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O Silêncio do Pai

Por Vicente Hargous

É quase um lugar comum escutar – mais ainda no mês de março [1] – slogans sobre “a dor da maternidade não desejada”. Os feminismos pró-aborto se referem à maternidade como um peso escravizante, e também como “uma decisão”; “a maternidade será desejada ou não será”. Frente à crise de natalidade pela qual atravessa o Ocidente, normalmente, no debate público, são propostas medidas de acompanhamento à maternidade, incentivos para que as mulheres sejam mães ou para que possam conciliar seu eventual desejo com a possibilidade de trabalhar. Mas em todo este debate há um personagem esquecido: o pai. É como se o pai fosse, antes de tudo, uma figura ausente, mas não porque foi comprar cigarros, e sim porque a própria sociedade é quem o isola, como se os filhos não tivessem nada a ver com ele, como se na “decisão” de ter filhos ele não tivesse nada a dizer, como se a resposta frente à crise de natalidade pudesse ser resolvida com o enfoque a um feminismo individualista.

Há uma cena de “O Poderoso Chefão II” que retrata perfeitamente este ausentismo involuntário do pai. Não se trata, é claro, do caso de um pai exemplar (pelo contrário), e a verdade é que a situação de Kay nesse contexto é realmente difícil (e mais ainda, desoladora), tendo em vista as atrocidades da família. Mas não deixar de ser chamativo o modo como o pai, enquanto tal, é simplesmente deixado de lado. O casamento de Kay (Diane Keaton) e Michael Corleone (Al Pacino) passava por um momento difícil, mas se agravou a tal ponto, que não se recuperaria da crise depois de um diálogo terrível. Kay diz a seu marido que levará os filhos e sairá da casa. Diante disto, Michael lhe responde dizendo que os filhos ficariam com ele:

Kay, o que queres de mim? Queres que eu te deixe ir? Queres que te deixe tirar os meus filhos? Não me conheces? Não sabes que isso é impossível? Que isso nunca poderá acontecer? Que eu usaria todo meu poder para evitar que algo assim acontecesse? Não sabes disso? Kay, com o tempo, te sentirás diferente. Ficarás alegre porque te impediram agora. Eu sei. Sei que me culpas por ter perdido o bebê. Sim. Sei o que significou para ti. Eu te compensarei, Kay. Te juro que compensarei. Vou mudar. Vou mudar. Aprendi que tenho a força para mudar. Então esquecerás esta perda. E teremos outro filho. E seguiremos adiante, tu e eu. Seguiremos adiante…

Michael faz questão de ficar com seus filhos, por isso a ameaça e argumenta com palavras manipulativas. Mas a resposta de Kay é que revela até que ponto chega o drama neste filme:

Oh, oh, Michael, estás cego. Não foi uma perda, foi um aborto! Um aborto, Michael. Assim como nosso casamento é um aborto!… algo ímpio e mau. Eu não queria a teu filho, Michael. Não traria outro de teus filhos a este mundo. Foi um aborto, Michael. Era um filho; um filho, e eu o matei porque tudo isso tem que acabar! Agora sei que acabou; eu sabia disso naquela época. Porque não havia outra maneira, Michael, nenhuma maneira de que pudesses me perdoar. Não com essa coisa siciliana que acontece há dois mil anos.

Depois disto, Michael fica enfurecido e bate nela. O filme ilustra de forma muito crua o desespero de uma mulher encurralada, e também a ira de um pai que perdeu o seu filho, contra sua vontade, por uma decisão de sua mãe. Obviamente, trata-se de um caso no qual se deve levar em conta a perversidade de Michael (ninguém pretende justificá-lo, que fique claro), mas não deixa de ser chocante a realidade que se revela na relação entre o pai e a mãe quando ela decide abortar: o slogan “a maternidade será desejada ou não será” tem como consequência o esquecimento do pai, seu cancelamento, sua omissão na equação… sendo que sem ele a mãe não poderia conceber um filho, um filho que também é dele. A ideologia da luta entre o homem e a mulher, a moral do desejo e a política individualista mataram o pai. Saindo do complexo caso apresentado no filme – onde se mescla a violência intrafamiliar, a maldade da máfia, o uso da família como acobertamento -, o problema da natalidade não pode ser compreendido adequadamente sem um olhar holístico sobre a família e uma mudança de paradigma em relação aos filhos. Sobre o primeiro, é necessário talvez recordar que o mais desejável – o que deveria ser de fato promovido pelas políticas públicas – seria que todo filho fosse fruto de uma relação de amor entre seu pai e sua mãe, unidos de modo estável e permanente. Daí que, na realidade, a questão do matrimônio seja sempre ineludível quando se trata desses debates: ao ser desconsiderado, toma-se uma decisão em favor de políticas individualistas, onde, no fundo, o pai é calado, omitido como um ser estranho ou prescindível (ou, no melhor dos casos, reduzido à condição de uma carteira). E acerca do segundo, parece-me que os cristão temos o grave dever de dar término ao discurso utilitário que coisifica os filhos: todo filho lançado à existência é um dom, e não um objeto de desejo ou de realização pessoal. Ora, um filho não desejado é tão frágil quanto um que o é, merecendo o mesmo carinho e cuidado. Os filhos não são uma “decisão”, e tampouco uma decisão de uma só parte: talvez a palavra que os cristãos deveríamos usar é “discernimento”, e de todo modo se trata de um discernimento entre dois… e um discernimento que não retira a possibilidade de que chegue um filho inesperado, que nem por isso terá menos direito a nascer e a ter um pai e uma mãe.

Há 2000 anos, numa aldeia da Palestina, um homem chamado José teve um sonho, no qual foi notificado de um filho imprevisto para ele, mas previsto desde a eternidade para mudar para sempre o curso da história. Filho que seria seu, pois seria ele quem lhe poria o nome, tornando-o parte de sua descendência segundo a carne. Uma paternidade que não foi planejada, mas que realmente esteve presente: primeiro levando a família à Belém, depois ao Egito, trabalhando para sustentá-la, educando o menino… Essa história poderia ser uma boa guia para uma política social cristã focada no problema de fundo.

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Fonte: Revista Suroeste

Nota:

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[1] O autor provavelmente se refere ao revolucionário dia 8 de março, chamado “dia da mulher”, que na prática é dia de repetir slogans feministas (Nota do tradutor).

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