O abuso da então chamada sinodalidade está sendo usado por alguns prelados para atacar a Igreja Católica, ao mesmo tempo que certos líderes da Igreja usam desta palavra para adotar a heterodoxia.
Há apenas uma geração, entre muitos teólogos da Igreja americana, o termo à la mode era “colegialidade”. Este termo passou a ser usado depois do Concílio Vaticano II por muitos desses clérigos acadêmicos e seus sequazes para inserir conceitos teológicos nebulosos na cabeça de Católicos Romanos ingênuos e desavisados, de modo a impressionar pelo uso de um termo sofisticado.
O Concílio local XYZ discute certo tópico obscuro… blá, blá, blá… e a maioria votou por sua aprovação. Ora, é a colegialidade! A regra da maioria! Não se preocupe – se a maioria de algum comitê votar e aprovar seja lá o que for, então não pode ser uma coisa má; ou pode?
Sem surpresas, o termo colegialidade passou a ter seus dias ao sol, e nunca realmente cruzou para o outro lado da lagoa. Conforme se observou em Separado pela Linguagem comum:
O Professor American expressou seu descontentamento com a nossa notícia e com a maneira como foi anunciada por nós através do campus – disse que sentiu uma falta de colegialidade pelo modo como nós a tratamos.
Assim que voltou à sua mesa, meu colega britânico disse: “Eu amo esta palavra colegialidade. É de fato uma coisa americana, não é?”
Aqui nos Estados Unidos, muitas práticas litúrgicas nefastas, como receber a Santa Comunhão na mão, e ideias erradas, como ordenar homossexuais, acabaram sendo aceitas por Católicos Romanos. Isso não sucedeu porque o Concílio Vaticano II votou e mandou que isso fosse aceito, mas simplesmente porque bispos-alpha virtualmente intimidaram padres e leigos em suas jurisdições.
Outro exemplo específico é a posição do padre quando oferece a Missa. A prática antiga do padre se posicionar para o leste (ad orientem) e de frente a Deus presente no tabernáculo foi mudada da noite para o dia, agora com o padre se voltando para o povo.
Atualmente, uma geração depois, muitos padres jovens estão descobrindo que não há base real nos documentos do Vaticano II sobre esta mudança na forma de rezar a Missa, então retornaram à prática antiga de se voltar a Deus quando estão oferecendo o Santo Sacrifício. Esta ortodoxia tem feito muitos jovens retornarem à Igreja.
A propriedade da palavra “sinodalidade”, a depender do teólogo pop com quem se for falar, depende de como ela está definida. Para lançar cores, ilustrando como uma simples palavra como sinodalidade pode ofuscar os males que estão exponencialmente prejudicando a Igreja, tente envolver sua mente sobre o que está sendo dito – ou não – nesta breve citação da American Magazine:
Caminhar juntos – leigos, pastores, o bispo de Roma – é um conceito fácil de colocar em palavras, mas não tão fácil de pôr em prática. Depois de dizer que o povo de Deus é composto por todos os batizados, os quais são chamados a serem “uma casa espiritual e um sacerdócio sagrado”, o Concílio Vaticano II passou a dizer que “todo o corpo dos fiéis, que tem uma unção que vem do Espírito Santo, não podem errar em matéria de fé”.
Quantas mentiras de meias-verdades reunidas em um único parágrafo! O Concílio Vaticano II pode até ter dito que “todo o corpo dos fiéis, que tem uma unção que vem do Espírito Santo, não pode errar em matéria de fé”, contudo, quando um pequeno grupo de bispos se reúne, como isso, mediante qualquer esforço imaginativo, poderia representar o corpo inteiro de fiéis? Algum de nós, como leigos, votou naquele que é o seu bispo? Há alguma garantia de que o que for decidido por este grupo de camaradas estará livre de erro? Talvez, somente talvez, todos os reunidos estejam enganados! Grandes enganos já aconteceram antes – com graves consequências. Veja, por exemplo, o que aconteceu com Adão e Eva no Jardim do Éden.
Falhas nas premissas
Uma razão pela qual conceitos como “colegialidade” e “sinodalidade” ganharam muita estima pelo laicato de nosso dias é devido a maioria dos Católicos valorizarem mais os valores democráticos de governo do que outros. Até aí, tudo bem. Porém, por conta dessa ingenuidade, eles presumem que a Igreja funcionou ao longo dos séculos de uma forma democrática semelhante, ou que Deus opera democraticamente. Ambos os conceitos estão errados.
Vamos tratar primeiro do erro conceitual de que Deus trabalha democraticamente. Absolutamente não há nenhuma base nas sagradas escrituras ou na história que sustente esta posição. De fato, as Escrituras recordam que, através dos milênios, Deus chamou indivíduos específicos para perto d’Ele, e que esses indivíduos foram usados por Deus para fazer conhecer quem Ele é e o seu plano de redenção da humanidade.
Deus revelou-se a Abraão. E Abraão ingressou em uma aliança com o Todo-Poderoso. Durante os dias de Abraão, não houve um grupo de homens sentados em volta de uma fogueira campal para decidir o que o Todo-Poderoso era em comparação aos vários outros deuses.
Saltemos então milhares de anos para falar sobre os tempos do Novo Testamento. Deus não escolheu um corpo governante de 12 homens para estabelecer regras e posteriormente guiar sua Igreja nascente por maioria de votos. Ele colocou Pedro no comando como um soberano “E eu te digo, tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). E foi sob essa monarquia que a Igreja nos últimos dois milênios funcionou surpreendentemente bem. Por que então, a esta altura do campeonato, alguém deveria achar que, como algumas nações são regidas por uma versão ou outra de governo democrático, a Igreja deveria adotar a democracia também?
Outro erro em relação ao governo da Igreja está intimamente relacionado com a maneira que se olha para os Concílios da Igreja anteriores, imaginando que operaram de modo semelhante ao Senado Americano, ou à Casa dos Comuns da Inglaterra. Os participantes dessas assembleias foram escolhidos por votos nas regiões que servem e seu procedimentos seguem as regras de Robert, ou algum protocolo do tipo. Nada poderia estar mais distante da verdade, basta verificar historicamente os Concílios da Igreja.
Pegue, por exemplo, o grande Concílio Ecumênico de Nicéia, solicitado pelo Imperador Constantino em 325 para pôr fim à desunião da Fé em seu império. O Concílio de Nicéia, além de ter tido um grande número de bispos participantes oriundos de várias regiões do Império, não teve nenhuma representatividade leiga, tampouco se imaginava que pudesse ter autoridade para desviar de todos os preceitos da Fé, conforme encontrados dentro do corpo das Sagradas Escrituras ou como comumente entendido pela Sagrada Tradição. Constantino, quem abriu o Concílio em 20 de maio de 325, solicitou aos bispos, padres e diáconos participantes o fim de toda retórica diversionista, conforme registrado por Teodoreto na época:
Ele ressaltou quão terrível a situação estava, tão terrível que, quando naquele momento seus inimigos haviam sido destruídos, e quando ninguém ousava se lhes opor, brigavam uns com os outros, dando divertimento e motivo de risada aos seus adversários, principalmente pela maneira como debatiam sobre as coisas santas, sendo que eles tinham os ensinamentos escritos do Espírito Santo. “Além dos Evangelhos, (ele continuou) os escritos apostólicos e os oráculos dos antigos profetas nos ensinam claramente em que nós devemos acreditar no que diz respeito à natureza divina. Abandonemos, então, toda disputa contenciosa; e busquemos na palavra divinamente inspirada a solução para as questões em discussão”.
O objetivo do Concílio de Nicéia estava claro desde o Primeiro Dia. O primeiro imperador cristão, quem trouxe paz a seu império, estava determinado, como rei temporal, a acabar com todas disputas causadas pelos proponentes de crenças heréticas. Um incidente que aconteceu logo no início do Concílio de Nicéia – o qual revelou o verdadeiro caráter de Constantino e demonstrou para toda assembleia que ele não era um imperador insensato – foi a queima em massa, publicamente, das propostas lobistas submetidas a ele por prelados que queriam se autopromover. Conforme nos reconta Sócrates sobre o fim do Concílio:
Posto que muitos deles tinham feito acusações uns contra os outros, e muitos inclusive haviam apresentado petições ao imperador no dia anterior. Mas ele, dirigindo sua atenção mais para a matéria do que para eles, e levando em conta que eles estavam em assembleia, ordenou que as petições fossem queimadas; observando apenas “que Cristo ordena a quem está ansioso por obter perdão, que perdoe seu irmão”. Ao fazer isso, portanto, insistia fortemente para que a harmonia e a paz fossem mantidas, reafirmando novamente o propósito do concílio.
Seguindo em frente
Se a Igreja no futuro for convocar um concílio de qualquer tipo, este precedente de destruir os protocolos, as recomendações e as condenações feitas pelos lobistas deve ser realizado no Primeiro Dia. Refiro-me a uma ferramenta efetiva para impedir a fermentação de personalidades machão-alpha bispais, que por acharem que sabem mais do que os outros, querem que suas perspectivas individuais sejam aceitas e adotadas.
Relembre da posição que o Cardeal Blase Cupich adotou para si na reunião geral dos bispos dos Estados Unidos de 2018. Aqui está um homem que tem a fama de ser o bispo menos querido da América e mesmo assim pontifica os encontros anuais dos bispos dos Estados Unidos como se ele fosse o Papa! É ele quem está encarregado de uma arquidiocese que não tem nenhum apreço popular. Se olharmos com atenção para a fanbase de Cupich, seu apoio é oriundo de políticos pró-abortos, cujos favores lhe agradam, mas não dos frequentadores regulares das missas dominicais em Chicago, cujas paróquias foram amplamente fechadas.
A “Sinodalidade”, pelo modo como vem sendo abusada na Alemanha e em outros lugares, é só fundamentalmente uma estratégia de pressão de bispos. Esta palavra está sendo usada como novo estratagema por alguns prelados-alfas que desejam desviar a Igreja da ortodoxia. Assim como foi o abuso do termo colegialidade após o Concílio Vaticano II, o qual permitiu que muitas práticas erradas foram inseridas pelo uso deste estratagema, como se dissesse: “Bom, como todo mundo votou assim, então quer dizer que isso foi guiado pelo Espírito Santo”. E para os Católicos ingênuos, no pós-Vaticano II, este estratagema funcionou eficazmente por um tempo.
Mas em 2021, Católicos não tão ingênuos e não tão crédulos não estão dispostos a seguir cegamente um grupo de prelados-macho-alfa que promove uma agenda e uma narrativa que se opõe fundamentalmente às doutrinas da Igreja conforme encontrada em nossa Sagrada Tradição e Sagrada Escrituras.
Por exemplo, não existe casamento gay; as Escrituras são contra isso. Não existe sacerdote mulher, a Sagrada Tradição é contra isso. O divórcio não é permitido, as Escrituras também se opõem a isso. As Sagradas Espécies não podem ser profanadas, distribuídas ao léu e para qualquer um; as Sagradas Escrituras, a Sagrada Tradição e a Lei do Código de Direito Canônico Católico se opõem a este sacrilégio.
A lista de anátemas para aqueles que forçam um falso sentido de sinodalidade é uma legião. Mas o estratagema está aí; apesar de não estarmos mais na onda dos anos 70 onde valia tudo. A coisa é demoníaca: um bando de homens dos anos 70 operando como se os anos 70 não tivessem acabado! E já estamos e 2021.
Os católicos atuais que estão conscientes de sua Sagrada Tradição não permitirão que um grupo de elite de falso pastores não-inspirados engane os fiéis mais uma vez! Seus encontros sinodais ininterruptos que discutem a anulação dos ensinamentos estabelecidos pela Igreja não são nem de perto inspirados por Deus, e nós, os leigos, iremos rejeitá-los.
Fonte: Church Militant