Dois amores erigiram duas cidades, Babilônia e Jerusalém : aquela é o amor de si até ao desprezo de Deus ; esta, o amor de Deus até ao desprezo de si.
Santo Agostinho, A Cidade de Deus
No caso em que o CDB processou o Netflix por conta do “especial de natal” do porta dos fundos – claro caso de vilipêndio contra a religião cristã e, sobretudo, claro ataque frontal ao segundo mandamento -, houve liberais, inclusive alguns se vendem como católicos, que se posicionaram pela superficialidade do debate querendo limitar a questão a sua imagem reduzida de mundo: liberdade de expressão x censura. O argumento é liberal, mas a lógica é marxista. Quem defende a liberdade de expressão são os bonzinhos; quem pede a censura – independente se o material é ilegal ou não (e o vilipêndio à religião é crime no Brasil), é malvadão. Mas a realidade não é tão tico e teco assim. Olavo de Carvalho já tinha alertado para uma realidade bem mais profunda e historicamente validada:
Perdida em abstratismos jurídicos (“limites da liberdade”, “censura versus direitos da arte”, etc.), TODA a discussão do caso Porta dos Fundos é apenas um sintoma da loucura brasileira. O ÚNICO ponto que interessa é sistematicamente ignorado: o cristianismo não é uma comunidade religiosa como qualquer outra, é, por excelência, a comunidade vítima de genocídio nos dias atuais. Não se trata, portanto, de uma genérica “ofensa a culto religioso”, mas de um ato característico de GENOCÍDIO CULTURAL, preparatório do genocídio “stricto sensu”. É absurdo discutir o caso sem nem mencionar esse aspecto.
De fato, a consequência final por trás de toda uma guerra simbólica e cultural com conteúdo anticristão será a perseguição física contra os cristãos e quanto a isso a estamos atentos: não sendo à toa que chamamos atenção, por exemplo, pelo fato de que dos shoppings de Curitiba, durante o período natalino, somente um montou um presépio. Há quem ache que isso é um “mero detalhe”. Mero detalhe a razão de ser do Natal não ser mais representado no Natal. Há os liberais que dizem que não se deve pedir a remoção de um filme blasfêmico por conta da “liberdade de expressão”, quando tal filme é claramente escarnecedor e ilegal. Se dependermos desses liberais, nós vamos para o ‘gulag’ da perseguição sob seus aplausos, tudo em nome da liberdade de expressão. Eis como podemos evidenciar que, no mais profundo, não há diferença essencial entre liberais e socialistas. No fim tudo caminha para censurar os valores cristãos e liberalizar a libertinagem. Se ainda resta dúvida, é só ver como a perseguição está sendo intensificada na China.
E este detalhe da perseguição cultural preceder a perseguição física não deixou de ser mencionada no Agravo do Centro Dom Bosco, conforme postou o Bruno Mendes:
Este post é o mais importante que escrevi desde o início da querela Porta dos Fundos:
No nosso primeiro post a respeito da decisão da juíza em primeira instância, bem como no agravo para o desembargador deixamos claro que o fim último desse escárnio a fé católica é o EXTERMÍNIO FÍSICO dos católicos.
Diz uma parte do item 3.2 do nosso agravo feito no dia 20 de dezembro:
“Assim agindo, fazem mais do que simplesmente ofender os católicos e cristãos, conduta já de si desprezível e juridicamente inadmissível. Expõem-nos à irrisão pública, antecâmara de agressões e males ainda maiores, incluindo o extermínio físico.
(…)
Muito antes da hedionda “solução final”, os judeus já eram vilipendiados em suas crenças e valores, numa Europa que aprendera a desprezá-los. O mesmo se deu na União Soviética, com os alvos do regime bolchevique, qualificados como “insetos” antes de serem esmagados nas prisões do Gulag
(…)
A votação ao desprezo público, à galhofa, ao escárnio, de todo um grupo em razão de sua fé e crenças religiosas constitui sim, a par de uma ofensa à dignidade humana dos integrantes desse grupo, discurso de ódio, na medida em que incita, no corpo social, o vilipêndio àquele grupo. E não se venha com a balela de que a maioria de um povo não está ameaçada. Movimentos totalitários nascem, sempre e necessariamente, de minorias, que, pouco a pouco, vão manipulando a opinião pública, a cultura, os sentimentos de uma nação, até a aliciar e subordinar a seus intentos inconfessáveis. A Igreja que durante o terror revolucionário foi perseguida, cujos templos foram queimados e postos abaixo, cujos sacerdotes foram decapitados, era a mãe e mestra da França, a primeira entre as nações católicas; a religião que foi emasculada ou proibida na Rússia bolchevique era a religião comum do povo russo; ainda agora assistimos ao incêndio e à destruição de igrejas no Chile.
Antes das ações físicas, como tudo o que é humano, vem a preparação do espírito, a predisposição da vontade, que se alcançam precisamente através do discurso público, esteja ele, ou não, travestido de arte”
Acreditamos que tal episódio ajuda a separar o joio do trigo, evidenciando que o dito católico liberal, na realidade, não é católico. Não pode ser católico quem coloca os Direitos dos Homens acima dos Direitos de Deus. Cadê a fé desses liberais que militam antes pela cidade dos homens do que pela cidade de Deus?