Como alertado no Curso “Feminismo Católico: Uma Análise à Luz do Magistério“, que o leitor pode assistir gratuitamente aqui, um dos principais inimigos do feminismo é a modéstia no vestir.
A modéstia lembra verdades inconvenientes ao feminismo, a saber, que (i) existem diferenças naturais entre homens e mulheres e que, a partir disso, (ii) as responsabilidades deles também se diferem.
Homens e mulheres por serem sexualmente complementares possuem corresponsabilidade para com o sexo oposto, como bem dito pelo Pe. Regis Scanlon:
“Dado que o ensinamento católico tradicional sobre a modéstia na área da sexualidade exige que a mulher mantenha mais do seu corpo escondido do que o homem, alguns católicos acreditam que isso é injusto para com a mulher. Embora seja verdade que o ensino católico tradicional sobre a modéstia na área da sexualidade demande mais da mulher, isso não é injusto. Tal como a mulher é o gênero mais frágil na área da força física, o homem é o gênero mais frágil na área da sexualidade (no sentido de que o homem é mais propenso à excitação sexual imediata). E assim como é errado um homem usar sua força física para dominar uma mulher, também é errado uma mulher usar as características femininas de seu corpo físico para dominar um homem.”
Regis Scanlon, OFM, Homiletic and Pastoral Review, novembro de 1988.
No feminismo mundano a impugnação à modéstia é explícita. Diz-se claramente “A mulher deve vestir o que ela quiser”.
No feminismo infiltrado dentro da Igreja, contudo, a impugnação é implícita. Em regra, se promove discursos contra critérios e padrões de vestimenta em favor de uma “autenticidade” da mulher.
O que se nota nos últimos anos é que a mentalidade feminista está se incorporando ao discurso normal até mesmo de católicas conservadoras.
Nota-se, por exemplo, o que disse a terapeuta católica Angélica Baldi em um reels do Instagram cujo perfil possui quase 130 mil seguidores.
A terapeuta em seu vídeo busca externar aos seguidores o que seriam os vícios opostos à modéstia em seus extremos. Segundo Angélica, a imodéstia que peca por falta é a sensualidade, o que está correto, e que o oposto da sensualidade, isto é, a oposição por excesso, seria a “caricatura”, isto é, mulheres se vestindo igual. O reels então mostra como exemplo de “caricatura” mulheres usando vestidos. A publicação recebeu mais de 8 mil curtidas.
O que assombra neste caso é o completo desconhecimento do que sejam os vícios referentes à modéstia no vestir e a literatura dos teólogos a respeito do tema. A influenciadora simplesmente inventa um vício da própria imaginação. Não existe um vício de imodéstia chamado “caricatura” que se oponha à sensualidade e que consista em “vestir-se igual aos outros”.
Na verdade, o vício que a opinião comum dos teólogos opõe à sensualidade se chama solicitude excessiva:
“4.° Por la sensualidad con que se buscan los vestidos suaves y delicados.
5.° Por la excesiva solicitud empleada en el cuidado del vestido, aunque no exista desorden alguno por parte del fin.”
Antonio Royo Marín – Teologia Moral para Leigos
“A modéstia no vestir e nos adornos corporais inclina a pessoa a evitar não apenas tudo o que é ofensivo e insuficiente, mas também tudo o que é desnecessário. Pelo excesso a virtude é violada principalmente pelas mulheres através de adornos excessivos ou mesmo indecentes.”
Dominic M. Prummer – Handbook of Moral Theology, p. 238.
Segundo a opinião comum dos teólogos, as partes privadas e semiprivadas do corpo devem ser cobertas. Sendo assim, “solicitude excessiva” seria quando uma pessoa satisfaz essa exigência perfeitamente, mas ainda insiste em colocar mais roupas. Ou seja, o extremo oposto da sensualidade, isto é, usar pouca roupa, não é imitar padrões, mas, obviamente, vestir-se demais.
Imitar padrões de vestimenta não é um vício. Advogados, padres, militares, por exemplo, tendem a se vestir igual conforme o estado de vida e o ofício que ocupam na sociedade.
Ter padrões de vestimenta também é altamente recomendado pela Igreja que, em certas ocasiões, também indicou parâmetros. Veja-se, neste sentido, as enfáticas instruções da Sagrada Congregação do Concílio, por mandato do Papa Pio XI, de 12 de janeiro de 1930:
“Recordamos que um vestido não pode chamar-se decente se tem um decote maior que dois dedos abaixo da concavidade do colo, se não cobre os braços pelo menos até o cotovelo, e escassamente alcança um pouco abaixo do joelho. Ademais, os vestidos de material transparente são inapropriados. Que os padres mantenham suas fiéis afastadas dos jogos e exercícios públicos; mas, se suas filhas são obrigadas a assistir a ditas exibições, que se atentem a irem vestidas totalmente e de forma modesta. Que nunca permitam que suas filhas se ponham em indumentária imodesta.”
Os padrões, os modelos são incentivados pela Igreja, porque eles ajudam o fiel a encontrar os valores certos.
Afirmar que o extremo oposto da sensualidade é “vestir-se copiando os outros” mostrando uma imagem de mulheres perfeitamente bem vestidas só tem como efeito prático dissuadir diversas moças de vestir-se direito ou pior fazê-las encarar parâmetros perfeitamente sóbrios como “opressões”, contribuindo para a causa feminista.
A opinião da terapeuta é apenas um reflexo do que hoje se dissemina entre católicas conservadoras, isto é, a supervalorização da autenticidade. Contudo, não é a autenticidade cristã, mas a mundana.
O Pe. Francisco Faus, em sua obra “Autenticidade e Cia”, ensina que o homem autêntico não é aquele que é “espontâneo” ou “inédito”, e sim aquele que é o que deve ser, segundo as leis de Cristo. Ou seja, o sinônimo de autêntico não é “espontâneo”, mas “verdadeiro“.
Assim, uma católica que imita um bom modelo de vestimenta seguido por suas irmãs de paróquia não está sendo uma caricatura, mas uma autêntica cristã, uma católica verdadeira.
A autenticidade comprada por muitas influenciadoras católicas conservadoras, talvez inconscientemente, é justamente a autenticidade do mundo, isto é, a simples quebra de padrões.
A Igreja rejeita essa noção de autenticidade. O único padrão que devemos quebrar é o do pecado. Imitar os outros no que eles têm de bom não é extremismo, mas propagação da bondade.