Hoje vamos meditar o quarto dia da Novena de Natal, que trata sobre as alegrias de Maria e Santa Isabel. Há poucos dias vimos sobre isso na reflexão acerca da Visitação, mas dessa vez vamos nos aprofundar um pouco mais sobre essa dinâmica da alegria entre Maria e Isabel, junto com outros elementos que vamos refletir a partir de agora.
Pois bem, no cenário relatado no Evangelho de Lucas, capítulo 1, versículo de 41 a 55, nós temos Maria que, após a anunciação do Anjo, sai correndo ao encontro de Isabel, que segundo as Escrituras e a Tradição, tem uma relação consanguínea e com Maria. Elas são parentes: primas. Maria vai de prontidão logo após a Anunciação e a santa Imaculada Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por causa da Anunciação, já sabia que Isabel estava grávida e que estava no sexto mês. É o que sabemos por esse trecho do Evangelho. Mas não sabemos se Isabel sabia sobre Maria, da ocasião de ela estar grávida do Senhor. Mas, seguindo o relato de São Lucas, veremos a cena de Maria chegando à casa de sua prima e fazendo uma saudação a Isabel. Esta, ao ouvir a voz de Maria, se enche do Espírito Santo e então temos a bela cena do encontro de Maria e Isabel, com Santa Isabel dizendo: “Que honra a mãe do meu Senhor vir visitar-me. Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre”. E o Evangelho é muito claro ao dizer que essa graça, essa notícia, o fato que faz Santa Isabel falar essas palavras à Nossa Senhora, foi uma revelação do Espírito Santo, já que ao ouvir a voz de Maria, o Espírito Santo enche Isabel, e a criança que ela carrega – São João Batista – pula no ventre. E o evangelho vai relatar que Isabel exclama, de modo a permitir imaginar esta cena conforme o nosso dia a dia, principalmente no universo feminino, quando temos uma amiga muito próxima ou um parente por quem temos uma estima muito grande e que não vemos há um tempo.
Quando elas chegam em nossa casa ou quando elas avisam: “Eu vou aí te visitar”, nós ficamos como que felizes por receber uma grata surpresa: “Nossa! Você virá me visitar!”. Sentimos uma certa alegria pela expectativa da visita. Embora ninguém goste de receber uma visita sem aviso, quando é uma visita que enche o nosso coração de alegria por ser de uma pessoa muito estimada do nosso coração, não nos importamos de fazer aqueles 5 minutos de limpeza na casa só para deixar tudo menos bagunçado e acolher aquela pessoa em nossa casa. É isso que acontece com Isabel: é uma surpresa de visita! Certamente que Isabel, sendo esposa de um sacerdote do templo, tinha servos que a ajudassem, mas, seja como for, a visita de Maria à sua casa a enche de alegria. Temos, portanto, essa alegria do encontro de duas pessoas – Maria e Isabel – de duas pessoas que se estimam, que se amam e que têm um carinho muito grande uma pela outra. Essa é a primeira alegria do encontro de Maria e Isabel.
Prosseguindo com a nossa reflexão, é enfim revelado pelo Espírito Santo sobre a gravidez de Nossa Senhora. Maria nem chega a falar que ela estava grávida de Nosso Senhor, sendo que Maria já sabia da gravidez de Isabel. E eis que temos uma segunda alegria, que é a alegria das boas novas, das boas notícias, tanto de Maria pela gravidez de Isabel – principalmente condição de Isabel, a qual, já estando em idade avançada, era tida por infértil, de modo a gravidez de Isabel não era outra coisa que um grande milagre de Deus – quanto de Isabel por saber pelo Espírito Santo da gravidez de Maria. E não só pela gravidez de Maria, mas sobretudo por estar grávida do Salvador, do Prometido ao povo de Israel, Aquele que viria salvar e redimir o mundo inteiro.
Para Isabel, é uma alegria muito maior, por isso fala aquelas palavras: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. De onde me vem a honra de receber a mãe do meu Senhor?” Ali, Isabel já reconhece a vinda do Salvador, a presença de Deus na casa dela. Portanto, não é somente uma alegria pelas notícias de uma estar grávida e outra também, mas se soma também a alegria do cumprimento da promessa de Deus pela qual todo o povo estava ansiando, a expectativa da esperança de que viesse acontecer. E Isabel estava de fato vendo e recebendo essa Promessa dentro da casa dela.
E nós temos outra alegria, que já não é mais tanto com relação a Maria e Isabel, mas com relação às duas crianças: João no seio de Isabel e Nosso Senhor no seio de Maria.
Sendo Maria aqui reconhecida como a Nova Arca da Aliança, então João faz lembrar muito a cena do Rei Davi quando faz a entrada da Arca da Aliança na cidade de Jerusalém. O Rei Davi começa a dançar e pular de alegria no recebimento da Arca da Aliança na entrada da cidade de Jerusalém. Isso ocorre porque a Arca da Aliança continha as Tábuas dos 10 Mandamentos, o Maná e a Vara de Arão ou de Abraão. A Arca da Aliança era o reconhecimento da presença de Deus naquele lugar. Durante muito tempo, a Arca da Aliança não mais estava junto do seu povo, por isso a grande alegria do Rei Davi quando pôde trazer essa Arca da Aliança para dentro do seu reino, para dentro da cidade de Jerusalém, para o povo a qual a Arca da Aliança pertencia. Foi tanta a alegria para o Rei Davi, que chegou a dançar diante da Arca. No caso de João Batista, temos a visita da Nova Arca da Aliança, que é Nossa Senhora carregando o próprio Deus. Portanto, Deus está no meio de seu povo, o Emanuel está no meio de nós.
João Batista, ao reconhecer que Deus está em sua própria casa, pula de alegria no ventre de sua mãe Isabel. Um cristão chamado Prudêncio, dos primeiros séculos do cristianismo, diz o seguinte: “O menino contido no seio senil saúda, pelos lábios de sua mãe, o Senhor filho da Virgem”. Ou seja, o filho contido no seio senil, João Batista no seio de Isabel com idade já avançada, saúda a chegada do Senhor através de sua mãe. Esta é a alegria contida nesse cenário. E o Papa Bento XVI ainda vai dizer o seguinte: “João salta pela presença de Cristo da mesma forma o Rei Davi dança de alegria pela entrada da Arca da Aliança em Jerusalém”. É o que já refletimos aqui, mas, em sua homilia, Bento XVI explica de uma forma um pouco mais detalhada, de uma forma mais espiritual.
Que neste Advento possamos refletir um pouco mais profundamente a alegria do encontro, a alegria do cumprimento da promessa e a alegria da Boa Nova que vem a nós no tempo de Natal.
Salve Maria e Viva Cristo Rei.
