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Sobre a virtude da obediência

Sobre a Virtude da Obediência: Obedecer a Deus antes que aos homens
Por Tomás I. González Pondal

Recentemente em uma página que se considera católica, li que “a santidade sempre implica a obediência”, e a isto logo acrescentou: “se a obediência não te dá paz é porque és soberbo”. Contextualizado que as expressões da citação foram trazidas não para significar uma obediência à Tradição Católica, mas para prejulgar a respeito de bispos, sacerdotes e religiosos que, por negar-se a seguir novidades, ora são excomungados, ora são suspensos, ora são mandados a um galpão ou rotulados de rebeldes e soberbos.

A primeira das frases, em si, é verdadeira. Mas a aplicação feita da mesma pode escorregar para o engano e falsidade, sobretudo nestes tempos onde o modernismo está te esperando fora de tua cama para te abraçar tão logo acordes. Sendo assim, precisamente aqueles que a usaram para insultar, por exemplo, a Dom Marcel Lefevbre, são aqueles que a aplicam enganosamente. Pois é preciso que seja esclarecido: obediência a que? Em outras palavras: a santidade implica obedecer qualquer coisa? Para que a obediência seja meritória: é importante que seja razoável, ou é importante que seja algo robótico, um automatismo, por mais que cause graves danos às almas?

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Eis aqui um adolescente que vai confessar-se. E na confissão escutamos:

  • Padre, faltei contra o quarto mandamento por desobedecer o meu pai. Neguei-me a bater na mamãe tal como me pediu o papai.
  • Oh, filho! Que grave pecado cometeste! Não devias voltar a desobedecer o teu papai. Se ele te pedes que tu soques com força a tua mãe, deves dar socos firmes. Nunca esqueça que a santidade implica a obediência.

Certamente estamos diante de uma imbecilidade manifesta. Se um sacerdote admoestasse em confissão a um penitente afirmando o que foi exposto no caso, tal sacerdote ou está pronto para ser internado num hospício, ou está pronto para ser mandado a fazer uma boa temporada de reajuste psicológico, moral e teológico com a suspensão da administração sacramental até que dê provas cabais de equilíbrio mental, sã doutrina e fiável piedade, ou está pronto para ser expulso diretamente. Ora, o mais assustador não é o caso exposto. O mais grave é que essa loucura é precisamente o que o modernismo vem fazendo em escala gigantesca, e isso já há mais de sessenta anos.

Ao modernismo, que há décadas vem trabalhando desde dentro da Igreja, poderia ser assim figurado: um gigante sacerdote apóstata que obriga a seus filhos, sob pretexto de obediência e santidade, a golpear fortemente a sua Mãe, a Igreja Católica. E quantos, principalmente cardeais, bispos, sacerdotes e religiosos, compraram sem maiores atenções a falsa noção de obediência tão difundida depois do Concílio Vaticano II… Repetirei também neste escrito o que tenho dito: se o modernismo se empenhou em modificar tudo (de maneira mais sutil possível no início e cada vez mais grosseiramente quanto mais avançou), por acaso não ia fazer o mesmo com a obediência? Foi esta virtude a que usaram e continuam usando de modo falseado, pois foi e é a obediência a arma principal que tiveram e têm para render as mentes aos abusos que conceberam e coroaram exitosamente.

Até o Pequeno Príncipe tinha clara a noção de obediência tal como se lê no capítulo X. Eis: “Se eu ordenasse, costumava dizer, que um general se transformasse em gaivota, e o general não me obedecesse, a culpa não seria do general, seria minha”. E nas palavra seguintes, afirma resolutamente o principal da obediência: “Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem – ele ou eu – estaria errado? – Vós, respondeu com firmeza o principezinho. – Exato. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis”. Claríssimo: a autoridade repousa na razão, não no capricho, e o superior pode exigir obediência quando o que ordena não implica um mal.

Portanto, certamente a santidade implica a virtude da obediência, mas, ficou claro? A VIRTUDE da obediência, não qualquer ordem que queira se impor sob a denominação de obediência. Não qualquer desejo pessoal merece ser obedecido, e quem executa qualquer coisa contrário à virtude, por mais que queira representá-lo sob o nome de obediência, não está atuando meritoriamente na virtude. Esse tal não é uma pessoa obediente virtuosamente, senão que é alguém obediente em uma complacência pessoal.

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Eis aqui o segundo engano do qual se deve ter cuidado, e é este: que se “a obediência não te dá paz é porque és soberbo”. Mais uma vez: a que se está chamando obediência? O que é ordenado e é razoável? A qualquer capricho que um superior impõe a um inferior? Ora, se se trata deste último, por mais que aquele que, ao se inclinar ao que foi mandado, sinta paz ao cumpri-la, tal coisa pode ser mero pacifismo ou um fenômeno subjetivo produto de certa ignorância, mas não paz verdadeira que é fruto do bem.

Dom Marcel Lefebvre não foi nenhum soberbo, foi um santo bispo, humildíssimo e ao mesmo tempo firmíssimo. Um defensor da fé, intrépido como Santo Atanásio, valentíssimo como São Nicolau. Não deu um soco ao modo no qual este último santo desferiu em Ário, mas atacou duramente o modernismo durante anos, até que a Virgem Maria o veio buscar em 25 de março, dia da Anunciação. Digam o que quiser dele, logo será reconhecido como um dos maiores defensores da fé nos últimos séculos. Muitos já são os que abrem os olhos e veem que graças a sua valentia a Tradição Católica ficou resguardada. Muitos o seguem, embora não o digam por medo ou temor. Logo se fará justiça a ele, e ficará castigada a injustiça que foi operada contra ele, a mesma que o condenou por não se inclinar obsequiosamente contra os males do progressismo, do liberalismo, males que muitos hierarcas amantes do falso ecumenismo e de outras corrupções doutrinais não deixaram de seguir até que também morressem. Já estamos a ponto de dar a “bênção” a casais do mesmo sexo: e veremos o que mais virá. Contam sobre São Nicolau de Bari que, por causa do tapa que deu no herege Ário, decidiram seus próprios companheiros conciliares colocá-lo em castigo na prisão, retirando suas vestimentas episcopais: “Oh São Nicolau! Te excedeste ao agredir Ário – exclamaram”. Mas durante a noite, Jesus Cristo apareceu ao santo homem, felicitou-o e devolveu todas as roupas episcopais que lhe foram tirada. Quão distintos são os juízos humanos dos juízos de Deus. Falta pouco, muito pouco!, para que as sociedades modernas vejam, para sua humilhação, que os bispos aos quais rotularam de separados, soberbos e rebeldes, foram os que realmente respeitaram os planos de Deus, opondo-se intrepidamente ao modernismo bestial e nefasto.

Ainda há aqueles que, como se fôssemos tontos, fazem correr o fantasma de que os “lefebristas” terão a sorte semelhante a de Lutero. Tal irrealidade e inverossímil imputação só é possível lançá-la a uma pedra, sob o risco de que volte voando contra a cabeça de quem a lançou, pois estou seguro de que até o mineral compreenderia a falácia e, irritado, executaria a voadora. Não é o santo bispo francês o que vem provando amiguismo com o protestantismo, mas sim aqueles que reivindicaram as posições de Lutero para escândalo das almas e de toda a Igreja, foram, por acaso, João Paulo II, Bento XVI, e, atualmente, Francisco. Foram esses pontífices que levaram a cabo atos ecumênicos com os protestantes. E Francisco continua fazendo em escalas alarmantes. De modo que, por favor, um mínimo de respeito intelectual. Um mínimo de sinceridade para ver e dizer: ‘ver’ quem são os que estão tentando aproximações escandalosas com os protestantes, protestizando-se cada vez mais, e ‘dizer’ que estão errando.

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Há aqueles que propõe uma obediência à novidade e uma abertura ao tradicional, um amálgama que consideram o mais são, um colocar em cena dois universos que consideram possíveis, válidos e de sã convivência, não sem deixar de invocar que assim se permanece em “comunhão”. E seguramente tal manobra, saibam disso ou não, é uma das piores pestes corrosivas da sã doutrina, pois a gota de veneno misturada no litro de água não faz com que a água torne o veneno bom, senão que faz com que o veneno torne venenosa a água. A novidade trabalha contra a comunhão, já que opera contra a universalidade eclesiástica. Creem-se prudentes parados no malabarismo, mas o malabarismo prepara a queda, portanto não é católico. O catolicismo é intolerante com as invenções pseudo-católicas, e jamais encorajou os malabarismos.

Nestes tempos, a virtude da obediência apresenta algumas características fundamentais, encontrando-se alguns paradoxos: 1. Aferra-se inabalavelmente à Tradição Católica. 2 Não faz a mínima concessão ao modernismo. 3. É completamente desobediente à novidade, daí que seja uma ‘obediência desobediente’ para a confusão da mentalidade moderna. 4. Quer operar o bem, daí que a desobediência ao mal, na realidade prove obediência e não desobediência. 5. Sabe que não está diante de uma virtude teologal, portanto pode pecar por defeito ou por excesso; o que já ensinava Santo Tomás: “a obediência não é virtude teologal (…); é sim virtude moral, por ser parte da justiça, e é meio entre o excesso e o defeito” (Suma Teológica II, II, Q. 104, art 2, ad 2). Contrariamente, a o obediência moderna, também denominada ‘falsa obediência’, apresenta estas características: 1. Adere à novidade, sem reclamar ou reclamando, mas a ela finalmente se submetendo. 2. Obra coisas contrárias à Tradição Católica. 3. Desobedece à Tradição, daí que seja ‘desobediente obediente’, e isso também para a confusão de sua mentalidade moderna. 4. Executa o erro, isto é, um mal, daí que a obediência ao mal, na realidade seja prova de desobediência e não de obediência. 5. Faz da famosa virtude uma espécie de virtude teologal, pois aparentemente a crê absoluta.

Querem silenciar o que foi ensinado pelo Doutor Angélico: “O excesso nela – na obediência – não depende de quantidade, mas de outras circunstâncias; por exemplo, de que alguém obedeça a quem não deve ou no que não devemos, como fica dito ao falar da religião (op. cit). Vale dizer que se peca contra a obediência ao fazer algo que se é ordenado, mas que é indevido em matéria religiosa. Isso, claramente, prova que é preciso ver com a luz de sua razão que coisa se está ordenando fazer. Dirá também Santo Tomás: “Às vezes os preceitos dos superiores vão contra Deus. Logo, não se lhes deve obedecer em tudo” (op. cit. art 5). E notemos o que dirige o santo italiano aos religiosos, a quem os enfrenta com o que chama de “obediência indiscreta”, que consiste em obedecer algo do superior contrário ao querido por Deus, pois, dirá, se são ordens “contrárias a Deus ou contra a regra professada (…) tal obediência seria ilícita” (op. cit. ad 3).

O modernismo vai diretamente contra a expressão paulina de que “é preciso obedecer a Deus antes que aos homens”. Não a entende. Não a quer viver. Não a quer utilizar. Deforma-a. Ele, como faz da obediência uma medida que sim ou sim deve cumprir-se bastando que proceda de quem se tem por superior, adquiriu o costume de desobedecer a Deus antes que aos homens. Há aqueles que julgarão dialeticamente a expressão paulina objetando que “quem obedece ao superior obedece a Deus”, não percebendo minimamente que isso funciona para a VIRTUDE da obediência, a qual está fundada na razão, no bem e na ordem (por isso pode ser virtuosa), e não no mero capricho de quem por ter-se por autoridade ordena disparates crendo que deve ser obedecido. Diante do que foi exposto, nunca foram mais oportunas as palavras do Padre Leonardo Castellani: “A religião adulterada tem orgulho da fama dos antigos santos mortos; e persegue aos santos vivos (…). O atual modernismo religioso se apropria das glórias terrenas da Religião (…). Exploradores da religião que outros plantaram (El Apokalypsis, ed. Jus, México, 1967, págs. 245 e 246).

Fonte: Adelante la Fe

Sobre Tomás I. González Pondal

Nasceu em 1979 na Capital Federal. É advogado e se dedica à escrita. Durante quase onze anos deu aulas de Lógica no Instituto San Luis Rey (Província de San Luis). Escreveu mais de uma centena de artigos sobre diversos temas, em jornais jurídicos e não jurídicos, como La Ley, El Derecho, Errepar, Actualidad Jurídica, Rubinzal-Culzoni, La Capital, Los Andes, Diario Uno, Todo un País. Durante alguns anos foi colunista do jornal La Nueva Provincia (Bahía Blanca). Atualmente, de vez em quando, um de seus artigos aparece no matutino La Prensa. Alguns de seus livros são: Em Defesa dos Indefesos. Adivinhação: O que o ocultismo esconde? Viva de ilusões. Filosofia no café. Conhecendo O Pequeno Príncipe. A Nostalgia. Volte ao passado. Terras da Fantasia. A sombra do beija-flor. Irônico. Soma Elemental Contra Abortistas. Sobre Moda em Roupas. Não existe Ham Man.

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