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De onde veio o poder do Xerxes, e como ele nos ajuda a entender as entranhas da política brasileira

Xerxes - Filme 300.
Por Luiz de Moraes

Um ex-desembargador foi recentemente aplaudido de pé em audiência pública no Senado depois de pedir sua prisão. Ele já advogou para cooperativa de transporte suspeita de envolvimento com o PCC, já foi acusado de plagiar trechos de outros autores em trabalhos assinados com o seu nome, presidiu a FEBEM em defesa dos direitos dos criminosos juvenis, e sua mulher, advogada, tinha processos tramitando no STF quando o dito-cujo foi indicado ao supremo tribunal – o que deveria, em tese, impedi-lo de concorrer ao cargo. Mas e aquelas suas duras palavras contra os ex-governos corruPTos que aparecem num vídeo antigo que circula nas redes sociais, o que significam?

Muita gente se impressiona e fica surpreso ao ver o Füher Alex falando de forma tão contundente contra “a falta de vergonha na cara” e a crassa “corrupção” dos governos anteriores que “roubavam bilhões e bilhões” e etc. As pessoas o veem e dizem: “Agora mordeu a própria língua!”, “Quem te viu, quem te vê!”, “Xingava o partido corruPTo e agora o serve!”…

Mas não, minha gente. Não há nada de verdadeiramente paradoxal na postura do nosso querido imperador supremo em relação àquele seu antigo discurso.

Basta ver qual era o cenário político naquela ocasião e quais eram as opções eleitorais em jogo para entender que ele não mudou. O que mudou foi a composição do tabuleiro, as peças em disputa pelo poder, os players do jogo político. Garanto-lhes que ele continua servindo aos mesmos senhores de sempre.

O dito-cujo era filiado ao tucanato antes de ser indicado ao STF. Não era só simpatizante, era filiado mesmo! Desfiliou-se apenas porque a lei o impedia de ascender ao cargo sendo membro formal de um partido. Fez a disfiliação e automaticamente se tornou elegível ao cargo (o diz muito sobre a utilidade de tais leis). Antes, ele já tinha sido secretário de Segurança Pública da gestão alckimista em SP e ministro da Justiça do Vampirão, que depois o indicou ao posto de faraó do Br, digo, ministro do supremo.

A vaga lhe sorriu logo após a morte do ex-ministro Teori Zavascki num misterioso e mal explicado “acidente aéreo”. Zavascki se foi tendo prestado serviços importantes à nação; era conhecido como “fiador da Lava Jato”, por ter dado total apoio jurídico à operação, sendo seu relator no STF, de onde analisava delações que atingiam poderosos políticos com foro privilegiado. 

Porém, Zavascki veio a morrer justamente no auge das suas investigações, que foram herdadas por ninguém menos que o ministro amigo do MST e das facções dos morros do RJ. Isso, aquele  bigodinho sinistro que anulou todas condenações do Barba e que foi também professor-militante na balbúrdia federal do nosso Paranã, além de cabo eleitoral da Dilmoca. Foi muito conveninente para todo o sistema a sua morte, pois abriu uma vaga altamente cobiçada e transferiu competências sobre processos-chave aqui e ali.

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Mas voltemos ao nosso protagonista maravilhoso e líder supremo, heil!

Ele nunca foi exatamente um homem do PT. Sempre serviu aos interesses do tucanato e do centrão, sempre foi um servo da maçonaria, do fisiologismo e das velhas elites que se viram ameaçadas pelo conservadorismo ascendente. É em nome dos antigos donos do Brasil que ele, tranquilamente, exerce a sua tirania. Diga-se o mesmo do Sapão emotivo: nunca foi um crente xiita do comunismo.

Os mais ideologicamente marxistas ali são a Bruxa de Blair, o Bigodinho do MST, o Múmia indicado pelo Barba e a Mona devota do “João de deus”, que cuida de avançar as pautas feminazis e a varíola dos mamacos. Rigorosamente, nem o ex-advogado do covil é de fato um comunistão de carteirinha, só trabalha para eles. That’s just business, man

Nosso faraó absoluto não representa mais, como fica óbvio pelo seu histórico, do que uma reação enérgica e violenta do centrão, que o botou lá em modo de ataque conforme foi se achando cada dia mais destituído de seus antigos feudos políticos. isto é, na medida em que nomes mais à direita ou ligados a outras elites (da caserna ou do neopentecostalismo, por ex.), lhes tomavam estes feudos, ocupando espaços que por décadas pertenceram aos primeiros.

Em outras palavras, a tirania de Xerxes é um tour de force dos velhos coronelões que se viram obrigados a agir para recuperar o seu esqueminha de partilha e alternância no poder com os comunistas; é um revival do pacto que havia garantido a permanência dos mamadores de sempre e adotado a estratégia das tesouras.

Política no Brasil é isso: uma briga entre elites antigas e novas. Ideologicamente comprometidos, de fato, são apenas os comunistas mais radicais e uma parte dos apoiadores do Messias, que se agarraram a ele, esperançosamente, como última tábua de salvação, mesmo tendo ele feito tão pouco (se é que podia fazer mais) para varrer as antigas elites corruptas e fazer um governo baseado de fato em princípios e aspirações legítimas do povo. Em vez disso, e mesmo tendo milhões de pessoas indo para as ruas ao seu chamado a cada 7 de setembro, ele preferiu, muitas vezes, confabular e negociar com aquelas elites, enquanto elas recuperavam, com manobras escusas ou canetadas jurídicas, grande parte do poder que haviam perdido em 2018. 

Não se negocia com o mal. Nunca!

Negociar com ele é dar-lhe legitimidade, é permitir a volta e a ascensão dos velhos tiranos que sempre mandaram no pedaço. E isso vale tanto para a política quanto para a vida espiritual.

Mas o Messias não quis ruptura drástica com as velhas elites, e isso nos trouxe à situação atual. Diante de tudo isso, será que ainda dá pra dizer que esse modelo de “democracia” funciona? Ele de fato cumpre o que promete? É o povo e seus legítimos anseios que são priorizados nesse regime?

A maior farsa inventada na modernidade pós-decadentista (que muitos insistem em chamar de “renascentista”) não foi a ideia – certamente estúpida – de que o homem se resume às suas necessidades e paixões (instaurando um passionalismo antropológico, ético, político) e que uma insensata e vulgar autonomia (a “liberdade” dos modernos) é o maior dos bens humanos. A maior farsa, na verdade, foi propagandear que o melhor regime possível é o tal “Estado Democrático de Direito” – uma aberração de secularismo político, pretensamente amoral (mas, na verdade, imoral), que tem na arte da sofística demagógica o seu (mais legítimo) sustentáculo de poder, e é controlado por oligarquias dissimuladas e inescrupulosas.

Convenceram-nos de que as “instituições” desse regime são maravilhosas e sacrossantas porque “imparciais”, e que, nelas, o rule of law (governo das leis), com sua excelsa Constituição, é sempre a norma máxima, eficaz, que assegura o bem de todos e se sobrepõe ao rule of elite’s will (governo da vontade das elites), sendo este o melhor dos mundos políticos possíveis.

Como pudemos acreditar em uma historinha tão ordinária, em uma empulhação tão vagabunda como esta?

É como se um bandido tocasse o seu interfone e te dissesse: “Olha, eu não temo a Deus nem creio em coisa alguma, seja doutrina espiritual ou lei moral, maaaas… se você me deixar entrar na sua casa, eu prometo que vou seguir essa bela listinha de regras aqui e que só vou fazer lá dentro o que você me deixar fazer.” … Proposta alvissareira e tentadora, não?

Voltando à nossa tragédia do dia, será que o tal Messias e seu séquito de bodes fardados agora farão alguma coisa de efetiva para devolver algum poder ao povo, ou melhor, para restaurar alguma ordem minimamente justa?

Sinceramente, não acho muito provável, embora eu mesmo já tenha ido para a frente dos quartéis, onde rezei, ombreei-me e fiz coro com os companheiros manifestantes, os quais, sinceramente, considero dignos representantes da fina flor do povo brasileiro, do que há de melhor na nossa sociedade atual, tão corrompida pela contracultura progressista; lá, até fiz um breve discurso de cima de um caminhão, de onde pus em questão inclusive essa nossa “democracia”. Não me arrependo. Exceto de ter gritado, com os presentes: “Forças Armadas, salvem o Brasil!” – ledo e idolátrico engano.

É bom suplicar a Deus e à Virgem Imaculada para que, sim, se afaste de nós a ameaça de um regime pior que o atual e que sejam depostos e presos os tiranos, os ímpios, os comunistas e infanticidas que estão nos portões da cidade, ameaçando pilhá-la e destruí-la mais uma vez!

Mas não nos surpreendamos se não vier nada de útil dos quartéis. Nossa confiança deve estar unicamente em Nosso Senhor e nos seus santos ensinamentos. Nosso foco deve ser a vida de oração, o apostolado, a conversão dos que estão no erro e no pecado, a formação católica das crianças e dos jovens – apenas isso poderá garantir que Cristo reine na história como já reina na eternidade, e que os ímpios sejam derrotados e seus planos sejam arruinados para sempre. Amém. 

Eis o que diz o Senhor: Maldito o homem que confia em outro homem, que da carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor! […] Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Assemelha-se à árvore plantada perto da água, que estende as raízes para o riacho; se vier o calor, ela não temerá, e sua folhagem continuará verdejante; não a inquieta a seca de um ano, pois ela continua a produzir frutos.” (Jeremias XVII, 5)

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