E o que este caso tem ver com as atitudes díspares dos dois ladrões que foram crucificados ao lado de Nosso Senhor no Calvário?
Um velho amigo que não vejo há muitos anos, desde os eletrizantes e extenuantes treinos de Kung Fu na cidade universitária de Viçosa, fez contato para me perguntar o que penso que poderia haver de errado, “aos olhos de Jesus”, na polêmica atitude do Dr. Varella em relação ao criminoso transexual que atende pelo nome de “Suzy”.
Bem, quem sou eu para dizer como julgar qualquer caso “aos olhos” de Nosso Senhor, não é mesmo? Contudo, para não deixar aquele bom amigo sem resposta, escrevi-lhe algumas linhas que transcrevo abaixo:
“O problema, a princípio, nem foi a atitude do Drauzio em si, mas toda a glamourização recheada de vitimismo que a Rede Globo adora fazer em torno de pessoas que
1) Fizeram péssimas e tristes escolhas na vida e agora se vitimizam por sofrerem as mínimas consequências lógicas dos seus próprios atos – caso dos criminosos encarcerados que, em vez de fazerem penitência por suas perversidades e se considerarem merecedores da punição recebida, como fez o Bom Ladrão São Dimas ao lado de Nosso Senhor na cruz, se arvoram em mártires marginalizados e vítimas da sociedade.
2) Adotam comportamentos ou fizeram opções sexuais problemáticas e frequentemente autodestrutivas (caso dos transsexuais, prostitutas, travestis, etc), que a grande mídia deveria, pelo bem da população, procurar desestimular, e não o contrário.
Em outras palavras, visitar os encarcerados e amá-los, apesar de tudo o que fizeram, é sim uma atitude cristã e altamente recomendável, pois também nós, que não cometemos grandes crimes aos olhos do mundo, somos igualmente pecadores e talvez os cometêssemos se a nossa vida tivesse sido semelhante à daqueles infelizes. Talvez fôssemos até piores.
Porém, o que está indiscutivelmente errado é a mídia pérfida incentivar jovens e outros públicos que compõem sua audiência a adotarem perigosas condutas insalubres, sendo que os números mostram o quanto viver como transexual é péssimo para eles mesmos. Não só espiritualmente, mas também por colocá-los em situação de grande vulnerabilidade social, exposição a drogas, prostituição, abusos e violência. E a Globolixo glamouriza tudo isso como se fosse ótimo e lindamente revolucionário ser um travesti, um transexual, etc.
Também é coisa absurda a tentativa de varrer para debaixo do tapete os crimes de um indivíduo terrivelmente cruel como foi (espero que não seja mais) o tal “Suzy”. Como se a sociedade estivesse lhe fazendo uma grande injustiça ao deixá-lo preso; como se ele não devesse fazer profunda e sincera penitência dos seus pecados (inclusive aceitando a sua vida na prisão) para, no dia da sua morte, poder alcançar a misericórdia e o perdão de Deus.
O certo, nesse história toda, é nós querermos, sim, o bem e a salvação de “Suzy” (o que inclui incentivá-lo à contrição, não ao vitimismo), sem contudo relativizar o que ele fez, sem glamourizar as suas péssimas e execráveis escolhas, sem ostentar “Suzy” como uma espécie de mártir inocente punido por uma sociedade injusta contra ele.
Nosso Senhor quer que amemos até os piores, mas não quer que louvemos os seus comportamentos deletérios e não quer que eles se vejam como vítimas em vez de terríveis pecadores. Isto, aliás, vale para todos nós. Nenhum pecador é digno de se encher de autocompaixão e se ver como uma vítima inocente de um mundo cruel! Quando começamos a pensar “eu não mereço tal infortúnio que estou sofrendo” ou “eu não fiz nada pra merecer essa dificuldade que estou passando”, é então que cedemos à soberba e perdemos a grande oportunidade de crescer na humildade e haurir os frutos da Misercórdia Divina que se compadece dos que se humilham e se arrependem de suas faltas!
Jesus disse a São Dimas, o Bom Ladrão, que naquele mesmo dia ele estaria com o próprio Jesus no Paraíso. Mas não disse o mesmo ao outro ladrão. Pois enquanto Dimas se achava merecedor do castigo e implorava a compaixão de Jesus, o outro ladrão, Gesmas, não aceitava o que lhe acontecia e ainda blasfemava. Eles são os modelos do pecador arrependido, que se humilha, e do pecador obstinado e impenitente, que é orgulhoso.
O mundo quer que sejamos como Gesmas, que nos declaremos vítimas dos outros e reivindiquemos “direitos” e benesses, enquanto Cristo e Sua Igreja nos ensinam, sobretudo neste tempo quaresmal, que precisamos ser como S. Dimas, precisamos reconhecer nossas culpas, dobrar os joelhos e a cabeça diante de Deus para que Ele se compadeça de nós e sejamos salvos.
Se aceita uma sugestão literária que ilustra brilhantemente tudo isso, recomendo-lhe o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. É o melhor conto de toda a literatura brasileira, na minha opinião. Espero ter lançado alguma luz sobre a questão. Abraços”