O mundo ocidental seria completamente diferente se não houvesse existido em um determinado tempo de sua história um homem chamado Carlos Magno.
Este homem foi responsável pela difusão da cultura cristã, favorecendo a construção e formação de mosteiros pela Europa, o que favorecia, entre outras coisas, o desenvolvimento da literatura.
Homem de convicção e resoluto pelos ideais cristãos, foi coroado Imperador pelo Papa Leão III, em Roma. Os esforços de Carlos Magno valeram-lhe, ainda por parte de seus contemporâneos, o título de “pai da Europa”. De fato, após a sua atuação política, o Ocidente nunca mais seria o mesmo.
Carlos Magno empreende uma relação de proximidade e amizade com o Papa Adriano I, formando assim uma aliança política e espiritual. Daniel Roops escreve:
O gênio deste homem e a grandeza do seu caráter mostram-se com mais clareza exatamente no fato de este guerreiro quase inculto ter compreendido a importância da obra civilizacional, e de se ter consagrado a ela pessoalmente” … Olhando para os escombros do Império Romano, Carlos enxergou a importância de edificar uma cultura, muito além da simples liderança dos francos. Por isso, ele enviou emissários aos quatro cantos da Europa e, em sua “Escola palatina”, congregou inúmeros sábios, a fim de educar a sua família e a nobreza da época nas linhas da sabedoria antiga. Os seus múltiplos esforços foram consagrados sob o nome de “renascimento carolíngio”.
A Renascença carolíngia foi fecunda, fornecendo instrumentos de trabalho à cultura intelectual, a recuperação da vida de estudos e o restabelecimento do interesse pelos grandes escritos antigos. Tudo isso dará frutos mais tarde; será essencial para o crescimento cultural da Europa.
Diante de todas as proezas e do respeito alcançado por este estadista católico, Carlos Magno vai tornar-se protagonista de obras literárias ficcionistas (na verdade, uma mistura de realidade com ficcionismo), cujos primeiros escritos aparecerão nas canções de gesta da literatura medieval. Com autoria anônima, essas obras tratam de personagens do ciclo carolíngio, escritas em francês antigo, e versam a História do Imperador Carlos Magno e os doze pares de França.
No Brasil, esses escritos tiveram grande influência, tendo sido uma das obras mais populares no país ao longo do século XIX e até o início do século XX. Os textos eram lidos em voz alta para grandes audiências, de modo que “nenhum sertanejo ignorava as façanhas dos Pares ou a imponência do Imperador da barba florida”. Além disso, um fato interessante se deu com o monge José Maria, líder do movimento do Contestado, que tinha a História de Carlos Magno e dos Doze Pares de França como seu livro preferido. O mesmo organizou uma tropa de elite formada por 24 cavaleiros, a qual chamou de Doze Pares de França, tamanha a influência de Carlos Magno no mundo.
Outra tradição que ainda sobrevive em algumas regiões do Brasil, trazidas pelos Jesuítas e que levam a influência de Carlos Magno, é as cavalhadas, as quais normalmente são realizadas em festas religiosas católicas e reprisam, em forma de teatralização, torneios medievais e coreografias feitos com cavalos. A celebração trazida de Portugal pelos padres jesuítas representa as batalhas travadas entre cavaleiros cristãos (vestidos de azul) e muçulmanos (os mouros, de vermelho). Nas Cavalhadas brasileiras, o famoso imperador Carlos Magno, “Rei dos Francos”, e o Catolicismo são enaltecidos.

A cavalhada tem todo o enredo baseado nos doze pares de França, objeto da ficção do livro “A História de Carlos Magno e os Doze Pares de França”, bem como de outras obras que também trazem estes personagens que fazem parte do folclore e história brasileira.
A influência destas obras ainda sobrevivem no imaginário de muitos brasileiros e ajudam muito na preservação do espírito católico. Mas infelizmente, aos poucos, sua riqueza está se perdendo devido a secularização e a falta de boas obras literárias no mercado nacional.
Vislumbres ainda são vistos em algumas regiões de nosso país, e mostram a força que boas obras podem causar na cultura de uma nação. Somos esperançosos de que brevemente os homens de boa vontade, os católicos, tomarão consciência da importância e necessidade de empreender fortemente na literatura e na cultura de nossa nação. Precisamos resgatar o espírito católico nesta Terra de Santa Cruz.