Dando continuidade à refutação das preces incluídas pela CNBB no dito “Terço da Amizade Social”, no contexto da Campanha da Fraternidade 2024. Hoje analisaremos os mistérios dolorosos.
1º Mistério doloroso – Agonia de Jesus no Horto das Oliveiras
A CF deste ano nos faz pensar que ninguém amadurece nem alcança a plenitude se isolando [1]. Esta realidade desafia a nossa conversão [2]. A vontade de Deus nos dá a consciência de que, ou nos salvamos todos juntos ou não se salva ninguém [3]. O critério de salvação passa pelo bem que fazemos e pelo dom de nós mesmos aos outros [4]. Meditar a Paixão do Senhor é contemplar as lágrimas do nosso povo em um tecido social esgarçado, característica essa que constatamos nos sintomas de uma sociedade adoecida [5]. Um mundo repleto de ódio, rancor, que alimenta a cultura da maldade, é um mundo de inimigo e de sofrimento [6].
[1] Nem tampouco e principalmente se afastado da GRAÇA de Deus.
[2] Está meio truncado. A ordem é: 1) Amar a Deus; 2) Amar a si mesmo e 3) Amar o próximo como a si mesmo.
[3] Que coletivismo absurdo é este? Primeiramente, devo cuidar da salvação da MINHA alma para então poder auxiliar os outros na deles. Do contrário, é cego guiando outro cego. Como ensina Santo Agostinho (em sua obra “A mentira”) eu não posso pecar para supostamente salvar a alma do outro, já que devo primeiramente ter compromisso e responsabilidade com a minha. Na verdade, cada um tem responsabilidade para com a salvação da própria alma, pedindo a caridade que se esforce para ajudar na salvação da alma alheia. Porém, tal ajuda não isenta a responsabilidade do outro para com a sua própria alma.
[4] Ok. Mas somos justificados não só por obras, mas também, e primeiramente, pela fé! O que significa que se eu não estiver purificado dos pecados, nenhum bem que fiz nem nenhum dom meu para o bem do outro será meritório.
[5] Meditar a Paixão do Senhor é contemplar as lágrimas do próprio Deus pelo fato de que, mesmo Ele dando a vida para redimir aos homens, grande parte da humanidade o despreza! Quem é devoto do Sagrado Coração de Jesus não desconhece a frase que Nosso Senhor disse a Santa Margarida Maria Alacoque: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-Se e consumir-Se, para manifestar-lhes Seu amor. E como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, desprezos, irreverências, sacrilégios, friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor“.
Ademais, a sociedade está adoecida, mas sua doença é devida ao pecado original! E por isso a frase: “Maldito o homem que confia no homem!” (Jr 17, 5). Daí a razão do porquê Nosso Senhor morreu na cruz para redimir a natureza humana (pois do contrário inequivocamente iria ao inferno) e abrir a porta dos céus. Ou seja, a cura da sociedade está em buscar o Reino dos Céus, e não na sociedade humana.
[6] Isso pode ser dito de toda e qualquer alma que está afastada da fé e da caridade. De toda e qualquer alma que rejeita a redenção de Cristo na Cruz para libertar-se do pecado. E assim, não é o mundo que produz o mal, mas o pecado que anima o mundo para que a iniquidade prevaleça. E por isso a teologia ensina que o mundo é um dos inimigos do homem.
2º Mistério doloroso – Flagelação de Nosso Senhor
A CF deste ano nos faz pensar no amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço, no amor desejoso de abraçar a todos [7]. Contemplando a flagelação de Jesus, precisamos superar as durezas de nossos corações [8]. A fraternidade vai garantir firmeza nas nossas próprias convicções: o amor atravessa as cadeias que aprisionam nossa capacidade de nos reconhecermos como companheiros de caminhada [9]. Somos todos irmãos e irmãs! [10]
[7] Este amor não pode ser humano, mas apenas divino. E para o homem ser capaz de operar divinamente, ele necessita da caridade. E para possuir a virtude da caridade, ele precisa estar em estado de graça, o que significa estar livre de qualquer pecado mortal na consciência. Mas não vejo a CF deste ano nos fazendo pensar nesse tipo de amor “ultrapassante” que nos leva a pensar no exame de consciência de nossa alma…
[8] O coração duro é o coração soberbo. O remédio, portanto, é a humildade. Mas a humildade obriga que os Mandamentos de Deus desejam meditados e obedecidos. Consequentemente, a humildade obriga aderir à fé católica.
[9] Novo pedágio gratuito à maçonaria. A fraternidade não vai garantir nenhuma convicção, pois a fraternidade humana é caracterizada pela dureza do coração causada pelo pecado original. O que garante firmeza nas convicções é o amor a Deus operado pela graça Divina mediante a Videira: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Sobre “aprisionar nossa capacidade de nos reconhecermos como companheiros de caminhada”, tal frase não tem qualquer sentido evangélico. A frase que tem sentido evangélico é: “Pelos frutos, conhecereis”. É pelos frutos que poderei saber quem é o meu irmão (outro católico) na caminhada, quem são meus inimigos (odiadores de Deus que, dóceis à sugestão diabólica, obstaculizam a caminhada) e quem pode vir a ser meu irmão na caminhada (almas dóceis à verdade, mas ainda não convertida).
[10] Jo 8, 28- Jesus então lhes disse: “Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem sou e que nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, porque faço sempre o que é do seu agrado”. Tendo proferido essas palavras, muitos creram nele. E Jesus dizia aos judeus que nele creram: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Replicaram-lhe: “Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu: Sereis livres?” Respondeu Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica para sempre. Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. Bem sei que sois a raça de Abraão; mas quereis matar-me, porque a minha palavra não penetra em vós. Eu falo o que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que aprendestes de vosso pai”. “Nosso pai” – replicaram eles – “é Abraão.” Disse-lhes Jesus: “Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas, agora, procurais tirar-me a vida, a mim que vos falei a verdade que ouvi de Deus! Isso Abraão não o fez. Vós fazeis as obras de vosso pai”. Retrucaram-lhe eles: “Nós não somos filhos da fornicação; temos um só pai: Deus”. Jesus replicou: “Se Deus fosse vosso pai, vós me amaríeis, porque eu saí de Deus. É dele que eu provenho, porque não vim de mim mesmo, mas foi ele quem me enviou. Por que não compreendeis a minha linguagem? É porque não podeis ouvir a minha palavra. Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas eu, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem de vós me acusará de pecado? Se vos falo a verdade, por que me não credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus”.
Assim como escribas e fariseus não eram irmãos de Jesus, pois honravam pais diferentes, assim não é possível dizer que aqueles que não estão em conformidade com a integridade da fé católica, ou aqueles sequer adentraram na Igreja pelo batismo, são nossos irmãos. Se a paternidade é diferente, a família é diferente.
3º Mistério doloroso – Coroação de espinhos de Nosso Senhor
A CF deste ano nos faz pensar que é preciso combater o nosso orgulho e egoísmo, libertando-nos do peso das ofensas e mágoas por meio do perdão. A reconciliação que precisamos semear é dom do perdão divino [11]. Não podemos cair no círculo vicioso da vingança [12]. Por sua misericórdia, Deus nos mostra o quanto nos ama e, no amor fraterno entre nós, é Ele quem, em nós, ama a outra pessoa [13]. A lógica do Reino nos faz apostar na fraternidade. Essa é a nova fronteira da humanidade. As várias religiões oferecem uma preciosa contribuição para a construção de vínculos fraternos, ações benéficas geradoras de vida, dignidade e liberdade [14].
[11] Até aqui tudo bem. De fato, “perdoar as nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores” como rezamos no Pai Nosso mostra que o perdão é um dom, uma graça que vem de Deus.
[12] A vingança pode ser entendida de dois modos. Há de fato a vingança ruim, àquela do Chaves que “mata a alma e envenena”. Por que a vingança ruim mata a alma e a envenena? É porque este tipo de vingança é dominada pela soberba, cujo raciocínio é mais ou menos assim: “Se me fizeram mal, tenho o direito de causar-lhe o mal”. Mata a alma porque se deseja o mal para o outro, e isto vai contra a caridade – “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20). Envenena porque a alma não passa a agir pensando no bem, mas motivada em causar o mal. Ora, pede-nos a caridade que desejemos o bem até para os nossos inimigos.
Porém, existe a vingança que é boa, que é aquela que pede pela restituição da justiça, sem a qual não existe verdadeira misericórdia. Quem deve, deve. É justo que pague. E se não paga, é justo que seja “vingado”, no sentido de expiar esta dívida. Deus mesmo se vingará dos ímpios quando aplicar a sua Justiça: os impenitentes irão para o inferno. Os penitentes devedores irão expiar suas culpas no purgatório (e não sairá até pagar o último centavo – cfr. Mt 5,26). E os Santos, sem culpa a serem expiadas, irão para o céu sem precisar passar pelo purgatório.
[13] Esta frase só está correta se por “amor fraterno” entendermos a caridade entre os irmãos que estão em estado de graça. Pois só a caridade é amor sobrenatural, e é amor sobrenatural Deus, em nós, amar outra pessoa.
[14] Simplesmente herético. Não é a soma das outras religiões ou a contribuição com elas que fazem a “lógica do Reino”. A lógica do Reino é a conversão à Igreja Católica fora da qual não há salvação! Os meios para chegarmos ao Reino já nos foram dados por Deus ao fundar a sua Igreja (Esperança), cabendo ao homem livremente aceitar a doutrina de salvação desta mesma Igreja (Fé) e obedecê-la em seus preceitos (Caridade). Neste mesmo sentido, somente na Igreja Católica, por ser a detentora da verdade e dos meios ordinários da graça (sacramentos), é que reside as ações geradoras de vida, dignidade e liberdade. As demais religiões só possuirão “vida, dignidade e liberdade” de modo precário e meramente humano (sem mérito sobrenatural e, portanto, sem nenhuma lógica de Reino), e sempre sob o risco de corrupção dado a tendência gerada pelo pecado original.
4º Mistério doloroso – Jesus subindo o monte Calvário com a cruz às costas
A CF deste ano nos faz pensar que precisamos desenvolver ações como consolar, acolher, olhar e ajudar os outros a carregar seus fardos. Há alguns personagens na cena do Calvário que incentivam a presença fraterna nas situações de cruzes, de sofrimento e de outros flagelos da história. Imitemos Simão, o cireneu, abraçando a cruz do irmão sofredor. Imitemos também, Verônica, que enxuga as lágrimas e o rosto do condenado [15]. Aprendamos ainda a virtude da paciência nos contratempos da vida, o que implica saber ouvir e falar com o coração, permitindo-nos avançar para uma civilização do amor que será fomentada pela revolução da ternura [16].
[15] O termo mais apropriado não seria “presença fraterna”, mas presença devocional, pois fazemos ações devocionais quando somos impulsionados pela caridade, enquanto que fazemos ações meramente fraterna quando somos motivados por gostos ou motivações meramente humanas. A presença devocional é, portanto, infinitamente superior à presença fraterna, a não ser (como não estamos cansando de repetir), que por fraternidade estejamos nos referindo à fraternidade católica que é regida pela Fé. Porém, este terço da “Amizade Social” não nos deixa de dar provas de que o que entendem por fraternidade é a fraternidade humana, não a fraternidade da fé católica.
[16] Ouvir com o coração significa ter docilidade para receber a verdade. Falar com o coração significa pronunciar a verdade. Ora, nem sempre a verdade é bem recebida, dado a tendência do homem à soberba por causa do pecado original. É simplesmente um romantismo tacanho crer nesse tipo de “revolução da ternura”. Mesmo porque, ternura é somente um modo agir ou falar, não é uma virtude em si. A prudência pede que às vezes sejamos mais ternos na hora de lidar com o próximo, mas também pode pedir que, às vezes sejamos mais duros e ríspidos. Ou será a salvação do mundo está simplesmente em adotar o fala mansa cultural?
5º Mistério doloroso – Morte Redentora de Nosso Senhor na Cruz
A CF deste ano nos faz pensar que a maneira cristã de ver a vida nos possibilita reconhecer Cristo em cada ser humano e vê-lo crucificado nas angústias dos abandonados e dos esquecidos deste mundo. Por isso, necessitamos de uma ordem social e política cuja alma seja a caridade social [17], que promove uma economia fraterna [18], favorecendo a diversidade produtiva, a criatividade empresarial, a inclusão e o diálogo entre todas as pessoas de boa vontade. A morte redentora de Jesus na Cruz nos dá a vitória contra o mal e faz brotar em nós um sentimento de gratidão diante do imenso amor de Deus pela humanidade. Aquele que foi fiel até o fim e obediente à vontade do Pai; que passou pela terra fazendo o bem, curando os doentes, pregando o Evangelho e anunciando o Reino; que rompeu com os esquemas [19], as discriminações [20] e os preconceitos de seu tempo [21], espera que nós continuemos a sua missão.
[17] Como a caridade consiste em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, a caridade tem, por si mesma, o aspecto social.
[18] Economia fraterna?
[19] Com quais esquemas Jesus rompeu? O que de fato houve foi um rompimento com a ANTIGA ALIANÇA, pois os judeus não o receberam. Porém, Jesus estabeleceu uma NOVA ALIANÇA, aberta a todos – judeus e gentios – que se dá através da Igreja Católica, que Ele mesmo fundou.
[20] Jesus é o juiz supremo porque e Ele quem irá discriminar os eleitos dos réprobos.
[21] Não é possível falar de preconceito em relação a Jesus, pois, sendo Deus e onisciente, Ele tudo sabe. Porém, discriminar, Jesus discriminou. Quando disse aos fariseus, por exemplo, “em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus”, Jesus os estava discriminando. Com efeito, existe a discriminação justa. O que é errado é a discriminação injusta. Os fariseus foram discriminados porque se recusavam a converter-se à Verdade, que é Cristo. Enquanto que os publicanos e as prostitutas, embora com fama de serem pecadores públicos, poderiam arrepender-se de seus pecados, mudarem de vida e ganharem o céu como recompensa.