Conteúdo do Artigo

Últimos Artigos

Aulas de Filosofia Tomista no Advento: O Menino Jesus
Santo Tomás de Aquino - Puer Iesus (O Menino Jesus)
ECHAVARRÍA, M. F. Pessoa e personalidade. Da psicologia contemporânea da personalidade à metafísica tomista da pessoa (2010)
Os setes pecados contra o Espírito Santo: Uma tragédia sinodal
O Caminho da Perdição e os sinais que o acompanham

Categorias

Colunas

Aulas/Vídeos Recentes

Feminismo sinodal

Sínodo da Sinodalidade: feminismo sinodal.
Sínodo da Sinodalidade, Aula Pablo VI | © Agencia ACI

Algumas tendências já insinuadas anteciparam o propósito de aventurar novas rotas, inspiradas no progressismo que estendeu a Roma como calçadas dirigidas ao futuro. Isso tem um nome: feminismo.

Por Monsenhor Héctor Aguer*

Foi publicado o documento final da Sessão XVI do Sínodo (dos bispos). O parênteses indica que os Sucessores dos Apóstolos já não são seus protagonistas ou integrantes exclusivos; leigos, e entre eles mulheres, foram incorporados, com voz e voto. Este fato é absolutamente insólito, contrário à Tradição da Igreja. As coisas estão de tal modo reacomodadas, que pareceria se tratar de algo óbvio, que fosse lógico que assim ocorresse. Tal como é segundo os cânones, não do Direito Canônico, mas da cultura moderna dominante. Mas para quem conhece a Sagrada Escritura e a história do desenvolvimento das instituições eclesiais, trata-se de uma modificação essencial que causa aflição ao pensar no futuro. Algumas tendências já insinuadas anteciparam o propósito de aventurar novas rotas, inspiradas no progressismo que estendeu a Roma como calçadas dirigidas ao futuro. Isso tem um nome: feminismo. Assim foi notado nos meios de comunicação; entre eles com destaque o jornal “La Prensa”, de Buenos Aires, que dá conta do documento do Sínodo em uma excelente nota na qual, com citação textuais, expressa a nova perspectiva de gênero: uma maior presença das mulheres nos postos de comando do catolicismo. Implicitamente se formula um “mea culpa” e não tão implicitamente, porque inclusive se reconhece que até o presente a mulher tinha sido discriminada. Esta palavra mágica corre por minha conta, mas é adequada para descrever a índole do documento sinodal, o que neste se dá a entender.

Livraria do ISA 350x350

Chama a atenção o desconhecimento da obra de São João Paulo II, quem desenvolveu um amplíssimo magistério sobre a mulher, coroado pela Encíclica Mulieris dignitatem. Em numerosas intervenções do Papa Wojtyla, reconhecem-se os defeitos históricos e acolhem-se os resultados de uma evolução da cultura que responde à ordem natural. O atual Sínodo elege outros caminhos. Citemos: “É urgente garantir que as mulheres possam participar nos processos de tomada de decisões e assumir funções de responsabilidade no trabalho pastoral e no ministério”. O Sínodo já começou: a respeito dos 464 participantes da reunião, pela primeira vez integraram pessoas leigas e, entre elas, 54 mulheres. É pouca coisa? Mas é por algo que se começa! O documento, que foi aprovado com mais de dois terços, está divido em temas. Em cada um deles se propõe “convergências”, “questões a abordar” e “propostas”, e será a base para trabalhar todo o próximo ano em vistas à sessão final de outubro de 2024.

Uma das divisões é dedicada às “mulheres na vida e na missão da Igreja”. Ali se afirma que “o clericalismo, o machismo e o uso inadequado da autoridade continuam caracterizando resto da Igreja”, por isso “é necessária uma profunda conversão espiritual como base de qualquer mudança estrutural”. O Direito Canônico “deve adaptar-se em consequência”. Nas frases citadas não são apresentados qualquer dados, apenas expressam uma interpretação em função da ideologia feminista. Planeja-se, também, uma tarefa de futuro: “A exigência de um maior reconhecimento e valorização da contribuição das mulheres e de um aumento das responsabilidades pastorais que se lhes confiam em todos os âmbitos da vida e da missão da Igreja”. Para serem tratados no próximo ano, formulam-se algumas perguntas: “Como a Igreja pode incluir mais mulheres nas funções e ministérios existentes? Se são necessários novos ministérios, a que nível e de que maneira?”

Reconhece-se que existe uma divisão sobre o acesso das mulheres ao diaconato, como já existe entre os homens: “Alguns consideram que este passo seria inaceitável, já que estaria em descontinuidade com a Tradição. Para outros, contudo, conceder às mulheres o acesso ao diaconato restauraria uma prática da Igreja primitiva”. Neste ponto, aqueles que estão a favor dessa ampliação incorrem em equívoco: a função das diaconistas consistia em ungir as mulheres no rito batismal, para que não fizessem isso o bispo ou o presbítero, pois, como é óbvio, era considerado impróprio. Era este um princípio elemental da modéstia e da delicadeza. Não exerciam estas mulheres um ministério ordenado. Aliás, é interessante observar que em grego não existe o feminino de diácono. No apêndice da Carta aos Romanos (16, 1), Paulo escreve à comunidade para recomendar que recebam “como corresponde aos santos” a Febe, a diaconista da Igreja de Cencreas; a designa como diákonon.

Continua o documento indicando que deve continuar a investigação teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconato, partindo dos resultados das comissões que trabalham no assunto: “Se for possível, os resultados deverão ser apresentados na próxima sessão das assembleia”. Como se vê, o feminismo é tenaz, não recolhe as bandeiras. Por fim, digamos que o Sínodo não reconhece a possibilidade de um ofício humilde de serviço de tantas religiosas; que se santificam exercendo trabalhos gratuitos; a linguagem é de tipo sindical: “Que se abordem e resolvam os casos de discriminação trabalhista e de desigualdade de remuneração no seio da Igreja, em particular a respeito às mulheres consagradas, consideradas com demasiada frequência como mão de obra barata”. Seria preciso recordar aos sinodais que a caridade é grátis, que por amor se podem fazer muitas coisas que o mundo não compreende.

Aos alardes do Sínodo é possível opor alguns textos do Apóstolo que – não esqueçamos – são Escritura do Novo Testamento, e se referem à situação das mulheres cristãs na Igreja do século I. Na Carta a Tito, recomenda que seu discípulo ensine “tudo o que é conforme à sã doutrina”, e expõe como devem comportar-se as mulheres de idade (em grego, presbýtidas): nem ser murmuradoras nem entregar-se à bebida, ensinar às jovens a amar a seu marido e a seus filhos, a ser modestas, castas, mulheres de sua casa (oikourgous), boas e respeitosas com seu marido (Cf. Ti 2, 3-5). As viúvas tinham um lugar próprio na comunidade, eram honradas e atendidas de maneira especial. Na primeira Carta a Timóteo, são oferecidas regras a ter em conta como condições para serem integradas no registro daqueles que eram sustentadas pela comunidade: deveria evitar incorporar as jovens, as menores de 60 anos. Uma razão de peso é que as viúvas deveriam ser casadas uma só vez e comprometidas a não reincidir no matrimônio; as mais jovens “quando os desejos puramente humanos prevalecem sobre sua entrega a Cristo, querem casar-se outra vez, e tornam-se culpáveis de faltar a seu compromisso” (1 Tm 5, 11-12). Expressa o Apóstolo seu desejo: que as viúvas jovens se casem e tenham filhos. Em um longo parágrafo, demonstra um perspicaz conhecimento da realidade feminina (1 Tm 5, 3-16). Na mesma Carta (1 Tm 2,11) emprega um argumento bíblico para estabelecer a situação da mulher na comunidade cristã: Adão foi criado antes, e foi a mulher a seduzida pelo demônio. “Que as mulheres aprendam (manthanetō) no silêncio (hesyjía); “não permito que ensinem”; “a mulher se salvará cumprindo seus deveres de mãe” (dia tēs teknogonias) (1 Tm 2, 15). Também nesta passagem Paulo mostra sua capacidade de observação: “Que não pretenda dominar o marido” (1 Tm 2,12); a história é boa testemunha desta cautela.

Livraria do ISA 350x350

Outro texto especialmente significativo é 1 Cor 14, 34-35: como em todas as Igrejas dos santos, que as mulheres se calem, não se lhes permita falar (oú epitrépetai autaîs laleîn), falar na Igreja é aisjròn; o termo empregado é severo, trata-se de algo que não é bom, que é vergonhoso, obsceno; torpe, na versão latina. Se querem aprender (mathein) que perguntem em casa a seu marido.

Especula-se se se deve conceder o diaconato às mulheres. É interessante observar que em grego não existe um feminino do substantivo diácono, como o tem presbítero. Na Carta aos Romano (16,1), como escrevemos, menciona-se a Febe, que é diákonon da Igreja de Cencreas.

Qualquer progressista explicará que, sobre este tema, o Apóstolo é tributário da cultura judia, ou que se expressa de acordo com o que se pensava nos costumes da época. Contudo, a história da Tradição mostra que a posição paulina foi seguida na Igreja: mulieres in Ecclesia taceant foi dito, com uma pitada de intenção divertida. Citei essas passagens do Novo Testamento crendo que os sinodais deveriam tomar posse delas e reconhecer seu caráter normativo; não foram escritas com intenção discriminatória, mas observando a realidade social e a autoridade da Bíblia.

Os avatares do Sínodo continuarão em 2024. Sua existência e desenvolvimento revelam uma dimensão eclesiológica: ao contrário da ilusões progressistas, constituem uma derrocada; o encolhimento numérico da Igreja no mundo significa um encolhimento ante a Verdade. Ao mesmo tempo desponta uma questão escatológica; como em outras épocas, também neste atua o misterium iniquitatis. À medida que nos aproximamos do fim, este se revela cada vez pior.

+ Héctor Aguer
Arcebispo Emérito de La Plata.

Buenos Aires, terça 7 de novembro de 2023.
Memória de Maria, Mãe e Medianeira da Graça.

Fonte: InfoCatólica

* Arcebispo Emérito de La Plata, Acadêmico de Número da Academia Nacional de Ciências Morais e Política. Acadêmico Correspondente da Acadêmica de Ciência e artes de São Isidoro. Acadêmico Honorário da Pontifícia Academia de Santo Tomás de Aquino.

Compartilhar

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Seja Membro Patrocinador

Cursos Exclusivos | Acesso a Artigos Restritos |
eBook/Leitura (Em breve) | Desconto na Loja

Assinatura Anual:
R$ 119,90
(R$ 10,00 por mês)

Assinatura Semestral:
R$ 89,90
(R$ 15,00 por mês)

Picture of Santo Atanasio

Santo Atanasio

Instituto Santo Atanásio (Curitiba - PR). Associação de leigos católicos que tem por objetivo promover a Fé e a Cultura Católica na sociedade.
Todos os posts do autor
Pintura de São Pio X rodeado de crianças
Um bom catequista é um homem de fé
A catequese, segundo nos explica o Catecismo da Igreja Católica – é o conjunto de esforços realizados...
Cartaz - Brasil sem Aborto
A Mentalidade Abortista no Brasil
Diante do caso do aborto realizado em uma menina de 10 anos estuprada pelo tio, muitos católicos ficaram...
Dom Angélico Sandalo, Arcebispo aposentado, abraça Lula na "celebração" que virou palanque eleitoral. Crédito da foto: Paulo Pinto
As "barganhas" com o PT que a CNBB omite
A CNBB e alguns dos seus tentáculos midiáticos vermelhos, do alto da sua autoridade moral de caudatários...
Cardeal Muller
Cardeal Müller: Para Católicos Fiéis, chegou a "Hora da Tribulação e do Terror Psicológico"
Em entrevista exclusiva à National Catholic Register, o prefeito emérito da Congregação para Doutrina...
Imagem da coroação de Carlos VII da França na Catedral de Reims, por E. Lenepveu (1889).
Código Social: As relações entre Igreja e Estado [73 e 74]
No calendário ordinário, hoje estamos na solenidade de Cristo Rei! Tendo em vista este contexto, trouxemos...

Comentários

Deixe um comentário

Search

Últimos ISA Cursos

I Seminário de Psicologia Tomista do Instituto Santo Atanásio
Curso - A Mística do Templo na Espiritualidade Beneditina
Curso Mistagogia Cristã - Instituto Santo Atanásio - ISA MEMBROS
ISA-Notícias-&-Lives-2024
ISA-Palestras-2024
Carrinho de compras