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O fundamento ideológico da psicologia [ou pedagogia] contemporânea

Professora Irritada simbolizando o descontrole da Psicologia Moderna

Trazemos aqui um trecho traduzido do artigo “O Problema da psicologia contemporânea em sua relação com a fé cristã” do psicólogo tomista Dr. Martín Echavarría. Ainda que o contexto do artigo seja relacionado à psicologia moderna, o trecho também é válido para contextualizar a pedagogia moderna, uma vez que psicologia e pedagogia geralmente estão ligadas por laços bem estreitos.

Referência: ECHAVARRÍA. M. F. El problema de la psicología contemporánea en su relación con la fe cristiana. Humanitas, n. 49, pp.87-99.

Segue o trecho do artigo:

O Fundamento ideológico da psicologia contemporânea

Conforme conhecido, em grande parte a psicologia experimental contemporânea construiu-se com base na filosofia positivista, em franca oposição dialética com a tradicional ciência da alma. Todavia, a psicologia não é apenas a psicologia acadêmica. Um problema específico, que acarreta em enormes consequências para a vida de muitas pessoas, são promovidos pelas teorias da personalidade que estão no fundamento prático da psicologia, em particular da psicoterapia [Nota: como a pedagogia não deixa de, sob certo aspecto, também ser um fundamento prático da psicologia, pode ser incluída na análise do prof. Echavarría].

João Paulo II, em discurso aos membros da Rota Romana, advertia sobre o perigo que trazem algumas psicologias baseadas em antropologias contrárias a fé:

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Esse perigo [que o juízo eclesiástico se deixe “sugestionar por conceitos antropológicos inaceitáveis”] não é meramente uma hipótese se considerarmos que a visão antropológica a partir da qual se movem muitas correntes no campo da ciência psicológica no mundo moderno é, de fato, em seu conjunto, irreconciliável com os elementos essenciais da antropologia cristã, porque censuram os valores e os significados que transcendem ao dado imanente e que permitem ao homem se orientar pelo amor a Deus e ao próximo como sua vocação última.

Esta censura é irreconciliável com a visão cristã que considera o homem um ser “criado a imagem de Deus, capaz de conhecer e amar seu próprio Criador” (Gaudium et spes, 12) e ao mesmo tempo dividido em si mesmo (ver Gaudim et spes, 10). De modo contrário, essas correntes psicológicas partem da idéia pessimista segundo a qual o homem não poderia conceber outras aspirações a não ser aquelas impostas pelos seus impulsos ou por condicionamentos sociais; ou, ao contrário, da idéia exageradamente otimista segundo a qual o homem tenderia a si e poderia alcançar por si mesmo sua própria realização [1]

Esta crítica serve a maior parte das correntes psicológicas mais divulgadas, e, a primeira de todas, é a psicoanálise de Freud. Em sua aspiração última, ela não é senão uma realização prática do projeto nietzschiano de transvaloração e de superação do cristianismo e da moral [2]. Em seu aspecto teórico é uma mescla entre a visão romântica do inconsciente, a dinâmica das representações de Herbart e o evolucionismo. A doutrina psicoanalítica, tanto em seus aspectos antropológicos quanto em seus aspectos religiosos e morais, é francamente incompatível com a visão cristã de homem. Já nos referiremos à sua aplicação psicoterapêutica.

O que se sucede com a psicoanálise é quase um exemplo do que se sucede com a maioria das correntes atuais de psicoterapia. Enquanto em Freud e na psicologia profunda em geral – Jung, lacan, etc. – prevalece “a idéia pessimista segundo a qual o homem não pode conceber outras aspirações além daquelas impostas por seus impulsos”, nas correntes da psicologia humanista – Moreno, Rogers, Maslow, Fromm, Perls – e existencial – R. May – predomina “a idéia exageradamente otimista segundo a qual o homem tenderia a si e poderia alcançar por si mesmo sua própria realização”. Geralmente estes últimos autores consideram as influências familiares e morais como repressivas à espontaneidade vital e fomentam uma espécie de liberdade absoluta de autorealização, que pela forma como é exposta é incompatível não só com os requerimentos morais do cristianismo, mas também com as exigências mínimas da ética natural [3]. De fato, se a psicoanálise de Freud apresenta-se em última análise como uma aspiração de superação nietzscheana da moral, estas psicologias parecem que visam promover uma nova forma de ética, experimental ou clínica.

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Nas psicoterapias sistêmicas, a esta aspiração soma-se a destruição da noção de causalidade e da idéia de pessoa como sujeito subsistente e sua dissolução ontológica e moral em uma rede de relações que seriam o verdadeiro sujeito do transtorno e da mudança, além de uma concepção construtivista do conhecimento – que afeta também outras áreas e autores da psicologia contemporânea – em que se anula a noção de verdade e de realidade objetiva.

As psicologias comportamentais, ainda que mais pragmáticas, têm uma raiz cientificista e tecnocrática de ideologia comportamental, embora parece que tenham evoluído melhor com a incorporação de elementos cognitivos das chamadas psicoterapias cognitivo-comportamentais. De todo modo, além dos elementos resgatáveis que se podem encontrar, sobrepõe-se a presença de uma atitude hostil contra a moral cristã ou às vezes – como em A. Ellis – uma intenção explícita de propor uma nova moral [4].

Essas que mencionamos são as principais correntes da psicoterapia. É muito difícil, para não dizer totalmente impossível, em quase todos os países, conseguir uma formação sistemática em psicoterapia fora destas escolas.

Creio que este panorama, necessariamente rápido, é suficiente para notar que aqui existe um problema que necessita ser resolvido.

Notas:

[1] Ver Juan Pablo II, La Incapacidad psíquica e as declarações de nulidade matrimonial. Discurso al tribunal de la Rota Romana, 5/2/1987, 481-485.

[2] Ver P. Laurent Assoun, Freud et Nietzsche, Quadrige-Presses Universitaires de France, Paris 1998; Martín F. Echavarría, La psicologia di F. Nietzsche ed il suo influsso nella psicoanalisi, em Información Filosófica. Revista Internacional de Filosofia y Ciencias Humanas, I (2004) pp. 202-221; Martín F. Echavarría, La psicología antihumanista y posmoral de F. Nietzsche y su influencia em el psiconanálisis, em AA. VV., Bases para una psicología cristiana, Universidad Católica Argentina, Buenos Aires 2005, pp. 31-50.

[3] Ver Paul Vitz, Psychology as religion; The cult of self-worship, Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids MI 1994.

[4] Albert ellis y René Grieger, Manual de terapia racional-emotiva, Desclée de Brouwer, Bilbao 2000, p. 204: “o enfoque da terapia racional emotiva muitas vezes é mais filosófico que psicológico. Os terapeutas da RET mais do que mostrar simplesmente aos clientes a psicodinâmica de seu comportamento perturbado, demonstram-lhes o que poderia se chamar de dinâmica filosófica de seu comportamento. Isto é, demonstram que as verdadeiras razões de seu comportamento auto-destrutivo não são fruto de suas experiências temporais ou de sua história passada, mas sim das atitudes filosóficas e suposições que tem escolhido, e todavia fazem-se em torno das experiências e das histórias.

Mais ainda, os terapeutas racionais apresentam muito didaticamente aos clientes uma filosofia de vida bastante nova e de orientação existencialista. Eles ensinam que é possível para as pessoas aceitarem-se como seres valiosos e felizes com a vida pelo mero fato de que existem e que estão vivendo. Atacam com firmeza a idéia de que o valor intrínseco das pessoas depende dos critérios normalmente reconhecidos na sociedade tais como os êxitos, as honrarias adquiridas, a popularidade, o serviço aos demais, a devoção para com Deus e outras coisas do tipo. Pelo contrário, eles demonstram aos clientes que fariam melhor, se realmente querem superar suas perturbações emocionais profundamente arraigadas, em se aceitar a si mesmos sem dar importância a serem competentes ou a alcançarem muitos êxitos e sem dar atenção a se os outros valem muito ou nada.

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