Conteúdo do Artigo

Últimos Artigos

Ecologia Integral na veia: Análise da fala do Bispo de Mogi das Cruzes
São José, modelo de virilidade
"Queremos padres que nos digam o que não queremos escutar!"
O Silêncio do Pai
Análise da Via Sacra da Campanha da Fraternidade 2025 - Ecologia Integral

Categorias

Colunas

Augusto Pola Júnior

Blog do Augusto

Martelo dos Influencers

Em breve

Padre Javier Ravasi

Que no te la cuenten

O Silêncio do Pai

Por Vicente Hargous

É quase um lugar comum escutar – mais ainda no mês de março [1] – slogans sobre “a dor da maternidade não desejada”. Os feminismos pró-aborto se referem à maternidade como um peso escravizante, e também como “uma decisão”; “a maternidade será desejada ou não será”. Frente à crise de natalidade pela qual atravessa o Ocidente, normalmente, no debate público, são propostas medidas de acompanhamento à maternidade, incentivos para que as mulheres sejam mães ou para que possam conciliar seu eventual desejo com a possibilidade de trabalhar. Mas em todo este debate há um personagem esquecido: o pai. É como se o pai fosse, antes de tudo, uma figura ausente, mas não porque foi comprar cigarros, e sim porque a própria sociedade é quem o isola, como se os filhos não tivessem nada a ver com ele, como se na “decisão” de ter filhos ele não tivesse nada a dizer, como se a resposta frente à crise de natalidade pudesse ser resolvida com o enfoque a um feminismo individualista.

Há uma cena de “O Poderoso Chefão II” que retrata perfeitamente este ausentismo involuntário do pai. Não se trata, é claro, do caso de um pai exemplar (pelo contrário), e a verdade é que a situação de Kay nesse contexto é realmente difícil (e mais ainda, desoladora), tendo em vista as atrocidades da família. Mas não deixar de ser chamativo o modo como o pai, enquanto tal, é simplesmente deixado de lado. O casamento de Kay (Diane Keaton) e Michael Corleone (Al Pacino) passava por um momento difícil, mas se agravou a tal ponto, que não se recuperaria da crise depois de um diálogo terrível. Kay diz a seu marido que levará os filhos e sairá da casa. Diante disto, Michael lhe responde dizendo que os filhos ficariam com ele:

Livraria do ISA 350x350

Kay, o que queres de mim? Queres que eu te deixe ir? Queres que te deixe tirar os meus filhos? Não me conheces? Não sabes que isso é impossível? Que isso nunca poderá acontecer? Que eu usaria todo meu poder para evitar que algo assim acontecesse? Não sabes disso? Kay, com o tempo, te sentirás diferente. Ficarás alegre porque te impediram agora. Eu sei. Sei que me culpas por ter perdido o bebê. Sim. Sei o que significou para ti. Eu te compensarei, Kay. Te juro que compensarei. Vou mudar. Vou mudar. Aprendi que tenho a força para mudar. Então esquecerás esta perda. E teremos outro filho. E seguiremos adiante, tu e eu. Seguiremos adiante…

Michael faz questão de ficar com seus filhos, por isso a ameaça e argumenta com palavras manipulativas. Mas a resposta de Kay é que revela até que ponto chega o drama neste filme:

Oh, oh, Michael, estás cego. Não foi uma perda, foi um aborto! Um aborto, Michael. Assim como nosso casamento é um aborto!… algo ímpio e mau. Eu não queria a teu filho, Michael. Não traria outro de teus filhos a este mundo. Foi um aborto, Michael. Era um filho; um filho, e eu o matei porque tudo isso tem que acabar! Agora sei que acabou; eu sabia disso naquela época. Porque não havia outra maneira, Michael, nenhuma maneira de que pudesses me perdoar. Não com essa coisa siciliana que acontece há dois mil anos.

Depois disto, Michael fica enfurecido e bate nela. O filme ilustra de forma muito crua o desespero de uma mulher encurralada, e também a ira de um pai que perdeu o seu filho, contra sua vontade, por uma decisão de sua mãe. Obviamente, trata-se de um caso no qual se deve levar em conta a perversidade de Michael (ninguém pretende justificá-lo, que fique claro), mas não deixa de ser chocante a realidade que se revela na relação entre o pai e a mãe quando ela decide abortar: o slogan “a maternidade será desejada ou não será” tem como consequência o esquecimento do pai, seu cancelamento, sua omissão na equação… sendo que sem ele a mãe não poderia conceber um filho, um filho que também é dele. A ideologia da luta entre o homem e a mulher, a moral do desejo e a política individualista mataram o pai. Saindo do complexo caso apresentado no filme – onde se mescla a violência intrafamiliar, a maldade da máfia, o uso da família como acobertamento -, o problema da natalidade não pode ser compreendido adequadamente sem um olhar holístico sobre a família e uma mudança de paradigma em relação aos filhos. Sobre o primeiro, é necessário talvez recordar que o mais desejável – o que deveria ser de fato promovido pelas políticas públicas – seria que todo filho fosse fruto de uma relação de amor entre seu pai e sua mãe, unidos de modo estável e permanente. Daí que, na realidade, a questão do matrimônio seja sempre ineludível quando se trata desses debates: ao ser desconsiderado, toma-se uma decisão em favor de políticas individualistas, onde, no fundo, o pai é calado, omitido como um ser estranho ou prescindível (ou, no melhor dos casos, reduzido à condição de uma carteira). E acerca do segundo, parece-me que os cristão temos o grave dever de dar término ao discurso utilitário que coisifica os filhos: todo filho lançado à existência é um dom, e não um objeto de desejo ou de realização pessoal. Ora, um filho não desejado é tão frágil quanto um que o é, merecendo o mesmo carinho e cuidado. Os filhos não são uma “decisão”, e tampouco uma decisão de uma só parte: talvez a palavra que os cristãos deveríamos usar é “discernimento”, e de todo modo se trata de um discernimento entre dois… e um discernimento que não retira a possibilidade de que chegue um filho inesperado, que nem por isso terá menos direito a nascer e a ter um pai e uma mãe.

Há 2000 anos, numa aldeia da Palestina, um homem chamado José teve um sonho, no qual foi notificado de um filho imprevisto para ele, mas previsto desde a eternidade para mudar para sempre o curso da história. Filho que seria seu, pois seria ele quem lhe poria o nome, tornando-o parte de sua descendência segundo a carne. Uma paternidade que não foi planejada, mas que realmente esteve presente: primeiro levando a família à Belém, depois ao Egito, trabalhando para sustentá-la, educando o menino… Essa história poderia ser uma boa guia para uma política social cristã focada no problema de fundo.

Altear - Contabilidade Consultiva

Fonte: Revista Suroeste

Nota:

Banner - Fatima: Uma Aparição Politicamente Incorreta

[1] O autor provavelmente se refere ao revolucionário dia 8 de março, chamado “dia da mulher”, que na prática é dia de repetir slogans feministas (Nota do tradutor).

Sobre Vicente Hargous

Compartilhar

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Seja Membro Patrocinador

Cursos Exclusivos | Acesso a Artigos Restritos |
eBook/Leitura (Em breve) | Desconto na Loja

Assinatura Anual:
R$ 119,90
(R$ 10,00 por mês)

Assinatura Semestral:
R$ 89,90
(R$ 15,00 por mês)

Picture of Santo Atanasio

Santo Atanasio

Instituto Santo Atanásio (Curitiba - PR). Associação de leigos católicos que tem por objetivo promover a Fé e a Cultura Católica na sociedade.
Todos os posts do autor
Cássia Kis no programa Encontro
Lula, Globo, Cássia Kis, e o poder da Verdade
Quem está jogando água no chopp da nossa heróica esquerda e seus magníficos projetos em prol da humanidade?...
Papa João Paulo II
O que significa a "submissão mútua" de São João Paulo II?
A expressão “submissão mútua” foi introduzida pela primeira vez pelo Papa João Paulo II nas...
Papa Silvestre e Constantino
A Igreja e o estado: como deve ser a relação?
A relação entre o Estado e a Igreja é hoje uma das questões mais importantes, uma vez que a democracia...
Cartaz - Brasil sem Aborto
A Mentalidade Abortista no Brasil
Diante do caso do aborto realizado em uma menina de 10 anos estuprada pelo tio, muitos católicos ficaram...
Sala de aula bagunçada. Ilustração da desordem da educação brasileira
Como o conservadorismo pode reverter o fracasso da educação no Brasil
O igualitarismo de nossa época é tão cego que tornou obsoleta a concepção de que determinadas ideias...

Comentários

Deixe um comentário

Search

Últimos ISA Cursos

Curso - Tópicos sobre a Oração
Filotéia ou Introdução à Vida Devota de São Francisco de Sales
I Seminário de Psicologia Tomista do Instituto Santo Atanásio
Curso - A Mística do Templo na Espiritualidade Beneditina
Curso Mistagogia Cristã - Instituto Santo Atanásio - ISA MEMBROS

Eventos presenciais

Carrinho de compras