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Do Protestantismo ao Ateísmo (Padre Leonel Franca)

Do Protestantismo ao Ateísmo (Padre Leonel Franca) - Lutero

Em pouco mais de dois séculos, de Lutero a Reimarus, de Descartes a Kant, é grande a distância percorrida.

O assalto contra o cristianismo tornou-se mais consciente e radical. Os primeiros chefes da Reforma assestaram as suas baterias contra a Igreja, como organização hierárquica e visível do cristianismo, mas, com os livros inspirados submetidos à livre interpretação da soberania individual, julgavam poder ainda salvar-lhe, com a integridade dos ensinamentos divinos, o caráter sobrenatural de religião revelada. Engano fatal. Em torno da própria essência do Evangelho foi o século XVIII travar a sua grande batalha. Deísmo, filosofismo e iluminismo convergem os seus esforços para dar ao fato cristão um sentido puramente naturalista e reduzi-lo ao denominador comum dos outros acontecimentos da história humana. Sob a reverência enganadora de fórmulas maneirosas ou através da explosão violenta de injúrias e ódios mal contidos, a hostilidade a Cristo é substancialmente a mesma. O racionalista do século XVIII renuncia à luz da fé, submete aos limites da própria razão individual todo o cognoscível e recusa a plenitude da vida que lhe oferece o Evangelho. Dificilmente poderia exagerar-se a gravidade da situação criada por estas atitudes. A seguir os mentores dos novos tempos, a civilização ocidental romperia com a tradição religiosa de todo o seu passado e entraria a combater, explícita ou implicitamente, os valores espirituais que lhe deram origem, energia e vida. O homem novo, que se prepara nas revoltas do século XVIII, já não quer ser cristão, volta as costas à luz que lhe vem do Verbo da Vida e pretende nortear a sua atividade moral e organizar as estruturas sociais da Cidade com os recursos escassos de uma filosofia empobrecida e estéril. A desagregação da consciência religiosa acentua-se nas classes cultas.

Contemporaneamente, o pensamento filosófico envolve no sentido de imanência total. Descartes pusera o problema do conhecimento em termos idealistas, mas resolvera-o com afirmações de um realismo maciço. O mundo extramental apresenta ainda toda a consistência sólida de uma realidade independente que a inteligência conhece, isto é, representa com fidelidade. Em Kant, o conhecimento passa a ser construção do objeto. Se ainda se afirmar incoerentemente a existência de uma coisa em si, é para declará-la de todo inacessível ao espírito. O mundo do conhecimento só atinge aparências fabricadas pela projeção de formas subjetivas. O homem isola-se assim da realidade externa e proclama a sua independência em face das exigências objetivas de uma ordem universal. O centro do cosmos é ele; o que, fora dele, existe ou parece existir é mera construção do seu espírito. Leis do mundo físico – pura criação da sua inteligência; leis do mundo moral – simples imposição de sua vontade intangível nas prerrogativas de uma autonomia absoluta. Que falta para a apoteose do homem? Ainda um passo nas negações e nas afirmações e estará consumada antropolatria fatal.

***

No terceiro momento, a evolução das idéias atinge a fase aguda da sua tragédia.

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Distinguíramos, até aqui, em benefício da clareza analítica, os dois aspectos, negativo e positivo, do movimento geral das idéias. De um lado acentua-se progressivamente a depreciação dos valores espirituais que haviam alimentado a nossa civilização cristã e até certo ponto alimentam toda civilização humana. No longo e triste caminho das negações, o homem moderno foi multiplicando as suas recusas. Recusa da Igreja como sociedade espiritual das almas, depositária dos grandes dons da caridade divina à humanidade para a realização de seus destinos sobrenaturais. Recusa do Cristo Salvador e do seu Evangelho, como fonte de novas luzes e de nova vida destinadas à regeneração dos indivíduos e das nações. Ao homem do século XVIII, desintegrado das tradições vivas da história, apaixonado e iludido pelas forças isoladas das razão raciocinante, só resta a noção de Deus e de uma religião natural de poucas exigências, como viático insuficiente de uma vida espiritual que vai definhando numa anemia precursora de morte.

De outro lado, multiplicam-se os tentamens positivos de construções sistemáticas que tendem a colocar o homem, independente, no centro de um universo a seu serviço. Se as ciências experimentais domesticam as energias do mundo físico, o divórcio entre a inteligência e o ser rompe o equilíbrio no mundo moral, isolando o homem da ordem cósmica, inatingível, e enclausurando-o num solipsismo que lhe assegura uma realeza de deserto.

Estas duas tendências, a negativa e a positiva, antes convergentes mas ainda facilmente distinguíveis, encontram-se agora numa atitude radical – o ateísmo – que as enfeixa identificando-as. Na escala descendente das negações espirituais, a negação de Deus ocupa o último degrau. Sem a Sabedoria Criadora não há razão suprema das coisas. No homem a inteligência e a vontade, inexplicáveis no seu dinamismo, perdem o objeto de suas aspirações mais profundas. Ao mesmo tempo, eliminada a soberania divina, a sonhada emancipação do homem atinge, teoricamente, as raias de uma independência total. Individual ou coletivo, o homem nada reconhece acima de si e a afirma, sem restrições e em sua plenitude, o direito de dispor de seus destinos. Consuma-se a antropolatria e, com ela, a subversão completa de todos os valores espirituais.

Nesta direção fatal empenha-se o século XIX. O ateísmo já não aparece agora como um fato esporádico numa consciência desavorada. Negadores de Deus encontram-se também em outras épocas, mas como blocos erráticos que não dizem com a paisagem circunstante. Isolados do meio e sem influência sobre ele, vivem a sua negação individual sem ressonâncias sociais de grande amplitude. Nos tempos modernos o ateísmo apresenta-se como termo de uma longa evolução de idéias e atitudes que o foram lentamente preparando. A negação de Deus é o pressuposto de uma nova concepção das coisas que se pretende difundir nas massas a fim de prepará-las à organização social do futuro. O que antes não passava de um fenômeno psicológico que só interessava o moralista transforma-se num princípio dinâmico de reconstrução ideal da nova Cidade. Em vez de um simples ateísmo intelectual e singular, um ateísmo militante e conquistador de multidões.

Várias são as formas de que se reveste a mesma atitude fundamental. Não sendo possível estudá-las todas, escolhamos três bem características que poderão ser representadas pelos nomes de Comte, Nietzsche e Marx. O último naturalmente, como o mais bem acabado tipo desta civilização moderna que vimos acompanhando na sua gênese ideológica, prenderá por mais tempo a nossa atenção.

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