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[Combate Espiritual] Das estratégias do demônio – Lorenzo Scupoli

Noções para empreender o Combate Espiritual contra o demônio
As Tentações de Santo Antão - Pintura de Hieronymus Bosch

Para em empreender um bom Combate Espiritual, precisamos conhecer a estratégia do inimigo, isto é, a estratégia do demônio. É isto o que Lorenzo Scupoli nos ensinará neste artigo.

I – Contra os virtuosos e contra os pecadores

O demônio tem por meta a nossa perdição e não combate contra todos de uma só maneira. Vamos aqui examinar os seus processos e estratagemas, mas, antes devemos sabe um pouco sobre o estado em que se encontra o homem.

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– Alguns vivem na servidão do pecado, sem nenhuma idéia de se libertarem.
– Outros querem libertar-se, mas não se animam a começar a luta.
– Outros pensam estar caminhando na estrada da virtude, mas dela se afastam.
– Outros, enfim, depois de adquirirem a virtude, caem em grande perdição.

Vamos discorrer sobre todos estes, separadamente, nos capítulos subsequentes.

II – Contra os pecadores

Quando o demônio consegue reter algum homem na servidão do pecado, só cuida de uma coisa: prendê-lo cada vez mais, obcecando-o com a vida que leva, de maneira a mantê-lo afastado de qualquer pensamento que pudesse levá-lo ao conhecimento e percepção de sua infelicíssima vida.
Não somente procura o diabo impedir que ele tenha pensamento e inspirações que o induzam a trocar idéias com outros, como prepara circunstâncias e ocasiões para fazer com que caia ainda mais no seu pecado, ou em outros maiores.

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E assim, tornando-se mais forte e cega a sua cegueira, o pecador vem a se precipitar e habituar sempre mais no pecado. É então que cai numa cegueira ainda maior e num maior pecado ainda, e assim vai vivendo neste círculo vicioso até a morte, se Deus não o socorre com uma graça especial.

É este o quadro da situação e só Deus poderá mudá-lo vindo em seu auxílio se você encontrar-se nesta contingência.

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O Senhor te tirará das trevas para aluz se pedires, gritando no íntimo do teu coração: “Ajuda-me, Senhor, vem depressa socorrer-me! Não me deixes nestas trevas do pecado!” Este pedido deve ser repetido instentemente.

E lembre-se que você, sendo batizado, tem toda a Igreja em seu auxílio. Procure o padre da sua paróquia, pedindo-lhe a ajuda e o conselho de que você necessitará para livrar-se do inimigo. E, antes mesmo de falar com ele, se você não puder fazê-lo imediatamente, dirija-se a Jesus com toda sua alma e com o rosto curvado até ao chão e peça misericórdia. Implore também a intercessão de Nossa Senhora para que esteja ao seu lado, pois seu bondoso coração maternal dará a você não só o auxílio como o alívio de que também estará necessitando.

Mas faça isto com a máxima urgência, pois da tua pronta opção dependerá a vitória, como verás no capítulo seguinte.

III – Contra os que se querem livrar do pecado e não conseguem

Deus virá sempre em auxílio dos que reconhecem a sua vida má e querem sair dela. Mas, às vezes, os nossos propósitos não surtem efeito. É preciso saber por que, a fim de mudarmos essa situação.
O demônio tem em seu laboratório infernal fórmulas e esquemas especiais para lidar com os que querem escapar de suas garras. Uma das mais usadas é o “depois… depois…”. “Crascras”… como grita o corvo.

Os que querem fugir do assassino são por ele enganados e vencidos com esta simples artimanha: estimular a sua negligência, fazendo com que queiram primeiro resolver e despachar este ou aquele negócio para só depois cuidar, com maior sossego, da sua alma. Ou, então, aos mais tolos, o simples adiamento: deixa para amanhã o que podes fazer hoje, ou, melhor: agora.
Este é o laço simplíssimo, elementar, que prende, até hoje, muita gente que se julga esperta, e que já conduziu milhões para o inferno. Tudo devido ao nosso descuido e negligência, que não deixa ver que, em negócio como este, você está jogando a salvação da sua alma e a honra de Deus.

É preciso abrir os olhos e, vendo claramente a situação, agarrar-se logo a estas palavras poderosas: agora, agora mesmo!

Amanhã, por quê? Hoje, hoje! Por que razão somente “cras”? Pense bem: seria por acaso alguma vitória sobre si mesmo deixar-se cair no precipício pra depois tentar sair dele?
São enganos, névoas de ilusão, com que joga o demônio, que, como covarde que é, gosta de divertir-se com os fracos a caminho do inferno, como faz o gato, brincando com os ratinhos aturdidos que tentam fugir correndo para serem agarrados mais adiante até à morte nos dentes do felino.

Para você escapar deste engano do “depois” e do outro do círculo vicioso de que foi tratado no capítulo anterior, ou seja, em última palavra, para vencer o inimigo e, com isto, salvar-se, o remédio é simples: contrapor-se a ele. Fazer o que ele não quer, e isto é: obedecer a Deus.

Repito: o remédio é a obediência imediata aos pensamentos e inspirações divinas. Atenção: digo obediência, e não propósito, porque este, muitas vezes, falha e porque frequentemente muitos são enganados por seus propósitos.

Com meras intenções, você não se contrapõe ao demônio, poderoso e astucioso inimigo que está a fim de devorar você, e certamente o fará se você não sair, resolutamente, do seu domínio.
Por exemplo, como já muitas vezes dissemos, se os nossos propósitos não têm por fundamento a desconfiança de nós mesmos e a confiança em Deus, simplesmente não se concretizam. Mas a nossa soberba não nos deixa ver isto, e daí procede o nosso engano e cegueira.

No círculo vicioso do pecado, este circula com a cegueira, gerando numa dança infernal, estimulada pelo demônio que faz crescerem o pecado e a cegueira até a treva total, pois é na treva que ele gosta de fuçar e devorar as almas dos perdidos.

Já vimos nos capítulo iniciais deste livro o poder da arma da desconfiança em nós mesmos como um antídoto contra a soberba, esta grande aliada do diabo. Ela está presente na maioria dos defeitos e das falhas de caráter que nos conduzem ao pecado.

Deus, em sua vontade, permite, às vezes, que caiamos para nos corrigirmos sozinhos. Por isso, a desconfiança em nós mesmos deve vir sempre acompanhada de uma forte confiança em Deus.
Portando, se você quer que seus propósitos sejam eficazes é preciso, sobretudo, ter coragem. E você será corajoso (ou corajosa) quando tiver eliminado aquela nefasta confiança em si mesmo e, com humildade confiar somente em Deus.

Por causa da confiança em Deus, aceitamos com prazer e alegria a obediência, pois sabemos que dela provém a salvação. E a obediência ágil e célere ultrapassa e vence os nossos propósitos que tantas vezes se esvaziam antes de se concretizarem.

Uma outra razão pela qual são falhos os nossos propósitos é a seguinte: quando nos movemos para levar adiante algum propósito, olhamos para a beleza e o valor da virtude e esta, então, atrai nossa vontade, por débil e fraca que seja. Chegando, porém, a dificuldade que sempre surge no caminho da virtude, a vontade, por ser fraca e falha, desfalece e volta atrás.

É exatamente por isto que estamos aqui, estudando maneiras de fortalecer a vontade. E já constatamos que, sobretudo nos momentos de crise, a obediência a Deus é um instrumento essencial. E também que os obstáculos e dificuldades que enfrentamos são poderosos instrumentos de aperfeiçoamento espiritual.

Esforce-se, portanto, por amar o exercício da conquista da virtude, amando igualmente as dificuldades que a conquista da virtude traz consigo. Às vezes com pouco, às vezes com muito, vamos nutrindo nossa vontade, ora pela luta e pelo esforço, ora pela abstinência, para alcançarmos as virtudes.

E lembra-te filha (ou filho) de que tanto mais depressa escaparás do perigo e mais gloriosamente vencerás a ti mesma e a teus inimigos, quanto mais generosamente abraçares as dificuldades.
Para concluir, examinemos outros motivos pelos quais os propósitos não se concretizam, sendo, por isso, mais recomendado a simples e direta obediência a Deus. É que, às vezes, os nossos propósitos não têm em mira a virtude e a vontade divina, mas o interesse próprio. É o que acontece quando os propósitos se fazem no tempo das delícias do espírito, ou então nos momentos enquanto nos afligem muito as tribulações. Nessas ocasiões dramáticas, de crise, o único alívio que parece existir é o propósito de querer oferecer tudo a Deus e aos exercícios da virtude.

Ora, assim não funciona. No tempo das delícias espirituais é preciso que sejamos cautelosos e humildes, principalmente no tocante a promessas e votos. Se estes não têm em mira objetos virtuosos e sadios, os votos e promessas serão ineficazes. E na hora dos sofrimentos e tribulações, os seus propósitos úteis e corretos serão no sentido de que você tolere com paciência a cruz, pois esta é a vontade divina para a sua salvação. Nestes momentos o soldado enfrenta o peso maior do combate, pois sabe que a vitória virá precisamente da sua resistência.

Seja um único o teu pedido, em perfeito acordo com o teu desejo: que Deus te socorra, dando-te a fortaleza necessária para que suportes toda a adversidade, sem manchar a honra e sem deixar que desfaleça a virtude.

IV – Na estrada da perfeição

Aqui o demônio atua com o máximo da sua malícia, pois sabe que está lidando com pessoas virtuosas que não são incautas nem despreparadas como os pecadores caídos. Pessoas que, de uma forma ou de outra, trabalharam a sua alma e o seu espírito. Pessoas que trilham os caminhos que conduzem à perfeição e que se encontram protegidas pelas legiões de anjos e pelos santos.

A primeira carga do Príncipe das Trevas neste combate que é contra Deus, tendo a nós como campo de batalha, é fazer com que concentremos a nossa atenção nos desejos e propósitos referentes a outras virtudes.

Ele consegue o que pretendia, que era desviarmo-nos das próprias mazelas, estando continuamente feridos e sem cuidar das nossas chagas.

Na busca da perfeição, temos como inabaláveis os nossos propósitos e caímos, sem querer, nas atitudes da soberba.

O primeiro sinal visível é que não suportamos a mínima coisa ou a menos palavra contrária. Você consumirá o seu tempo em longas meditações em que poderá fazer o propósito de seguir o exemplo daqueles que alcançaram o paraíso, expondo-se às maiores dores e sofrimentos por amor de Deus. Se não for devidamente alertado, poderá pensar que já alcançou o mesmo grau de virtude dos seus modelos.

Para evitar este engano, limite o seu combate somente contra os inimigos que fazem guerra direta a você, de perto, pois este é que é, realmente, o caminho da virtude. Concentre os seus propósitos unicamente neste combate.

Mas não te aconselho a que empenhes batalha contra inimigos que nem mesmo sabes se te combate, a não ser quando existam fortes indícios de que eles virão em breve te atacar. Se assim for, será lícito que você faça não só os seus propósitos, como todos os preparativos para a luta.

Mesmo que você se tenha exercitado nas virtudes por algum tempo e de maneira justa e correta, não julgue que estará garantido quanto ao cumprimento de todos os seus propósitos. Assuma uma atitude humilde quanto a este ponto e esteja sempre cauteloso em relação à sua própria pessoa. Confie no Senhor e recorra a ele frequentemente, pedindo-lhe que lhe dê forças e o guarde dos perigos, particularmente o da presunção e o da confiança em si mesmo.

E assim, embora você não vença alguns defeitozinhos que o Senhor permite que você mantenha como proteção contra a soberba, já poderá pensar em novos propósitos, voltados para o alcance de níveis mais altos de perfeição.

V – Quando tem em mira que deixemos o caminho das virtudes

Como no capítulo anterior, o demônio tem que exercitar todas as suas manhas quando vê que estamos no rumo certo do verdadeiro caminho das virtudes, pois sabe que está lidando com pessoas preparadas, que são combatentes no exército que lhe é hostil, e só com a fraude e a falsidade conseguirá vencê-las. É um autêntico desafio para o rei da mentira.

Esmera-se, ele, em confeccionar aparências de desejos bons, que vai colocando em nós com o objetivo de obter que caiamos no vício durante o próprio exercício das virtudes.

Não hesita em utilizar-se, até mesmo, da doença e das diferentes enfermidades. Quando alguém, por exemplo, está doente e vai suportando com paciência a enfermidade, o diabo sabe que, continuando assim, o doente adquirirá o hábito da paciência. Apresenta-lhe, então, muitas boas obras que o enfermo poderia fazer em outra ocasião. Procura também persuadir o doente de que se estivesse são, melhor serviria a Deus, pois seria mais útil aos outros e a si mesmo.

Vai, assim, como um intrigante faz, ferindo a alma da vítima à medida que crescem os desejos nela plantados e, por fim, a alma se desassossega por ver que não pode realizar os seus projetos como desejava.

E quanto maiores se tornam estes desejos, mais cresce a inquietação. Aí, o inimigo, muito devagar vai transformando o desassossego em impaciência e o doente se revolta contra a enfermidade, não por ser enfermidade, mas porque impede que ele realize aquelas obras boas que, ansiosamente, deseja pôr em prática para fazer um bem maior.

Depois de servir-se, assim, da alma do enfermo, que não se dá conta de estar sendo pasto do diabo, este bicho mau tira da mente do infeliz a finalidade inicial que ele tinha em mente, que era o serviço divino através de boas obras e deixa-o abandonado no desejo exclusivo de simplesmente livra-se da doença.

E como isto não se realiza, torna-se o homem inquieto, impaciente e revoltado. E assim, sem notar, passa da virtude em que exercitava ao vício contrário.

O modo de você se defender desta manha do demônio é estar atento para, quando esteja padecendo, não se entregar a qualquer desejo bom antes de certificar-se de que não tenha sido plantado, maliciosamente, pelo diabo. O esquema demoníaco é levar você à inquietação por não poder realizar o seu desejo bom.

Com grande humildade, paciência e resignação, você deve chegar, sozinho, à conclusão de que não realizaria, como havia pensado, os seus melhores desejos, devido à instabilidade em que se encontra. Ou então, num juízo ainda melhor, considera que Deus, com seus ocultos desígnios, ou devido às condições desfavoráveis em que você se encontra, não quer que você siga aquele caminho. Ele pode, até mesmo, querer que você consiga, antes, novos méritos pela via do serviço, da abstinência, e, até mesmo, do sofrimento, sob sua doce e poderosa mão e seu direto cuidado.

Por este motivo é sempre conveniente que quando estejamos submetidos à contingência de circunstâncias penosas nos entreguemos de corpo e alma ao comando divino, pedindo, mesmo, que o Espírito Santo atue diretamente em nós.

Não te deves impacientar no sofrimento, provenha ele donde quer que seja. As almas bem orientadas dificilmente se afastam de Deus. Por isso mesmo o diabo as cerca como animal faminto, lambendo os beiços, e não poupa nenhuma de suas manhas e de seus laços e ardis para agarrá-las. As horas de sofrimento são por ele utilizadas para penetrar nas nossas defesas abaladas. Entregar a Deus estes momentos é como colocar um seio de proteção contra o demônio em todas as nossas portas e janelas.

Para não te impacientares, usa, à vontade, de todos os meios lícitos que costumam empregar os servos de Deus. Mas, veja bem: não te utilizes deles com o intuito de livrar-se do sofrimento, pois não sabemos se Deus aprova que nos livremos deste modo. Se você agir de outra maneira, poderá cair em muitos males, porque ficará desguarnecido de proteção contra as insídias do demônio e se impacientará facilmente sempre que os acontecimentos não decorrerem ao sabor dos seus desejos.

Ou então, num nível mais espiritual, a tua paciência não será perfeita, não terá de muito mérito, nem será tão cara a Deus.

Mesmo estando na estrada da virtude, convém que sejas advertido mais uma vez de um oculto engano no nosso amor próprio: o de cobrir e defender os nossos defeitos.

Ainda dentro do mesmo exemplo do enfermo: se ele for pouco paciente na doença, o seu amor próprio poderá esconder a impaciência sob o véu de algum zelo por causa boa, dizendo que a sua ansiedade não é verdadeira impaciência devido à doença, mas um mero desgosto, razoável naquelas circunstâncias.

Do mesmo modo, o ambicioso se acabrunha porque não obteve uma dignidade, não atribui a sua pena à própria soberba e vanglória, mas a outras causas.

Muitos outros exemplos poderiam ser aqui trazidos dentro do mesmo tema da soberba, da vanglória e do amor próprio que são tão comuns à condição humana, como o é a aversão que sentimos às coisas que são contrárias à nossa vontade.

Mas aqueles que, como você, já se encontram em plena estrada da virtude, não precisam aprender estas coisas que já são do seu conhecimento. Precisa, sim, e muito, ser alertados para os perigos que se escondem nas pequeninas distrações e negligências que podem enfraquecer as nossas defesas contra males que nascem dentro de nós mesmos.

Nunca é demais repetir que a proteção maior está na sempre necessária obediência à vontade de Deus, e na paciência que nos dá condição de suportarmos qualquer trabalho, provação e pena que são instrumentos do nosso aperfeiçoamento.

VI – Quando a virtude adquirida pode ser ocasião de ruína

Meu filho ou filha:

Você já me ouviu diversas vezes, amassando a alma do ente humano, dizendo-lhe, como no Eclesiastes, que ele nada é, para que fique alertado contra a soberba. Disse e repito agora, pois não há nada mais triste de se ver do que a ruína de uma virtude penosamente construída.

Tenho dito: cuida de ter um verdadeiro e profundo conhecimento de ti mesmo, persuadindo-te de que nada és, nada sabes, nada podes e nada possuis, a não ser misérias e defeitos, nem outra coisa mereces que a condenação eterna.

A astuta e maligna serpente posta-se nos desvãos da estrada da virtude e da perfeição que te conduzirá ao céu para caçar as almas que já se encontram num grau avançado de aperfeiçoamento, pois esta é a caça que mais prazer lhe dá.

Ela vem tentar você com seus enganos, mesmo naquelas virtudes que você já adquiriu, onde se sente mais seguro.

Esforça-se para que elas mesmas sejam o motivo da tua queda, aproveitando a fraqueza, muito humana, que é a de comprazer-se a pessoa das suas virtudes. Ela quer que você se glorie com seus méritos e consigo mesmo, para que venha a cair no vício da soberba e da vanglória. Ao conseguir isso, ela terá a porta aberta para a conquista do resto.

Firme-se, portanto, na posição de humildade e submissão a Deus, que é a sua mais forte defesa. Não te deixes mover em nada por algum pensamento ou coisa que te suceda. Pois não tenha dúvida de que, pessoas como você, quando atacadas pelos inimigos do bem, estão sujeitas a todos os ardis, laços, ilusões, mentiras, fraudes e enganos produzidos nos porões do inferno pelas mãos inescrupulosas do maligno. Se você atender ao mais bondoso dos seus apelos, aquele de aparência mais pacífica e segura, estará ferido ou morto.

Diante de tão grande perigo, é preciso que você se exercite no fortalecimento da sua alma, buscando um crescente conhecimento da humildade da sua condição, da seguinte forma: sempre que você pensar em si mesmo e sobre o que já fez ou produziu, considere somente aquilo que seja estritamente seu, e não o que provém de Deus e de sua graça. Faça, depois, um levantamento do que restou de você mesmo.

Pense, por exemplo, no tempo que existiu desde a Criação até o dia do seu nascimento. você verá como foi um puro nada em todo este abismo da eternidade e que nada fez, nem havia nada que pudesse fazer para obter a sua existência.

E no tempo em que, devido unicamente à Bondade divina, você existe, que outra coisa descobre na sua pessoa senão um puro nada se for deixado a Deus o que é de Deus e se você prescindir da Providência com que, a cada segundo, ele lhe está conservando?

Pois não há dúvida alguma de que se Deus, por um instante sequer, se esquecesse de ti, imediatamente recairias no nada de onde te tirou sua mão onipotente.

É, portanto, muito claro que, por aquilo que você é por si mesmo, não há razão para ter-se em alta conta, nem para esperar que os outros lhe considerem valioso.

Mesmo em relação às suas boas ações e agrado a Deus, você teria condição de fazer qualquer coisa boa e meritória por si mesmo se a sua pessoa natural não fosse auxiliada por Deus?

De outro lado, considere suas faltas passadas e, além disso, os grandes pecados que você teria cometido se Deus, com sua mão piedosa, não tivesse auxiliado. Com o correr dos dias e dos anos, com a repetição constante de atos maus, você teria adquirido muitos hábitos de pecados, pois um vício chama outro vício, as suas iniquidades teriam alcançado um número infinito e você hoje seria um outro pequeno Lúcifer.

Contas feitas, você chegará a conclusão de que se não quer roubar da bondade de Deus, mas ficar sempre com o Senhor, você deve ter-se em muito pouca conta.

É óbvio que ao considerar estas coisas, o juízo que você fizer de si mesmo deve ser justo, pois de outra forma o levará ao engano, o que vale dizer, diretamente aos braços do Demônio.
Com o conhecimento justo de si mesmo, você fica superiormente situado em relação a quem quer que seja que, por cegueira, se julga ser algo. Tudo perderá, no entanto, e ficará pior do que ele se, por algum instante, você quiser que os homens lhe tenham em boa conta, e se você desejar que lhe tratem como sabe que não merece.

Creio que você terá compreendido agora por que motivo bato tanto nesta tecla, para que você se faça agradável a Deus e que seus inimigos sejam afastados de vez, através do reconhecimento da tua vileza, pequenez, malícia e insignificância. Tendo compreendido a minha boa intenção e desejo da sua salvação, você aceitará que eu lhe diga que é preciso que você despreze a si mesmo, que reconheça que merece todo o mal, que queira até mesmo ser desprezado pelos outros em vez de exaltado, que deteste as honrarias e as falsas medalhas de humana confecção, que ame os ataques e os insultos da crítica negativista, e que procure fazer, quando surgir a ocasião, todas aquelas coisas que os outros detestam fazer.

Mas… cuidado, porque é uma certa presunção e não bem conhecida soberba considerar como sem valor, ainda que sob bons pretextos, as opiniões dos outros. É uma fácil tentação da serpente das ilusões considerarmos que o juízo dos outros nada vale, por ter sido ocasionado por nossa própria iniciativa, visando o nosso rebaixamento, num exercício espiritual semelhante àqueles que são sugeridos neste livrinho, para fortalecimento da alma.

Se Deus fez que os outros vejam méritos em você, não abandone a reputação justa e verdadeira que você tem de si mesmo. Mas redobre sua cautela e relação à vaidade, ao amor próprio, e ao orgulho, que são caminhos certos que conduzem à soberba. Peça, então, ajuda a Deus, dizendo-lhe com o coração: “Não aconteça, Senhor, de eu vir a roubar tua honra e tuas graças. Como é que este vê méritos em mim e me tem por bom se somente são bons Deus e suas obras?”

Fazendo assim, e dando ao Senhor o que é dele, você afastará de si os seus inimigos e adquirirá disposições de alma para receber maiores dons e favores de Deus.

E quando a lembrança das obras boas te puser em perigo de vaidade, olha-as não como coisas tuas, mas de Deus. Deixe que o teu coração fale direto às tuas obras, como se dissesse: “não sei como esta realização apareceu na minha mente, e ali começou a se fazer, pois eu não sou a sua origem. Foi Deus e sua graça, pela mão do Espírito Santo, que a criou, nutriu e conservou. Somente a ele reconheçam como pai e somente a ele agradeçamos e louvemos”.

Depois de haver realizado alguma coisa boa, você vai sentir uma crescente vontade de aperfeiçoá-la ou de fazer uma outra ainda melhor. Este é um dom que Deus dá de presente a todos os realizadores. Nossos olhos nos dizem que somos capazes de fazer mais e melhor, pois todas as obras que fizemos jamais corresponderam aos dons e às graças que nos permitiram realizá-las e executá-las e que nos foram concedidas para que fizéssemos a obra de Deus. Nossos olhos também nos dizem que o nosso trabalho foi imperfeito, por estar muito longe da pureza de intenções, do fervor, da fé e da diligência de que deveria estar acompanhado.

Quem assim pensa, está imunizado contra a vanglória, pois é uma grande verdade este pensamento: recebemos de Deus graças puras e perfeitas e, ao executá-las, as manchamos com nossas imperfeições.

Compare as suas obras com a dos santos e outros servos de Deus cujo trabalho é conhecido e louvado. Você logo compreenderá com clareza que as suas realizações, as maiores e as melhores, são pequenas e de pouco valor.

E se você quiser ir um pouco mais adiante, compare o que fez com a obra de Cristo, pensando no que ele realizou nos embates de sua vida dura e difícil e nos seus contínuos sofrimentos. Veja Jesus somente em sua natureza humana e suas realizações revelar-se-ão perfeitas, carregadas de inspirações do afeto e da pureza do amor.

As nossas obras, cheias de imperfeição e vazias de amor, são pouco mais do que nada.

E se, por fim, você elevar a mente à divindade, à imensa Majestade do nosso Deus e pensar em tudo o que ele merece de você, verá claramente que jamais você poderá ter vaidade das obras que fez. Ao contrário, temos muitos motivos para nos envergonharmos da nossa antiga vaidade, plantada em feitos tão pequenos, proporcionais às nossas pequenas qualidades e dons de valor discutível.

Devemos aprender a nos abaixarmos, conhecendo que nós e nossas obras nada somos.

Este é o fundamento de todas as demais virtudes.

Não existíamos quando Deus nos criou do nada. Agora que existimos, ele quer basear toda a edificação espiritual sobre nosso conhecimento de que nada somos. Quanto mais nos aprofundarmos neste conhecimento, tanto mais alto será o nosso edifício. Quanto mais formos desentulhando do solo o lixo das nossas misérias, tanto mais pedras firmíssimas aí colocará o divino arquiteto para prosseguir na construção.

Nesta obra, o desentulhamento é tão importante quanto à construção. Não pense que num dia você desentulhará uma grande parte do lixo acumulado. Pois não se envergonhe de ter de si mesmo o seguinte conceito: se a criatura humana pudesse ter alguma coisa infinita, esta seria a sua vileza.

E não se deprima com estes pensamentos, pois, se assim pensarmos, muito poderemos fazer e conseguir. Sem estes pensamentos, pouco mais que nada conseguiremos realizar, mesmo se fizermos as obras de todos os santos e sempre estivermos ocupados com Deus.

Ó feliz conhecimento que nos torna felizes na terra e gloriosos no céu!

Ó luz que sai das trevas e torna brilhante e clara a alma!

Ó nada que, conhecido, torna-se senhor de tudo!

Nunca me cansarei de falar a você sobre isto: se você quer louvar a Deus, acuse-se a si mesmo e procure ser acusado pelos outros. Humilha-te com todos e perante todos, se queres exaltar o Senhor na tua pessoa e exaltar-te no Senhor.

Se você quer encontrá-lo, não se eleve, que ele se afastará.

Abaixa-te, abaixa-te o quantos possas, que ele virá ao teu encontro e te abraçará. E tanto melhor lhe acolherá, tanto mais se unirá a você quanto mais você se aviltar aos seus próprios olhos e desejar que os outros te aviltem e te reputem como coisa abominável.

E, consigo mesmo, no teu foro íntimo, onde não pode haver simulação, faça com que você mesmo se considere indigno dos dons recebidos de Deus, que tanto sofreu por você.

Nem deixe de lhe render graças e de mostra-se agradecido a quem agora está dando a você a oportunidade de crescer aos olhos de Deus por lhe desprezar ou, se não tanto, só aceitar você com má vontade ou não o aceitar com boa vontade.

E faça isso sem deixar que transpareça.

Depois de todo este esforço, atenção e cautelas, ainda haverá risco de queda por astúcias do demônio. Nossa ingenuidade, ignorância e nossas más inclinações podem ainda prevalecer em nós, de modo que pensamentos de orgulho e vanglória não deixassem de nos sobreviver.

A defesa final consistirá em extrair deste mesmo fato ocasião de nos humilharmos aos nossos olhos, pois teremos comprovado quão pouco aproveitamos na vida do espírito e no conhecimento legal de nós mesmos, pois não somos capazes de nos livrar destas moléstias enraizadas em nossa vã soberba.

E assim, do veneno, tiraremos mel, e dos ferimentos, saúde.

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