que, segundo o Papa Leão XIII, o Estado deve garantir que a Igreja seja defendida e tenha condições para continuar a sua evangelização e administração dos sacramentos. Por esta razão, o Estado deve sempre favorecer a Igreja Católica e apenas tolerar doutrinas falsas. Infelizmente, a modernidade, com a Revolução Francesa, começou a emparelhar doutrinas como se tivessem o mesmo valor. O lema “Igualdade, Fraternidade e Liberdade” fez com que a Sagrada Religião Católica fosse colocada não como a Verdade, mas como uma religião a mais[2].
Como consequência, o Estado, em primeiro lugar, deixou de seguir a Lei Eterna, já que só a Santa Igreja Católica tem a Verdade revelada. Então, com o avanço da revolução marxista, Deus deixou de ser considerado em todos os aspectos da política e, portanto, o materialismo começou a ganhar muito espaço na sociedade. Depois, o modelo criado pelo Papa Leão XIII foi destruído, uma vez que já não havia alma, apenas o corpo. Mas, o pensamento revolucionário atingiria outros níveis com o desenvolvimento da revolução Marcusiana[3].
A revolução Marcusiana tem, na sua base teórica, a Teoria Crítica que é definida como uma teoria negativa, porque não é propositiva de um modelo que construa alguma ideia. Não, é uma teoria que defende a crítica em todos os aspectos da sociedade, do homem, de Deus e da natureza. Como consequência desta revolução, os ideais da Escola de Frankfurt chegaram ao poder, e o Direito Natural deixou de ser considerado a base da formação de políticas.
É por isso que, atualmente, existem estados que defendem o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a libertação de drogas. Não há consideração pela Lei de Deus, pela Igreja e pela Lei Natural. Isto é bem descrito pelo grande autor brasileiro Plínio Correa de Oliveira no seu livro “Ação e Revolução”, onde o autor expõe, brilhantemente, o que era o Cristianismo e como as revoluções foram responsáveis pelo abandono do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Finalmente, é necessário colocar a coroa de Nosso Senhor Jesus Cristo no lugar mais alto e, consequentemente, deixar que as Suas leis sejam aplicadas no Estado. Isto quer dizer que o Estado não tem o poder de estabelecer os seus desejos se Deus não for respeitado. A alma será sempre mais importante do que o corpo e esta é a razão pela qual devemos lutar para que Deus volte a reinar em todo o mundo. O Papa S. Pio X diz “Instaurare Omnia in Christo” [4] e os católicos devem segui-lo, uma vez que a fé não é uma coisa privada, mas pública e os Estados devem respeitá-la.
Como conclusão deste breve artigo, é preciso notar que a Igreja deve ter os seus privilégios intocáveis, tais como, por exemplo, a educação religiosa, a formação de famílias e a defesa da fé. O Estado deve cuidar dos bens materiais e não pode, em nenhuma hipótese, tornar impossível para a Noiva de Nosso Senhor fazer o que ela deveria fazer. Portanto, o Estado deveria ser sempre submisso às leis eternas de Deus e da Sua Igreja e à lei natural.
[1] Immortale Dei, Papa Leão XIII, número 9.
[2] Para aprofundar os conhecimentos sobre a Revolução Francesa, recomendamos a leitura do livro “Les Forces secrètes de la Revolution”.
[3] A Revolução Marcusiana tem o nome de Hebert Marcuse, um dos mais importantes autores da Escola de Frankfurt e o principal responsável pelo evento Woodstock em 1969.
[4] Esta frase está localizada na carta Pascendi Dominici Gregis que é a carta contra o modernismo e o seu sistema filosófico.