O que poderíamos esperar do neto de um ministro anglicano e descendente de huguenotes franceses? Tais eram os antepassados de Frederick William Faber, nascido na Inglaterra em 1814, quando ser católico ainda podia resultar, para um inglês, em diversas restrições e perseguições sociais.
Por influência da família, Faber foi calvinista na infância e juventude, depois anglicano no começo da vida adulta e, por fim, tornou-se um católico de frutífera produção intelectual na maturidade.
ua trajetória religiosa foi profundamente transformada pelo seu ingresso como estudante na Universidade de Oxford e pela amizade que ali cultivou com um vulto intelectual e espiritual ainda maior que ele próprio: o Cardeal São John Henry Newman, que era apenas um clérigo anglicano atuante na capelania da universidade quando Faber o conheceu.
Ganhava fôlego, então, o chamado Movimento de Oxford, uma iniciativa de membros da “High Church” anglicana, uma facção mais tradicional e avessa às modernizações dentro do anglicanismo, para resgatar algumas das doutrinas e práticas que haviam sido perdidas após a ruptura causada pelo rei Henrique VIII, o apóstata (também conhecido como “o adúltero”).
Em tese, o movimento visava robustecer o anglicanismo pelo estudo e resgate de tradições teológicas, litúrgicas e devocionais do período pré-deforma. Em outras palavras, ele favorecia um retorno às fontes anglo-católicas primárias.
Os oxfordianos não intentavam, a princípio, algo como uma reconciliação com o Papa ou mesmo uma reaproximação de Roma. No entanto, o movimento acabou resultando, na prática, em diversas conversões e propiciando um reavivamento da intelectualidade católica a partir do coração da universidade.
Faber participou desse movimento, do qual o próprio Newman foi um dos principais promotores. Não demorou muito para que Faber fosse incorporado ao clero anglicano. Neste posto, passou por diversas “paróquias” fazendo um trabalho de recuperação de riquezas cristãs que, muito antes de serem anglicanas, eram originalmente católicas.
Quando Newman decidiu-se, por fim, pelo retorno à casa, pela conversão total à fé católica, Faber o acompanhou e levou consigo, de volta para a comunhão com a Roma apostólica, mais onze amigos da pequena comunidade anglicana de Elton que, sob os seus auspícios, haviam crescido no conhecimento da verdade e ansiavam por estar plenamente no seio da Igreja de Cristo. Era o ano da graça de 1845.
Mais tarde, Faber entrou para o Oratório de São Felipe Néri e se tornou um sacerdote católico oratoriano, celebrando a sua primeira Santa Missa em 1847.
Daquele movimento intelectual saíram diversos outros católicos célebres, como o Padre Robert H. Benson, autor da distopia O Senhor do Mundo, e o teólogo, apologista e arcebispo católico de Westminster Cardeal Henry Edward Manning.
Vindo a falecer aos 49 anos, em 1863, o Padre Faber nos deixou uma obra extensa e verdadeiramente admirável! Destacando-se como teólogo, escritor e compositor, o sacerdote inglês publicou cerca de 17 obras escritas, entre títulos literários, devocionais e teológicos, e mais de 20 composições musicais, entre as quais a conhecida Faith of Our Fathers (Fé de Nossos Pais – Ouça aqui).
Seu profundo e espiritualmente delicioso livro O Santíssimo Sacramento (The Blessed Sacrament) será lançado em breve pela nossa campanha editorial em curso, que é inteiramente devotada às maravilhas da Santíssima Eucaristia.
A Primorosa Obra que lhe oferecemos
Trata-se de uma leitura que nos permite mergulhar nas sublimes Verdades do tremendo e dulcíssimo DOM de Amor que é Jesus realmente Presente na singeleza e humildade da Hóstia Consagrada.
Ele, o Bebê da manjedoura de Belém, o Menino que foi adorado pelos reis magos e teve uma infância discreta em Nazaré, o Jovem que em tenra idade já instruía os doutores no Templo, o Mestre que atraiu para si o grande Batista e seus discípulos, o Taumaturgo que realizou seu primeiro milagre num casamento em Caná e depois operou prodígios muito maiores, o Cordeiro Redentor que sofreu por nós no Horto, que caiu por terra no caminho extenuante do Calvário, que padeceu na agonia extrema sobre a Cruz… É Ele próprio que está sempre ali, tornado Pão, tão generosamente disposto a matar nossa fome de Deus, a nos cumular de graças inenarráveis, colocando-Se sempre ao nosso alcance, embora Ele seja hoje tão esquecido e desprezado.
Em tudo isso, o livro do Padre Faber nos ajuda a termos uma visão mais precisa das razões do Salvador, do Verbo Eterno que criou as galáxias e faz queimarem as estrelas, para Se ocultar num pequeno pedaço de Pão e Se sujeitar à nossa irreverência, ao nosso desdém, ao nosso sacrilégio.
Diante de tão assombroso mistério, o teólogo nos ajuda a compreender melhor o que acontece no milagre da Transubstanciação, o que se dá no nível das essências quando o pão e o vinho ordinários se tornam a Carne e o Sangue de Jesus.
Ele nos permite enxergar o triunfo do Amor Eucarístico em cada procissão de Corpus Christi, em cada Bênção com o Santíssimo, em cada Comunhão, em cada Adoração.
Faz-nos vislumbrar a relação que existe entre o Sublime Sacramento do Altar e as diversas etapas particulares da vida terrena de Jesus; entre a Eucaristia e as outras obras de Deus, como a Criação, a Encarnação e a Justificação; entre o Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor e Sua Imaculada Mãe, Maria Santíssima.
“Nunca fiz sequer uma Comunhão sem que a devesse a vós, ó Mãe! O tabernáculo, a píxide, o ostensório – a própria beleza do mistério Eucarístico consiste no fato de que ele me traz o vosso Jesus e não outro! É o Corpo que foi formado a partir do vosso, e não um novo, que a Consagração me traz!”
Nesta obra-prima, o exímio teólogo inglês ajuda-nos a compreender melhor até mesmo o mistério supremo da Indivisa e Santíssima Trindade.
Aborda e responde magistralmente às objeções heréticas que são levantadas contra a realidade do Santíssimo Sacramento por protestantes e deístas.
Versa também sobre temas da ciência que estavam em voga na sua época e pretendiam se impor como impeditivos para a fé, ensinando que, na verdade, os progressos feito pelo homem nas ciências naturais têm apenas contribuído para confirmar muito do que a sã doutrina católica há tempos já ensinava.
Trata-se de uma obra capaz de abrandar mesmo os corações mais duros, de abrir novos horizontes mesmo aos olhos mais cerrados, de incutir piedade e amor pelo Senhor Sacramentado – fornecendo alimento para muitos e doces colóquios de oração reverente e meditação espiritual – mesmo às consciências mais embotadas.
Enfim, é um livro destinado a nos ajudar a comungar melhor deste Pão dos Anjos, a termos mais ciência do quem é Aquele que estamos recebendo, a adorarmos com mais fruto, tornando-nos mais íntimos deste amável Deus Escondido que ali Se despoja da Sua glória e potestade e Se faz alimento por nós.